Europa tem de derrubar barreiras internas para eliminar impacto das tarifas dos EUA, avisa Christine Lagarde
Barreiras internas nos mercados de serviços e bens equivalem a tarifas de cerca de 100% e 65%, respetivamente, alerta presidente do BCE. Têm de ser derrubadas para combater as tarifas de Trump.
Apesar de um histórico de mais de 30 anos de Mercado Único, as barreiras comerciais dentro da União Europeia (UE) continuam demasiado elevadas em áreas-chave e precisam de ser reduzidas para o bloco económico conseguir compensar as tarifas impostas pelos Estados Unidos, avisou esta sexta-feira Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE).
“A análise do BCE conclui que as barreiras internas nos mercados de serviços e bens são equivalentes a tarifas de cerca de 100% e 65%, respetivamente“, revelou a francesa, num discurso no Frankfurt European Banking Congress. “É claro que não devemos esperar que estas barreiras desapareçam completamente: nem todos os produtos são igualmente comercializáveis e as preferências nacionais terão sempre um papel a desempenhar”, adiantou.
Mas devemos esperar duas coisas, vincou. “Em primeiro lugar, que as barreiras sejam suficientemente baixas para que os setores que irão moldar o crescimento futuro possam operar num mercado verdadeiramente europeu, e este não é claramente o caso dos serviços digitais, que irão impulsionar a inovação futura, e dos mercados de capitais, que devem financiá-la”.
“Em segundo lugar, devemos esperar que estar dentro do mercado único ofereça uma vantagem clara em relação a estar fora dele — em outras palavras, que as barreiras internas sejam mais baixas do que as externas”, acrescentou. “Mas isso também não é o que acontece atualmente com os serviços: nos últimos 20 anos, as barreiras ao comércio transfronteiriço na Europa não diminuíram mais rapidamente do que as enfrentadas pelas empresas internacionais que procuram operar na Europa”.
Para a presidente do BCE, isto ajuda a explicar por que razão, apesar de os serviços representarem atualmente três quartos da economia europeia, o comércio de serviços dentro da UE representa apenas cerca de um sexto do PIB – aproximadamente o mesmo que o comércio de serviços com o resto do mundo.
“Trata-se de um enorme desperdício de potencial, especialmente numa altura em que temos de confiar mais em nós próprios do que nos outros“, lamentou. “E o ponto-chave é que alcançar estes ganhos não exigiria uma mudança radical”.
Lagarde sublinhou que a análise do BCE mostra que, “se todos os países da UE reduzissem as suas barreiras ao mesmo nível das dos Países Baixos, as barreiras internas poderiam diminuir cerca de 8 pontos percentuais para os bens e 9 pontos percentuais para os serviços“.
“Se fizéssemos apenas um quarto disso, seria suficiente para impulsionar o comércio interno de forma a compensar totalmente o impacto das tarifas dos EUA no crescimento”, vincou.
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