O Dia Internacional da Mulher celebrou-se pela primeira vez a 8 de março de 1975. Desde então, o que mudou? A igualdade de género é um tema que veio para ficar, mas ainda há um caminho a percorrer.
Progressos, compromissos e poucos resultados reais. Até hoje, nenhum país do mundo conseguiu alcançar a igualdade de género, apesar de todos os esforços e compromissos para a igualdade nos campos da política, da saúde, da educação e do trabalho, de acordo com a ONU.
A propósito do Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 8 de março, a Pessoas analisou os estudos mais recentes sobre igualdade de género e sobre as mulheres, para entender que oportunidades existem e qual a sua situação atual, no mundo do trabalho e na sociedade.
Mulheres portuguesas ganham menos que os homens
Em Portugal, a diferença salarial entre homens e mulheres caiu 80 cêntimos em 2018, de acordo com os dados publicados pelo Ministério do Trabalho na semana passada. Os homens continuam a ganhar mais, com a remuneração base média mensal a fixar-se nos 1.034,9 euros para os homens e nos 886 euros para as mulheres. Para ganhar o mesmo que os homens, as mulheres portuguesas têm de trabalhar o equivalente a mais 54 dias por ano.
A diferença salarial tende a aumentar à medida que sobe a qualificação profissional, aponta um estudo da CGTP, divulgado no final em fevereiro. As mulheres com qualificações mais altas ganham menos 26,1% que os seus colegas do sexo masculino. A diferença salarial tem mais expressão nas empresas privadas que nas empresas públicas e, no que diz respeito a cargos superiores, as mulheres representam 40% do total de dirigentes superiores.
Tanto os governos como as empresas devem intensificar programas que incentivem as mulheres a procurar carreiras em setores tradicionalmente dominados por homens, como IT ou engenharia.
Em abril de 2019, cerca de 31% das mulheres portuguesas recebiam o salário mínimo, face a 21% dos homens. Apesar das desigualdades, 30,2% das mulheres portuguesas são proprietárias da sua empresa, de acordo com o Índice Mastercard de Mulheres Empresárias.
Desigualdade à escala global
Na Europa, Portugal é o sexto país com maior desigualdade, de acordo com os dados do Eurostat. Em 2018, a taxa de emprego das mulheres subiu, mas continua a ser menor que a dos homens, com 72,1% face à taxa de 78,9% dos homens. Relativamente aos salários, na Europa as mulheres ainda ganham, em média, 16% menos do que os homens. Para promover a igualdade salarial, o Parlamento Europeu exigiu a adoção de regras comunitárias com “metas claras” para os próximos cinco anos.
À escala global, 81% das empresas afirma que é importante melhorar a diversidade e inclusão, mas menos de metade, cerca de 42%, implementa uma estratégia plurianual para promover a igualdade de género, revela um estudo da Mercer. Apesar dos dados, as empresas estão a apresentar progressos nas políticas de recrutamento, promoção e retenção de mulheres nos cargos de topo e a representação feminina em cargos de liderança tem aumentado, mas as estatísticas diminuem à medida que os níveis na carreira vão progredindo.
De forma global, apenas 29% das mulheres ocupa cargos de reporte direto à administração e 23% cargos executivos. As mulheres representam 47% dos profissionais em funções de suporte nas empresas e 42% em funções de níveis superiores. E as empresas estão otimistas quanto à sua capacidade de contratar, promover e reter mulheres, refere a Mercer. Contudo, apenas 64% das empresas acompanham a representação de género e ainda em menor número são aquelas que analisam contratações, promoções e saídas por género. As empresas estão mais atentas, mas cerca de metade em todo o mundo continua a não ter equipas dedicadas à diversidade e inclusão.
Com os salários já mais baixos nas profissões dominadas por mulheres, mesmo quando as diferenças na formação académica são contabilizadas, a automação de trabalhos rotineiros tem o potencial de ampliar ainda mais a disparidade salarial entre os géneros.
Automação, uma ameaça maior para mulheres
Segundo o Fórum Económico Mundial, a automação e a tecnologia podem ameaçar milhões de empregos até 2030, ao mesmo tempo que irão gerar outros. Em Portugal, um estudo da Nova SBE e da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) sobre o futuro do trabalho prevê que, até 2030, aproximadamente 42% dos trabalhadores portugueses — 0,7 a 1,8 milhões de pessoas — tenham de atualizar as suas qualificações ou mudar de profissão para permanecerem empregados.
