Fosun diz que Portugal “acolhe bem” o investimento chinês
Na cerimónia que assinalou a compra pela Fidelidade de 51% do capital da congénere peruana La Positiva, o presidente da Fosun disse que Portugal é um país que "acolhe bem" o investimento chinês.
O presidente da Fosun International reconheceu esta quarta-feira as “relações muito próximas” entre Portugal e a China e referiu as participações na Fidelidade e no BCP como exemplos de como o país “acolhe bem” o investimento daquela multinacional chinesa. “As relações entre a China e Portugal são muito próximas hoje em dia. Os nossos investimentos na Fidelidade [seguradora portuguesa da qual a Fosun detém 85%] e no BCP [onde a Fosun controla 27,06% do capital] são a evidência de que Portugal acolhe bem o investimento da Fosun no país”, sustentou Wang Qunbin.
Em declarações aos jornalistas em Lima, no Peru, à margem da conferência de imprensa que oficializou a compra pela Fidelidade de 51% do capital da congénere peruana La Positiva, Wang Qunbin considerou que esta operação “é um marco muito importante” para a seguradora portuguesa, já que lhe dá “acesso pela primeira vez ao mercado da América Latina”.
“A La Positiva é um dos líderes de mercado no Peru e na Bolívia no mercado segurador. Com este investimento, a Fidelidade aumentou significativamente a sua base de clientes, de cerca de dois milhões para mais de cinco milhões”, destacou.
Wang Qunbin salientou ainda que este investimento torna também a Fidelidade mais internacional, dando-lhe “mais visibilidade no mercado internacional, nomeadamente na América Latina”, quando “até agora estava sobretudo focada em Portugal e nos países de língua portuguesa”.
Adicionalmente, disse, a operação “vai acrescentar benefícios financeiros à Fidelidade”, ao mesmo tempo que favorecerá o “espírito empreendedor, num contexto de globalização, da equipa de gestão e do pessoal” da seguradora portuguesa, “com partilha de conhecimentos e ‘know-how’ [conhecimento] com a La Positiva”.
A aquisição pela Fidelidade de uma posição maioritária na La Positiva marca também a estreia da Fosun no setor segurador na América Latina, sendo que o objetivo da multinacional é continuar a crescer no Peru e na América Latina, no âmbito da sua visão de “fornecer um milhão de famílias no mundo inteiro” assente nos pilares estratégicos de “criação de riqueza, serviços de saúde, bem-estar e lazer”.
Investimento da Fosun no BCP é “de longo prazo”
Relativamente à participação que a Fosun International detém no BCP, WangQunbin declarou que “é um investimento de longo prazo e estratégico”, estando o grupo chinês “confiante” na capacidade de desenvolvimento do banco, cujas “melhorias” considera serem evidentes.
Quanto aos investimentos previstos pela Fosun a nível global, Wang Qunbin afirmou que a “ênfase” será na “eficiência das operações do portefólio” que a empresa já detém, embora admita novos investimentos “focados no segmento da saúde”.
Na mesma linha, Jorge Magalhães Correia, presidente da Fidelidade e ‘global partner’ da Fosun, afirmou à agência Lusa que “os investimentos da Fosun em Portugal têm sido caracterizados pela qualidade e não pela quantidade”, estando a multinacional chinesa “confortável pela qualidade dos investimentos que fez” no país.
Fidelidade torna-se “pequena multinacional” com estratégia global
O negócio de compra da seguradora peruana La Positiva marca a transformação da Fidelidade de uma “empresa portuguesa com alguma atividade internacional” numa “pequena multinacional” com estratégia global, disse ainda o presidente da Fidelidade, Jorge Magalhães Correia.
“Com a aquisição da La Positiva, o peso da atividade internacional nas vendas da Fidelidade passará de cerca de sete, oito por cento para 28%, o que significa que, em termos estratégicos, a Fidelidade já não é só uma empresa portuguesa com alguma atividade internacional, mas passará a ser uma pequena multinacional, à sua escala”, afirmou o presidente do grupo Fidelidade em entrevista à agência Lusa.
