Loop Co. reinventou-se em 2019. Em 2020 distribuiu 10% dos lucros pelos trabalhadores
Em 2019, com o mercado a mudar, a Book in Loop teve de reinventar o seu negócio. O ano passado foi de "transformação ao quadrado" e o novo ano será de crescimento, de dentro para fora.
Mudou de nome. Alargou o público. Fez crescer a equipa e cresceu com ela. Em março de 2017, altura em que o ECO visitou o IPN no âmbito da “Volta a Portugal em incubadoras”, João Bernardo Parreira, 19 anos, foi considerado “o nosso Camisola Branca, da Juventude”, naquela que é a incubadora mais antiga — e uma das mais jovens — do país. Na altura, o empreendedor tinha começado há pouco tempo um negócio de economia circular. “Começando pela fase de alfarrabistas, iniciámos como empresa de produto em 2016, uma plataforma de economia circular, a Book in Loop, só dedicada a manuais escolares”, recorda, em conversa com o ECO.
O modelo de negócio era simples: baseado numa parceria com o grupo Sonae, a Book in Loop revendia manuais usados, dando-lhes uma nova vida. Em 2019, na sequência da decisão do Governo de oferecer manuais escolares novos aos alunos de todos os ciclos de ensino, a startup foi obrigada a repensar o seu modelo de negócio e, claro, a sua razão de existir. “Tornou-se difícil vendermos uma coisa usada quando havia alguém a oferecê-la nova”, assinala João Bernardo. Começava, nesse ano, uma “nova fase da empresa”.
A The Loop Co. mudou-se, nessa época, do IPN na baixa de Coimbra para um edifício histórico na Praça do Comércio. Mas a localização não foi a única coisa que mudou na altura. “Pegámos no que tinham sido as boas lições do tempo de Book in Loop e da Baby Loop e começámos a trabalhar em três áreas, fundamentalmente”, começa por explicar o cofundador e CEO da empresa.
“Criámos o Loop OS (operative system), em que continuámos a trabalhar economia circular, não tanto ligada aos manuais escolares, mas naquilo que foram as ferramentas que funcionavam para o consumidor, e colocá-las à disposição dos retalhistas para que pudessem implementar rapidamente modelos de economia circular. Uma segunda área, dedicada ao desenvolvimento de software, Loop Lab, maioritariamente orientado para e-commerce para retalho e em que trabalhamos com clientes como a Ticketline e a Sonae. E também uma área de investigação e desenvolvimento onde trabalhamos com IoT, com instituições como o Cern, ou a ESA, onde temos um projeto financiado pelo ESA Bic”, detalha João Bernardo.
“E, finalmente, uma terceira área, a Loop Analytics, dedicada a consultoria em data engineering e data science, onde trabalhamos por exemplo para a Carlsberg ou o BNP Paribas, entre outros clientes”, acrescenta.
A transformação do negócio foi motor de um crescimento da equipa, de pouco mais de 10 para mais de 60 pessoas atualmente, e os planos até ao final deste ano passam por uma aproximação aos três dígitos. A faturação, que rondava os 900 mil euros em 2019, triplicou para os 2,7 milhões de euros em 2020. E João Bernardo acredita que este valor chegará aos 4,5 milhões de euros em 2021. Por isso, o arranque do ano serviu para anunciar outra novidade: partilha de lucros com os trabalhadores da empresa.
“Esta ideia de distribuir 10% dos resultados nasce com alguma naturalidade: em 2020 exigimos da equipa um crescimento muito grande, acelerado e exigente, porque passámos de relativamente pouca gente para muitas pessoas, para projetos de grande dimensão e exigência para com o mercado, e tivemos de o fazer num contexto ainda mais difícil do que o que seria normal. Acabou por ser natural dar fair share a quem concretizou isto”, explica ao ECO/Pessoas.
Esta é a primeira vez que a The Loop Co. faz uma distribuição de resultados pelos trabalhadores, que será levada a cabo de acordo com o grau de antiguidade de cada um.
O desafio pandémico
Se 2019 já tinha sido um ano de transformação, 2020 não foi diferente. “Teve várias fases. Foi uma espécie de transformação ao quadrado”, brinca João Bernardo. “Uma das vantagens dos últimos tempos tem sido conseguirmos crescer a partir de onde estamos, de Coimbra. Nem sempre era muito fácil no sentido em que a A1 era o nosso melhor amigo, e deixou de ser. Agora é o Zoom, o Teams ou qualquer coisa. A Covid trouxe-nos alguma segurança rodoviária nesse aspeto”, brinca.
“Começámos a aventurar-nos por áreas que inicialmente não eram as nossas, em que reestruturámos a equipa e estávamos prontos para começar com normalidade 2020 e ver alguns resultados desta transformação e começar a crescer, quando nos volta a aparecer a ‘anormalidade’. Reagimos com a naturalidade possível. Nos primeiros dois ou três meses de pandemia, a palavra de ordem foi sobreviver, garantir que continuávamos a existir. Depois de provarmos a nós próprios que tínhamos condições para sobreviver, foi ‘crescer’. Se eu dividisse o ano, seria desta forma, com as exigências próprias de cada uma destas fases”, sublinha ainda.
“Sempre tivemos dentro da empresa grandes partidários de um modelo full remote que, experimentando, deixaram de estar tão convencidos de que seria uma boa solução. E também tínhamos partidários de que no escritório é que tinha de ser, por causa das interações que se geravam que, experimentando o remote, acabaram por deixar de ter essa opinião. Neste momento estamos, internamente, a descobrir, qual será o modelo que adotaremos quando a coisa passar. Ou seja: se me perguntares hoje se tenho uma resposta para o que vai acontecer, não, não faço a mínima ideia”, adianta.
O tema é trazido, por isso, para cima da mesa das reuniões de equipa mensais, nas quais se faz um balanço do que foi o mês anterior em matéria de trabalho remoto. O grande desafio, numa equipa em processo de crescimento rápido, tem sido outro: onboarding. “Investimos no sítio para transmitir essa cultura e eu não diria que foi inglório mas fomos obrigados a criar, a explicar a nossa cultura, que antes transparecíamos de forma mais ou menos natural”, salienta.
A empresa está agora, em termos de crescimento, a trabalhar em dois eixos fundamentais”. Na Loop OS, onde estamos prestes a fechar um grande retalhista espanhol para implementar esta solução e, por outro lado, em termos tecnológicos, estamos também num processo de internacionalização com clientes no Benelux e no Reino Unido”, assinala.
*Notícia corrigida às 17h52, com a nota de que a The Loop Co. trabalha com a Carlsberg.
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