A Google apresentou uma plataforma de gaming que funciona em todos os suportes e só precisa uma ligação à internet. Agora é claro: o futuro dos videojogos não tem consolas.
A Google quer fazer com os videojogos o que Netflix e Spotify fizeram com os filmes e a música. A multinacional apresentou a plataforma Stadia, um primeiro passo para o fim das consolas. Trata-se de um serviço de streaming de jogos que só precisa de uma ligação à internet para funcionar e que suporta todas as plataformas. Desde o telemóvel ao computador, passando pela televisão.
Foi no palco da Game Developers Conference, em São Francisco (EUA), que a empresa mostrou como a Stadia vai permitir jogar com uma qualidade de imagem 4K e HDR, a 60 frames por segundo e com som envolvente, características mais do que suficientes para cativar os fãs mais fervorosos de videojogos. A promessa é a de suportar 8K “no futuro”, mas não atire já os foguetes. A Stadia ainda nem tem data de lançamento e sabe-se apenas que chegará mais para o final do ano, nos EUA, Canadá, Reino Unido e “em grande parte da Europa”.
Mas como funciona esta nova plataforma de jogos que não precisa de consola? A resposta é simples, o sistema é complexo. A Stadia vai funcionar através da cloud. Significa que, ao invés de os jogos serem processados num dispositivo local, como a consola ou o computador, é tudo processado nos servidores da Google. Só o resultado final é enviado para o jogador. E, neste campo, não é inocente o facto de a Google ser um dos maiores players no que toca a esta tecnologia, devido aos centros de dados gigantes que tem espalhados pelo mundo.
Em paralelo com a plataforma, a empresa desenvolveu um comando de jogos adaptado para a Stadia. Liga-se por Wi-Fi aos servidores da Google e tem dois joysticks, assim como os típicos botões de controlo que fazem parte destes comandos há décadas. Mas, apesar de a Stadia funcionar com outros comandos que já tenha lá em casa, este tem dois botões que podem fazer a diferença na hora de jogar. Um deles aciona o Google Assistant, para que possa perguntar à Google como se conclui um nível mais difícil sem ter de sair do jogo. O outro serve para capturar o ecrã e entrar em direto no YouTube.
Isto porque a Stadia também é uma aposta em dinamizar e alavancar o YouTube. E a proposta de valor é de grande potencial: um utilizador que esteja a ver um vídeo de um determinado jogo no YouTube pode carregar no botão “Jogar” e iniciar o jogo “em apenas cinco segundos”. Tendo em conta que, segundo a Google, os utilizadores do YouTube assistiram a 50 mil milhões de horas de conteúdo relacionado com videojogos no ano passado, o mercado à disposição da empresa é mesmo de larga escala.
Perante tudo isto, só ainda não se sabe qual o modelo que vai ser seguido pela companhia. Da mesma forma que a empresa pode explorar receitas de comissões cobradas aos estúdios de videojogos, há quem antecipe um modelo de subscrições semelhante ao da Netflix, em que o pagamento de uma mensalidade dá acesso a um catálogo de títulos. Mas a empresa não deu detalhes em relação a este aspeto.
Os videojogos são uma indústria que gera receitas entre 130 mil milhões e 135 mil milhões de dólares por ano. Com esta novidade, a Google espera diversificar o negócio, esmagadoramente assente nas receitas provenientes da publicidade digital.
Microsoft também tem novidades… daqui a três meses
A Google Stadia deverá forçar as gigantes Microsoft, Sony e Nintendo a seguirem caminhos semelhantes. E o certo é que a “guerra” do mercado do streaming de videojogos já dá muitos sinais de estar a aquecer.
Comecemos pela Xbox. A Microsoft está a preparar o lançamento da xCloud, uma plataforma de videojogos que também assenta na cloud. Pouco se sabe acerca deste novo projeto. Apenas que deverá permitir aos atuais criadores de jogos incluírem os seus títulos nessa plataforma, sem grande esforço.
Os últimos rumores notam que a xCloud da Microsoft poderá ser apresentada oficialmente durante a conferência de gaming E3 (Electronic Entertainment Expo), que começa a 11 de junho. “Hoje [quarta-feira], a Google esteve em grande, e faltam apenas alguns meses para a E3, onde vamos ser nós a estar em grande”, sugeriu o diretor de gaming da Microsoft, Phil Spencer, numa nota enviada aos funcionários, pouco depois da apresentação da concorrente Google.
Mas esse não é o único motivo que faz da Microsoft, talvez, o player mais bem preparado para concorrer com a Google neste novo negócio. Com a unidade Azure, a empresa liderada por Satya Nadella é outra das grandes fornecedoras de serviços na cloud, com operações espalhadas por 54 regiões do planeta, 135 locais e mais de 161 mil quilómetros de rede de fibra ótica dedicada.
A Sony, por sua vez, já tem um serviço de streaming de videojogos, o PlayStation Now. A plataforma foi expandida recentemente para novos mercados, incluindo Portugal. Mas o entusiasmo dos fãs não tem alcançado os níveis que da Stadia e da xCloud — o que não deixa de ser curioso, tendo em conta que o serviço da Sony já existe há vários anos e os restantes dois ainda nem chegaram ao público.
A grande questão parece estar relacionada com o tamanho da infraestrutura, que faz com que a Google e a Microsoft sejam marcas mais facilmente associadas aos serviços cloud. A fatura já chegou à bolsa, com os títulos da Sony a desvalorizarem mais de 8% na bolsa de Tóquio entre quarta e sexta-feira.
E o que é feito da Nintendo? A marca japonesa de culto ainda não apresentou planos para concorrer no mercado do streaming, estando mais focada na promoção da Switch, que é a consola mais popular desta geração. Talvez por isso tenha visto as ações serem penalizadas pelos investidores com uma queda de 4,10%, instantes depois da apresentação da Stadia pela Google. Os títulos recuperam ligeiramente depois da queda e fecharam a semana com perdas superiores a 2%.
Mas se pensa que a Google acabou de ganhar um estado de graça, engana-se. Doravante, a maior dúvida no que toca à plataforma Stadia parece estar em saber se a Google vai ser capaz de convencer os grandes estúdios a apostarem nesta novidade, sendo que os principais, como a Activision e a Electronic Arts, mantêm laços que duram há décadas com as fabricantes da PlayStation e da Xbox. Para já, entre os grandes, só a Ubisoft parece ter ficado convencida — surgiu lado a lado com a Google no evento desta quarta-feira.
Por outras palavras, a Google até pode já ter mostrado que, na vertente técnica, este é um projeto que funciona. Porém, fica a faltar o resto: licenciar para o seu catálogo alguns títulos altamente populares, como CallofDutye Fortnite, por exemplo.
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