Falando em Lima, no Peru, Jorge Magalhães Correia salientou que este negócio “traz crescimento em si mesmo”, mas sobretudo esta “viragem” estratégica que a empresa “já tinha no seu plano de negócios desde antes da privatização”. Confessando-se hoje ainda “mais entusiasmado” com o negócio do que na assinatura dos contratos, há dez meses, o presidente da Fidelidade tem já planos para replicar no Peru e na América Latina o modelo de negócio de “dois braços” que mantém em Portugal, onde associa os seguros de saúde (com a Multicare) aos cuidados de saúde (através da rede de hospitais privados Luz Saúde).
Segundo Jorge Magalhães Correia, num mercado maduro e competitivo como o português, o crescimento do grupo Fidelidade é já “difícil de sustentar” quer na área seguradora, quer da saúde privada, pelo que a internacionalização assume-se como a via de crescimento por excelência. “Para nós o setor da saúde privada é um pouco como nos seguros: é uma operação grande, com dificuldades em crescer e que está em ajustamento e sob uma pressão competitiva importante, que tem feito baixar as margens e a rentabilidade do negócio em Portugal. Por isso, é um tema ao qual vamos estar atentos no Peru e América Latina”, referiu.
Para Magalhães Correia, “seria um desperdício” não tirar partido da “capacidade operacional, tecnológica, de crescimento e de inovação que a Luz Saúde tem demonstrado” para replicar no estrangeiro o modelo que a Fidelidade opera em Portugal. Ainda assim, ressalva que “a saúde é um mercado mais complexo”, estando em avaliação “como é que funciona” no Peru, designadamente “a dimensão do setor privado, a relação entre privados e Estado, o financiamento e o sistema de Segurança Social”. “Já temos pessoas a olhar para isto e haveremos de ter a curto prazo uma ideia de como é o mercado para depois ter alguma decisão estratégica sobre se vale a pena. Agora a nossa propensão natural é para ter um modelo de seguros e saúde e uma fileira da saúde muito desenvolvida”, acrescentou.
De acordo com Jorge Magalhães Correia, na corrida à compra da La Positiva “o preço não foi o fator decisivo”, caso contrário a Fidelidade teria sido batida por outros concorrentes, nomeadamente por uma empresa europeia “com muito mais músculo financeiro” com a qual competiu diretamente.
“Aquilo que foi decisivo foi percebermos que havia uma grande proximidade entre as duas empresas. Estávamos a falar entre profissionais do mesmo ofício, com as mesmas linhas de produtos e o mesmo tipo de experiência, de canais de distribuição e de intermediários. No essencial pensávamos da mesma maneira, portanto foi um processo muito natural e transparente, foi um namoro que correu bem”, disse.
Convicta do “potencial” da congénere peruana, à qual acredita que pode “acrescentar valor” – quer na área da saúde, quer no segmento empresarial, já que a La Positiva possui sobretudo clientes individuais – a Fidelidade “confia muito” na atual equipa executiva peruana, pretendendo manter o ‘chairman’ (presidente) da companhia e fazer apenas “alguns ajustes” no atual sistema de governo corporativo.
Usando a La Positiva com o seu “braço” na América Latina, a seguradora portuguesa encara agora com expectativa o “potencial de crescimento” neste mercado, que Magalhães Correia descreve como “interessante, economicamente estável, liberal e sem restrições à entrada ou saída de capitais”.
Neste sentido, a Fidelidade pretende rentabilizar a presença que a La Positiva já tem na Bolívia, no Paraguai e na Nicarágua, ao mesmo tempo que está a criar de raiz no Chile uma “pequena companhia de seguros”. “Naturalmente que é uma operação que nunca vai ser expressiva nos próximos dez anos, mas permite-nos estar presentes no mercado, perceber a sua dinâmica e estar atento a qualquer movimento e oportunidade que possa surgir”, afirmou.
Isto porque, explicou, tal como já aconteceu na Europa, “nos mercados da América Latina os bancos estão a libertar as suas participações nas seguradoras, por motivos regulamentares e de ajustamento do mercado, havendo oportunidades que surgem deste ajustamento do setor bancário”.
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