Regressar aos escritórios com certificado de vacinação? Empresas estão reticentes face aos “passaportes”

Exigir uma prova de vacinação aos colaboradores não é uma possibilidade nas empresas. Entre os argumentos, o decorrer do plano nacional de vacinação e a liberdade de escolha.

A eventual criação de um certificado que comprove que uma pessoa completou o processo de vacinação contra a Covid-19 é um dos temas discutidos pelos 27 Estados-membros da União Europeia. Estes “passaportes de vacinação” têm vindo a ganhar uma atenção crescente, sobretudo no setor do turismo, dando a todos os que já estejam vacinados a possibilidade de voltar a viajar.

No entanto, a questão ainda não foi capaz de reunir consensos. Em Portugal, o Ministério da Economia e Transição Digital considerou “prematuro” discutir a criação dos certificados de vacinação, tendo em conta que o processo de vacinação na União Europeia está ainda pouco adiantado, apenas “concentrado em grupos prioritários”.

Com as portas dos escritórios fechadas devido ao segundo confinamento obrigatório, a Pessoas falou com algumas empresas para saber se este certificado de vacinação está em análise e se poderá revelar-se importante nos planos de regresso aos escritórios. As respostas das organizações, apesar de com diferentes justificações, foram todas no mesmo sentido: para já, “não é uma possibilidade”, “ainda é precoce”, “não, tendo em conta o atual plano de vacinação nacional”.

“Ainda é precoce considerarmos exigir seja o que for”

Para a New Work, grupo do qual faz parte a rede social alemã XING, discutir a exigência de um certificado de vacinação à Covid-19 é, ainda, prematuro. “Creio que ainda é precoce considerarmos exigir seja o que for. À medida que a evidência científica se consolide e as regras sejam implementadas, vamos seguir o que for estabelecido”, afirma Miguel Garcia, general manager da New Work Portugal, salientando que as viagens sempre foram fundamentais para a empresa.

“Como organização multinacional com escritórios em vários países, as viagens fazem parte da nossa rotina. Eu próprio tenho responsabilidade sobre as equipas da New Work em Barcelona e Valência, passo muito tempo a voar entre Porto, Valência, Barcelona e Hamburgo”, explica. “Iremos certamente ter de respeitar as normas internacionais que forem estipuladas para podermos também viajar em segurança e garantir a segurança das pessoas em cada local”, acrescenta.

Miguel Garcia é general manager da New Work Portugal.Bruno Barbosa/ECO

No entanto, os colaboradores que considerem a imunidade de grupo uma questão importante poderão permanecer a trabalhar remotamente até que se sintam seguros para voltar aos escritórios. “O que é importante para nós é que as nossas pessoas se sintam seguras e tranquilas. Para os nossos colegas para quem a imunidade de grupo adquirida é um aspeto fundamental, com certeza encontraremos soluções para que se mantenham em segurança e, ao mesmo tempo, produtivos e envolvidos no seio das suas equipas”, conta à Pessoas.

Não, enquanto não houver “vacina disponível de forma igualitária a toda a população”

Para a Webhelp Portugal, exigir um certificado de vacinação aos colaboradores não é uma possibilidade que faça parte da estratégia de regresso aos escritórios, sobretudo tendo em conta o atual plano de vacinação nacional. “A grande maioria dos nossos colaboradores só será vacinada, na melhor das hipóteses, depois do verão, o que não é compatível com as necessidades de alguns dos nossos clientes”, justifica Carlos Moreira, CEO da Webhelp Portugal.

A grande maioria dos nossos colaboradores só será vacinada, na melhor das hipóteses, depois do verão, o que não é compatível com as necessidades de alguns dos nossos clientes.

Carlos Moreira

CEO da Webhelp Portugal

Também a L’Oréal não pensa pedir uma prova de que os colaboradores estão vacinados. “Um certificado de vacinação não faz sentido enquanto não houver vacina disponível de forma igualitária a toda a população”, justifica Clara Trindade, diretora de recursos humanos da multinacional francesa de cosméticos.

Para já, a líder de pessoas diz que o escritório está “adaptado para ser um lugar muito seguro para os colaboradores voltarem a trabalhar após a luz verde do Governo”, com todas as medidas de higiene e segurança necessárias implementadas.

Clara Trindade é diretora de recursos humanos da L’Oréal Portugal.Hugo Amaral/ECO

Incentivar vacinação, mas sem “forçar”

Da mesma forma, na Bosch Portugal não existem planos para exigir certificados de vacinação, mas o motivo prende-se, sobretudo, com questões éticas. “Acreditamos que os nossos colaboradores devem ter liberdade de escolha”, diz Carlos Ribas, representante do grupo Bosch em Portugal, acrescentando que a empresa irá continuar a fazer o seu trabalho ao nível da sensibilização para a necessidade de implementar as medidas de prevenção e segurança, dentro e fora da organização.

Ainda que sem controlo no que diz respeito aos processos de vacinação, “vamos garantir que estão em vigor os procedimentos que nos permitam evitar contaminações e garantir que os colaboradores se sintam seguros ao trabalhar nas nossas instalações”, remata.

Para a Sodexo, ministrar a vacina para a Covid-19 “é fundamental para gerir a atual pandemia”. “Só com vacinas seguras e eficazes podemos esperar voltar a ter uma vida normal”. A empresa de benefícios e incentivos diz que não irá “forçar” os colaboradores a participarem nos programas nacionais de vacinação, respeitando a decisão de cada um deles, mas que apoiará ativamente essa mesma participação.

Não forçaremos os nossos colaboradores a serem vacinados, mas forneceremos informação apropriada, científica e oportuna para ajuda na sua tomada de decisão.

Nelson Lopes

CEO da Sodexo Portugal

Não forçaremos os nossos colaboradores a serem vacinados, mas forneceremos informação apropriada, científica e oportuna para ajuda na sua tomada de decisão. Facilitaremos, ainda, aos nossos colaboradores a possibilidade de assistirem às consultas médicas necessárias para a vacinação, por exemplo, adaptando o seu horário de trabalho ou disponibilizando tempo livre”, conta Nelson Lopes, CEO da Sodexo Portugal.

Também no InterContinental Lisbon, o processo de vacinação será promovido, mas, para já, o certificado não se apresenta como uma possibilidade. “A vacinação é um processo desejado por todos mas não um fim. Todas as medidas de prevenção, segurança, higienização e desinfeção são práticas que estão para ficar e é sobre estas medidas que nos focamos no acolhimento e acompanhamento de clientes e colaboradores. Promovemos e acompanhamos o processo de vacinação em linha com o plano nacional definido e estamos confiantes que a seu tempo atingiremos as metas definidas pelo Governo e comunidades científicas”, afirma Vítor Silva, diretor de recursos humanos do InterContinental Lisbon, acrescentado que o mais importante no setor hoteleiro, um dos mais afetados pela pandemia mundial, é retomar a atividade.

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