Os centros comerciais de Lisboa e Vale do Tejo voltaram a abrir as portas. Setas no chão, mais 200 dispensadores de gel desinfetante e mensagens sonoras são algumas das medidas do Colombo.
Após três meses a funcionar com poucas lojas abertas, os centros comerciais da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) voltaram a abrir portas, recebendo os que deles querem desfrutar. O Centro Colombo é um deles, em Lisboa. A agitação voltou a sentir-se, ainda que sem aglomerações, mas com uma realidade bem diferente da época pré-pandemia: sinaléticas no chão, mais de duas centenas de dispensadores e mensagens sonoras com recomendações a cada dez minutos são algumas das medidas para garantir a segurança e higiene nestes “novos tempos”.
Portas abertas para evitar o contacto com as superfícies, desinfetante à entrada e o aviso em letras garrafais de que é obrigatório o uso de máscara no interior do edifício. Este é o primeiro impacto para quem entra naquela que é a maior superfície comercial do país. Há ainda um vigilante em cada um dos acessos a garantir o cumprimento das normas. “Está tudo muito bem desenhado”, comentou uma das primeiras clientes desta reabertura.
Apesar de o movimento ser calmo e sem grandes aglomerações, os descontos em várias lojas incentivaram alguns clientes a deslocarem-se até ao centro comercial junto ao Estádio da Luz, na manhã desta segunda-feira. “Vimos no site que estavam em promoção e viemos aproveitar. Amanhã podem não estar”, contou ao ECO Galileu Martins, enquanto espera na fila para entrar na Sport Zone. “Esperávamos, até, ver mais gente do que está agora”, atirou Telmo Figueiredo, que o acompanhava.
À semelhança destes jovens, também as promoções cativaram a atenção de outra cliente. “Estive na H&M vi que estavam em saldos e comprei. Também estive na Zara e agora vou comprar realmente o que me trouxe aqui”, confessou Asto Samate, com alguns sacos no braço esquerdo, que foi ao centro comercial, especificamente, para adquirir “uma mala de ginásio”.
Com 342 lojas e uma área bruta de 114.854 m², os preparativos para a abertura das lojas estavam ultimados, mas a evolução do casos de contágio na região de Lisboa e Vale do Tejo levou a que o Governo adiasse a reabertura por duas vezes: primeiro para 5 de junho, e, posteriormente, para esta segunda-feira, 15 de junho.
Nova normalidade, novo tipo de consumidor. Mais rápido
Assim, além da permanência de vigilantes para garantir a utilização de máscaras, bem como da instalação de mais de 200 dispensadores de gel desinfetante em locais de maior afluência, a direção do centro comercial instalou nas escadas rolantes um equipamento de desinfeção automática de corrimãos, através de raios ultravioleta, um investimento que terá rondado os 100 mil euros. “Neste momento, relativamente àquilo que era o nosso objetivo principal, que era garantir que o Centro Colombo proporcionava uma compra segura para todos os seus visitantes, o balanço é muito positivo”, revelou satisfeito o diretor do Centro Colombo, Paulo Gomes, adiantando que, pelos dados que tinha naquela manhã, o centro estava “com números muito próximos” dos alcançados antes da pandemia. “Parece que vamos finalmente recuperar a situação que tínhamos, que é o grande objetivo, sobretudo para os nossos lojistas”, assinalou.
Se antes havia quem se deslocasse aos centros comerciais somente para ver as montras, com a pandemia poderá vir a observar-se uma alteração dos hábitos dos consumidores. “Provavelmente, o tempo de visita vai ser mais curto, vai ser um consumidor que vai comprar rápido”, antecipou Paulo Gomes.
Antes da pandemia, o Centro Colombo tinha capacidade para receber sete mil clientes em simultâneo. Face ao atual contexto, foi criado um alerta específico para que a organização da superfície comercial seja avisada quando a lotação chega a metade. Caso atinja os 80%, o centro fecha portas, esclareceu Paulo Gomes, passando a entrar um cliente por cada outro que saia.
