A inaugurar escritório em Portugal, Paula Panarra assegura que a mudança reflete transformação de dentro para fora, que faz da Microsoft a sua 2.ª casa. E quer que trabalhadores se sintam na deles.
Estamos na nova sede da Microsoft Portugal, um espaço mais aberto ao mundo: a clientes, parceiros e até a curiosos. Porquê esta necessidade de mudança?
Esta é uma nova casa dentro do edifício antigo e, por isso, foi um projeto desafiante porque fizemos estas obras de setembro até agora, continuando a trabalhar daqui. O novo espaço vem trazer aquilo que nós acreditamos que é o ambiente de trabalho que hoje em dia as organizações devem ter, num momento em que além de gerações distintas a trabalhar na mesma organização, temos cada vez mais colaboração com equipas que estão remotas, mais trabalho e coedição de trabalho entre equipas. Também recebemos cada vez mais os clientes e parceiros para os pôr em contacto com estas novas realidades.
Valores e propósito são cada vez mais relevantes para as escolhas que fazemos na vida.
A necessidade de redesenhar o espaço é torná-lo mais adequado àquilo que são hoje os novos formatos de trabalho. Uma das alterações foi criar muitos espaços mais pequenos mas, todos eles preparados para fazer reuniões em equipa, ou remotas, com acesso à informação em tempo real, porque essa é a forma como hoje mais colaboramos. Há depois muitos espaços que estão abertos a clientes e parceiros. E aqui convive também a nossa equipa de engenheiros de suporte, que têm de ter um espaço de trabalho diferente do nosso porque o seu trabalho é servir os clientes durante o dia. Isso também foi pensado, com dois ecrãs, capacidade de mobilidade das mesas para criar aquilo que são os espaços de trabalho seja numa organização que faz venda no mercado, seja numa organização de suporte. Acreditamos que podemos ajudar as organizações portuguesas a chegar a esses novos horizontes, temos de ser o primeiro embaixador e os primeiros a mostrar como isso se faz. É isso que este edifício pretende.
De dentro para fora…
Sem dúvida. Acreditamos que vai poder ser um espaço onde se pode vir ver e experimentar como se organizam estas estruturas mais ágeis, multifuncionais, e com maior flexibilidade de acesso e mais mobilidade, e de como se pensa o espaço e se utiliza a tecnologia para dar suporte a estas organizações. Acreditamos que vai ser uma montra destas experiências para os clientes, que vamos receber muitas visitas – e para isso o espaço está pensado. Mas também não escondo, por outro lado, que este é um espaço “feel home at work” e também tem a ambição de ser um espaço onde as pessoas que colaboram e que trabalham com a Microsoft gostam de estar, estão bem e totalmente integradas naquilo que é o espírito da empresa.
Nesse contexto, quais os desafios para atrair e reter talento?
Os recursos humanos são tarefa da organização inteira. Estamos à procura de perfis bastante diversos, quer do ponto de vista do que é o background de formação como a sua experiência profissional. A nossa transformação para a prestação de um serviço faz com que haja a necessidade de ter recursos que fazem o acompanhamento do cliente, inclusivamente naquilo que é a utilização da tecnologia e do projeto dentro de casa. Precisamos hoje de recursos que tenham maior conhecimento de indústria, dos vários negócios dos clientes, destas novas plataformas tecnológicas. Depois, data scientists. Diria que perfis bastante distintos do que tínhamos quando éramos uma empresa que vendia um bem para ficar dentro de casa do cliente.
Quais as áreas que mais cresceram dentro da empresa?
O nosso centro de suporte cresceu nos últimos cinco anos de 30 pessoas para quase 500. Estamos à procura de gente nova sem experiência e de outras pessoas, já profissionais com experiência – temos, na verdade, essa capacidade de formação dos mais novos e procuramos nalguns casos essa experiência – de quem queira vir prestar esse serviço aos nossos clientes. Mas que tenha acima de tudo alguma apetência para a tecnologia, isso é fundamental: não necessariamente no sentido de saber tudo mas de estar disponível para aprender tudo.
E as pessoas, procuram as mesmas coisas?
