Inovação nas PME implica pensar diferente e fazer depressa
Da contabilidade à indústria, o segundo encontro Impulso PME mostrou que inovar não é apenas criar produtos e serviços. É preciso ter disciplina e tomar decisões rápidas, no momento certo.
Na segunda talk Impulso PME, organizada pelo ECO com o apoio da Five Credit, o diagnóstico não deixou margem para dúvidas: as pequenas e médias empresas (PME) portuguesas só conseguirão inovar e competir se aliarem informação, financiamento diversificado e execução rápida.
“O essencial é ter uma mentalidade de inovação e pensar o que podemos fazer melhor”, começou por dizer Tiago Freire, subdiretor do ECO, na abertura da sessão que reuniu gestores e investidores em dois painéis em que a disrupção foi o mote.
Inovar começa nas contas
O primeiro debate juntou Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC Portugal, Carlos Duarte Oliveira, chairman da Moneris, António Rocha e Silva, partner na Explorer Investments, e Mafalda Duarte, CEO da Five Credit, numa conversa sobre as condições estruturais que tornam possível inovar, tanto no capital humano como no acesso a financiamento.

António Rocha e Silva começou por desmistificar a ideia de que inovação é sinónimo de tecnologia, e apontou-o como ponto de diferenciação. “Inovar não é só investir em software ou máquinas. É um processo de diferenciação, que pode ser um novo modelo de negócio, um serviço ou um procedimento feito de forma diferente. E esse mindset está, felizmente, a mudar”, considerou. O investidor destacou ainda que as PME que mais crescem “são as que institucionalizam a inovação”, tornando-a parte do seu modelo de gestão e não apenas um projeto pontual.
De um ponto de vista mais pragmático, Carlos Duarte Oliveira lembrou que a inovação também começa nas contas. “Quando falamos de PMEs, estamos muito mal ainda… 80% do trabalho que os contabilistas fazem pode ser automatizado”, afiançou. A automação liberta tempo e permite que o contabilista se torne “um verdadeiro consultor financeiro, capaz de ajudar o empresário a interpretar dados e a tomar decisões”. E alertou que “quem não souber usar as novas ferramentas de inteligência artificial vai ter um problema”. “Não é uma opção, é uma questão de sobrevivência”, assegurou.
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"A inovação exige investimento contínuo e planeamento financeiro", diz Mafalda Duarte, CEO da Five Credit -
“Portugal precisa de transformar conhecimento em valor económico”, assinalou Jorge Portugal -
"Quem não souber usar as novas ferramentas de inteligência artificial vai ter um problema”, referiu Carlos Duarte Oliveira -
“Inovar não é só investir em software ou máquinas. É um processo de diferenciação, que pode ser um novo modelo de negócio, um serviço ou um procedimento feito de forma diferente. E esse mindset está, felizmente, a mudar”, considerou António Rocha e Silva
Do lado do financiamento, Mafalda Duarte não tem dúvidas de que muitas empresas continuam a desconhecer os instrumentos disponíveis. “Há muitas que não sabem o que é um fundo de crédito ou um modelo de financiamento alternativo. Informar é essencial para que possam escolher o produto certo em cada fase”, considerou. A diretora da Five Credit lembrou ainda que “a inovação exige investimento contínuo e planeamento financeiro”, e que o custo do capital não pode ser o único critério. É preciso “perceber que tipo de instrumento melhor serve a estratégia da empresa” em cada momento.
“Portugal precisa de transformar conhecimento em valor económico”, assinalou Jorge Portugal. O líder da COTEC lembrou que “o que prevê o desempenho de uma empresa é a combinação entre o balanço tangível e o intangível”, ou seja, “o conhecimento, a marca, a capacidade de aprender”. Apesar de o país ter tido, nos últimos anos, uma evolução positiva, há ainda caminho a percorrer, sobretudo ao nível do investimento feito pelas organizações com vendas além-fronteiras.
“Temos cerca de 40 mil empresas exportadoras, mas apenas uma em cada dez investe em I&D. É este o nosso verdadeiro défice competitivo”, lamenta.
Velocidade como vantagem competitiva
O segundo painel trouxe o olhar de quem aplica a inovação todos os dias, com Duarte Champalimaud, vice-presidente da GLN, João Saramago Tavares, CEO da Top Brands, e Jorge Cunha, CEO da Eurosafe.

Duarte Champalimaud recorreu à visão a partir da indústria transformadora, onde lidera uma empresa que trabalha com marcas globais. “Fazemos 12 milhões de cápsulas por semana num projeto de coinovação com a Delta, mas enfrentamos um défice de competitividade brutal”, reconhece. Em causa estão, garante, “as regras europeias e os custos energéticos” que “estão a afastar produção da Europa”. Ainda assim, reforçou que a aposta em inovação é o que permite manter atividade industrial em Portugal. “É a única forma de subir na cadeia de valor e de garantir que a produção não foge para países com menos custos”.
Na área do consumo e do retalho, João Saramago Tavares explicou a filosofia da Top Brands, empresa que gere marcas como a New Yorker ou a Women’secret. “Somos freaks da velocidade. Idealizamos um produto hoje e, em dois meses, ele tem de estar na prateleira”, partilhou. Essa rapidez é uma vantagem competitiva num setor que vive de tendências e respostas imediatas, especialmente quando se quer ter dimensão internacional. “Queremos jogar à escala europeia e, depois, ter ambição mundial. O nosso segredo é a execução”, assegura.
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Somos freaks da velocidade. Idealizamos um produto hoje e, em dois meses, ele tem de estar na prateleira”, partilhou João Saramago -
A inovação vem muitas vezes da necessidade, mas o desafio é depois estruturá-la e fazê-la crescer com método", disse orge Cunha, CEO da Eurosafe -
“Fazemos 12 milhões de cápsulas por semana num projeto de coinovação com a Delta, mas enfrentamos um défice de competitividade brutal”, reconhece Duarte Champalimaud, vice-presidente da GLN
Por outro lado, Jorge Cunha contou como uma empresa tradicionalmente focada em segurança se conseguiu reinventar durante o exigente período pandémico. “Estava no aeroporto quando percebi: isto vai parar tudo. Começámos logo a mandar vir contentores de equipamento de proteção”, recordou. Dessa urgência nasceu uma nova divisão dedicada à saúde e uma especialização em contratação pública em que tem apostado desde então. “A inovação vem muitas vezes da necessidade, mas o desafio é depois estruturá-la e fazê-la crescer com método”.
Entre investidores e gestores, o consenso é de que inovar não pode ser um ato isolado, mas antes um processo sustentado em informação, planeamento e execução. “Com mais informação tomamos melhores decisões”, reforçou Mafalda Duarte, sublinhando o papel dos dados na gestão moderna. “O que distingue as que crescem é a capacidade de aprender mais depressa do que o mercado muda”, rematou Jorge Portugal.
Assista aqui:
Primeiro painel
Segundo painel
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