Mendes mais assertivo vence Seguro em debate do “centrão”
Meia hora cordata e na qual os candidatos presidenciais concordaram em muita coisa. Marques Mendes fez a diferença ao ser mais detalhado e concreto.
Foi o debate do grande “centrão”, entre os dois candidatos apoiados pelos maiores partidos do sistema e que, como tal, disputam em traços gerais a mesma demografia eleitoral. Na RTP, com condução do jornalista Carlos Daniel, o tom entre António José Seguro e Luís Marques Mendes foi cordato e aqui e ali afável, ainda que o maior desafio para ambos seria o da diferenciação: sendo ambos candidatos equilibrados de “mainstream”, como se distinguem um do outro?
Terá sido essa noção que levou Marques Mendes a ser mais acutilante, começando várias vezes as suas intervenções anunciando que ia mostrar essa diferenciação face a quem tinha do outro lado da mesa.
Depois de um arranque morno, com ambos a piscarem o olho às comunidades portuguesas lá fora, o primeiro tema foi a Justiça, pegando nas mais recentes notícias às escutas ao ex-primeiro-ministro, António Costa. Ambos partilharam um diagnóstico negro do setor e defenderam a necessidade de uma reforma, mas Marques Mendes foi mais assertivo, não apenas nas críticas mas no pedido de consequências. “Não podemos ficar por generalidades”, atirou, colando Seguro a essa postura, e pedindo urgência em medidas ao recordar uma frase do seu rival: “Qual é a pressa?”. A pressa, diz Marques Mendes, tem de ser total. Ainda neste bloco, Seguro ensaiou um ataque, lembrando a longa presença de Luís Marques Mendes no Conselho de Estado e a sua falta de iniciativa nesse âmbito, mas o tema foi abandonando e esse argumento caiu rapidamente.
O antigo secretário-geral do PS marcou alguns pontos recuperando uma ideia que já tinha defendido, de que no atual panorama político português, inclinado à direita na AR, no Governo e nas autarquias, o sistema teria a ganhar com um maior equilíbrio, o que poderia ser garantido por um Presidente da área do centro-esquerda, em Belém.
Já Marques Mendes deu mais uma prova de que a lição está estudada e, aproveitando o tema Conselho de Estado, juntou à sua promessa de que o primeiro encontro seria dedicado à Justiça com a novidade de querer nomear pessoas mais jovens para esse órgão. Mais um exemplo de como foi, aqui e ali, temperando todas as suas intervenções com exemplos e medidas concretas do que pretende fazer.
Seguiu-se o tema do Chega e o que fariam estes eventuais futuros presidentes se André Ventura ganhar eleições legislativas ou se integrar um elenco governativo que chegue ao palácio de Belém, para indigitação. Legalistas e institucionais, ambos reconhecem que não há argumentos para não se dar posse a esse Governo, mas também aqui, mais uma vez, Marques Mendes foi mais concreto: no programa desse Governo não podem estar propostas que são inconstitucionais, medidas como a instauração da pena de morte, que o Chega defende.
O bloco final foi dedicado à revisão das leis laborais, com Seguro mais crítico do pacote e Mendes mais evasivo, defendendo que o momento de pronúncia do Presidente é quando o diploma lhe chega às mãos, e que o diploma que está em negociação e discussão agora será muito diferente na sua versão final. Apesar de Seguro ter sido mais concreto na sua posição, Mendes também marcou pontos ao apresentar-se como um defensor da ação, do movimento, das reformas. “Não podemos estar sempre a dizer que precisamos de reformas e depois quando as reformas avançam não querermos mudar nada”, atirou.
Tirando partido da sua larga experiência televisiva, Marques Mendes foi mais detalhado, organizado e expansivo nas suas respostas, enquanto Seguro foi mais telegráfico, levando a que no final tivesse um claro desequilíbrio no tempo por si utilizado.
No final, uma prestação positiva de ambos os candidatos, num debate em que Mendes foi mais concreto e mais proativo do que António José Seguro.
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