As novas gerações, daquilo que tem sido a nossa experiência, procuram esta flexibilidade do ponto de vista do formato de trabalho, o ser responsabilizados pelo entregável e não pelo tempo que estão no espaço onde trabalho. Procuram autonomia, desafios, e condições de gestão de tempo que lhes permitam manter os seus hóbis, nalguns casos até manter o seu negócio de entrepreneur enquanto aprendem e constroem. O que procuramos na Microsoft é criar essas condições, que levem a essa capacidade mais flexível e de mobilidade e que, ao mesmo tempo, integrem a responsabilidade, a autonomia e a capacidade de entrega.
A questão do propósito é algo que esta geração tem mais do que a minha, que desenhava a carreira de determinada forma. Como economia de pós-ditadura, a noção de sucesso era essa progressão e essa capacidade de crescer. Hoje os trabalhadores movem-se pelos propósitos, pelos valores das empresas. As questões da sustentabilidade, da diversidade, da inclusão, da capacidade de viajar, das experiências serem ou não valorizadas, são parâmetros que funcionam muito para alguém que se junta a uma organização. Valores e propósito são cada vez mais relevantes para as escolhas que fazemos na vida. Isso também traduz a abertura que tem o mundo, a abertura do país, viagens e acesso a outras experiências. Nós somos até uma das organizações que, tendo essa pegada global e essa facilidade de trabalho remoto, oferecemos claramente essa vantagem.
A tecnologia muda o mundo todos os dias. O negócio da Microsoft alterou-se nos últimos anos?
Começámos por ser uma empresa que desenvolver software para as pessoas e para as empresas. No passado, esse software funcionava tipicamente na máquina e no servidor dos clientes, aquilo a que chamamos um modelo “nas premissas” e na casa dos clientes. E a evolução que a indústria da tecnologia – e não só no caso da Microsoft, mas nós fizemos claramente uma aposta muito forte – foi no sentido de construir grandes infraestruturas — data centers — que são aquilo que, na verdade, nos permite fornecer cloud pública. E isso significa que, neste caso, o software está instalado nesses nossos data centers e nós depois prestamos aos clientes o software, mas agora como um serviço.
"Podemos ajudar as organizações portuguesas a chegar a esses novos horizontes, temos de ser o primeiro embaixador e os primeiros a mostrar como isso se faz.”
Na prática, o que muda?
Há uma série de questões relacionadas com manutenção, atualização e custo associado ao acesso a essa tecnologia que hoje deixa de estar do lado do cliente porque passa a fazer parte do serviço que nós prestamos. É um modelo que permitiu que a tecnologia evoluísse para uma democratização muito grande no acesso, que começa numa lógica de servir o produto para precisar de um modelo de negócio diferente. Agora funciona como o fornecimento da energia ou da água: eu utilizo o serviço e pago pelo serviço que utilizo. São modelos de aquisição de novos clientes, de subscrição de serviço e, se fizermos um bom trabalho para ganharmos a confiança dos clientes, de caminhada do ponto de vista da plataforma. É essa a grande alteração que fizemos do ponto de vista dos produtos, que vem acompanhada de uma alteração do modelo de negócio.
Com a infraestrutura do vosso lado, aumenta o investimento?
Operar data centers em larga escala tem alguma pegada se não for feito como nós nos propomos fazer, com uma pegada ambiental muito leve e, portanto, na procura de soluções de engenharia e operação que passam por muita energia verde e auto climatização. Esse é o tipo de investimento que podemos fazer porque o fazemos em escala massiva e que seria muito difícil a todas as empresas, cada uma individualmente, fazê-lo. Acaba por ser um formato que democratiza o acesso a estas novas plataformas tecnológicas. Passámos a mover-nos num mundo diferente que tem o custo do investimento na construção e também naquilo que é o desenvolvimento das novas tecnologias, com uma preocupação grande de sustentabilidade.
Essa sustentabilidade exige uma maior velocidade no que toca à atualização e tecnologia de ponta?
Faz parte da promessa. Essa é uma das grandes vantagens destes novos modelos para quem os adquire. No passado, havia uma nova release e um processo associado à renovação de software que acontecia a cada quatro/cinco anos quando havia um novo Office, um novo Windows. Mantínhamos o suporte durante ciclos que podiam ir até uma década mas a atualização tinha de ser feita pelo cliente dentro de casa, com todo o esforço que isso significava do ponto de vista de recursos. Hoje essas atualizações são feitas por nós, eu diria quase diariamente – pequenas atualizações, algumas maiores obviamente sazonais, acompanham aqui uns meses de libertar novas funcionalidades – mas somos nós que o fazemos no serviço que oferecemos. Para o cliente é um processo transparente, sem custo e sem essa preocupação, porque isso está incorporado no serviço.
