Não basta baixar IRS para atrair emigrantes. “Portugueses não voltam sem salários de qualidade”, diz Rui Rio
António Costa quer reduzir em 50% o IRS para os emigrantes que queiram regressar, uma medida que Rui Rio considera um "paliativo" insuficiente.
Na opinião de Rui Rio, a borla no IRS anunciada por António Costa não vai ser suficiente para atrair os emigrantes. No discurso deste domingo, que marcou o encerramento da Universidade de Verão do PSD, o líder laranja aproveitou ainda para deixar duras críticas à estratégia económica do Executivo e sublinhou que o Orçamento do Estado para 2019 devia contemplar “políticas mais amigas do investimento estrangeiro”.
No final de agosto, o primeiro-ministro anunciou que o Orçamento do Estado para o próximo ano vai incluir um desconto de 50% para os emigrantes que saíram do país durante a crise e que queiram agora regressar. A medida caiu mal junto da direita, chegando mesmo o CDS a acusar o Executivo de fazer “propaganda junto de certos grupos”, por motivos eleitoralistas.
Este domingo, Rui Rio juntou-se a essas vozes críticas e adiantou que considera o alívio fiscal em causa um mero “paliativo”, que será insuficiente na captação dos portugueses emigrados. Isto porque, diz o líder social-democrata, “as pessoas não vêm para Portugal se não tiverem emprego e salário de qualidade”.
Ainda no que diz respeito ao Orçamento para o próximo ano, Rui Rio aconselhou o Executivo a adotar “políticas públicas mais amigas do investimento estrangeiro”, nomeadamente através de alterações na carga fiscal, bem como através da desburocratização e da adoção de medidas de captação de poupança.
“O crescimento económico tem de ser feito pelo investimento. O consumo privado tem de ser depois uma consequência de uma economia saudável”, frisou o social-democrata, que acusou o Governo de estar a seguir a mesma receita de forte aposta no consumo que levou à “degradação” da economia nacional, durante o Governo socialista anterior ao de Costa.
“Este Governo não tem uma estratégia de crescimento económico sustentado”, notou ainda Rio, deixando também um recado ao setor financeiro: “É bom que a banca aprenda com os erros que cometeu. Espero que o Banco de Portugal esteja atento aos indicadores [nomeadamente, ao endividamento das famílias]”.
Por outro lado, o economista laranja realçou que este Governo — que “promete aquilo que não pode cumprir” — tem tido, em simultâneo, dois discursos contraditórios: o do ministro das Finanças, baseado na austeridade; e o do primeiro-ministro, que nega o defendido por Mário Centeno.
“Se não temos austeridade, devíamos dar aos professores o que eles querem”, acrescentou Rui Rio, referindo, mais uma vez, que o Executivo criou certas expectativas nestes profissionais relativamente à contagem do tempo de serviço e que, portanto, deve agora assumir a responsabilidade.
A reunião de sexta-feira do Governo com os sindicatos dos professores não chegou a bom porto: o Governo propôs a contagem de dois anos, nove meses e 18 dias de trabalho, mas os professores querem a contagem do tempo total (nove anos, quatro meses e dois dias). O falhanço das negociações levou estes profissionais a marcarem uma greve e manifestação para o início do ano letivo.
Além disso, no discurso deste domingo, Rui Rio denunciou a “degradação dos serviços públicos”, o que diz ser uma marca deste Governo. Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, o líder exigiu a atribuição de competências aos hospitais para que “não fiquem à espera do ‘sim’ do ministro das Finanças”.
Já quanto à ferrovia, o social-democrata registou um cenário “caótico” pautado pela “falta de investimento e manutenção”, pela “supressão de comboios” e pela ausência de “brio”.
Reforma da Justiça? “Só quando a oposição quiser”
No encerramento da Universidade de Verão do PSD, houve ainda tempo para falar de reformas estruturais. Rui Rio sublinhou que essas mudanças nunca poderão ser feitas “por uma única força política”, isto é, só poderão ser realizadas quando houver acordo entre os vários partidos. “Fora [dos corredores da Assembleia da República], não querem que eu seja contra os outros partidos, querem que eu seja a favor do país“, enfatizou.
Assim, a reforma da Justiça, por exemplo, só avançará, quando todos os intervenientes decidirem juntar-se, incluindo a oposição, notou o social-democrata. “A reforma da Justiça só será possível em Portugal, no dia em que o líder da oposição quiser. E até hoje não vi nenhum que quisesse”, assinalou o líder laranja.
O dossiê das reformas estruturais tem sido particularmente caro a Rui Rio. Esta não é a primeira vez que apela à união das forças políticas a bem destas alterações, tendo até já referido que nenhum partido, mesmo com maioria absoluta, conseguirá levá-las a bom porto se fizer esse caminho sozinho.
“Estar na posição não é apenas ‘dizer mal’ do Governo. É também construir uma alternativa credível, isto é, séria, corajosa e competente”, defendeu o social-democrata, numa ocasião anterior.
Transportar militantes até às urnas? “Não leva a nada”
Entre críticas ao Governo e incentivos aos participantes da Universidade de Verão do PSD, Rui Rio não deixou esquecer a polémica do transporte de militantes social-democratas em bloco até às urnas, no dia das eleições do novo líder do partido.
O líder laranja aconselhou os jovens a ingressarem na vida política “porque querem mudar as coisas” e adiantou que “não leva a nada” trocar “uns votos, meter um amigo ou comprar umas quotas”.
Tancos: Governo “foi incapaz”
Este domingo, Rui Rio lembrou ainda que, um ano depois do roubo do quartel de Tancos, em Santarém, ainda “não se sabe que material foi roubado”. O líder aproveitou a ocasião também para criticar a atuação do Governo nesta matéria, considerando-o “incapaz de dar respostas sobre caso”.
De acordo com o economista, o roubo mantém-se envolto em algum mistério e acabou por fazer abrir uma guerra entre a Polícia Judiciária Militar e a Polícia Judiciária. O político defendeu também que “o país tem de exigir” as respostas do ponto de vista judicial e apelou ao Ministério Público para que “faça rapidamente a investigação e diga o que se passou”
Foi a 28 de junho do ano passado que foi detetado o furto de material militar de Tancos (quartel entretanto desativado). Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e grande quantidade de munições. De acordo com os procuradores do Ministério Público, mais de um ano depois, ainda existe equipamento por recuperar.
(Notícia atualizada às 15h15).
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