TAP diz a Bruxelas que custos com pessoal vão ser 200 milhões mais baixos no final da reestruturação
A companhia aérea promete cortar mais de metade dos custos com pessoal até 2022, face ao período pré-Covid. No ano seguinte, começará a aumentar os gastos novamente.
O corte de custos com pessoal é um dos pilares do plano de reestruturação da TAP, que foi enviado pelo Governo português e ainda está a ser analisado pela Comissão Europeia. O documento a que o ECO teve acesso indica que, após a implementação do plano, o gasto da companhia aérea com trabalhadores será inferior em 200 milhões de euros face a 2019.
“Para ser competitiva, a TAP tem uma meta de poupança de cerca de 230 a 300 milhões de euros por ano em comparação com uma evolução inerte dos custos“, refere a companhia aérea na proposta de plano de reestruturação. No total do período entre 2020 e 2025 é apontada uma poupança de 1,4 mil milhões de euros.
A companhia aérea promete assim a Bruxelas cortar custos até 2022, ano em que espera gastar 360 milhões de euros. A concretizar-se, representa uma queda de 51,5% face aos 743 milhões de euros de 2019. No ano seguinte este indicador começa a subir novamente, atingindo 545 milhões de euros em 2025. Ou seja, 200 milhões de euros abaixo do período pré-Covid. Sem reestruturação, a TAP estimava ultrapassar o custo de 2019 em 2025, em 30 milhões de euros, o que diz serem níveis “insustentáveis” na comparação com as receitas.
Custos laborais da TAP com ou sem reestruturação
Os cortes são conseguidos com uma conjugação de medidas. A primeira é uma redução salarial que (para a generalidade dos trabalhadores) é de 25% em 2021 a partir de uma garantia mínima de 1.330 euros. Para pilotos, por exemplo, é de 50%, enquanto os membros do conselho de administração recebem menos 30%. A equipa de gestão já o sentiu no salário de fevereiro e os restantes funcionários irão senti-lo no fim deste mês.
A TAP e os sindicatos acordaram igualmente uma série de medidas voluntárias com este objetivo: rescisões por mútuo acordo, reformas antecipadas, pré-reformas, trabalho a tempo parcial e licenças sem vencimento, cuja adesão foi possível até à semana passada e que serão efetivadas a 31 de março. Com estas medidas, passou a estar prevista a saída de 800 pessoas das várias categorias profissionais (menos de metade da meta inicial de 2.000 pessoas).
Ainda antes de ser feito qualquer despedimento coletivo, já saíram cerca de 1.200 trabalhadores da TAP através da não renovação de contratos a prazo. Com esta opção de não renovar contratos a prazo, a companhia aérea dizia a Bruxelas que ia conseguir poupar 20 milhões de euros.
Por último, a TAP recorreu ao regime de lay-off simplificado, no qual os trabalhadores viram o número de horas trabalhadas e respetiva remuneração reduzida, enquanto a empresa recebeu apoio da Segurança Social para pagar os salários e benefícios fiscais. Nos dois meses do ano passado em que esteve em lay-off (antes de aderir ao regime da retoma progressiva), a poupança foi de 130 milhões de euros, revela o plano. Em março deste ano, a TAP avançou com um novo processo de lay-off clássico que estará em vigor durante 12 meses.
Já foram poupados 230 milhões e mais 161 milhões adiados
O lay-off ou a saída de trabalhadores temporários são algumas das medidas de poupança de fluxo de caixa que a TAP apresenta à Comissão Europeia como estando já a tentar implementar. Mas não as únicas, contando-se também a venda de oito aviões A320, a reconfiguração de aviões para carga, renegociação do parqueamento de aviões no aeroporto de Lisboa ou a redução do orçamento para IT.
No total, são 230 milhões em poupanças de fluxo de caixa, a que se juntam 161 milhões em adiamentos de caixa (entre 157 milhões em deferimentos de pagamentos a lessors e 14 milhões de leasings financeiros). Uma das opções que terá maior impacto é a renegociação com a Airbus para adiar a entrega (e respetivo pagamento) de 15 aviões de 2020 para 2022, com um impacto de mil milhões de dólares.
Por último, é ainda prometida uma reestruturação da dívida, com vista a prolongar maturidades, depois de a adesão às moratórias bancárias ter permitido poupar 12 milhões de euros em 2020. A proposta desenvolvida pelo Governo, TAP e pela consultora BCG foi enviada pelas autoridades portuguesas para a Comissão Europeia a 10 de dezembro (último dia do prazo para ser feito) e aguarda ainda aprovação. O ministro Pedro Nuno Santos disse, na semana passada, que esse passo — fundamental para desbloquear mais financiamento público à TAP — poderá ser dado apenas em maio.
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