Os clientes estão diferentes…
Tem a ver com um movimento que permite um acesso a tecnologia muito mais avançada de uma forma muito mais simples, com menos esforço, menos recursos e menos investimento. Aquilo que começou por ser uma preocupação relativamente à segurança e à privacidade destes novos modelos, acabou por mostrar um modelo que oferece maior segurança porque é trabalhado a uma escala global com normas, com preocupações de segurança e de privacidade que temos de oferecer a qualquer cliente e que provavelmente uma pequena empresa, mesmo em termos das suas capacidades de criar esse paradigma de segurança, não tinha as mesmas que consegue agora aceder em larga escala na cloud.
As pessoas têm consciência os riscos reais que correm face à exposição dos seus dados?
Há cada vez mais essa consciência, até mesmo em cada pessoa enquanto indivíduo e são os comportamentos de indivíduo que transportamos depois para dentro das organizações. Por isso também é nos indivíduos que nascem os principais problemas e riscos de segurança. Há aqui uma necessidade de formação e sensibilização contínuas aos indivíduos mas que hoje têm uma sensibilidade diferente. A maioria de nós tem na sua vida pessoal acesso a tecnologias, faz uso delas para comunicar e para colaborar, redes sociais, estar com os amigos, organizar a sua própria vida, ter acesso a serviços, e todos esses comportamentos, desde logo começando na escola e com as crianças e a preocupação cada vez maior de sensibilizar para o que significa expor no mundo e na vida digital determinados factos, mas também a importância de manter a privacidade em tudo aquilo que fazemos na pegada digital. São comportamentos que, de alguma forma, se transportam para aquilo que é o mundo de uma organização e de uma empresa, onde claramente as organizações têm normas, políticas e processos que também ajudam a que essas questões sejam asseguradas. Mas a formação é essencial para que haja de facto uma consciência para o que se deve e o que não se deve fazer quando estamos a falar no mundo digital.
Quem tem o papel essencial neste processo?
Todos têm um papel. A escola tem um papel muito importante porque hoje as nossas crianças e adolescentes vivem no digital, são nativos com tudo o que isso significa. E desde muito cedo é importante essa consciencialização. Temos, enquanto Microsoft, alguns programas, nomeadamente com a GNR, para a sensibilização e aculturação dos jovens mas que tem de se estender a todas as outras gerações.
São eles os mais vulneráveis?
Diria que os seniores são hoje uma área da nossa sociedade que está muito vulnerável porque já fazem muita utilização destas tecnologias mas depois estão mais expostos a casos de burla ou de crime e, portanto, essa sensibilidade tem de estar presente para todos. Nas organizações isso representa um risco ainda maior porque, de facto, têm de existir processos e políticas de acesso e de gestão da informação.
Combater a desigualdade na casa de banho
No novo escritório da Microsoft, uma das novidades do piso térreo é uma casa de banho unissexo. A medida, em implementação em algumas das subsidiárias da multinacional na Europa, foi também adotada na sede de Portugal.
Reskilling para todos
Apesar de a Microsoft ter programas de formação de reskilling desde sempre, Paula Panarra assegura que neste momento a empresa está a fazer uma aposta “mais intencional”. “Se no passado haveria preocupações, funções mais de gestão e formações mais técnicas para quem fazia desenvolvimento de produto, ainda este semestre fizemos um programa a que chamámos tecnical skills em que 100% da organização, eu incluída – e cada um com o currículo adaptado ao que era a sua função na organização – teve formações técnicas sobre o que são as nossas soluções para os clientes”. O sistema de ensino e avaliação foi feito através de uma plataforma de e-learning que cada participante cumpriu “à medida do seu planeamento”. Numa loja de gamificação, os “alunos” iam recebendo pontos à medida que concluíam tarefas. “Levamos muito a sério a capacidade de formação das pessoas, e cabe às organizações disponibilizar as ferramentas necessárias para que depois os seus empregados as possam consumir, apreender esses conceitos e progredir naquilo que são as novas necessidades das organizações. Esse é o modus operandi”, refere a diretora-geral da Microsoft Portugal.
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Paula Panarra: “Os recursos humanos são tarefa da organização inteira”
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