Produtora de novo filme de Kevin Spacey suspeita de usar Portugal para ‘lavar’ dinheiro
DIAP de Lisboa suspeita de branqueamento de capitais em transferências da dona da Elledgy Media, que está a produzir película protagonizada pelo norte-americano, através de contas em bancos nacionais.
A produtora que financia o filme “The Portal of Force” — protagonizado pelo ator norte-americano Kevin Spacey e cuja estreia está marcada para o final do próximo ano — é gerida por Elvira Paterson, uma empresária ucraniana a viver em Lisboa há oito anos e que o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) descobriu ter ligações a um russo acusado nos EUA por alegadamente ter burlado milhares de investidores individuais num esquema de fraude com criptomoedas, estimado em 340 milhões de dólares.
Segundo revela o projeto “The Coin Laundry”, a mais recente investigação do ICIJ e que contou com a colaboração do Expresso (acesso pago), a dona da produtora portuguesa Elledgy Media confessou, numa troca de mensagens com um advogado no início deste ano, que mais de quatro milhões de dólares “tinham passado” pela sua empresa desde que conheceu Vladimir Okhotnikov, um empresário russo de 47 anos que é também criador, coargumentista e coprodutor do filme. “O resto foi em cripto”, disse. Elvira Paterson queria saber se, nesse cenário, não deveria aumentar o capital social da sua empresa.
Seis meses depois, o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa abriu um inquérito-crime por branqueamento de capitais a partir de relatórios sobre entradas e saídas de dinheiro suspeitas, enviados para o Ministério Público por bancos em Portugal onde a empresária ucraniana e a Elledgy Media têm contas. Numa delas, no BCP, a produtora — que foi constituída em novembro de 2023 com apenas 500 euros de capital social e um apartamento em Benfica a servir de primeira sede — recebeu uma centena de transferências, no montante total de 4,8 milhões de euros, entre abril de 2024 e maio deste ano, além de quase 50 mil euros de depósitos em dinheiro vivo.
Adicionalmente, numa conta pessoal no Novobanco, Elvira Paterson depositou 300 mil euros em dinheiro vivo e recebeu três transferências de 143 mil euros entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano. A empresária ucraniana declarou estas verbas como sendo um presente dos pais dela e que iriam servir para amortizar um crédito à habitação de 350 mil euros contraído no início de 2024, quando adquiriu um apartamento em Odivelas ou, então, para comprar uma nova casa.
De acordo com a investigação do ICIJ, entre a segunda metade de 2024 e a primeira de 2025, a Elledgy Media organizou eventos com a presença de estrelas de Hollywood para promover os interesses de Vladimir Okhotnikov nos EUA, França, Itália, Índia e Emirados Árabes Unidos. O primeiro desses eventos foi organizado em julho do ano passado em Saint-Tropez para o Meta Force, um dos projetos de criptomoedas do empresário russo, que acabaria por ser encerrado dois meses depois.
O filme terá surgido como parte de uma estratégia maior de criar um “universo cinematográfico” para o Meta Force, entretanto substituído por um outro esquema de investimentos em criptomoedas: o Holiverse. Para Okhotnikov, tudo deveria confluir para o mesmo fim: atrair mais investidores disponíveis para apostar dinheiro no seu criptonegócio através de um universo ficcional capaz de juntar banda desenhada, videojogos e filmes de ficção científica.
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