Os cuidados de saúde baseados no valor surgem como uma forma de resolver o debate sobre a externalização dos cuidados de saúde na Europa

  • Servimedia
  • 3 Dezembro 2025

De acordo com uma investigação publicada na revista científica "Frontiers in Public Health".

A saúde europeia vive um momento de transformação estrutural marcado pelo envelhecimento da população, o aumento das doenças crónicas e a pressão orçamental, e a crescente externalização dos serviços de saúde públicos para entidades privadas na Europa reacendeu um intenso debate sobre a sustentabilidade, a qualidade dos cuidados e os resultados em saúde.

Enquanto alguns estudos alertam para possíveis efeitos negativos sobre a mortalidade ou a acessibilidade, novas evidências apontam que o modelo de saúde baseado no valor — ou value-based healthcare (VBHC) — poderia ser a chave para superar essa dicotomia entre gestão pública e privada e garantir melhores resultados para os pacientes.

Estas conclusões estão reunidas numa investigação publicada na revista científica «Frontiers in Public Health», que analisa dados recentes sobre os efeitos da externalização dos cuidados de saúde e os compara com os resultados obtidos por centros que aplicam estratégias VBHC, tanto públicos como privados. O artigo propõe substituir essa dicotomia entre gestão pública e privada por outra mais relevante: a diferença não está em quem gere, mas em como se gere, sublinhando que a chave não está na titularidade do hospital (pública ou privada), mas na conceção e execução do modelo de assistência. A externalização bem regulamentada e centrada no valor não compromete a qualidade nem a universalidade, mas melhora o desempenho clínico, a eficiência e a satisfação do paciente.

De acordo com o estudo, a chave para o desempenho sanitário está nos modelos que aplicam a abordagem Value-Based Healthcare (VBHC). Um modelo que propõe reorganizar a assistência sanitária em torno do que realmente importa para o paciente: melhorias na sua saúde, qualidade de vida, experiência e eficiência na utilização dos recursos. Esta abordagem inclui a medição de resultados clínicos, bem como de resultados relatados pelos próprios pacientes (PROMs e PREMs), a integração de unidades de assistência por patologias e a utilização de sistemas de pagamento por desempenho em vez de pagamento por atividade.

A investigação indica que os governos têm um papel fundamental na elaboração de políticas e contratos que incentivem a qualidade, e não apenas a economia. Propõem a incorporação de indicadores de resultados clínicos e de experiência do paciente para avaliar os contratos com operadores privados, bem como sistemas de pagamento por desempenho e colaboração público-privada na medição de resultados.

Isto representa uma mudança profunda: a eficiência não é presumida pela titularidade, mas deve ser demonstrada com resultados verificáveis, comparáveis e auditáveis. Conforme argumentado na investigação, o objetivo dos cuidados de saúde baseados no valor é criar mais saúde para os pacientes ao menor custo possível, o que transcende a propriedade do hospital. A implementação de modelos baseados no valor pode melhorar os resultados clínicos, a experiência do paciente e a sustentabilidade do sistema, independentemente do tipo de gestão.

O documento analisa casos reais de hospitais na Europa que implementaram o modelo VBHC — como o Diabeter na Holanda, o Martini Klinik na Alemanha ou a Fundación Jiménez Díaz na Espanha — e conseguiram melhorias sustentadas na segurança do paciente, redução de complicações, eficiência operacional e satisfação.

A análise também revela que alguns estudos anteriores contra a externalização dos cuidados de saúde não tiveram em conta os modelos de gestão aplicados, especialmente o VBHC, o que levou a interpretações incompletas ou tendenciosas. Em contrapartida, as experiências europeias em que o modelo baseado no valor foi implementado refletem que este pode ser aplicado com sucesso tanto em centros públicos como privados, desde que os incentivos estejam ligados a resultados reais e não apenas a volumes de atividade.

Nesta perspetiva, a fronteira público-privada é superada por um princípio mais relevante para os cidadãos: quais os hospitais que demonstram, com dados, que proporcionam mais saúde, mais segurança e uma melhor experiência ao paciente.

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