Fim dos talões gera corrida à faturação eletrónica. Há empresas para quem este mês vale um ano de negócio
Com o ano a terminar, as empresas estão numa corrida para adotar e esclarecer dúvidas sobre a fatura eletrónica. Há empresas de certificação que registam mais procura num mês do que em todo o 2017.
O interesse das empresas portuguesas pela faturação eletrónica está a aumentar, uma tendência que é sentida pelas companhias que desenvolvem tecnologia nesta área, ou que criaram soluções de certificação. É o caso da Multicert. Só no último mês, a empresa portuguesa de certificação digital assistiu a mais procura por parte dos clientes do que toda a que foi registada no ano de 2017.
Em causa, um decreto-lei do Governo que abre caminho para o fim definitivo das faturas em papel, o que está a desencadear uma corrida cada vez maior à adoção da fatura eletrónica, seja no segmento de business to business (B2B), seja no segmento de business to consumer (B2C). Concretamente em relação a este último, os consumidores comuns só vão receber fatura em papel se o solicitarem, já a partir de janeiro.
Abre-se a porta a que, no retalho, se possa pôr de lado a fatura em papel e agilizar a faturação com recurso à tecnologia, adotando um conceito que já é uma realidade há muito tempo nos serviços básicos, como água, luz e gás, mas também nas telecomunicações. Certo é que, por causa deste novo enquadramento legal, a fatura eletrónica acabou por despertar mais interesse na generalidade das empresas.
Some-se a isso dois outros motivos: por um lado, já a partir de 2019, todas as faturas emitidas por fornecedores ao Estado vão ter de ser eletrónicas, ao abrigo de uma medida do Simplex+2018; por outro, os gestores veem nesta alternativa uma forma de reduzir a despesa com o papel.
Fatura eletrónica? Não basta um PDF
Para emitir uma fatura eletrónica, não basta que o documento ou talão sejam convertidos para um ficheiro do tipo PDF. Na verdade, a faturação eletrónica significa que os dados da transação são comunicados por via eletrónica ao Fisco. Daí serem necessários programas informáticos com características específicas, que respeitam determinadas regras de comunicação e de certificação dos ficheiros.
No caso da Multicert, que tem a SIBS como acionista maioritário, a empresa já nota que a procura pelas soluções de faturação digital está a disparar. “Nos últimos 30 dias, fizemos mais pedidos de fornecimento de faturas eletrónicas do que em todo o ano passado. Ou seja, este mês, fomos abordados por um número de clientes, que querem emitir faturas para outros, que é superior a todo o ano de 2017 junto”, revelou ao ECO o presidente executivo da Multicert, Jorge Alcobia.
Nos últimos 30 dias, fizemos mais pedidos de fornecimento de faturas eletrónicas do que em todo o ano passado.
Também a PHC admitiu estar a verificar um crescimento do interesse das empresas portuguesas no tema da fatura eletrónica. Ao ECO, fonte oficial da tecnológica disse que, “o que se nota mais recentemente é a necessidade crescente por parte das empresas que faturam para a Função Pública”, pois “estas vão ser obrigadas” a emitir este tipo de faturas. “Temos notado uma maior procura de uma solução concreta”, frisou a mesma fonte da PHC, lembrando que, “nos últimos anos, as empresas portuguesas têm vindo a aderir à [emissão de] fatura eletrónica”.
Na Sage Portugal, o tema também está a ganhar mais relevância, com a diretora de marketing de produto, Cristina Francisco, a falar de uma “lufada de ar fresco” nos últimos meses para a faturação eletrónica: “Estamos a receber imensas questões de empresas que têm relações com a Administração Pública”, disse.
A profissional apontou ainda numa “outra vertente”, a do “consumidor final”, que vai ter a partir de janeiro “a possibilidade de a fatura não ser impressa em papel”, o que está a suscitar “algumas dúvidas” às empresas. Mas, apesar de a Sage Portugal ainda não notar uma adoção massiva da fatura eletrónica, Cristina Francisco reconheceu que é para aí que caminha o tecido empresarial português: “Efetivamente, os pedidos aumentam. E acreditamos que vai haver aqui um boom.”
Tendência acaba de conquistar o retalho
Por isso, não é de estranhar que o retalho esteja atento a esta nova tendência. Sobretudo as grandes retalhistas, que veem nestas tecnologias uma forma de poupança significativa em papel, por terem de emitir faturas em quantidades massivas. Aliás, são estas as que mais beneficiam com a poupança.
Uma dessas marcas é o Continente, que anunciou esta semana que os clientes com Cartão Continente ou Cartão Universo podem passar a pedir fatura eletrónica. Esta é automaticamente enviada por email após feitas as compras nas principais insígnias de hipermercados e supermercados da Sonae. A intenção passa ainda por alargar a fatura eletrónica a outras marcas da Sonae, como a Well’s, a Zu e a Go Natural. Para a empresa, a poupança pode chegar às 193 toneladas de papel por ano.
Serão estas soluções realmente vantajosas para os clientes? Em setores como as telecomunicações e as utilities, a adoção da fatura eletrónica pressupõe um benefício concreto para o cliente (tráfego ilimitado na internet, desconto na fatura, etc.), Ou seja, é um benefício partilhado entre clientes e empresas. No caso do Continente, não há um benefício monetário direto, mas a promessa para é de poupança de tempo e uma maior contribuição “para poupar o ambiente”.
Fonte oficial da PHC falou num “conjunto de vantagens importantes” que vão tornar “o tecido económico mais competitivo”. “A desmaterialização, a diminuição de custos na produção de documentos, a maior rapidez nas transações e a eficiência administrativa são alguns exemplos disso mesmo”, concluiu a mesma fonte. Depois das empresas, resta saber se os clientes vão aderir à moda. Mas, por agora, tudo parece apontar nesse sentido.
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