BRANDS' ECO Boa gestão do turismo é chave para sustentabilidade do Parque Natural de Sintra
O equilíbrio entre turismo e conservação esteve no centro da conferência promovida pelo ECO e pela Parques de Sintra, dedicada a discutir o futuro sustentável do Parque Natural de Sintra-Cascais.
Num território onde a natureza, a cultura e a economia se cruzam, pensar o futuro do Parque Natural de Sintra-Cascais é também refletir sobre o equilíbrio entre conservação e desenvolvimento. A gestão sustentável deste património exige decisões que conciliem a proteção ambiental com a vitalidade das comunidades e o dinamismo do turismo.
Com esse objetivo, o ECO e a Parques de Sintra promoveram a conferência “O Futuro Sustentável do Parque Natural de Sintra-Cascais”, que decorreu esta quinta-feira, no Palácio Nacional de Sintra. Um encontro que juntou vários representantes do setor público e privado para debater caminhos de sustentabilidade capazes de preservar o território sem travar o seu crescimento.
“Estamos neste palácio a discutir natureza, património e economia para que seja um ponto de partida para pôr no debate público o contributo do cruzamento da natureza, da economia e da sustentabilidade. Neste âmbito, sabemos que o turismo, nomeadamente o de natureza e o cultural, tem um papel muito importante que pode ser reforçado”, começou por dizer António Costa, Diretor do ECO, na abertura do evento.
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João Sousa Rego, Presidente da PSML David Martins/ECO -
António Costa, Diretor do ECO David Martins/ECO -
João Silva Lopes, Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças David Martins/ECO
Para João Sousa Rego, Presidente da PSML, “a sustentabilidade não é apenas um conceito ou uma meta, mas a essência da missão da PSML”: “A paisagem cultural de Sintra é uma paisagem viva, inscrita na UNESCO, que vive do equilíbrio que procuramos manter e renovar todos os dias, com base num modelo de gestão que une a economia, a ciência e a cultura, e que faz da empresa uma referência internacional na integração entre património natural e cultural“.
Nesse sentido, João Silva Lopes, Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, que também marcou presença na abertura da sessão, salientou o fraco crescimento económico que Portugal tem vindo a ter desde 2020, mas partilhou algumas das medidas que o governo tem implementado com o intuito de contrariar essa tendência. Entre elas, a diretiva sobre o relato de sustentabilidade CSRD, com a qual ficou decidido que as empresas devem reportar no seu relato de sustentabilidade os impactos que sofrem na sua esfera, externalidades que influenciam e impactam na sua atuação, mas também os impactos que elas próprias produzem.
“Nessa linha, estão a ser definidos os limites a partir dos quais as empresas têm de apresentar os seus relatos de sustentabilidade. Em princípio, fala-se que será a partir dos mil trabalhadores e dos 450 milhões de euros de volume de negócios. A supervisão vai ser assegurada pela CMVM e nós pretendemos que, em Portugal, esta supervisão se aplique quer às empresas cotadas, quer às não cotadas, quer às empresas públicas, quer às empresas privadas“, explicou.
O impacto do turismo na comunidade, no património e na cultura
No primeiro painel de debate da conferência, foi abordado o equilíbrio da gestão do património e da cultura com a comunidade que, para Madalena Martins, da Associação QSintra em Defesa de um Sítio Único, não existe: “Não há equilíbrio. Penso que esta nova administração pode ser um ponto de partida muito importante para uma mudança radical na forma como Sintra é gerida. Isto porque o que se tem passado nos últimos anos é, por um lado, uma incompetência total da Câmara Municipal para planear e gerir este território e, por outro lado, um afastamento progressivo dos organismos públicos que deviam ajudar, nomeadamente o ICNF, o Património Cultural, que gradualmente foram desaparecendo da avaliação e das decisões. Portanto, hoje em dia, o cenário é mau”.
“No pilar ambiental, temos um Parque Natural que está muito abandonado e que grande parte da sua área, que tem uma gestão pública, está muito mal gerida. Não há sinalética na maior parte das entradas do parque, não há um cuidado mínimo. Além disso, vive-se um ambiente de poluição atmosférica e de ruído. Mas tudo isso é completamente ignorado por quem deveria controlar estes fenómenos. Do ponto de vista económico, é evidente que se instalou uma monocultura do turismo, mas este tem de ser organizado com uma gestão criteriosa e cuidada. Já do ponto de vista social, nota-se um despovoamento progressivo nos bairros do centro histórico devido ao preço das rendas, ao alojamento local, ao trânsito. A qualidade de vida tem baixado imenso e há muitas pessoas a sair de Sintra por isso, o que leva a uma perda na parte cultural, dos costumes, das tradições, das artes e ofícios“, elucidou Madalena Martins.
