Confinamento funciona? Covid está a perder força nestes países
Com o número de pessoas infetadas a disparar, os governos implementaram medidas mais drásticas. E há já sinais de esperança relativamente à diminuição de novos casos em países como Bélgica ou Irlanda.
Um pouco por toda a Europa, foram vários os países que adotaram medidas mais drásticas para combater a evolução da pandemia. Com o número de pessoas infetadas a disparar, os governos europeus desdobraram-se em medidas para travar a segunda vaga da Covid-19, sendo que o confinamento parcial e o recolher obrigatório foram algumas das mais utilizadas.
Ainda é cedo para conclusões definitivas sobre a eficácia das medidas tomadas, já que os resultados só podem ser demonstrados cerca de 15 dias após a tomada das medidas. Contudo, apesar de os números ainda continuarem elevados, há já sinais positivos em alguns países onde medidas mais musculadas foram implementadas. Há diminuição de novos casos em países como a Bélgica ou a Irlanda.
Portugal afastou o confinamento do léxico, mas aderiu ao recolher obrigatório, ainda que mais tarde do que muitos países europeus. O Governo português decidiu decretar medidas mais restritas para 121 concelhos do país, considerados de elevado risco de transmissão do vírus. Dever de permanência no domicílio, teletrabalho obrigatório e encerramento mais cedo de estabelecimentos são algumas das medidas.
Além disso, o Executivo decidiu decretar o recolher obrigatório nestes concelhos de risco, entre as 23 horas e as 5 horas da manhã durante a semana, bem como restringir a circulação nos próximos dois fins de semana a partir das 13h00 e até às 5h00, de sábado e domingo.
Esta quinta-feira, o Conselho de Ministros vai reunir-se para reavaliar a lista de concelhos de elevado risco, tal como ficou definido fazer a cada 15 dias, e por, isso, podem entrar ou sair municípios consoante evolução da pandemia nesse local, na tentativa de achatar a curva de novas infeções, que estão a colocar pressão sobre o SNS.
Há “desaceleração” do vírus em determinadas zonas de França
França foi um dos primeiros países a voltar a confinar devido à pandemia. Entre as medidas aplicadas pelo governo francês está o recolher obrigatório em algumas das grandes cidades, entre as quais se inclui Paris, entre as 21h00 e as 6h00, bem como a proibição de circulação entre regiões, sendo necessário um documento assinado por todas as pessoas que precisem de sair de casa para trabalhar.
Sair de casa é possível apenas para comprar bens essenciais, procurar ajuda médica ou para exercício durante uma hora, no máximo. Bares e restaurantes também voltaram a fechar portas, mas ao contrário do último confinamento, as escolas permanecem abertas. Já as universidades voltaram ao ensino online e o teletrabalho foi recomendado sempre que possível.
Na passada sexta-feira, França ultrapassou a barreira das 60.000 infeções num só dia, ainda assim os números têm vindo a diminuir nos últimos dias. Nas últimas 24 horas, o país registou 35.870 novos casos de infeção por Covid-19, acima dos 22.180 identificados na terça-feira, mas bem abaixo do recorde registado no sábado e também menor dos vários picos de mais de 58.000 casos e mais de 60.000 relatados na semana passada, de acordo com o The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês). Além disso, França contabilizou mais 328 mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, em comparação com as 1.220 do dia anterior, que incluiu 754 mortes que não tinham sido reportadas.
O diretor-geral da saúde francês, Jerôme Salomon, salientou que há já uma “desaceleração” do vírus devido às medidas impostas como o recolher obrigatório e o novo confinamento. “Em todo o lado onde foram aplicadas medidas para travar a epidemia, houve uma desaceleração”, constatou o diretor-geral da Saúde em conferência de imprensa na terça-feira, citado pela agência Lusa. No entanto, Salomon garantiu que o pico da epidemia em França poderá “ainda estar para vir”.
Itália com menos quase três mil casos em 24h
Decidida a tentar travar o aumento do número de casos de coronavírus no país, Itália antecipou o recolher obrigatório a nível nacional para as 22h, que já estava em vigor em algumas comunidades. Além disso, várias atividades estão encerradas, como cinemas, teatros, museus, piscinas, ginásios e salas de espetáculos.
