BCE escolhe unicórnio português para combater fraudes no euro digital
Tecnológica portuguesa Feedzai vai assumir papel central na prevenção de fraudes do euro digital, após ser escolhida pelo Banco Central Europeu como fornecedora principal.
O Banco Central Europeu (BCE) escolheu a tecnológica portuguesa Feedzai como fornecedora principal para o sistema de gestão de risco e prevenção de fraudes do euro digital, num contrato de quatro anos que pode valer até 237 milhões de euros, após um rigoroso processo de concorrência iniciado em janeiro de 2024.
A decisão, anunciada esta quinta-feira, representa um marco histórico para o ecossistema tecnológico nacional e coloca a empresa nascida em Coimbra no centro da futura revolução dos pagamentos digitais na Europa. “Ser selecionado como o licitante classificado em primeiro lugar no acordo-quadro para garantir o euro digital é uma honra e uma responsabilidade”, destaca Nuno Sebastião, cofundador e CEO da tecnológica, sublinhando que o pael da Feedzai será “fornecer a inteligência que impede até mesmo as fraudes mais sofisticadas, garantindo a confiança em todas as transações digitais em euros desde o primeiro dia.”
Cofundada em 2011 por Nuno Sebastião, Pedro Bizarro e Paulo Marques, a Feedzai atingiu em dez anos o estatuto de unicórnio nacional com uma avaliação acima de mil milhões de dólares. E esta quinta-feira anunciou também que, após uma nova ronda de investimentos de aproximadamente 75 milhões de dólares, a empresa foi avaliada em 2 mil milhões de dólares. A empresa revela que esta ronda contou com os investidores institucionais Lince Capital, Iberis Capital e Explorer Investments, além do apoio renovado da Oxy Capital e da Buenavista Equity Partners.
“Esta nova ronda de investimentos permite-nos continuar a impulsionar a inovação para nos defendermos contra o que quer que venha a seguir, para que todas as formas de pagamento, mesmo aquelas ainda por imaginar, possam ser confiáveis e adotadas com segurança”, refere Nuno Sebastião em comunicado.
No âmbito do combate à fraude do euro digital, a Feedzai promoverá em colaboração com a PwC a disponibilização de um modelo de inteligência artificial que avaliará as transações em euro digital de acordo com o risco de fraude, tendo por base desvios face ao padrão habitual de comportamento, interações e histórico de cada cliente. “Este é um dos projetos de infraestrutura digital mais importantes da história da Europa — uma base para a confiança na era digital”, refere Liviu Chirita, responsável global do departamento da PwC de Tecnologia contra Crimes Financeiros, também em comunicado.
Além da Feedzai, o BCE selecionou outros fornecedores europeus para diferentes componentes do euro digital. A sucursal alemã da Capgemini surge como segundo fornecedor na área de gestão de risco, enquanto empresas como Sapient GmbH, equensWorldline e Giesecke+Devrient foram escolhidas para outras vertentes do projeto.

A estratégia do BCE passa por ter sempre dois fornecedores para cada componente. “Os pedidos de serviço serão inicialmente direcionados para o fornecedor classificado em primeiro lugar; o fornecedor classificado em segundo lugar só será abordado se necessário“, esclarece o banco central. Além disso, o comunicado do BCE refere que “os acordos-quadro não envolvem qualquer pagamento nesta fase e incluem salvaguardas que permitem ajustar o âmbito de aplicação em função das alterações legislativas.”
O projeto do euro digital representa uma das iniciativas mais ambiciosas do BCE para preservar a soberania monetária europeia num mundo cada vez mais dominado por plataformas de pagamento americanas e chinesas. Porém, a implementação do euro digital enfrenta ainda vários obstáculos regulamentares. O banco central ainda aguarda aprovação legislativa para o seu euro digital, com as melhores previsões a apontarem para o lançamento do euro digital em 2029.
Recentemente, Piero Cipollone, membro do conselho do BCE, disse que o Parlamento Europeu, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia executiva poderão ter as suas respetivas posições prontas em maio, para que depois se possa iniciar um trabalho conjunto sobre a legislação. Uma vez que isso esteja em vigor, o BCE precisará de dois anos e meio a três anos para lançar a moeda.
A Feedzai processa atualmente mais de 8 biliões de dólares por ano em pagamentos, protegendo cerca de mil milhões de consumidores mundialmente por via da monitorização de transações em cerca de 190 países por via de clientes como o Citigroup, Banco Santander, Standard Chartered Bank, Novobanco, a fintech SoFi e muitos outros.
Segundo dados da empresa, a plataforma de pontuação de risco da Feedzai é utilizada por mais de mil instituições financeiras norte-americanas e conta com mai de 600 funcionários espalhados pelo globo.
(Notícia atualizada às 15h com declarações de Nuno Sebastião)
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