“IA não significa fim do trabalho”. Empregos em áreas “clássicas” também estão a crescer

Empregos em áreas "clássicas", como saúde, construção e logística, têm registado "procura crescente", indica a Randstad, que defende que IA não significará, assim, o fim do trabalho.

Os receios de que a inteligência artificial (IA) acabaria com os empregos mais tradicionais continuam (pelo menos, por agora) por confirmar, sinaliza um novo estudo da Randstad, a que o ECO teve acesso em primeira mão. Segundo a consultora de recursos humanos, os postos de trabalho ligados a esta tecnologia estão, sim, a crescer em Portugal, mas também há um “aumento da procura em áreas ‘clássicas'”, da saúde à logística.

“No caso de Portugal, a procura crescente por especialistas em IA e machine learning coexiste com aumento da procura em áreas “clássicas” como saúde, construção e logística“, sublinha a Randstad, no estudo que é apresentado esta terça-feira.

Em conversa com o ECO, Érica Pereira, diretora da área de professional talent services dessa consultora, explica que os setores tradicionais continuam a ter grande procura por parte dos candidatos, uma vez que disponibilizam “salários atrativos” e “alguma estabilidade do ponto de vista do posto de trabalho“.

“Os profissionais procuram cada vez mais um bom equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Além do salário, também conta a segurança no emprego. Estes setores mais ‘clássicos’ acabam por promover esses pontos”, realça a responsável.

Perante estes dados, a Randstad conclui, no seu novo estudo, que “a tecnologia não elimina necessariamente empregos no imediato“, mas avisa: está a alterar o perfil de competências exigidas.

“A automação e a inteligência artificial não significam o fim do trabalho, mas uma mudança profunda na sua natureza“, insiste a diretora de marketing da Randstad Portugal, Isabel Roseiro.

Deste modo, a consultora frisa que o desafio para as empresas agora é antecipar essas mudanças de perfil, identificar as funções em risco e preparar os quadros para as novas áreas de crescimento.

Alerta, além disso, que há funções que estão sob maior ameaça do que outras, face à automação e às ferramentas de IA. As tarefas administrativas e repetitivas (como operadores de caixa, entrada de dados e secretários) são as mais expostas ao risco.

“Em contrapartida, a tecnologia está a impulsionar novas funções em Big Data, fintech, IA, engenharia de software, energias renováveis e design digital“, aponta a Randstad.

Face a este cenário, Érica Pereira recomenda uma aposta na requalificação dos profissionais, não só para que possam acrescentar valor aos postos que já ocupam, mas também para que possam, querendo, abraçar uma dessas oportunidades emergentes.

Tecnologia paga melhor, mas sente maior pressão de recrutamento

O estudo divulgado esta terça-feira pela Randstad revela também as tendências salariais em Portugal, com o setor das tecnologias de informação a destacar-se como o mais competitivo (o salário médio varia entre 40 mil euros e 55 mil euros anuais). Tal reflete, é sublinhado, a escassez de perfis especializados, não fosse esta uma das áreas com maior pressão de recrutamento.

Também as ciências da vida e cuidado de saúde são dos setores mais valorizados, revelando a pressão estrutural sobre o sistema de saúde e a necessidade contínua de profissionais qualificados“. No caso das ciências da vida, o salário médio varia entre 30 mil euros e 45 mil euros anuais, enquanto nos cuidados de saúde varia entre 28 mil euros e 45 mil euros anuais.

A leitura transversal dos dados confirma que as melhores oportunidades de carreira e de progressão salarial concentram-se nas TI e nas life sciences & healthcare“, conclui Isabel Roseiro.

Já as profissões relacionadas com marketing e vendas mostram uma grande amplitude salarial entre os valores de entrada e as posições de direção. “É uma das áreas com maior dinâmica de crescimento, muito impulsionada pela digitalização do comércio e pela procura de perfis orientados para resultados“, realça a Randstad. Neste caso, o salário médio varia entre 21 mil euros e 50 mil euros anuais.

E no que diz respeito, por outro lado, à engenharia e indústria, o estudo indica que este mantém-se um “setor sólido“, como “salários médios competitivos e procura elevada por gestores de projeto e engenheiros de produção”, sobretudo ligados à construção e à modernização industrial. Neste setor, o salário médio varia entre 32 mil euros e 48 mil euros anuais.

As áreas de finanças, recursos humanos e jurídica apresentam salários mais modestos comparativamente a outros setores, refletindo maior oferta de profissionais e uma procura concentrada em funções administrativas e de suporte”, observa a Randstad, que indica que, neste caso, o salário médio varia entre 23.500 euros e 32 mil euros anuais.

Por fim, na banca e seguros, os salários estão estáveis, mas menos competitivos face à tecnologia e à saúde, “com destaque para funções regulatórias e de análise de risco”. O salário médio, neste setor, varia entre 25.200 euros e 32.600 euros, segundo o estudo agora conhecido.

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