“O meu é melhor que o teu.” Costa e Rio discordam sobre quem tem o melhor “Centeno”

É outro ponto de discórdia entre António Costa e Rui Rio: qual dos dois tem o melhor Centeno? A figura do ministro das Finanças esteve no centro do debate entre os dois líderes na rádio.

À esquerda: António Costa e Mário Centeno (PS); à direita: Joaquim Miranda Sarmento e Rui Rio (PSD).

Os dois principais líderes políticos portugueses têm algo a dizer um ao outro: “O meu Centeno é melhor do que o teu.”

Apesar de o debate desta segunda-feira ter sido entre António Costa (PS) e Rui Rio (PSD), foi mesmo Mário Centeno o protagonista, com argumentos atirados de parte a parte pelos dois líderes a mencionarem o atual ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, também conhecido por “Cristiano Ronaldo das Finanças”, mas também Joaquim Miranda Sarmento, o homem das contas do PSD, responsável pelo cenário macroeconómico do partido da oposição.

A primeira referência a Mário Centeno surgiu numa altura em que se falava dos prejuízos milionários da TAP, justificados pelo primeiro-ministro com o investimento em novos aviões. A conversa decorreu assim:

Rui Rio (RR): Eu já sabia que o Dr. António Costa ia falar na compra das aeronaves da TAP.

António Costa (AC): Mas também falei nos passes sociais.

RR: O Dr. António Costa tem um Mário Centeno, mas eu também tenho o meu Mário Centeno.

AC: Mas eu não troco o meu pelo seu, fique já descansado. E os portugueses também não.

RR: O meu Mário Centeno também me disse: ‘Olhe que o Mário Centeno dele vai falar nos aviões da TAP’.

Seguiu-se o debate acerca dos investimentos, com o líder do PSD a criticar o saldo negativo da balança externa. Um facto que o primeiro-ministro justificou com os investimentos das empresas na modernização e na compra de maquinaria. Por isso, o líder do PS desafiou Rui Rio a detalhar os números:

AC: Diga lá qual é a composição [do saldo da balança comercial].

RR: Composição não tenho. Tenho os saldos.

AC: Como debatemos logo à noite, eu levo-lhe o quadro descriminado, para ver como é maquinaria.

RR: Eu vou pedir ao meu Mário Centeno, você pede ao seu Mário Centeno. Depois fazemos a discussão.

AC: Este ano, essa degradação [do saldo] de que fala, 77% são os aviões da TAP. Não vale a pena perguntar a Mário Centeno nenhum. É assim a realidade.

E como não há duas sem três, a discussão voltou a recair sobre os dois “Mários Centenos” — o do PS e o do PSD. Foi assim:

AC: No seu quadro macroeconómico só tem verba para pagar as progressões [dos professores] que já estão decididas. […] Há uma coisa que lhe garanto. Pode gostar muito do seu Centeno. Mas tenho a certeza do seguinte: os portugueses preferem o meu Centeno, que esse é de contas certas, que nos permite fazer aquilo que dizemos que devemos fazer e não promete a ninguém fazer aquilo que sabemos que não podemos fazer.

RR: O seu Centeno, o Centeno do PS, que está farto do Ministério das Finanças e que diz que se o PS ganhar, fica, mas só enquanto for presidente do Eurogrupo… Portanto, vai-se embora no fim do primeiro semestre do próximo ano. É um Centeno a prazo. Está com contrato precário no caso de o PS ganhar.

AC: Mesmo que seja assim, seriam melhor seis meses do meu Centeno do que quatro anos do seu Centeno.

RR: O pior é quem depois pode eventualmente ir, se nenhum é Centeno.

Quem é o “Centeno” de Rui Rio?

O “Centeno” de Rui Rio é Joaquim Miranda Sarmento, economista, professor e coautor do cenário macroeconómico do PSD, incluído no programa eleitoral do partido para as legislativas de outubro.

Oficialmente, no partido, Joaquim Miranda Sarmento é porta-voz do Conselho Estratégico Nacional para a área das Finanças Públicas. E assumiu a pasta de mandatário nacional para as próximas eleições.

Chegou a ser assessor económico de Cavaco Silva quando este era Presidente da República e foi ainda consultor da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO).

É também visto como uma das possíveis escolhas de Rui Rio para o cargo de ministro das Finanças, caso o PSD vença as eleições. Mas não chegou a integrar as listas de deputados, como se esperava, tendo sido a principal baixa naquela que ficou conhecida este ano por “noite das facas longas” do PSD, a reunião em que as estruturas do partido escolheram os nomes para as listas, “expurgando” alguns dos principais críticos internos de Rui Rio.

Quem é o “Centeno” de António Costa?

O verdadeiro Mário Centeno é economista e professor catedrático, responsável pelas contas do PS antes de chegar a ministro das Finanças do Governo de António Costa. Um cargo que ocupa atualmente.

É visto por alguns como o grande responsável pelas “contas certas” de Portugal, nomeadamente a redução do défice e da dívida pública, mas é acusado por outros de ter aumentado a carga fiscal, nomeadamente através dos chamados “impostos indiretos” sobre os combustíveis e os produtos açucarados.

Em meados de 2017, o então ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, apelidou-o de “Ronaldo das Finanças”, numa alusão ao craque do futebol, Cristiano Ronaldo.

Estes episódios ajudaram a pôr Mário Centeno no centro da atualidade nacional ao longo dos últimos anos. Em janeiro de 2018, conquistou o lugar de presidente do Eurogrupo, o órgão que reúne os ministros das Finanças da Zona Euro, tendo contado com o apoio de Espanha, França, Alemanha e Itália.

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