Autárquicas: O mapa cor-de-rosa e quem saiu a perder
O Partido Socialista conseguiu um resultado histórico, mas perdeu a maioria absoluta em Lisboa. No PSD, alguns críticos pedem o afastamento de Passos pelos resultados "demasiadamente maus".
Um grande vencedor, o PS, e um grande perdedor, o PSD, que conseguiram respetivamente dos melhores e piores resultados de sempre em eleições autárquicas. Mas também a CDU teve de enfrentar desaires significativos ao perder câmaras históricas para o Partido Socialista. Já Isaltino Morais voltou para Oeiras. Leia aqui um resumo dos resultados dos principais partidos, e o que isto pode significar para o seu futuro político no país.
PS faz o “pleno” com melhores resultados de sempre
Foram 157 presidentes de câmara, 141 maiorias absolutas, a Câmara de Lisboa, e António Costa muito satisfeito. “O PS teve hoje a maior vitória eleitoral de toda a sua história”, disse, numa conferência de imprensa ainda em plena noite eleitoral com freguesias por apurar. “Quero, por isso, começar por saudar todos os portugueses pela forma como decorreram estas eleições”.
O primeiro-ministro, enquanto secretário-geral do Partido Socialista, aproveitou para considerar que “este resultado eleitoral reforça o PS” e atribui-lhe também uma leitura nacional: “Dá força à mudança do quadro parlamentar que permitiu a mudança política e de resultados. Esta mudança sai reforçada” para que o Governo continue a estratégia de devolução de rendimentos, redução da carga fiscal, redução do desemprego, do défice e da dívida, salientou António Costa. “Virada esta página, é altura de nos concentrarmos em visão de médio prazo para o país”, afirmou.
Em Lisboa, Medina perdeu a maioria absoluta na Câmara Municipal, ficando com oito vereadores dos 17 que compõem a Câmara. Na noite eleitoral, sem todos os resultados ainda conhecidos, garantiu que as promessas feitas durante a campanha, sobretudo no que toca à melhoria dos transportes públicos e à criação de um programa de habitação a rendas acessíveis, seriam para cumprir.
Destes resultados, Medina retira duas conclusões: “Ganhámos força para continuar o nosso projeto político, para aplicar um programa que dinamiza a economia, que aposta na redução do desemprego e na projeção de Lisboa como grande capital, ao mesmo tempo que investimos na qualidade de vida e na inclusão social”.
Grande derrotado é PSD — Passos pode sair
O PSD, cuja grande esperança era melhorar um resultado já de si mau nas últimas eleições autárquicas em 2013, conseguiu sair-se ainda pior. Para além de ter ficado em terceiro tanto no Porto como em Lisboa, elegeu menos presidentes da Câmara, mesmo incluindo as autarquias em coligação com o CDS. A nível nacional, o PSD recebeu 16,97% dos votos, mais 8,75% em coligação com os centristas.
Para António Costa, foi óbvio: “Agora, há claramente um derrotado nestas eleições e é o PSD. Procurar outros derrotados é procurar disfarçar a leitura essencial que há a retirar destas eleições”. O próprio Pedro Passos Coelho teve de reconhecer que o PSD teve “um dos piores resultados de sempre”, e que terá de os avaliar. Sem assumir que se demitiria, Pedro Passos Coelho disse que iria ponderar, à luz dos resultados, se se recandidatará a líder do partido.
A candidata a Lisboa, Teresa Leal Coelho, procurou em parte resguardar a responsabilidade de Pedro Passos Coelho, ao dizer em conferência de imprensa: “Só posso saudá-lo [a Fernando Medina] pelo resultado que conseguiu atingir e reforçar que este resultado que o PSD, que a minha candidatura, alcançou, é um resultado da exclusiva responsabilidade da equipa que apresentou o programa”. No entanto, os críticos do líder do PSD não esperaram para exigir a sua cabeça.
Manuela Ferreira Leite, questionada diretamente sobre se Pedro Passos Coelho tinha condições para permanecer na liderança do partido, afirmou: “Não, não tem”. Mauro Xavier, o ex-presidente da concelhia social-democrata lisboeta, fez o mesmo com uma publicação de Facebook: “A opção de Pedro Passos Coelho na escolha do candidato do PSD a Lisboa teve uma resposta clara do eleitorado. Demiti-me por não concordar com esta opção. Cabe-me pedir agora responsabilidades ao presidente do partido”. E Marques Mendes, na SIC, abriu a porta à possibilidade de Passos se afastar já, porque a sua vida “vai ser um inferno” se não o fizer.
CDS reforça-se com a liderança de Cristas
“Sejam bem-vindos”, disse Assunção Cristas, a candidata do CDS-PP à Câmara de Lisboa que deu por si como a segunda mais votada na capital, a quem pela primeira vez votava no partido. Em Lisboa, disse, “teremos (…) o melhor resultado do CDS desde 1976”, e “porventura estaremos em condições de triplicar o número de vereadores”. Em 2013, a coligação PSD-CDS resultou em quatro vereadores para a direita na Câmara de Lisboa — em 2017, o CDS sozinho conseguiu esse resultado.
“Queremos crescer autarquicamente”, reforçou Cristas. Sozinho, o CDS-PP conseguiu a presidência de quatro Câmaras Municipais, sem contar com os vereadores que elegeu em coligação com o PSD ou noutras combinações partidárias.
CDU perde câmaras históricas
O PCP manteve-se como a terceira força política autárquica no país, mas os seus resultados foram piores do que nas últimas legislativas, e houve perdas marcantes, como as Câmaras de Almada, de Beja e do Barreiro que passaram da CDU para o Partido Socialista.
Mas para Jerónimo de Sousa, no seu discurso de noite eleitoral, a perda era para as populações. “A perda destas câmaras é uma perda, sobretudo, para as populações, para os seus direitos e condições de trabalho, para a defesa do ambiente e da cultura. Nestes concelhos, é com a CDU que a população continuará a contar para fazer os valer os seus direitos”, disse o líder do PCP.
Aventurou ainda que dentro de quatro anos os eleitores das câmaras que a CDU perdeu para o PS estarão de volta: “Estarão a reconhecer que a CDU tem de estar de regresso às suas autarquias”.
Bloco tem mais eleitos
Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, optou por realçar o resultado em Lisboa, onde o Bloco de Esquerda elegeu pela primeira vez um vereador na pessoa de Ricardo Robles, o seu candidato à Câmara. “A eleição do Ricardo Robles é a prova de que o Bloco pode eleger quem trabalhar todos os dias em nome da sua cidade”, disse Catarina Martins.
No entanto, o partido não conseguiu ganhar nenhuma câmara municipal nem impedir nenhuma maioria absoluta, os objetivos que tinham estipulado para si próprios. “Tudo indica que teremos mais maiorias absolutas no país. Temos de trabalhar mais”, afirmou a dirigente.
Isaltino volta a Oeiras
De entre os “dinossauros” autárquicos, o grande regresso incontornável foi o de Isaltino Morais à Câmara de Oeiras, no que considerou ser uma “grande vitória”. Após 24 anos à frente da autarquia, Isaltino Morais foi detido em 2013 e cumpriu dois anos de prisão por fraude fiscal e branqueamento de capitais enquanto exercia o poder autárquico.
No entanto, os eleitores aceitaram-no de volta, após um período em que Paulo Vistas assumiu a Câmara Municipal como seu sucessor e concorreu agora contra ele.
“Os oeirenses, ao votarem na nossa candidatura, disseram o que queriam para Oeiras”, “mas também disseram o que não queriam” e “é muito importante nós interiorizarmos bem o que os oeirenses não queriam, que é justamente para não cometermos os erros que foram cometidos por outros”, disse Isaltino. “O poder não é a cadeira, o poder é a capacidade para ouvir as pessoas”, frisou.
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