Benfica lança OPA para travar ataque hostil. Do que tem medo a águia?
Afastar pequenos investidores (mas com mais de 2% do capital) e recuperar ações para uma possível venda no futuro são os dois principais objetivos da OPA do Benfica à própria SAD.
A oferta pública de aquisição (OPA) lançada pelo Benfica SGPS à SAD do clube pretende afastar os acionistas minoritários com posições qualificadas (ou seja, mais de 2% do capital) e, assim, a possibilidade de uma intervenção indesejada. O medo de um acionista hostil levou os “encarnados” a arrumarem a casa — na forma de um reforço do capital que controla — e estão abertos, após a operação, a procurar um novo investidor internacional, apurou o ECO.
Não é preciso ter elevada percentagem do capital de uma empresa para entrar numa guerra acionista e estas não muito distantes. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando o acionista minoritário da Inapa, a Nova Expressão, se manifestou contra uma operação de conversão de ações, levando o caso para tribunal.
Mais recentemente, a IBIM2, acionista minoritário da Novabase, mostrou-se contra o plano estratégico da tecnológica e a conversão de reservas em capital, acusando os gestores de irem contra os interesses acionistas. Lá fora, o fundo Elliott — conhecido acionista ativista que está atualmente na EDP — chocou de frente com outro acionista, a Vivendi, por causa da Telecom Italia. Estes foram alguns dos casos que fizeram soar as campainhas no Benfica.
Esta OPA “visa o reforço da posição acionista do Sport Lisboa e Benfica na Benfica SAD, possibilitando a continuidade do rumo estratégico que tem vindo a ser prosseguido nos últimos anos, enquanto contribui igualmente de forma relevante para obviar eventuais tomadas significativas de posições acionistas hostis”, afirmou a SAD, num parecer em que considerou também a operação “oportuna” e a contrapartida “justificada”.
Este foi também o objetivo do clube, sabe o ECO. Apesar de não ter tido nenhuma abordagem, há desconforto de o capital estar tão disperso.
José António dos Santos, dono da empresa agro-alimentar Valouro, é o maior acionista individual do clube, com 12,71% do capital da SAD. Além deste, há outros três acionistas com participações qualificadas que poderão agora vender: José Guilherme (com 3,73%), Joaquim Oliveira (que tem 2,66%) e a Quinta dos Jugais (que detém 2%).
Benfica disponível para novo investidor após a OPA
O Sport Lisboa e Benfica quer ficar com até 95% do capital da SAD e oferece, para isso, cinco euros por ação. O valor representa um prémio de 81% face ao valor das ações no dia anterior ao lançamento da OPA parcial, mas é o mesmo a que os títulos foram vendidos na oferta pública inicial (IPO) em 2001. O clube, que detém (direta e indiretamente) 66,9%, pretende adquirir o equivalente a 28,06% do capital da SAD. A operação totaliza 32,3 milhões de euros.
O preço da operação avalia a cotada em 115 milhões de euros, o que significa quase um terço da avaliação feita pela consultora KPMG, de 333 milhões de euros. “A SAD está a ficar muito atrativa”, diz uma fonte próxima da operação, revelando que o clube está “preocupado” que essa atratividade saia do seu controlo.
A OPA ainda só foi anunciada preliminarmente, sendo que o prospeto da operação está neste momento a ser analisado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). A expectativa é que este seja aprovado e publicado na próxima semana, dando início ao período de venda que é esperado que decorra ao longo de duas semanas e fique fechado ainda em dezembro, apurou o ECO.
Não está excluída a possibilidade de resvalar para 2020, mas o objetivo do clube é que fique fechado e entre nas contas do trimestre. Até porque o Benfica — que lucrou quase 30 milhões de euros na última época — deverá fechar o ano com o melhor resultado de sempre, o que lhe permite à partida ter coberto o montante necessário para a operação.
Depois da OPA, o clube irá analisar a possibilidade da entrada de outros acionistas estrangeiros, bem como de parceiros estratégicos (sendo disso exemplo o patrocínio do nome do estádio). A mesma fonte garantiu que não estão negociações ainda a acontecer e que não há uma parcela do capital à venda, apesar de 20% parecer “interessante”.
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