Sogrape recupera parte dos lucros perdidos com vendas recorde de 356 milhões no vinho e turismo

Dona do Mateus Rosé, Sandeman ou Porto Ferreira fechou 2024 com lucros de 16 milhões de euros. Com 130 garrafas vendidas por minuto e um novo Barca-Velha na prateleira, só Canadá encolheu as compras.

A maior empresa portuguesa de vinhos, dona das marcas Mateus Rosé, Barca Velha, Esteva, Sandeman ou Porto Ferreira, alcançou um resultado líquido de 16 milhões de euros no ano passado e obteve um novo máximo de vendas consolidadas de 356 milhões de euros. Num “contexto de grande exigência e num mundo que está a mudar rapidamente”, como reconhece o CEO, a Sogrape inverteu a tendência face ao exercício anterior, em que tinha perdido mais de metade dos lucros.

Apesar da melhoria de 45% neste indicador, em termos homólogos, o grupo de Vila Nova de Gaia ficou ainda aquém dos 24 milhões de euros que tinha lucrado em 2022. Por outro lado, com um registo de 130 garrafas de vinho vendidas por minuto e seis dezenas de produtos adicionados ao portefólio, o volume de negócios aumentou 7% e fez cair o anterior máximo histórico (347 milhões em 2022). Dos dez principais mercados, só o Canadá encolheu as compras.

“Superámos expectativas em vendas, margem [41,2%] e EBITDA [que subiu de 42 para 46 milhões de euros], registando um crescimento de 7% em volume e valor. O mais impressionante é que conquistámos tudo isto num contexto de grande exigência e num mundo que está a mudar rapidamente. O cenário pode ser difícil, mas a Sogrape escolheu aprender com as adversidades e focar-se nas oportunidades”, comenta Fernando da Cunha Guedes, que representa a terceira geração da família que em 1942 fundou uma pequena adega no Douro focada na produção de Mateus Rosé.

Fernando da Cunha Guedes, CEO da Sogrape, na Quinta de Azevedo (Barcelos)Pedro Granadeiro/ECO

Em declarações ao ECO, o empresário enquadra que “o setor do vinho enfrenta atualmente um contexto desafiante, marcado por instabilidade geopolítica, pressões inflacionistas e tarifárias, disrupções na cadeia de abastecimento, volatilidade cambial, exigências regulatórias crescentes, situações de sobreprodução em várias regiões vitivinícolas, alterações dos hábitos de consumo e uma redução generalizada do mesmo”. Fatores que, diz, “exigem maior agilidade, eficiência e rigor na tomada de decisão”

Por outro lado, Fernando da Cunha Guedes identifica “oportunidades relevantes” que continuam a surgir e nas quais a Sogrape está focada para sustentar o crescimento. Quais são elas? “A valorização crescente do vinho português nos mercados internacionais, o reforço das nossas marcas, o investimento contínuo em ativos, inovação e sustentabilidade, bem como o desenvolvimento de áreas como o enoturismo e e-commerce”, responde.

Questionado sobre as perspetivas para 2025 em termos de vendas e de resultados, atendendo ao desempenho registado até agosto, o CEO reconhece que, apesar de a Sogrape ter um “orçamento de expansão”, este ano tem sido muito exigente”. “Ainda assim, mantemos total confiança na estratégia que definimos e nas equipas que temos para a executar. O segundo semestre será determinante para recuperar terreno e encerrar o ano numa trajetória positiva. Estamos focados em reforçar as vendas, gerir os custos com disciplina e garantir eficiência em todas as áreas da organização e cadeia de valor”, completa.

O segundo semestre será determinante para recuperar terreno e encerrar o ano numa trajetória positiva. Estamos focados em reforçar as vendas, gerir os custos com disciplina e garantir eficiência em todas as áreas da organização e cadeia de valor.

Fernando da Cunha Guedes

CEO da Sogrape

Num ano marcado pelo reforço em Espanha com a entrada na região de Ribera del Duero através da aquisição da Viña Mayor à Entrecanales Domecq e Hijos, o grupo diz ter investido 48 milhões de euros, muito acima dos 17 milhões executados em 2023.

Notado que os timings destas operações são, por natureza, difíceis de antecipar”, Fernando da Cunha Guedes garante ao ECO que a Sogrape “mantém-se atenta a oportunidades de aquisição alinhadas com a sua estratégia ibérica e de premiumização”. Em paralelo, mesmo “consciente dos enormes desafios” que o setor enfrenta, a gigante nortenha dos vinhos vai, “com a cautela necessária”, procurar manter o “ambicioso” plano de investimento em ativos e marcas.

