Dívida portuguesa brilha. Vai puxar pelos lucros da banca nacional

Comportamento positivo das obrigações do Tesouro traduzir-se em ganhos de muitos milhões de euros nas carteiras dos maiores bancos nacionais, ajudando aos resultados líquidos.

A dívida pública portuguesa tem vindo a valorizar. Regista uma forte valorização, levando à queda das yields, que tem gerado ganhos expressivos para os muitos investidores em títulos nacionais. Entre os principais estão os bancos, nomeadamente os cinco maiores, que à semelhança do que aconteceu nos primeiros três meses do ano, deverão revelar nos resultados do semestre os frutos desta aposta crescente em obrigações do Tesouro (OT).

Após um retorno médio da dívida pública portuguesa de 3,5% no primeiro trimestre do ano — que deu a Portugal o título de mais rentável entre os países da Zona Euro –, o segundo trimestre foi ainda melhor. Houve uma valorização de 4,5% apenas entre março e junho, de acordo com S&P Portugal Sovereign Bond Index Total Return. O ganho acumulado até ao final de junho ascendeu a 8,16%.

O aumento do preço é proporcional à forte queda nas yields causada pelo contínuo reforço da confiança dos investidores em Portugal e das condições internacionais favoráveis. Tanto a política expansionista do Banco Central Europeu (BCE) que não parece próxima do fim, como a maior procura por dívida em detrimento das ações devido aos receios com a desaceleração económica mundial têm feito brilhar a dívida.

Fonte: S&P Portugal Sovereign Bond Index Total Return

No primeiro trimestre do ano, já se viram os reflexos: a dívida (a par do imobiliário) animou as contas do BCP, da Caixa Geral Depósitos e do Santander Totta. Diferentes foram os casos do Novo Banco — que também é grande investidor em dívida, mas tem prejuízos — e o BPI, cuja aposta é de menor dimensão.

No total, os lucros dos cinco principais bancos portugueses ascenderam a 373 milhões de euros entre janeiro e março, menos 30% face ao mesmo período do ano passado. Ao longo desta semana, serão conhecidos os dados do semestre, a começar pelo BPI e pelo BCP já esta segunda-feira, devendo o comportamento positivo das OT traduzir-se em ganhos de muitos milhões de euros nas carteiras, ajudando aos resultados líquidos.

O banco liderado por Miguel Maya era, no final de março, o banco com maior dívida em carteira 7.376 milhões de euros em títulos, na maioria em títulos com maturidades entre os dois e os cinco anos. Segue-se a CGD, que detinha 6.020 milhões de euros, com metade em bilhetes do Tesouro (BT), ou seja, títulos a menos de um ano. Já o Santander tinha mais de 3.700 milhões e o BPI outros 1.600 milhões. Apenas o Novo Banco não divulga dados trimestrais, mas tinha, no final do ano passado, 4.434 milhões de euros.

35 mil milhões de euros de dívida em carteira

No total dos bancos em Portugal, havia 35.092 milhões de euros em dívida pública portuguesa em carteira no final de março, dos quais 28.466 milhões eram obrigações do Tesouro (ou seja, títulos com mais de um ano). O montante em carteira deslizou 0,95% até ao final de junho, para um total de 34.758 milhões de euros, dos quais 28.840 obrigações.

São estes que oferecem maior rentabilidade, mas o investimento em BT, que têm um retorno próximo de zero, tem um propósito: a poupança conseguida.

Com dificuldades em passar liquidez para a economia, os bancos ou investem ou depositam dinheiro. No entanto, a taxa de juro de depósitos do Banco Central Europeu (BCE) está negativa em 0,40%, o que significa que as reservas excedentárias (total de depósitos excluindo as reservas mínimas obrigatórias) têm um custo. Segundo as contas do ECO, este situa-se em 100,8 mil euros por dia.

Num cenário de taxas em mínimos históricos e com o BCE a sinalizar que poderá atirar os juros para terreno ainda mais negativo nos próximos meses, investimentos que não rendem praticamente nada acabam por ser mais vantajosos que os custos associados a ter depósitos no banco central.

Fonte: Banco de Portugal

Estratégia dá lucros, mas é arriscada

Mas a estratégia não deixa de ser arriscada. Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e BCE já alertaram para o risco do aumento da exposição da banca portuguesa à dívida pública portuguesa, que é já 9% do total de ativos (contra 4,5% em 2011) para a estabilidade do sistema financeira.

A Associação Portuguesa de Bancos (APB) diz que está a acompanhar a evolução, mas considera que não existe um alerta. “É importante monitorizar e acompanhar esta situação, mas não existe um alerta vermelho. É uma situação comportável no âmbito da atuação dos bancos”, afirmou Norberto Rosa, secretário-geral da APB, no início do mês, no Parlamento. “Não há uma elevada preocupação“.

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