Quebra de “10% a 15%” no preço pago aos produtores volta a deixar cortiça nas árvores

Produtores adiam extração de “uma quantidade relevante de cortiça” após remuneração cair pelo segundo ano seguido. Produção recua 15%, mas “níveis de stocks na indústria” estão assegurados.

A campanha de extração da cortiça em 2025 resultou numa produção estimada na ordem de 3,5 milhões de arrobas em Portugal e de 2 milhões de arrobas em Espanha — como quase toda a cortiça do país vizinho é laborada em Portugal, entra também nas contas do aprovisionamento à indústria nacional.

De acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pela associação interprofissional desta fileira (Filcork), este volume total próximo de 5,5 milhões de arrobas (equivalente a 82.500 toneladas) representa uma quebra de 15% face à quantidade obtida no ano passado.

Tal como tinha acontecido na anterior campanha, “por motivos de conjuntura de mercado houve uma quantidade relevante de cortiças que tiveram a extração adiada para 2026”, adverte esta estrutura, que junta seis organizações de agricultores e produtores florestais, e a associação da indústria transformadora (APCOR).

Na campanha deste ano houve nova quebra do preço médio entre 10% a 15%, “com uma redução da amplitude de preços suportada na valorização das cortiças destinadas à trituração, mantendo-se a tendência de alteração de mix de consumo de rolhas nos mercados internacionais”.

Ainda assim, como sublinha no mesmo relatório, “apesar da quantidade de cortiça disponível, a campanha de 2025 permitiu assegurar os níveis de stocks na indústria para uma normal atividade no próximo ano industrial”.

Por outro lado, contrariando a tendência de subida das últimas campanhas, o custo de extração em 2025 manteve-se estável, beneficiando da mecanização e da inovação nos processos. Porém, com o setor a sofrer com a contração no consumo de vinho, ainda de ter escapado às tarifas de 15% nos EUA, a Filcork diz que “o momento é de preocupação sobre o estado atual do negócio”.

“Ambos os estádios da fileira [produção e transformação] estão conscientes da necessidade de desenvolver ações ao longo de toda a cadeia de valor que permitam uma correta remuneração de todos os agentes, reforçando o papel da fileira da cortiça pelas suas características de sustentabilidade em todas as dimensões”, aponta a associação interprofissional com sede em Coruche.

Ambos os estádios da fileira [produção e transformação] estão conscientes da necessidade de desenvolver ações ao longo de toda a cadeia de valor que permitam uma correta remuneração de todos os agentes.

Comunicado de campanha da Filcork – Associação Interprofissional da Fileira da Cortiça

Outra crítica deixada pela Filcork é que “o reconhecimento económico e social das funções ambientais do montado continua sem se traduzir em ganho diretos para a fileira”. “O seu papel no combate à desertificação, na provisão de serviços de ecossistema e na adaptação às alterações climáticas é um ativo de que a sociedade continua a beneficiar sem aportar qualquer remuneração à base florestal”, resume.

Espalhado um pouco por todo o território nacional, mas com o volume principal concentrado no eixo Beira Interior, Ribatejo, Alentejo e até ao Algarve, onde há zonas com grande produção de cortiça, o montado de sobro ocupa uma área superior a 700 mil hectares, o que equivale a mais de 20% da floresta nacional.

A Corticeira Amorim COR 2,30% , que é a maior empresa do setor e líder a nível mundial, viu os lucros encolherem 4,5% nos primeiros nove meses deste ano, com as três unidades de negócio a perderem vendas: Amorim Cork: -1,4%; Amorim Florestal: -5,9%; e a nova Amorim Cork Solutions: -24,6%)

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