Pandemia de coronavírus já está a afetar mais de quatro em cada cinco trabalhadores em todo o mundo
A OIT atualiza as projeções sobre o impacto da pandemia no trabalho e estima que o surto levará à eliminação de 6,7% das horas trabalhadas, o equivalente a 230 milhões de empregos a tempo inteiro.
As medidas de isolamento social adotadas em todo o mundo face à pandemia de coronavírus já estão a afetar a atividade de mais de quatro em cada cinco trabalhadores, avança a Organização Internacional do Trabalho (OIT). De acordo com o relatório divulgado, esta terça-feira, estima-se que, só no segundo trimestre, este surto causará a eliminação de 6,7% das horas trabalhadores globalmente, o equivalente a 230 milhões de empregos a tempo inteiro (40 horas semanais).
“Os trabalhadores e as empresas estão a enfrentar uma catástrofe, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento“, sublinha o direto da OIT, Guy Ryder. No final de março, esta organização tinha já avançado as suas primeiras projeções do impacto desta crise pandémica no mercado de trabalho, tendo estimado que quase 25 milhões de empregos estão em risco de serem eliminados.
Esta terça-feira, a OIT atualiza esses dados e detalha as suas projeções, referindo agora que 1,25 mil milhões de trabalhadores laboram atualmente em setores com alto risco de aumentos “drásticos e devastadores” de despedimentos, lay-off e reduções salariais. “Muitos são empregos com baixos salários e com pouca especialização, sendo nesses casos um perda repentina de remuneração devastadora”, salienta-se no novo estudo.
A OIT identifica como setores de maior risco o alojamento turístico e a restauração, a indústria e o retalho. Mesmo fora desses setores, os efeitos do pandemia e das medidas tomadas para evitar a sua propagação (como o isolamento social e o encerramento de estabelecimentos não essenciais) já estão a afetar quase 2,7 mil milhões de trabalhadores, o que representa 81% do total de trabalhadores em todo o mundo.
“Na situação atual, as empresas de todos os setores económicos estão a enfrentar perdas catastróficas, o que ameaça a suas operações e solvência, especialmente entre as companhias mais pequenas”, explica a OIT, referindo que tais circunstâncias deixam milhões de trabalhadores vulneráveis.
Só este trimestre, estima-se que sejam eliminadas 6,7% das horas trabalhadas em todo o mundo, o equivalente a 230 milhões de empregos a tempo inteiro (40 horas semanais). Na Europa, essa fatia poderá ser ainda mais significativa: 7,8% das horas trabalhadas, o que corresponde a 15 milhões de empregos a tempo inteiro.
“A contração do emprego já começou em larga escala — e em muitos casos sem precedentes — em muitos países“, adianta ainda a organização liderada por Guy Ryder, que defende que o impacto total sentido este ano está dependente não só da evolução da própria pandemia, mas também das medidas tomadas pelo vários Governos.
Nesse sentido, a OIT considera que as políticas adotadas têm de dar “alívio imediato” aos trabalhadores e aos empresários de modo a proteger os rendimentos e os negócios, particularmente nos setores mais criticamente afetados.
Para a organização há quatro pilares de ação a ter em conta: estimular a economia e o emprego (através de políticas orçamentais e monetárias, bem como através de linhas de crédito para setores específicos); apoiar empresas, empregos e rendimentos (reforçando a proteção social e dando alívio fiscal às empresas); apostar no diálogo social (nomeadamente através da negociação coletiva e fortalecimento dos sindicatos); proteger os trabalhadores nos seus locais de trabalho (incentivando o teletrabalho, prevenindo a discriminação e garantindo que as faltas não são sinónimo de perda de rendimentos).
Em Portugal, o Ministério do Trabalho estima que, em março, o desemprego já tenha aumentado em 28 mil pessoas face ao mês anterior. E o número de processos de despedimento coletivo aumentou cerca de 63% de 36 em fevereiro para 59 em março, abrangendo 843 trabalhadores.
Além disso, mais 33 mil empresas já pediram acesso ao lay-off simplificado, regime que permite às empresas mais afetadas pela pandemia suspender os contratos de trabalho ou reduzir a carga horária dos trabalhadores, que mantêm, pelo menos, dois terços da sua remuneração, pagos em grande parte pela Segurança Social.
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