EuroBic, o banco de Isabel dos Santos que saltou para olho do furacão do Luanda Leaks
Liderado pelo ex-ministro Teixeira dos Santos, o EuroBic é um dos maiores bancos em Portugal. Foi a instituição que ficou com o BPN, em 2012 e ainda lutou no tribunal com BiG por causa da marca.
O EuroBic tem pouco mais do que uma década de existência em Portugal, mas já é um dos maiores bancos a operar no país. Descendente direto do Bic angolano, ganhou escala com o BPN, suportado numa acionista que foi reforçando a sua posição, Isabel dos Santos, acabando por colocar o banco liderado por Teixeira dos Santos no olho do furacão provocado pelo Luanda Leaks.
O banco português (com origem no Bic Angola) foi constituído em janeiro de 2008, há precisamente 12 anos, resultando de uma parceria entre o empresário Américo Amorim, Fernando Teles e a própria Isabel dos Santos. Mas, em 2014, Américo Amorim decidiu vender a sua posição de 25% aos dois parceiros, deixando a estrutura acionista do banco que passou a ser detido por capital maioritariamente angolano.
Três anos antes da saída de Amorim do capital da instituição, o então designado Bic, na altura liderado por Mira Amaral, comprou o BPN, nacionalizado durante a crise, por uma soma de 40 milhões de euros. Estávamos em agosto de 2011.
A aquisição do banco nacionalizado em 2008 representou um salto naquilo que era a expressão do Bic em Portugal. Com esta aquisição, o banco passou a contar com cerca de 200 agências, detendo também 11 gabinetes de empresas e uma direção de banca privada. Hoje em dia, o banco dispõe de uma rede de 173 balcões e emprega 1.447 trabalhadores.
De lá para cá muito mudou na instituição que, aos poucos, foi conquistando o seu lugar no setor financeiro nacional, tornando-se num dos 10 maiores bancos a operar em Portugal no espaço de pouco mais de uma década. Parte do processo foi executado por Mira Amaral, mas desde maio de 2016 é Teixeira dos Santos — agora em fim de mandato — que tem a seu cargo a liderança executiva.
No ano seguinte à tomada de posse como CEO do antigo ministro das Finanças de Sócrates, em 2017, o Bic foi obrigado pelo tribunal mudar de nome por causa de um litígio com outro banco de nome semelhante: o BiG. Passou a chamar-se EuroBic, uma nova designação que nem assim acabou com a disputa com o BiG.
Mesmo com a mudança de nome, o negócio prosseguiu. A carteira de crédito ascende a quase 5.000 milhões de euros. Por outro lado, estão depositados na instituição mais de 5.700 milhões de euros. Obteve em 2018 o melhor resultado da sua história: lucrou 42,5 milhões de euros. E tudo aponta para que 2019 os lucros tenham sido maiores: até setembro, o EuroBic ganhava 42,9 milhões.
Estrutura acionista do EuroBic
EuroBic
Corte de relações com a principal acionista
No plano comercial, o EuroBic tem conseguido resultados. Mas as suas operações têm estado sob escrutínio do supervisor do sistema financeiro, o Banco de Portugal. Houve uma inspeção em 2015 e, agora, volta a haver outra agora.
Carlos Costa tem em curso uma inspeção junto do banco para averiguar eventuais falhas no mecanismo de controlo de branqueamento de capitais. Esta diligência foi desencadeada em dezembro do ano passado, depois das sucessivas denúncias de Ana Gomes no Twitter. A ex-eurodeputada acusou o EuroBic de ser o banco onde Isabel dos Santos “lava que se farta”.
É uma inspeção semelhante à que o supervisor realizou em 2015 e visou apurar a operação que Isabel dos Santos montou para a compra da Efacec, adquirido nesse mesmo ano. Neste caso, o EuroBic ajudou Isabel dos Santos com financiamento — embora outros bancos portugueses também tivessem participado em sindicatos bancários que financiaram a aquisição da Efacec.
Agora, perante o terramoto provocado pelo Luanda Leaks, investigação do consórcio de jornalistas, do qual faz parte o Expresso e a SIC, que revelou transferências de 58 milhões de euros de contas da petrolífera estatal no EuroBic para a offshore de Isabel dos Santos no Dubai, a Matter Business Solutions, o supervisor já pediu mais informações. Ao mesmo tempo, o EuroBic cortou relações comerciais com a empresária angolana, sua principal acionista.
Poder de Isabel dos Santos mantém-se?
O EuroBic é controlado em 42,5% por Isabel dos Santos, através da Santoro e Finisantoro. Esta participação da filha do ex-presidente de Angola está, agora, a ser questionada pelo Banco de Portugal face às recentes questões levantadas pelo Luanda Leaks.
O restante capital está repartido da seguinte forma: o luso-angolano Fernando Teles detém 37,5% do capital, incluindo a participação de 17,5% da sua sociedade Telesgest; existem ainda três acionistas com 5% do capital: Luís Cortez dos Santos, Manuel Pinheiro Fernandes (grupo Martal) e Sebastião Lavrador (ex- governador do Banco Nacional de Angola); e há outros 5% dispersos por vários acionistas.
A SIC adiantou que o Banco de Portugal estará a forçar a saída da empresária angolana da estrutura acionista do banco. Há desconforto em relação à presença de Isabel dos Santos no capital do EuroBic.
Se o Banco de Portugal considerar que a filha do ex-presidente de Angola deixou de preencher os requisitos de idoneidade enquanto acionista, poderá inibir o exercício dos direitos de voto de Isabel dos Santos no banco.
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