Floresta vai à COP. Um sumidouro (ainda) sem preço

Angela Lucas fala sobre a floresta no podcast Clima 3.0, no qual poderá acompanhar os temas que irão marcar a agenda da COP30.

  • Este texto é escrito com base no podcast Clima 3.0, que trará aos leitores, diariamente e ao longo das duas semanas da COP, uma visão sobre os principais temas discutidos na COP30, numa série de dez entrevistas a especialistas das diversas áreas em discussão.

As florestas tinham de estar na agenda da COP, e em destaque, não fosse esta 30.ª Conferência das Partes organizada numa cidade “à porta” da floresta amazónica, Belém. Além disso, relembra Angela Lucas, que é sócia da Systemic e cofundadora do fundo florestal Land, são um importante sumidouro de carbono e regulador da temperatura, pelo que estão intrinsecamente ligadas ao combate às alterações climáticas. São ainda uma ‘casa’ para a biodiversidade, relevante para o equilíbrio do planeta.

O problema tem estado na desflorestação que se tem verificado ao longo das últimas décadas e, como consequência, a “grande” perda de biodiversidade. “Eu diria que os grandes desafios passam por encontrar mecanismos, nomeadamente de mercado, que permitam captar e canalizar financiamento“, tanto para a conservação como para promover o incremento da área florestal, e que seja corretamente gerida, resume Angela Lucas.

Eu diria que os grandes desafios passam por encontrar mecanismos, nomeadamente de mercado, que permitam captar e canalizar financiamento.

Angela Lucas

A desflorestação e o aumento da área florestas são desafios simultâneos, até porque os desafios variam consoante a zona do planeta. Na Europa, por exemplo, resta pouca floresta, pelo que há que fazer a inversão do caminho, enquanto no Brasil ou outros países tropicais a necessidade é mais preservar. “Há várias políticas europeias a apontar nesse sentido”, evidencia Lucas. Há a lei de restauro da natureza, a estratégia das florestas ou a estratégia da biodiversidade, mas “ainda não tem concretude, tem de ser implementado. Mas são sinais”, entende.

Há uma componente de valor da floresta que escapa à equação económica”, alerta Angela Lucas, já que equação económica tem em conta o capital financeiro, tem em conta o capital humano, mas não o capital natural, que é a base que sustenta grande parte da riqueza criada.

Um obstáculo à preservação e criação de floresta é o potencial conflito de usos no território. Com a crescente aposta nas renováveis, podem surgir a questão: “Vamos utilizar este espaço para reflorestar ou vamos utilizar este espaço para implantar um parque solar?”. “Nós temos de fazer um planeamento muito estruturado e muito criterioso, porque depois pode haver incentivos perversos”, alerta a sócia da Systemic, sublinhando que a instalação de um parque fotovoltaico atualmente tem um retorno muito mais rápido e muito mais alto. O conflito acontece também com o uso agrícola.

Ângela Lucas, cofundadora do fundo LAND, em entrevista ao Capital VerdeHugo Amaral/ECO

Então, como valorizar a floresta? Lucas relembra um passo importante que foi dado na última COP, no Azerbaijão, na qual conseguiu chegar-se a uma base de entendimento em relação aos mercados de carbono, um tema que deverá continuar a ser discutido nesta COP. “Tem de ficar claro e transparente qual é que é o mecanismo e quais é que são as regras, os standards de base acordados internacionalmente, para que se reconheça um determinado crédito de carbono“, defende.

Sobre se estes não poderão tornar-se incentivos perversos, no sentido de serem usados para evitar descer emissões e até mal geridos, Angela Lucas mostra-se otimista. Afirma que, depois de o britânico The Guardian ter feito uma investigação, em 2023, que colocava em causa o bom funcionamento destes mercados, espoletou-se a necessidade de as empresas que compram e transacionam esse tipo de créditos “olharem para isto de uma forma séria”.

No final do dia isto tem de fazer sentido do ponto de vista económico, porque senão não vai acontecer.

Angela Lucas

Temos mesmo de fazer as coisas de forma correta, ter modo de fazer o levantamento, a medição de forma séria, de forma comprovada cientificamente, fazer a monitorização, a verificação dos projetos, dos créditos, de quem os utiliza e como é que os utiliza“, defende.

O avanço nos mercados de carbono, considera Angela Lucas, seria importante pelo sinal que pode dar para outros mecanismos, de forma mais alargada, que permitam de alguma forma pôr um valor na natureza para incentivar a sua correta gestão. “No final do dia isto tem de fazer sentido do ponto de vista económico, porque senão não vai acontecer”, conclui.

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