Dieselgate, coletes amarelos e orçamento italiano travam economia do euro, diz o FMI

Economias do euro vão abrandar de forma significativa. Dieselgate na Alemanha, coletes amarelos em França e situação política em Itália travam as maiores economias do euro. Só a Grécia crescerá mais.

O atrasado na implementação das novas regras para a produção automóvel após o dieselgate na Alemanha, os protestos dos coletes amarelos em França e a incerteza sobre o orçamento de Itália deverão causar um abrandamento significativo da economia da Zona Euro no próximo ano, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). A instituição liderada por Christine Lagarde prevê que a região cresça apenas 1,3%, menos cinco décimas face a 2018. A única economia que deve crescer mais em 2019 é a Grécia.

As três principais economias do bloco de 19 países que partilham a moeda única europeia valem quase dois terços do total da economia do euro e o seu peso fez-se notar de forma significativa nas mais recentes previsões do FMI.

No World Economic Outlook, que publica esta terça-feira, o FMI revê a previsão de crescimento na Zona Euro de 1,6% para 1,3% este ano, ficando assim meio ponto percentual aquém dos 1,8% verificados em 2018.

Quem mais contribui para esta revisão em baixa é a Alemanha, a maior economia da Zona Euro, que vê o seu crescimento revisto em baixa em 0,5 pontos percentuais. Se as previsões do Fundo se concretizarem, a economia alemã crescerá apenas 0,8% este ano, muito aquém dos 1,5% de 2018. A explicação para este abrandamento estará a queda do comércio intracomunitário, mas também uma queda da produção industrial e do investimento na Alemanha que resultam do atraso na implementação das novas regras na produção automóvel, na sequência do escândalo da manipulação de emissões dos carros a diesel em que estiveram envolvidas empresas como a Volkswagen.

Pior que a Alemanha só a Itália. A terceira maior economia da Zona Euro viu a projeção de crescimento do FMI baixar também em cinco décimas, mas para 0,1%. Segundo o Fundo, a incerteza em torno do orçamento italiano, o aumento das taxas de juro da dívida pública italiana e o aumento da incerteza de forma mais geral entre os agentes económicos estarão a pesar na economia italiana. Em 2018 a economia italiana cresceu apenas 0,9%.

Alemanha e Itália são os únicos dois países que deverão crescer menos de 1% este ano, mas estas duas economias juntas são responsáveis por quase metade da economia do euro.

Em França, os protestos dos “coletes amarelos” também estão a pesar na economia. O FMI aponta para uma queda nas vendas que terá levado a um menor crescimento do consumo privado, o que, aliado à queda do comércio intracomunitário, justificou uma revisão em baixa do crescimento económico francês, de 1,5% para 1,3%.

Alemanha e França são dois dos principais mercados para as exportações portuguesas, mas o principal mercado é Espanha, de onde também surgem notícias pouco positivas para a economia portuguesa (que deverá crescer 1,7% este ano). Nas previsões do FMI, a economia espanhola – quarta maior economia da Zona Euro — deve crescer menos este ano e também em 2020, ainda que a um ritmo superior daquele que é esperado para a economia portuguesa.

FMI corta previsões para as maiores economias

Fonte: FMI

Mas o abrandamento é generalizado. Nas previsões do FMI, quase todas as economias da Zona Euro vão crescer menos este ano do que o verificado em 2018. A única exceção a esta regra é a Grécia, que depois de vários anos de recessão, começa a apresentar taxas de crescimento acima de 2% e vai crescer mais este ano, 2,4% contra os 2,1% de 2018.

Não é só a Zona Euro que está a abrandar. Nas contas do FMI, a economia mundial deverá crescer 3,3% este ano, menos duas décimas que o esperado, em janeiro e menos três décimas do que o verificado em 2018.

Esta revisão em baixa resulta — para além do abrandamento já mencionado da Zona Euro — das menores expectativas de crescimento para as três maiores economias do mundo.

Os Estados Unidos viram a sua previsão de crescimento revista em baixa, e devem ver a sua economia abrandar dos 2,9% do ano passado para 2,3% este ano. Para 2020, espera-se uma nova desaceleração, agora para 1,9%. No caso da China, segunda maior economia do mundo, há uma ligeira revisão em alta do crescimento este ano, mas que desaparece em 2020, projetando-se dois anos de abrandamento consecutivo.

No caso dos Estados Unidos e China, a principal razão apontada é a disputa comercial entre os dois países, que já levou a que ambos tenham aumentado as taxas aduaneiras que aplicam sobre as importações de parte a parte. Ainda assim, a projeção é feita com base num cenário de estabilização das tensões comerciais, numa altura em que ainda não há acordo sobre a futura relação comercial entre os dois blocos.

Mas também o Japão, terceira maior economia do mundo, vê a sua previsão de crescimento ser revista em baixa para este ano, apesar de ainda se esperar um crescimento face a 2018. Mas em 2020, a economia nipónica deve abrandar de forma pronunciada e crescer apenas 0,5%, um perfil de baixo crescimento que tem sido a marca da economia japonesa na última década.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Dieselgate, coletes amarelos e orçamento italiano travam economia do euro, diz o FMI

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião