Efacec, a empresa que custou quase 200 milhões a Isabel dos Santos e agora está à venda

Isabel dos Santos tornou-se acionista maioritária da portuguesa Efacec em 2015, em parceria com a elétrica estatal angolana. Decidiu sair da empresa depois de ser constituída arguida em Angola.

Foi em 2015 que Isabel dos Santos entrou no capital da Efacec, aproximadamente uma década depois de ter começado a investir em Portugal. A empresa portuguesa tinha como acionista maioritária a empresária angolana, agora arguida em Angola por alegada má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela Sonangol, ficando assim exposta às consequências do processo.

Esta sexta-feira, Isabel dos Santos decidiu “sair da estrutura acionista da Efacec Power Solutions, com efeitos definitivos”, anunciou a empresa, em comunicado. A empresa era presidida por Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos, que renunciou também ao cargo esta sexta-feira. O braço direito da empresária angolana foi constituído arguido no mesmo processo em Angola, e decidiu também sair do cargo de membro não executivos do Conselho de Administração da Nos, esta quinta-feira. O presidente da assembleia geral da Efacec, Jorge Brito Pereira, também renunciou ao cargo, com efeito imediato.

Há cerca de cinco anos, Isabel dos Santos comprou 66,1% da Efacec Power Solutions ao grupo José de Mello e à Têxtil Manuel Gonçalves, que se tornaram acionistas minoritários. O negócio, que aconteceu quando a Efacec estava a passar por dificuldades, foi de cerca de 200 milhões de euros.

A aquisição foi feita em parceria com uma empresa estatal angolana, a Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE), através da sociedade Winterfell Industries. José Eduardo dos Santos, pai de Isabel dos Santos e na altura Chefe de Estado, autorizou a ENDE a comprar 40% das ações da Winterfell que, cerca de três meses depois, formalizou a compra da Efacec.

Em agosto de 2018, o Presidente de Angola, João Lourenço, deu uma ordem para a saída da ENDE da portuguesa Efacec Power Solutions. Mas Isabel dos Santos reiterou, porém, que não foram utilizados fundos públicos na compra de ações na Efacec e declarou que a ENDE não chegou a pagar o valor total da sua participação, que desceu de 40% para 16%.

“Supostamente, com os 40%, o capital da Winterfell, a ENDE deveria pagar 40 milhões de euros, mas só pagou 16 milhões de euros. O valor total nunca foi pago. Fui eu quem pagou adiantadamente o resto do dinheiro para a ENDE entrar no negócio”, explicou a empresária, na altura, adiantando que as ações da ENDE seriam vendidas no mercado internacional.

Mas em fevereiro do ano passado, o na altura chairman da Efacec e representante da acionista Winterfell, Mário Leite Silva, desvalorizou a eventual saída da ENDE do capital da empresa. “Estamos muitos satisfeitos com este investimento e estamos cá para ficar”, disse, na altura.

Uma empresa “absolutamente essencial” para a economia portuguesa

A filha do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, tem participações em 22 empresas (com sede ou presença em Portugal), sendo a Efacec uma das quatro maiores (as outras são a Nos, Galp e EuroBic, de onde também está de saída).

A Efacec, uma empresa industrial que opera nos setores da energia, ambiente, mobilidade e transportes, está presente em vários países do mundo e tem cerca de 2.500 trabalhadores. Em outubro do ano passado, Isabel dos Santos expressou o desejo de transformar a portuguesa numa empresa “líder internacional” na área da mobilidade elétrica.

A empresa duplicou a faturação da mobilidade elétrica em 2018, face ao período homólogo, ao atingir os 36 milhões de euros. Nesse ano, Isabel dos Santos inaugurou uma unidade industrial de mobilidade elétrica da Efacec, na Maia. No início de 2019, a empresa avançou com a construção de uma nova fábrica para automação e sistemas de energia, num investimento de cerca de cinco milhões.

É “uma grande empresa industrial num setor de referência, onde tem desenvolvido uma grande capacidade”. Foi assim que António Costa caracterizou a Efacec, quando foi questionado pelo impacto da investigação sobre Isabel dos Santos nas empresas em que esta está presente. O primeiro-ministro individualizou a Efacec como uma das empresas “absolutamente essenciais para a economia portuguesa”, reiterando que o processo sobre a acionista não deveria contaminar a empresa.

O grupo José de Mello foi dos poucos com ligações a Isabel dos Santos que não se distanciou no seguimento da investigação jornalística. O acionista minoritário da Efacec, afirmou que “mantém a confiança na empresa e na equipa de gestão”, em declarações ao Negócios, esta quarta-feira.

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