Corticeira Amorim cai 7% em bolsa e regressa a preços de maio de 2016
Queda dos lucros e das vendas nos primeiros nove meses do ano, a par da crise do setor vinícola, derrubam a Corticeira Amorim em bolsa, na maior queda diária das ações desde a pandemia da Covid-19.
As ações da Corticeira Amorim COR 1,51% chegaram a afundar 7,3% esta terça-feira na bolsa de Lisboa, a maior queda diária desde 16 de março de 2020, em plena derrocada dos mercados acionistas provocada pelo início da pandemia de Covid-19.
As ações da empresa liderada por António Amorim negoceiam atualmente abaixo da barreira psicológica dos 7 euros pela primeira vez desde maio de 2016, com os títulos a transacionarem nos 6,81 euros e a cair 7%. Desde o arranque do ano, os títulos da Corticeira Amorim acumulam uma desvalorização de 11,7%, com dividendos.
Uma descida abrupta que a torna na lanterna vermelha do PSI da sessão desta terça-feira, e apaga quase cinco anos de ganhos, que marca o regresso dos títulos a preços vistos pela última vez, quando, em novembro de 2016, os acionistas de referência venderam 10% da empresa a investidores institucionais a 7,90 euros por ação.
A reação violenta dos investidores surge em resposta aos resultados dos primeiros nove meses do ano, publicados na segunda-feira após o fecho do mercado, que evidenciaram uma deterioração generalizada do desempenho operacional, com os lucros consolidados a encolherem 4,5% para 45,7 milhões de euros, enquanto as vendas recuaram 6,8% para 676,5 milhões de euros.
A atividade da Corticeira Amorim nestes nove meses foi, naturalmente, condicionada por este contexto de elevada incerteza e reduzida previsibilidade, com impacto nos níveis de consumo e levando os nossos clientes a adotarem políticas de compra mais prudentes.
De acordo com os números apresentados, todas as unidades de negócio da empresa de Santa Maria da Feira registaram quebras nas vendas, num contexto que o presidente e CEO António Rios de Amorim classifica como “mais desafiante do que inicialmente previsto”, referindo que as tensões geopolíticas e as alterações no comércio internacional impactaram negativamente o mercado, “num cenário de transformação dos hábitos de consumo de álcool que impõe pressões acrescidas ao setor vitivinícola.”
- A Amorim Cork Solutions, que concentra os negócios “não rolha” como pavimentos, compósitos e isolamentos, foi particularmente penalizada. Excluindo o efeito da venda da dinamarquesa Timberman Denmark em dezembro de 2024, a redução das vendas desta unidade teria sido de 11,2%.
- Os números consolidados mostram que as vendas dos primeiros nove meses totalizaram 676,5 milhões de euros, uma queda de 6,8% face ao período homólogo. Sem o impacto da alienação da Timberman, as vendas teriam caído “apenas” 3,6%, o que ainda assim representa uma contração significativa. No terceiro trimestre isolado, a queda das vendas foi ainda mais pronunciada: -9,8%, para 203,4 milhões de euros.
- O EBITDA consolidado totalizou 117,6 milhões de euros, comparando com 127,6 milhões de euros em igual período do ano passado, uma quebra de 7,9%. Este recuo foi “pressionado por um mix de produto mais desfavorável e pelo efeito da desalavancagem operacional”, justifica a empresa em comunicado. A margem EBITDA, no entanto, manteve-se relativamente estável nos 17,4%, apenas duas décimas abaixo dos 17,6% registados nos nove meses de 2024.
A Corticeira Amorim justifica esta resiliência da margem com “os menores custos e a melhor qualidade da matéria-prima cortiça trabalhada, as eficiências industriais e os benefícios decorrentes da reorganização da Amorim Cork Solutions, [que] possibilitaram compensar aqueles efeitos”. Ainda assim, o EBIT corrente caiu 15,2%, para 72,3 milhões de euros.
A crise no setor do vinho, que representa o principal mercado para as rolhas de cortiça da empresa, tem-se agravado de forma dramática. A vindima de 2024 foi classificada pela Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (Anceve) como “uma das mais dramáticas da história da vitivinicultura portuguesa”, com muitos viticultores a deixarem as uvas por colher devido à ausência de compradores ou a preços que implicavam prejuízos insustentáveis.
Para 2025, as perspetivas são ainda mais sombrias. “A vindima de 2025 será muito provavelmente ainda mais dramática do que a do ano passado, tal como as notificações aos viticultores por parte de compradores tradicionais, anunciando que não lhes ficarão este ano com as uvas, antecipam desde já”, alertou Paulo Amorim, presidente da Anceve, em julho deste ano.
O contexto adverso levou a que “a atividade da Corticeira Amorim nestes nove meses foi, naturalmente, condicionada por este contexto de elevada incerteza e reduzida previsibilidade, com impacto nos níveis de consumo e levando os nossos clientes a adotarem políticas de compra mais prudentes”, admite o CEO da empresa.
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Apesar destas nuvens, a Corticeira Amorim conseguiu registar progressos significativos na redução do endividamento. No final de setembro, a dívida remunerada líquida ascendia a 99,2 milhões de euros, uma redução de 96,5 milhões de euros face aos 195,7 milhões de euros registados no final de dezembro de 2024. Esta melhoria foi possível apesar do pagamento de dividendos no montante de 42,6 milhões de euros e do investimento em ativo fixo de 24,6 milhões de euros, graças à “forte geração de fluxos de caixa” de 153,5 milhões de euros.
“Acreditamos que os momentos de adversidade representam oportunidades para fortalecer o nosso modelo de negócio e garantir bases sólidas para um crescimento sustentável da Corticeira Amorim no futuro”, afirma o CEO da empresa em comunicado
A estratégia da empresa para contornar este momento passa por “robustecer” a oferta, “apostando em inovação e desenvolvimento, evidenciando as mais-valias técnicas e de sustentabilidade dos nossos produtos”. Paralelamente, “a redução do nível de endividamento e a proteção da rentabilidade foram também prioridades, tendo-se implementado medidas para otimizar a estrutura de custos e reforçar a eficiência operacional”.
A reação do mercado, contudo, sugere que os investidores não estão convencidos de que estas medidas sejam suficientes para contrariar os ventos desfavoráveis que sopram sobre o setor. Com as ações a recuarem para níveis não vistos há quase uma década, a Corticeira Amorim enfrenta um dos períodos mais desafiantes da sua história recente, num momento em que a crise estrutural do setor vitivinícola se aprofunda e as incertezas geopolíticas e comerciais se acumulam.
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