Desde a passada sexta-feira, as regiões italianas estão divididas em três zonas – amarela, laranja e vermelha – que são definidas com base no nível de risco da pandemia. Em função da cor, são definidas as medidas restritivas a aplicar. Lombardia, Piemonte, Vale de Aosta e Calábria foram as zonas designadas pelo Governo italiano como “zonas vermelhas” e colocadas sob confinamento “suave”, com restrições à deslocação para fora da região, e saída de casa, exceto por razões de trabalho, compras, saúde ou emergências.
Os últimos números de Itália, embora instáveis e elevados, têm mostrado alguns indicadores positivos. Nas últimas 24 horas, as autoridades italianas registaram 32.961 novas infeções por Covid-19, um decréscimo de quase três mil casos diários, em comparação com terça-feira, somando um total de 1.028.424. Já na segunda-feira, os números tinham recuado. Foram identificados 25.271 casos positivos nesse dia, face aos 32.616 registados no domingo, ainda assim esta redução pode ser explicada pelo facto de terem sido realizados menos testes.
Neste contexto, no início da semana o presidente do Instituto Superior de Saúde (ISS) de Itália, Silvio Brusaferro, afirmou que a pandemia do novo coronavírus continua a crescer no país, sublinhando que nas quatro regiões que apresentam um elevado risco de contágio “é conveniente antecipar medidas mais restritivas”.
Novos casos na Alemanha têm baixado nos últimos dias. Mortes disparam
A par com França, também a Alemanha decretou no início do mês um novo confinamento parcial. Entre as medidas anunciadas pelo Governo alemão está o encerramento parcial, durante quatro semanas, de restaurantes, bares e teatros devido ao elevado aumento de casos de coronavírus no país. Segundo a chanceler alemã, os poderes regionais concordaram com este encerramento ao longo de novembro, incluindo também a proibição da oferta cultural, mantendo, no entanto, e “enquanto for possível”, as escolas e o comércio abertos. Além disso, todas as competições desportivas profissionais decorrem agora sem público.
Estas medidas, que entraram em vigor a 2 de novembro, estão ser aplicadas em todo o país durante um mês, sendo revistas ao fim de duas semanas. Deverão custar à economia alemã 19.000 milhões de euros e cerca de 600.000 empregos, segundo estimativas contidas em estudos de institutos de estudos económicos.
E apesar de os números continuarem elevados, vão permanecendo abaixo da média das últimas duas semanas, em que o número de casos esteve vários dias por volta dos 20 mil. As autoridades de saúde alemãs reportam esta quarta-feira mais 18.487 novos casos de infeção, de acordo com o Instituto Robert Koch (RKI), elevando o número total para 705.687. No entanto o país registou 261 mortes, o número mais elevado desde 22 de abril. Desde o início da pandemia já morreram 11.767 pessoas vítimas da doença.
Bélgica poderá ter chegado ao pico da segunda vaga
A Bélgica tem sido um dos países mais afetados pela segunda vaga da pandemia, com os sistemas de saúde sob pressão e sem conseguirem dar resposta à afluência dos utentes. Se inicialmente a estratégia adotada foi entrarem em confinamento parcial, rapidamente o primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, tomou medidas mais drásticas. Na semana passada, o Governo decretou o encerramento do comércio não essencial, incluindo “profissões de contacto não sanitário”, como cabeleireiros e salões de beleza — mantendo-se abertos supermercados, mercearias e farmácias.
Assim, todas as atividades económicas consideradas não essenciais estão encerradas durante um período de seis semanas. Ao mesmo tempo, os supermercados estão autorizados a vender apenas bens essenciais. Tal como em França, o teletrabalho passou também a ser obrigatório, sendo que, nos casos em que não for possível, é obrigatório o uso de máscara e ventilação. Apesar de ainda ser prematuro avançar com conclusões finais, já que ainda não passaram 15 dias após a tomada destas decisões mais drásticas, a verdade é que os números têm baixado nos últimos dias.
