Numa sala cheia de discórdia, vai nascer um novo corte nos juros da Fed
O Comité que decide o custo do dólar está dividido entre membros que querem cortar juros e os que os querem manter, mas mercados e analistas apontam para nova descida de 24 pontos base.
- A Reserva Federal dos Estados Unidos anunciará uma descida de 25 pontos base nas taxas de juro, marcando a terceira redução consecutiva do ano.
- A sondagem da Reuters revela que 82% dos economistas preveem o corte, mas a incerteza persiste quanto aos cortes futuros em 2026, com projeções variadas.
- A mudança na liderança da Fed em maio poderá influenciar a política monetária, especialmente se novos membros favorecerem cortes nas taxas de juro.
A Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos vai esta quarta-feira anunciar uma descida de 25 pontos base (pb) nas taxas de juro para um intervalo entre 3,50% e 3,75%, segundo investidores e economistas, mas a redução (a terceira deste ano e consecutiva) irá resultar de uma reunião marcada pelo maior nível de discórdia dos últimos anos. Enquanto alguns membros do Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês estão focados nos riscos no mercado e apoiam um corte, outros continuam preocupados com a inflação e preferem manter o status quo.
“Todos os caminhos esta semana vão dar à reunião do FOMC na quarta-feira”, afirmou Jim Reid, global head of macro research and thematic strategy, no Deutsche Bank (DB). “Os mercados e o DB esperam que a Fed anuncie um terceiro e último corte de 25 pontos nas taxas para 2025, totalizando seis cortes e 175 pontos base neste ciclo de flexibilização desde setembro de 2024”.
O analista do banco alemão sublinhou que, no entanto, “é improvável que a decisão seja unânime, com dissidências previstas tanto por parte dos membros mais hawkish [contra cortes} como dos mais dovish [que apoiam descidas]” e que “se quatro ou mais membros romperem fileiras, isso representaria a maior divisão desde 1992”.
Michael Krautzberger, diretor de investimento (CIO) global de mercados públicos, Allianz Global Investors (GI) recordou que o presidente da Fed, Jerome Powell, já tinha sublinhado que um corte na taxa de juro em dezembro “não é de forma alguma uma conclusão inevitável”. A limitada visibilidade sobre a situação económica — derivada da falta de dados oficiais devido ao shutdown federal — e uma economia mais resiliente do que o previsto reforçaram a cautela, adiantou.
“Apesar desta incerteza, na nossa opinião, as recentes declarações da Fed, os dados macroeconómicos e os preços de mercado apontam para um corte de 25 pontos base na taxa de juro”, esclareceu Krautzberger.
Segundo o site CME FedWatch Tool, que monitoriza a negociação dos futuros das taxas de juro, esta quarta-feira a probabilidade de a Fed cortar as Federal Funds Rates em 25 pb era de 89,5%.

Este quadro estabilizou nos últimos dias, mas conforme explicaram os analistas do banco de investimento neerlandês ING, “as expectativas oscilaram bastante na preparação para a reunião do FOMC de 10 de dezembro“. Além das palavras de Powell na última reunião a ata dessa decisão mostrou que “muitos” membros estavam “inclinados” a não reduzir as taxas em dezembro, e havia uma sensação de que a falta de dados oficiais antes da reunião de dezembro, causada pelo atraso na recolha devido à paralisação do Governo, não iria ajudar a mudar a opinião deles. Os sinais contraditórios levaram a volatilidade nos futuros.

Dança de cadeiras em 2026
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Entre os economistas, a tendência também aponta para um corte de 25 pontos base esta quarta-feira. Numa sondagem conduzida pela Reuters entre 28 de novembro e 4 de dezembro, 89 de 108 economistas, ou seja 82%, previram esse resultado. No entanto, a incerteza continua a dominar quando se trata de antever os cortes nas taxas de juro em 2026, com a projeção mediana a apontar para um intervalo de 3,0%-3,5% no final do ano, mas sem maioria clara sobre em que trimestres os cortes deverão ser decididos.
“A questão principal é o que a Fed sinalizará para o próximo ano, dado que receberemos uma nova atualização das projeções“, sublinharam os analistas do ING, recordando que nas últimas projeções os membro da Fed apontavam para apenas um corte nas taxas em 2026 com o cenário central, num ambiente em que a economia crescesse 1,8%, o desemprego se mantivesse em torno de 4,4% e a inflação subjacente terminasse o ano acima da meta, em 2,6%.
“Dado que o desemprego nos EUA já está em 4,44%, isso está sujeito a algum risco de alta devido à economia de baixa contratação e baixa demissão, mas duvidamos que a Fed de repente se torne mais relaxada em relação à narrativa da inflação, dada a falta de dados oportunos e assim, o mais dovish que eles poderiam ser é colocar um segundo corte nas taxas para a previsão de 2026, mas estarão relutantes”.
“Mas isso importa, sabendo que a estrutura da Reserva Federal está a mudar?”, questionaram os analistas do ING, lembrando que a partir de maio, a Fed terá um novo presidente, com Kevin Hassett, atual diretor do Conselho Económico Nacional, favorito nas apostas. “É um defensor de taxas mais baixas e, se o presidente Trump conseguir forçar a saída da governadora Lisa Cook, poderemos ver a nomeação de um substituto igualmente inclinado a reduzir os custos dos empréstimos, isso significaria que cinco dos sete membros do conselho de governadores seriam nomeados por Trump”.
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