De acordo com o mesmo estudo, os efeitos da automação terão um maior impacto no norte do país, onde se prevê que desapareçam 421 mil postos de trabalho durante o mesmo período. Para fazer face às previsões, a solução deve passar por reforçar e requalificar em áreas tecnológicas.
Para as mulheres, que tradicionalmente têm profissões mais repetitivas e rotineiras, a automação pode representar uma ameaça maior que para os homens. De acordo com a Global Skills Index, da consultora de recrutamento Hays, as mulheres estão mais vulneráveis aos efeitos da automação, por exemplo em profissões relacionadas com trabalhos de secretariado, contabilidade, assistente de vendas e atendimento ao cliente. As mulheres ainda representam um menor número de profissionais em áreas tecnológicas.
Apesar dos progressos, nenhum país alcançou a igualdade de género. O nosso melhor não foi suficiente. Continua a haver desafios para todos os países.
“Com os salários já mais baixos nas profissões dominadas por mulheres, mesmo quando as diferenças na formação académica são contabilizadas, a automação de trabalhos rotineiros tem o potencial de ampliar ainda mais a disparidade salarial entre os géneros”, alerta Matilde Moreira, manager da Hays Portugal.
A solução poderá passar pelo esforço de governos e organizações no investimento em programas de educação e requalificação profissional ao longo da vida e pela adoção, por parte das empresas, de práticas de trabalho flexíveis.
Desigualdade de género fora do escritório
Nove em cada dez mulheres na Europa são responsáveis pelas tarefas domésticas e compras e continuam a assumir a maior parte das responsabilidades domésticas. Um estudo da multinacional Nielsen revela que, em média, 91% das mulheres afirmam ter responsabilidade partilhada ou total pelas compras diárias, tarefas domésticas e preparação de refeições.
Como há mais mulheres a trabalhar, ao mesmo tempo que continuam a ser mais mulheres responsáveis pelas tarefas em casa, estes números estão a ter impacto no consumo. De acordo com a Nielsen, as mulheres valorizam mais atividades de lazer e entretenimento e, fora do local de trabalho, as mulheres procuram formas de reduzir (e recuperar) o tempo gasto nestas tarefas. Seis em cada 10 mulheres afirmam que uma localização de loja conveniente é um fator importante na hora de decidir onde comprar — em comparação com 52% dos homens — são mais atentas, mais suscetíveis a realizar compras online sem riscos e mais preocupadas sobre a origem dos produtos.
Atrair mulheres para setores (tradicionalmente) masculinos
A aviação é um dos setores de atividade que ainda é dominado por homens, mas a tendência parece estar a mudar. Em 2019, a companhia aérea norte-americana Delta Airlines alcançou novamente 100% de paridade salarial entre os colaboradores em cargos de liderança e recebeu o prémio de “Melhor Local de Trabalho para as Mulheres” pela Great Places To Work® e pela Fortune pelo terceiro ano consecutivo, sendo a única companhia aérea na lista.
“Tanto os governos como as empresas devem intensificar programas que incentivem as mulheres a procurar carreiras em setores tradicionalmente dominados por homens, como IT ou engenharia”, sublinha Matilde Moreira, manager da Hays Portugal.
Para atrair mais mulheres e jovens para a carreira na aviação, a Delta organiza desde 2015, o voo anual WING – Women Inspiring our Next Generation. Os voos são exclusivamente planeados por mulheres – incluindo pilotos, agentes de pista, agentes das portas de embarque e controladoras na torre de controlo.
Homens têm mais probabilidade de identificar desigualdade
Os homens têm mais probabilidade que as mulheres de acreditar que a sua empresa está comprometida com os objetivos de igualdade de género, revela um inquérito global da Hays. De uma forma geral, 29% dos inquiridos afirmaram não acreditar que a empresa está totalmente comprometida com a igualdade de género.
Apenas 45% das mulheres pensam que o seu empregador está comprometido em alcançar a igualdade de género no local de trabalho, em comparação com 60% dos homens.
“É positivo ver que houve uma melhoria nos resultados relacionados à perceção de que as empresas estão a dar destaque à igualdade de género. No entanto, 29% dos profissionais afirmam que o empregador não está totalmente comprometido, há claramente mais trabalho que tem que ser feito. As empresas precisam de ser transparentes e comunicar à sua força de trabalho as medidas que estão a tomar para combater a desigualdade”, remata Sandra Henke, head of people and culture da Hays.
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Dia Internacional da Mulher: os números do caminho para a igualdade
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