Exclusivo Banco Montepio: resultados históricos e “a sombra” da consolidação
CEO alertou trabalhadores para perda de quota no crédito à habitação. Pedro Leitão disse que banco não pode baixar dos 6%, sob pena de ficar à mercê de um mercado pressionado para consolidar.
O Banco Montepio prepara-se para anunciar resultados históricos relativos a 2022, mas a perda de quota de mercado no crédito à habitação no segundo semestre do ano passado fez disparar as “sirenes” junto de Pedro Leitão. Numa mensagem interna, a que o ECO teve acesso, o presidente do banco alertou os trabalhadores para não se cruzar uma “linha vermelha” de quota abaixo dos 6%, pois deixaria a instituição à mercê de um mercado em que as autoridades estão a pressionar intensamente para consolidar.
Numa comunicação em que fazia um balanço do ano passado, Pedro Leitão falou numa “distração” em relação à perda de quota de mercado que tem de ser corrigida rapidamente e que todos têm de contribuir – de resto, a instituição acabou de recuperar uma campanha de crédito da casa que teve sucesso no passado, apresentando agora o spread mínimo mais competitivo do setor, de apenas 0,8%, como resposta à concorrência e no sentido de reforçar a sua posição no mercado, que se situará à volta dos 6,5%. Em Portugal, o mercado é dominado por cinco bancos: Caixa, BCP, Santander, Novobanco e BPI detêm mais de 70% de quota.
Pedro Leitão considerou inaceitável que apenas um terço dos 239 balcões tenha acrescentado à carteira de crédito à habitação. E estabeleceu de seguida “uma linha vermelha” que o banco não pode ultrapassar: “Num mercado maduro, onde a escala é muito importante, quotas de mercado abaixo dos 6% são sirenes e linhas vermelhas que não nos podem deixar indiferentes”, afirmou.
O “reparo” foi depois enquadrado no seio do que tem sido dito, publicamente, por altos responsáveis dos reguladores da banca quanto à necessidade de o setor europeu consolidar, com os bancos grandes a absorverem os mais pequenos. Por cá, foi o próprio governador do Banco de Portugal quem trouxe o tema à baila. Mário Centeno vê a consolidação da banca portuguesa como “absolutamente crucial”, sendo “inevitável que mercado tenha consciência disso”, segundo afirmou em entrevista à agência Reuters no final do ano passado.
"Num mercado maduro, onde a escala é muito importante, quotas de mercado abaixo dos 6% são sirenes e linhas vermelhas que não nos podem deixar indiferentes.”
“É público como agentes do BCE e com responsabilidades na relação da banca europeia dizem que ficariam mais tranquilos se houvesse bancos maiores e, portanto, maior consolidação no setor. A consolidação para um banco com 6% ou 7% de quota de mercado, enfim… Temos capacidade de ir a jogo. Abaixo disso tudo fica mais difícil, abaixo disso estamos na linha vermelha”, sinalizou o presidente executivo do banco detido pela Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), cujos estatutos protegem a instituição financeira de abordagens da concorrência. Ainda assim, a consolidação não deixa de ser um “tema de sombras” para Pedro Leitão.
No fim, Pedro Leitão instou a sua equipa a lutar para “inverter a tendência de queda de quota de mercado, essencialmente no crédito à habitação”.
Sobre estas declarações de Pedro Leitão, o banco, que está a concluir um processo de saídas de centenas de trabalhadores, diz oficialmente que: “Apesar de a banca ser um setor com uma pressão regulatória externa para a consolidação, com a nossa dimensão, penetração de mercado e relevância nos segmentos onde operamos, esse [consolidação] é um cenário que não se coloca”.
Banco na perspetiva de resultado histórico
Fonte: Banco Montepio
Por outro lado, rejeitou fazer qualquer observação sobre os resultados históricos obtidos no ano passado. “Serão comunicados brevemente”, responde fonte oficial.
Nos primeiros nove meses do ano, o Banco Montepio teve um lucro de 23,9 milhões de euros, beneficiando em grande medida das menores dotações para imparidades e provisões, apesar do impacto negativo da venda do Finibanco Angola. Bastava fechar o ano com o resultado obtido até setembro para ter os maiores lucros da década – apenas superado pelos 45 milhões em 2011.
Redução de capital levanta dúvidas
O banco tem agendado para o próximo dia 10 uma assembleia geral para aprovar a redução de capital em 1,2 mil milhões de euros. Cada ação de um euro passará a valer 0,50 euros.
A operação foi aprovada no final do ano pela assembleia de representantes da AMMG, a acionista do banco, mas alguns membros saíram da sala no momento de votação em protesto contra aquela decisão.
“Recusámos participar na votação por entendermos que, por razões jurídicas, éticas e de defesa do mutualismo, os atuais dirigentes da AMMG devem explicar de uma forma detalhada aos associados o que implicam estas perdas de 1,325 mil milhões de euros“, adiantam os representantes eleitos pela Lista C nas últimas eleições, que pretendiam que a proposta fosse votada em assembleia geral de associados. O comunicado é assinado por Ana Drago, Josué Caldeira, Carlos Areal, Marta Silva e Viriato Silva.
Segundo afirmam, “a operação de engenharia financeira” vai reduzir para cerca de metade o valor do capital social do Banco Montepio, “composto pelas poupanças dos associados que foram aplicadas no banco” e visa “‘limpar’ os enormes prejuízos acumulados em “resultados transitados” em anos anteriores. Alegam ainda que vai abrir portas à distribuição de prémios de gestão aos administradores do banco, enquanto “se esfumam as poupanças dos associados”.
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