Banco de Portugal revê em alta crescimento para 1,9% este ano e mantém 2,2% em 2026

Atualização resulta em larga medida da revisão em alta dos dados do INE e, em menor grau, de uma dinâmica mais acentuada do consumo privado.

O Banco de Portugal (BdP) reviu em alta o crescimento económico deste ano para 1,9%, mantendo a previsão de 2,2% para o próximo ano e de 1,7% em 2027. A projeção do regulador bancário para 2025 aproxima-se assim da taxa do Governo, que rondará os 2%, e está a ser sobretudo impulsionada pelo consumo.

A três dias da entrega do Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), o Banco de Portugal divulgou esta terça-feira o “Boletim Económico” de outubro, no qual aponta para um crescimento assente num mercado de trabalho robusto, num alívio das condições financeiras, dos fundos europeus e pelas medidas de política orçamental. Um documento publicado no dia seguinte à tomada de posse de Álvaro Santos Pereira como governador do Banco de Portugal e, que por esse motivo, não foi apresentado publicamente.

A explicar a revisão em alta do crescimento económico para este ano, face aos 1,6% previstos em junho, está um melhor desempenho no segundo semestre, resultado sobretudo de um consumo privado mais dinâmico do que o esperado — refletindo as medidas de política do Governo: IRS e ‘bónus’ para os pensionistas — e, em larga medida, a atualização recente do Instituto Nacional de Estatística (INE) que implicou um aumento do volume e deflator do Produto Interno Bruto (PIB). Ou seja, a economia portuguesa cresceu 2,1% em 2024 e não 1,9% conforme anteriormente estimado pelo organismo de estatística.

No programa eleitoral a AD apontava para uma taxa de crescimento de 2,4% este ano e 2,6% no próximo, já a contar com o efeito multiplicador do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas nas reuniões de setembro com os partidos políticos, o Governo sinalizou que a taxa iria rondar os 2%.

A explicar a revisão em alta para o crescimento económico está um consumo privado mais dinâmico do que o esperado e, em larga medida, a atualização recente dos dados do INE.

A previsão do Banco de Portugal para este ano alinha com a do Conselho das Finanças Públicas (CFP) e com a da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ficando próxima da esperada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2% e da Comissão Europeia de 1,8%.

A puxar pela economia está sobretudo o consumo privado, que na projeção cresce 2,2% este ano e 2% no próximo. Já o investimento sobe 3% em 2025 e 5,3% em 2026, enquanto as exportações aumentam 1,1% este ano e 2,2% no próximo.

“Boletim Económico” de outubro do Banco de Portugal

Na projeção do regulador, o PIB deverá crescer em média 2% entre 2025 e 2027, uma taxa próxima da registada entre 2020 e 2024, mas com um maior contributo da procura interna, já que o consumo privado deverá ter um contributo médio de 0,9 pontos percentuais (pp.) no horizonte de projeção.

Ainda assim, o BdP assinala que após “o dinamismo excecional” de 2024, o rendimento disponível real das famílias terá aumentos mais moderados: 7,2% em 2024, 3% em 2025, 0,9% em 2026 e 2,1% em 2027. “Esta evolução reflete um arrefecimento do mercado de trabalho, e o impacto contemporâneo e desfasado das medidas orçamentais”, explica.

O Banco de Portugal assinala que após “o dinamismo excecional” de 2024, o rendimento disponível real das famílias terá aumentos mais moderados.

Paralelamente, a taxa de poupança diminui no horizonte de projeção, traduzindo “a hipótese de dissipação da incerteza e o alisamento do perfil de consumo”.

Para o investimento a expectativa é de um crescimento de 3% em 2025, 5,3% em 2026 e 0,6% em 2027, embora com um perfil diferenciado entre as componentes pública, de habitação e empresarial. Entre 2025 e 2026 deverá ser o dinamismo do investimento público a destacar-se, seguido de uma queda em 2027, com o fim do período de execução do PRR.

No que toca às exportações, as indicações preliminares para o primeiro semestre de 2025 “são negativas”, num quadro de turbulência das trocas comerciais globais e ameaças tarifárias. “Neste contexto, é feita uma avaliação conservadora da evolução da quota de mercado das exportações, assumindo-se a ausência de ganhos, em média, no horizonte de projeção“, destaca.

Melhor posição para absorver choques

O Banco de Portugal considera ainda que “a economia portuguesa está em melhores condições do que no passado para absorver choques, mas existem riscos importantes no horizonte”.

Entre estes destaca um agravamento das tensões comerciais e geopolíticas com consequências para as cadeias de abastecimento globais, “com efeitos negativos no comércio mundial e na procura externa dirigida a Portugal”, bem como um eventual “aumento dos preços das matérias-primas”. Ademais, aponta, “se estas tensões se intensificarem, os efeitos sobre a confiança e os mercados financeiros e cambiais serão mais adversos, gerando uma recessão global, com impacto negativo sobre a inflação”.

“A existência de desafios ao crescimento reforça a importância das políticas e reformas estruturais“, refere o relatório, no qual se pode ainda ler que “a previsibilidade das políticas e a continuação da redução sustentada dos rácios de endividamento das empresas, famílias e Administrações Públicas são também condições necessárias para a estabilidade macroeconómica e para o crescimento sustentável”.

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