Licença menstrual, formação em saúde mental e workshops de bonsais. Como as empresas promovem um ambiente de trabalho saudável
Metade dos millennials e 75% da geração Z deixaram os seus postos de trabalho por questões de saúde mental.
A valorização da saúde mental e bem-estar dos trabalhadores é fundamental para a criação de um ambiente de trabalho saudável. Fatores como a produtividade ou captação e retenção de talento traduzem-se, muitas vezes, em benefícios da aposta direta na saúde mental dos trabalhadores. As empresas que investem na saúde mental dos seus trabalhadores poderão ter um retorno económico de 9x, através do aumento de produtividade ou menor rotatividade entre trabalhadores, sugere o “Guia para empresas: como promover o bem-estar e saúde mental dos trabalhadores?“, da Fundação José Neves (FJN). Licença menstrual e de bem-estar, formação em saúde mental, licenças pagas e workshops para cuidados com bonsais são algumas das iniciativas em que as empresas estão a apostar.
“Torna-se imperativo que as empresas não só apostem cada vez mais no bem-estar e saúde mental dos trabalhadores, mas que também percebam que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional só traz benefícios: na produtividade, no ambiente de trabalho e nos índices de satisfação gerais dos trabalhadores. Metade das 16h disponíveis do dia são passadas no local de trabalho, pelo que é extremamente importante investir em saúde mental e em práticas que se traduzam numa melhoria das condições no local de trabalho”, afirma Carlos Oliveira, presidente executivo da Fundação José Neves.
Dados do guia da FJN revelam que 1,39 milhões de portugueses em idade ativa sofrem de doença mental e que Portugal é o quarto país europeu onde se trabalham mais horas por semana (cerca de 41,7 horas semanais em comparação com as 40,9 horas por semana da média europeia). Os trabalhadores apresentam cada vez mais dificuldade em encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e outras esferas da sua vida, e ainda se estima que 298 horas de trabalho por ano — o equivalente a 12 dias — não apresentam os níveis de produtividade adequados.
Outra das conclusões do relatório é que cerca de 70% das pessoas com problemas de saúde mental recuperam totalmente nas empresas que reconhecem os sinais da falta de saúde mental, valorizam-nos e tomam medidas para contribuir para a sua melhoria.
Boas práticas
A Feedzai foi uma das empresas que já tomou medidas. Cientes dos números que dão conta que metade dos millennials e 75% da geração Z deixaram os seus postos de trabalho por questões de saúde mental e ainda que, em todo o mundo, 176 milhões de mulheres sofrem de endometriose — que resulta em dores menstruais incapacitantes — avançou com a licença mental e menstrual. O unicórnio está a dar aos mais de 600 colaboradores um dia por mês, sem corte de salário, que podem usufruir caso estejam a debater-se com questões de saúde mental, menstruais ou menopausa.
“Dois tópicos tabu, que não são falados, mas devem sê-lo, porque são coisas perfeitamente normais que acontecem às pessoas”, explicou, na altura, Dalia Turner, vp of people da Feedzai à Pessoas. “Estamos a proporcionar aos nossos colaboradores um dia por mês, caso tenham quaisquer sintomas ligados a questões de saúde mental, menstruação ou menopausa, que estejam a impactar o seu trabalho.”
“Os colaboradores não têm em nenhum momento de informar qual o motivo pelo qual vão tirar o dia, nem de apresentar uma justificação médica. Não têm de pedir, têm de nos informar que vão tirar o dia. É uma aprovação automática”, detalhou a responsável de RH.
Já a Farfetch tem apostado na formação em “Mental Health Awareness” para os managers, que visa ensinar os managers a identificar situações de doença mental e outras situações de desgaste emocional e físico no trabalho. O objetivo é dar aos líderes as ferramentas necessárias para saberem como direcionar os membros da sua equipa para os cuidados profissionais apropriados.
Além disso, desde 2018 que a empresa do setor da moda dispõe do Programa Boomerang, um programa de licença paga até oito semanas para colaboradores com cinco anos de ‘casa’. Esta é “uma oportunidade que reconhece o compromisso a longo prazo e o contributo dos colaboradores ao longo dos anos”, considera a Farfetch. “Este programa pode ser utilizado à medida do colaborador, seja para desenvolver um interesse pessoal, fazer voluntariado ou para usufruir de umas férias mais longas.”
Sob o mote “You are not alone”, a Critical TechWorks, esteve a promover workshops para cuidados com bonsais, sessões de massagens e de alongamentos, bem como espetáculos de stand up comedy junto dos seus colaboradores. Ao longo do mês de outubro, mês dedicado à saúde mental, os mais de 1.900 colaboradores da joint-venture entre a Critical Software e o BMW Group participaram em várias atividades que pretenderam valorizar momentos de relaxamento e criação artística, assim como a atividade física.
“O nosso work model permite às equipas trabalharem de forma flexível, presencial ou em home office, e por isso é fundamental promover momentos mais informais e de convívio, assim como de bem-estar para todos. A saúde física e mental deve ser sempre uma preocupação dos colaboradores e das organizações, que, ao cuidarem de cada especialista, estão também a investir no seu desenvolvimento enquanto pessoas e profissionais que vão alavancar toda a empresa”, afirma Sara Pereira, responsável de recursos humanos da Critical TechWorks, em comunicado.
As iniciativas de wellness que decorreram em outubro fazem parte de uma estratégia concertada na Critical TechWorks, onde também se integram as happiness weeks ao longo do ano para valorizar, cada vez mais e de forma holística, a saúde dos seus colaboradores.
A FJN acrescenta ainda outras práticas que podem ajudar a mitigar os problemas de saúde mental e bem-estar no local de trabalho. É o caso da criação de locais de descanso e lazer para os trabalhadores usufruírem durante as pausas, da promoção de intervalos de cinco a 15 minutos durante o dia de trabalho, da implementação de 20 minutos de ginástica laboral, da prática da escuta ativa, da oferta de psicoterapia ou meditação e, ainda, da realização de reuniões mais individualizadas e pontos de situação frequentes para a equipa ou trabalhadores específicos.
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