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Painel de debate moderado por Luís Ferreira Lopes, ECO, com Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD; Madalena Martins, Associação QSintra em Defesa de um Sítio Único; e Luís Correia da Silva, CEO da ThinkTUR David Martins/ECO -
Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD David Martins/ECO -
Madalena Martins, Associação QSintra em Defesa de um Sítio Único David Martins/ECO -
Luís Correia da Silva, CEO da ThinkTUR David Martins/ECO
Apesar dessa realidade, Luís Correia da Silva, CEO da ThinkTUR, considera que a tendência é que o turismo continue a aumentar e que, por essa razão, a solução passa por saber gerir esse fluxo: “Nós já não temos de investir milhões à procura dos turistas, temos é de encontrar formas de gerir esse fluxo turístico e a atividade económica relacionada com ele, para que os residentes se sintam confortáveis com o modo como essas pessoas se comportam. É importante que os próprios turistas percebam que existe essa boa gestão e sintam que lhes é mostrado o que vale a pena, que são experiências diferentes”.
Contudo, essa gestão traz um grande desafio pelo facto de Sintra se tratar de um “ecossistema com várias componentes”. Ainda assim, de acordo com Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD, esse fator também pode ser uma vantagem. “Sintra é um ecossistema muito interessante porque como tem estas várias componentes também permite criar experiências, de modo a conseguir conciliar o património cultural riquíssimo com o vasto património natural e com a comunidade, quer a que vive cá, quer a que chega a Sintra de forma massificada”, disse.
Além disso, destacou o papel das empresas nesta gestão pelos “ativos naturais que têm de gerir, já que isso interfere diretamente com o seu negócio” e ainda garantiu que o BCSD tem vindo a “despertar outras empresas em que a biodiversidade ou o património natural não está diretamente relacionado com o seu negócio, mas está na sua cadeia de valor”. “Temos de coordenar estes stakeholders – a Câmara Municipal de Sintra, a Parques de Sintra, entidades públicas e privadas, e a comunidade porque a evidência mostra que se a comunidade não estiver absolutamente envolvida e positiva na mudança, não vai correr bem”, lembrou.
Como fazer a melhor gestão do turismo?
Esta coordenação feita em parceria com várias entidades também foi abordada no segundo painel de debate da conferência, moderado por Carlos Lobo, Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, no qual se discutiram algumas soluções, mas também os desafios do turismo em Sintra.
“O problema é não haver uma governação que envolva todas as partes interessadas e que tire partido da transformação digital, da ciência dos dados, e da IA para conseguirmos compatibilizar todos os interesses, de forma a criar valor e preservar o que há para ser preservado“, começou por dizer Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA IMS, que ainda sugeriu o desenvolvimento de “uma plataforma que desenvolva dados que caracterizem a dinâmica do território que permitisse gerir operações, desenhar políticas públicas e planear o futuro”.
E, apesar de considerar um “desafio acrescido” fazer isto acontecer em Sintra, Miguel de Castro Neto continua a acreditar nessa possibilidade, muito pelo “bom trabalho” que a Parques de Sintra Monte da Lua tem vindo a fazer: “A Parques de Sintra é um exemplo único à escala nacional. Só lhe falta fazer uma articulação com outras entidades públicas e privadas para criar esta plataforma digital e de coordenação e articulação com as entidades responsáveis pela mobilidade, para promover a sua melhor gestão”.
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Painel de debate moderado por Carlos Lobo, Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, com Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA IMS; Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do ICNF; e Teresa Monteiro, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal David Martins/ECO -
Miguel de Castro Neto, Dean da NOVA IMS David Martins/ECO -
Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do ICNF David Martins/ECO -
Teresa Monteiro, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal David Martins/ECO -
Maria da Graça Carvalho, Ministra do Ambiente e Energia David Martins/ECO
A mesma opinião foi partilhada por Nuno Banza, Presidente do Conselho Diretivo do ICNF, que partilhou o orgulho que sente no trabalho desempenhado pela Parques de Sintra e a possibilidade do ICNF poder delegar mais tarefas à empresa. “Nós somos um dos acionistas maioritário da Parques Sintra Monte da Lua e delegamos-lhe uma quantidade significativa de tarefas, que são extraordinariamente bem executadas. Mas estamos confortáveis em delegar mais poder à Parques de Sintra para que ela possa fazer melhor esse trabalho”, admitiu.
Para que esta gestão seja bem sucedida, Teresa Monteiro, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, não tem dúvidas de que se deve olhar para o turista como “um ativo muito importante”: “Eu não diria que há mais turistas, há é falta de gestão do espaço e do fluxo desses turistas. É preciso criar produtos turísticos que reconheçam as tradições, a cultura e os saberes de uma determinada zona, que os saibam organizar e estruturar num produto turístico, e é nisso que temos vindo a trabalhar”.
No encerramento da conferência, Maria da Graça Carvalho, Ministra do Ambiente e Energia, reconheceu que os pontos discutidos no evento têm sido “um pilar orientador para o governo”, nomeadamente “a conjugação dos objetivos climáticos e ambientais da proteção da natureza, da biodiversidade, com o crescimento económico, a captação de investimento, a criação de oportunidades para as pessoas e para as empresas“. “Acreditamos que conciliar os objetivos da sustentabilidade ambiental e económica é não apenas possível, mas o caminho certo para o nosso futuro”, concluiu.
Assista à conferência completa aqui:
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