Hovione. Da vivenda na Lapa a fornecedora de 19 gigantes farmacêuticas
Hovione recebeu o prémio Léonard de Vinci. É a primeira vez que uma empresa portuguesa familiar recebe este prémio atribuído pela associação francesa Les Hénokiens e pelo Château du Clos Lucé.
Há empresas que nascem em garagens. A Hovione começou numa vivenda na Lapa, com jardim. Acaba de receber o prémio Léonard de Vinci. É a primeira vez que uma empresa portuguesa familiar recebe este prémio atribuído pela associação francesa Les Hénokiens e pelo Château du Clos Lucé.
“É o resultado de muitos anos de trabalho, muitos anos de grande esforço, muitos anos de consolidação que está a mostrar hoje em dia os resultados: as grandes empresas farmacêuticas vêm ter connosco com os seus desafios mais complicados para nós resolvermos”, considera Diane Villax, que com o marido Ivan Villax, um refugiado húngaro, criou há 66 anos a Hovione.

“Os primeiros dez anos foram complicados. Nós trabalhámos de casa. O meu marido tinha um laboratório na cave e eu trabalhava no rés-do-chão e tínhamos quatro filhos”, recorda a fundadora.
Uma espécie de empresa de garagem? “Era uma vivenda na Lapa com jardim”, reage humorada Diane Villax. “Mas tínhamos quatro filhos e lembro que quando a laboração saiu da Travessa do Ferreiro eram 11 pessoas que entravam diariamente na minha casa para trabalhar e almoçavam lá”.
Hoje seria um pouco mais difícil. Só da unidade de Sete Casas, no concelho de Loures, a primeira e maior unidade de produção da Hovione, saem e entram diariamente mais de mil pessoas. Em Portugal, onde em 2027 se prepara para inaugurar mais uma fábrica, num investimento de 200 milhões de euros, já tem cerca de 1.800 trabalhadores. Um valor que sobe para 2.500, juntando os trabalhadores nas unidades de Macau, Estados Unidos (Nova Jersey) e Irlanda (Cork).
Diz que a empresa trabalha com 19 das 20 farmacêuticas globais, sendo que entre 5% a 10% das novas drogas aprovadas anualmente nos Estados Unidos pela FDA têm componentes produzidas pela Hovione. As componentes fazem parte de medicamentos que chegam a cerca de 80 milhões de pacientes.
Em 66 anos, em momento algum foi equacionado mudar a produção para outras localizações? “Não”, responde. “O meu marido era húngaro e eu sou inglesa e portuguesa. Escolhemos Portugal para nos instalarmos e estabelecer o nosso negócio. Em 1984 estabelecemos a Hovione Macau, em 2001 a Hovione New Jersey, em 2009 adquirimos a fábrica em Cork, mas isto nasceu aqui em Loures, desenvolveu em Loures e hoje em dia Loures está mais compacto, por isso é que estamos a construir no Seixal”, diz.
Um processo de crescimento contínuo — há planos de investimento para os Estados Unidos e Irlanda, bem como Portugal — onde ser uma empresa familiar não pesou negativamente nas escolhas das farmacêuticas na hora de escolher o seu fornecedor. Pelo contrário. “Numa empresa familiar, uma pessoa pode olhar no longo termo, não tem de pensar na bolsa ou no forecast daqui a três meses. Portanto, tem toda a vantagem ser uma empresa familiar”, argumenta.
Com cerca de 90 anos, Diane Villax ainda se mantém ativa na empresa. “Vêm pedir-me para eu falar. Pois, começo a ser uma lenda, está a ver?”, diz, bem humorada. “Ajudo no onboarding e depois faço parte do conselho de administração. Tenho de estar a par da situação”. E tem poder de veto? “Não, tenho um voto”, diz.
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