EUA sem delegação, mas com representação na COP. “Não tomem atenção ao governo federal. É temporário”, diz vereadora democrata
Vereadora de Harrisonburg, Laura Dent, integra uma organização fundadora da coligação America is All In. Considera preferível que os EUA estejam presentes na COP sem influencia da atual administração.
As negociações na COP estão na reta final, e ficam marcadas, pela primeira vez, por uma ausência de peso: os Estados Unidos. O presidente da maior economia do mundo — e também mais poluidora –, Donald Trump, decidiu que o país se retirasse do acordo de Paris e que não marcasse presença na 30.ª Conferência das Partes (COP30), através de uma delegação.
Mas a posição não é consensual, e a coligação America Is All In serve para mostrar isso mesmo: “A América está toda a bordo (all in) para atingir os objetivos do acordo de Paris”, introduz o site oficial da iniciativa, criada para contrabalançar a posição da administração dos Estados Unidos, logo em 2017, durante o seu primeiro mandato.
Desta coligação fazem parte atualmente 10 Estados, 368 governos locais que se espalham por todos os Estados exceto sete, 3.032 entidades empresariais que cobrem todo o país, 178 investidores e 431 instituições de ensino superior, além de algumas organizações culturais e de saúde.
No que diz respeito aos governos locais, o objetivo é “fornecer liderança climática através de políticas decisivas nas suas comunidades”, aprovando metas locais de descarbonização e exigindo mais ação federal. No caso dos negócios, a ideia no âmbito da coligação é definir metas climáticas e ajudá-los, através desta rede, a serem bem-sucedidos nesse caminho, lê-se na página.
“Não há financiamento”
Nesta COP, a presença da coligação não foi forte, com os congressistas a verem-se condicionados na deslocação a Belém por um assunto doméstico: o levantamento da paralisação da administração pública federal, concluído a 13 de novembro. Fonte oficial conta a presença de dois governadores, cinco especialistas em clima, 13 outros membros da delegação e três membros do staff. Laura Dent, vereadora em Harrisonburg, no Estado da Virginia, que integra uma das associações que fundaram a America Is All In em 2017, o ICLEI — Governos Locais pela Sustentabilidade, foi uma das presentes em Belém do Pará, participando na cimeira.
“Uma vez que o nosso governo federal está ostensivamente ausente, queremos deixar claro: como representantes das cidades e dos Estados, e organizações transversais a toda a nação, ainda estamos na luta pelo clima convosco, com o mundo“, introduz, ecoando a mensagem da coligação. Considera ainda que os membros da delegação que passaram pela COP estão presentes “de uma forma muito mais livre e leve” do que se o governo também tivesse vindo.
Confrontada com eventuais tensões e pressões, no sentido de não avançar com estas políticas, Dent explica: “Não é tanto haver pressão para não prosseguir, é que não há financiamento“. E no orçamento local, há prioridades a concorrerem com as alterações climáticas. Então, como se compensa esse buraco? “Vamos descobrir, não há uma resposta óbvia“, assume.
A sensação que tem, ao estar na COP, é a de que pode ser fortemente pró-clima, como delegada “não oficial”, e afirmar: “Não tomem atenção ao governo federal. É temporário“. Mas é mais benéfico ter membros norte-americanos destas coligações pró-clima na COP do que ter o governo federal? Desta forma os Estados Unidos conseguem dar uma melhor contribuição à transição? “Sim, penso que sim. Se o nosso governo estivesse aqui, estaria a fazer bullying com todos, advocando um reforço na energia fóssil. E esse não é o caminho pelo qual nós, americanos, 70% dos Estados e localidades, queremos seguir“.
A interligação entre diferentes coligações, na ótica de Dent, é uma forma de tornar os esforços a favor do clima mais eficazes, e não só de atuar a nível local, como de pressionar o resultado das eleições para o Congresso, que decorrem no ano que vem, e que Dent espera que sejam mais favoráveis aos democratas, que por regra são mais adeptos de medidas pró-clima.
“Nós contornámos, mais ou menos, o Governo. Mesmo com eles a travarem os créditos fiscais para as energias renováveis, por exemplo, nós ainda instalamos painéis solares“. Em Harrisonburg, o caminho mantém-se igual ao que era antes e durante a atribuição dos créditos fiscais, garante. A cidade tem o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050, e tem investido em energia solar, criando por exemplo o equivalente a uma comunidade solar — instalando painéis cuja eletricidade pode ser subscrita pelos cidadãos — e, também, apostando em parcerias publico privadas para a plantação de árvores e fomentação de plantas nos telhados das casas. “Fazemo-lo de qualquer forma“, conclui.
EUA tinham a porta aberta, mas não entraram
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, esteve na conferência esta quinta-feira. No final do seu discurso, em resposta aos jornalistas sobre que mensagem gostaria de deixar a Donald Trump e se via a possibilidade que os EUA, entrando nas negociações, tivessem alguma influencia positiva, Guterres foi sucinto: “Estou à sua espera” e “a esperança é a última a morrer”.
De acordo com a Bloomberg, apesar de os EUA se terem retirado do Acordo de Paris, e terem a saída “oficial” marcada para 27 de janeiro do próximo ano, e não terem inscrito nenhum delegado para tomar parte nas negociações, podiam enviar representantes a qualquer momento. Isto porque, para já, os EUA ainda são parte do acordo de Paris e da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC, em inglês). No entanto, até à sexta-feira, marcada como o último dia da COP (que está a prolongar-se devido a negociações), não houve sinal físico desta Parte, pelo que a visita parece estar fora de questão.
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