Contabilizando 32,5 milhões de litros vinificados, a Sogrape registou uma “evolução positiva na generalidade das marcas e geografias”, que valeu um reforço nos volumes vendidos e uma “melhoria de preço médio”. No Yearbook 2024, consultado pelo ECO, o administrador financeiro Bernardo Brito e Faro sustenta que o grupo “conseguiu fortalecer a sua posição financeira face ao ano anterior” e estes resultados refletem o “impacto positivo” das aquisições dos últimos anos, mas também do crescimento orgânico das marcas ou da expansão da capacidade produtiva.

Na última vindima, a multinacional portuguesa que detém 1.600 hectares de vinha em 13 regiões vitivinícolas espalhadas por cinco países já estreou a adega renovada em Vila Real em que centralizou a receção de uva e vinificação na região do Douro, onde continua a plantar vinhas; e também a de Santiago Ruiz (Rías Baixas, Espanha) em que ampliou a capacidade.

Em paralelo, prevê concluir este ano o chamado projeto Avintes 25, iniciado em 2022, que tem associado um investimento global na ordem dos 90 milhões de euros, avançou ao ECO o líder da empresa. “Está a decorrer a bom ritmo e representa um investimento robusto e transformador da Sogrape na modernização das suas operações industriais, contribuindo para reforçar a sua posição como líder no setor e abrindo novas oportunidades em mercados internacionais estratégicos”.

Laboratórios da Sogrape em Avintes (Vila Nova de Gaia)Pedro Granadeiro/ECO

Com os vinhos portugueses a valerem metade das vendas globais para um total de 120 países, os principais mercados de destino continuam a ser Reino Unido (38%), Portugal (23%) e EUA (10%), para onde antecipou o envio de encomendas para ‘fintar’ as tarifas de Trump. Seguem-se Espanha, Benelux e Angola, que ascendeu à sexta posição com um crescimento superior a 30% por parte da distribuidora local Vinus.

Já em termos de marcas, no ano em que lançou a 21ª colheita de Barca-Velha, Casa Ferreirinha voltou a ter o melhor ano de vendas em valor. Mateus teve um peso semelhante (12% do total) e Sandeman completou o pódio.

Peso das origens e marcas nas vendas da Sogrape

Yearbook 2024 da Sogrape

Em sentido contrário, pela negativa, Porto Ferreira e Gazela sofreram ambas uma queda nas vendas a rondar os 4%, enquanto a comercialização das marcas produzidas pelas empresas da Sogrape no chamado Novo Mundo (Argentina, Chile e Nova Zelândia) apresentaram, em conjunto, uma redução superior a 10%, “refletindo o contexto desafiante que atualmente o setor do vinho enfrenta nestas origens de produção”.

No mesmo relatório, o grupo que emprega 1.200 pessoas faz ainda contas às receitas obtidas com o enoturismo: 6,1 milhões de euros, um valor recorde para a unidade de negócios Grape Ideas.

Num período em que abriu um gastrobar no Sandeman Terrace (Vila Nova de Gaia) e em que assumiu a gestão própria do Douro Bites na estação ferroviária do Pinhão, na região demarcada do Douro, a multinacional portuguesa recebeu 250 mil visitantes de 150 nacionalidades nos vários espaços turísticos, com destaque para as caves de Vinho do Porto.

No campo do apoios ao empreendedorismo, o grupo concretizou em outubro o primeiro investimento através do seu fundo de capital de risco Sogrape Ventures (na espanhola Candam Tech). Fernando da Cunha Guedes diz ao ECO que a Sogrape Ventures continua a “analisar ativamente” novas oportunidades de investimento, tem “várias possibilidades em pipeline” e refere como “expectável” que até ao final do ano possa concretizar algumas delas.

“Tal como é habitual neste tipo de operações, os timings estão dependentes das rondas de financiamento das start-ups. Os projetos mais avançados centram-se em áreas como sensorização, robotização e software de inteligência artificial aplicados à cadeia de valor do vinho”, avança o empresário, que recentemente passou a ser presidente interino da Fundação de Serralves.

(Notícia atualizada às 19h45 com declarações do CEO da Sogrape)

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