De forma a evitar o risco de contágio, e com o intuito de fazer cumprir o distanciamento social, no chão foram também colocadas setas a recomendar que os clientes circulem pela direita. Além disso, os sistemas de ar condicionado renovam o ar interior a cada dez minutos, uma situação que só se verificava nos “dias de maior calor”, destacou o diretor do centro, que é detido em 50% pela Sonae Sierra e os outros 50% pela CBRE Global Investors.
Experimentar? Há kits para levar para casa
Contudo, há lojas em que a adaptação às recomendações emanadas pelas autoridades de saúde são mais fáceis de cumprir. Na Perfumes & Companhia, a pandemia trocou as voltas ao negócio, levando a outras formas de demonstração dos produtos. “Reforçámos o stock de amostragem das marcas que vendemos para as pessoas poderem levar o perfumes e experimentarem tranquilamente e em segurança nas suas casas”, adiantou Isabel Costa Cabral, diretora de marketing da loja, referindo que os habituais testers “não estão disponíveis aos clientes”, com a equipa no espaço a encarregar-se da demonstração dos produtos.
Os clientes tinham muitas saudades de vir comprar, portanto eu acho que existe um bom ambiente, estão muito cooperantes, entendem muito bem que às vezes é preciso esperar, que existe uma distância dentro e fora da loja, que nem todos os produtos são possíveis de experimentar como faziam antigamente.
Segundo a diretora, a maquilhagem “é o eixo mais difícil de todos”, já que as pessoas querem sempre experimentar os produtos, tendo sido métodos diferentes como “um espécie de grafismo do rosto de uma pessoa para fazer a aplicação dos tons”, em papel, mas não existindo, por isso, contacto “pele com pele”, explicou. Admitindo que esta é a “categoria com maior quebra”, a diretora da Perfumes & Companhia disse, no entanto, que é ainda prematuro fazer “algum tipo de expectativas” relativamente à recuperação do setor.
Quanto ao balanço deste primeiro dia, Isabel Costa Cabral referiu que “os clientes tinham muitas saudades de vir comprar”, existindo, por isso, “um bom ambiente”. “[Os clientes] estão muito cooperantes, entendem muito bem que às vezes é preciso esperar, que existe uma distância dentro e fora da loja, que nem todos os produtos são possíveis de experimentar como faziam antigamente”.
Falta saber como vai ser a retoma
Tal como noutros setores, o impacto económico pelo tempo em que estiveram de portas fechadas poderá ser devastador para os lojistas. A pandemia poderá gerar perdas de 305 milhões de euros — o mesmo valor que os centros comerciais vão dar aos lojistas –, para os centros comerciais e causar despedimentos num setor que emprega mais de 300 mil trabalhadores, especialmente se os lojistas não tiverem apoios para comportar o peso das rendas, admitiu Miguel Pina Martins, presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração (AMRR).
Já percebemos que há atividades que foram impactadas de forma diferente. É preciso uma solução diferente para cada atividade e vamos fazer aquilo que aconteceu na outra crise financeira que é: com base no impacto em cada lojista determinaremos as medidas.
Face a esta situação alguns proprietários de centros comerciais já decidiram tomar medidas de apoio aos lojistas. Exemplo disso é a Sonae Sierra, quetal como o ECO noticiou, propôs aos lojistas um diferimento de 50% das rendas durante três meses, mas não em todos os centros comerciais. Quanto ao Colombo, o diretor da superfície comercial refere que uma das primeiras medidas tomadas junto dos lojistas “em meados de março” foi a de flexibilizar os horários. Posteriormente, a direção do centro decidiu “suspender a faturação das remunerações mínimas”.
Entretanto, a gestão do Colombo também fez “contactos com os lojistas” para avaliar o impacto da pandemia. “Temos de encontrar uma solução em função do problema, que ainda estamos a conhecer. Faltava-nos saber como é que a retoma vai ser feita e, portanto, já percebemos que há atividades que foram impactadas de forma diferente. É preciso uma solução diferente para cada atividade e vamos fazer aquilo que aconteceu na outra crise financeira que é: com base no impacto em cada lojista determinaremos as medidas”, concluiu.
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Comentários ({{ total }})
Sem multidões, com setas no chão e avisos sonoros. Este é “novo normal” de um Colombo em saldos
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