Pandemia reduziu tempo de trabalho quatro vezes mais que crise de 2009

A pandemia provocou uma queda de 8,8% das horas trabalhadas em todo o mundo. Em causa está um decréscimo quatro vezes maior que o registado na crise de 2009, segundo a OIT.

A pandemia caiu como uma bomba no mercado de trabalho. Por causa da crise provocada pela Covid-19, o ano de 2020 foi sinónimo de uma quebra de 8,8% das horas trabalhadas em todo o mundo face a 2019, o equivalente a 255 milhões de empregos a tempo inteiro. Segundo o relatório divulgado, esta segunda-feira, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o recuo provocado pela pandemia foi quatro vezes maior do que o verificado durante a crise financeira de 2009.

duas explicações para esta evolução. Por um lado, entre os trabalhadores que mantiveram os seus empregos, registou-se um recuo das horas trabalhadas à boleia da aplicação de regimes equivalentes ao português lay-off, que permite aos empregadores em crise suspenderem os contratos de trabalho (reduzindo zero o período normal de trabalho) ou diminuírem os horários de trabalho.

Por outro lado, registou-se um número “sem precedentes” de pessoas que perderam o seu emprego. No total, cerca de 114 milhões de pessoas, em todo o mundo, estiveram nessa situação em 2020. A OIT sublinha que, nesse universo, 81 milhões de pessoas (cerca de 71% do total referido) passaram à inatividade (e não ao desemprego), ou seja, não conseguiram procurar emprego ou ficaram indisponíveis para trabalhar por causa da pandemia de coronavírus e do confinamento imposto em resposta.

Assim, a organização destaca: “Olhar somente para o desemprego subestima drasticamente o impacto da Covid-19 no mercado de trabalho“. Em Portugal, nos primeiros meses da pandemia, a taxa de desemprego chegou mesmo a descer face aos meses anteriores, ao mesmo tempo que disparou a taxa de subutilização do trabalho, confirmando a leitura da OIT.

O recuo nas horas trabalhadas teve, além disso, consequências negativas nos rendimentos do trabalho, que caíram 8,3%, em 2020, sem considerar as medidas de apoio lançadas pelo Governos. Essa percentagem é equivalente a 3,7 biliões de dólares ou a 4,4% do PIB global.

A OIT frisa, contudo, que o impacto da Covid-19 no mercado de trabalho não foi uniforme. Por exemplo, as mulheres foram mais afetadas do que os homens, pela disrupção causada pela crise sanitária. E o setor do alojamento e serviços viu o emprego recuar, em média, mais de 20%, enquanto o setor da informação e da comunicação, das finanças e dos seguros viram o emprego subir no segundo e terceiro trimestre de 2020.

Resta apenas traçar as perspetivas para 2021. A OIT salienta que, apesar da incerteza, os países deverão ter recuperações relativamente fortes, nas segunda metade do presente ano, à medida que a vacinação ganhar terreno.

No cenário base para 2021, estima-se que as horas trabalhadas cairão 3% em 2021, face ao último trimestre de 2019, isto é, o equivalente a 90 milhões de empregos a tempo inteiro.

Já no cenário mais pessimista, projeta-se uma quebra de 4,6% justificada por um processo de vacinação mais lento do que o esperado. Por outro lado, na melhor das hipóteses, diz a OIT, as horas trabalhadas recuarão 1,3% face aos últimos três meses de 2019. “Tudo dependente da pandemia ser controlada e de haver um salto da confiança dos consumidores e dos negócios”, conclui a organização.

Os sinais de recuperação que já se veem são encorajadores, mas frágeis e altamente incertos. Temos de nos lembrar que nenhum país ou grupo de países pode recuperar sozinho”, remata o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

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