Esta semana, o porta-voz federal para a Saúde disse que a Bélgica poderá ter chegado ao pico da segunda vaga da pandemia. “Podemos finalmente ver o pico desta segunda vaga”, disse esta segunda-feira Yves Van Laethem, porta-voz federal na luta contra o coronavírus, em conferência de imprensa citado pela Lusa, estimando que este poderá ter sido atingido a 27 de outubro, com 22.171 casos, tendo os números vindo a baixar desde então.
Segundo o Brussels Times (acesso livre, conteúdo em inglês), a média de novas infeções tem recuado na última semana. Entre 1 de novembro e 7 de novembro, em média 7.834 pessoas testaram positivo à Covid-19, uma redução de cerca de 46% face à semana anterior. Ainda assim, tal como acontece na Alemanha, as mortes têm aumentado. Além disso, nas últimas duas semanas foram confirmadas 1.361,9 infeções por 100.000 habitantes, uma redução de 11% em relação às duas semanas anteriores. Até ao momento, o país contabiliza já 507.475 infeções por Covid-19.
Irlanda com uma das taxas de incidência mais baixas da Europa
A Irlanda foi o primeiro país da União Europeia a voltar ao confinamento. Na segunda quinzena de outubro, o governo de Dublin declarou alerta máximo do plano de combate à pandemia de Covid-19, que obriga os cidadãos a permanecerem em casa e o encerramento de bares, restaurantes e comércio não essenciais, mantendo abertas escolas e creches, pelo menos durante seis semanas. Além disso, foram proibidas todas as reuniões familiares, bem como visitas a outras residências, enquanto as deslocações não essenciais, como passeios ou saídas de casa para exercícios físicos, estão limitadas a um raio de cinco quilómetros.
Estas medidas foram tomadas na sequência do aumento acentuado no número de casos de Covid-19, mas desde então estes valores têm vindo a diminuir. Segundo The Guardian (acesso livre, conteúdo em inglês), o país tem agora tem uma das taxas de incidência mais baixas da Europa.
Na semana passada, o valor do RT, que mede o índice de transmissibilidade da doença, situava-se entre os 0,7 e os 0,9, sendo que o aconselhável é que esteja abaixo de 1. Já a taxa de incidência cumulativa a 14 dias caiu para 212,7 por 100.000 pessoas, uma redução de 30%. Nas últimas 24 horas, foram registados 362 casos confirmados por Covid-19 e duas mortes, segundo os dados oficiais do Ministério de Saúde do governo irlandês.
Novos casos na República Checa têm caído. Mortes continuam a aumentar
Considerado um dos países europeus com maior crescimento desta segunda vaga pandemia, a República Checa decidiu apertar o cinto e anunciar restrições. Entre as medidas anunciadas a 12 de outubro pelo primeiro-ministro checo, Andrej Babis, esteve o encerramento de todas as escolas e ensino à distância, com a exceção das creches, que se mantêm abertas, bem como de todos os bares e restaurantes. Além disso, foi proibida a venda de álcool em locais públicos, estando ainda os eventos desportivos, culturais ou religiosos limitados a dez pessoas no interior e 20 no exterior. Na semana anterior já tinham sido encerrados ginásios, piscinas e jardins zoológicos.
Certo é que estas fortes restrições parecem agora demonstrar alguns resultados. A República Checa registou 9.016 novas infeções por Covid-19 nas últimas 24 horas, um recuo de 3.072 casos em relação à semana anterior, segundo a Reuters (acesso livre, conteúdo em inglês). Com 10,7 milhões, o país regista já um total de 429.880 casos desde o início da pandemia, após ter revelado durante várias semanas uma das taxas de infeção da Europa. Nas últimas 24 horas, morreram 249 pessoas vítimas da doença. Este óbitos representam uma revisão feita pelas autoridades de saúde checas, em relação a dias anteriores. Inicialmente, o número reportado tinha sido 109, mas a atualização veio a elevá-lo para 249 vítimas mortais, o que representa um novo máximo para o país.
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