BCP vê economia portuguesa a crescer mais de 5% em 2021
As injeções de liquidez e a aceleração da economia poderão impulsionar a inflação, refletindo-se nos juros das dívidas, mas Brandão de Brito considera que Portugal até poderá ser beneficiado.
A economia portuguesa deverá crescer mais de 5% este ano, segundo as projeções do BCP, que acredita a poupança acumulada das famílias e os apoios às empresas irão impulsionar tanto o consumo como o investimento. A expansão económica poderá ajudar a acelerar a inflação e, consequentemente, a agravar os juros das dívidas, mas Portugal deverá ficar protegido.
“Fiquei extremamente assustado com a pandemia em março e abril. Quando se percebeu que não iria matar toda a gente, fiquei extremamente otimista e continuo. Penso que a economia portuguesa vai crescer de forma muito forte em 2021“, diz José Maria Brandão de Brito, economista-chefe e head of research, sustentabilidade e cripto do BCP ao ECO, adiantando que a projeção do banco para a expansão do PIB este ano “é superior a 5%”.
Após a queda de 7,6% na economia portuguesa em 2020 devido à pandemia, é esperada uma recuperação este ano. O Governo apontava também para um cenário de 5,4%, mas o Ministério das Finanças liderado por João Leão reviu em baixa as projeções, no Programa de Estabilidade (PE), apontando agora para um crescimento de 4%, aproxima-se das projeções do Banco de Portugal — 3,9% — ou do Conselho das Finanças Públicas (CFP) — 3,3%.
Brandão de Brito lembra que, em relação a 2020, foi dos mais otimistas e mesmo assim “pecou” por pessimismo. “A recuperação será muito rápida”, defende. “A situação financeira da generalidade das famílias e das empresas não se deteriorou na proporcionalidade do que seria normal numa recessão desta magnitude”, aponta, sublinhando que “esta recessão foi decretada”.
Para minimizar contágios, as autoridades sanitárias fecharam uma parte considerável do tecido produtivo. Como os serviços são uma parte muito importante do consumo em Portugal, a componente da procura agregada que mais caiu foi o consumo, o que é atípico em recessão. Tipicamente, o consumo não cai e, se cai, é pouco. As componentes que caem mais são investimento e exportações.
“O facto de ter sido decretada legitimou uma ação por parte das autoridades de política económica totalmente heterodoxa, nomeadamente ao nível de apoios ao cash flow das empresas e dos rendimentos das famílias“, explica. Estes apoios levaram a uma acumulação de poupança com um “efeito explosivo” no consumo aquando do desconfinamento, bem como a que as empresas tenham mantido parte do investimento programado. Por último, justifica ainda que a pandemia acelerou alterações estruturais que normalmente demorariam décadas.
Juros na Europa podem subir, mas spreads ainda contraem
As injeções de liquidez e a aceleração da economia poderão impulsionar a inflação graças ao aumento da disponibilidade de dinheiro acompanhado do impacto da pandemia nas cadeias de produção. A aceleração dos preços já se tem refletido nos juros das dívidas públicas, mas Brandão de Brito considera que Portugal até poderá ser beneficiado.
“Há muito tempo que não vemos inflação e há muito tempo que a inflação é desejada porque a inflação tem muitos defeitos e problemas, mas é um bálsamo para empresas muito endividadas, que o caso de todas as economias do mundo. A inflação reduz o peso real da dívida e tem sido o objetivo número um dos bancos centrais pelo mundo e isso não tem acontecido”, aponta. A dívida pública portuguesa fechou 2020 num novo recorde de 133,7% do PIB, sendo que o Governo espera que o rácio baixe para 128% em 2021.
Os juros da dívida soberana afundaram no ano passado e no arranque de 2021, permitindo mesmo que o país conseguisse taxas negativas num leilão de dívida a 10 anos. O economista-chefe do BCP não exclui que o agravamento possa prolongar-se na Europa, mas Portugal deverá continuar protegido, enquanto o Banco Central Europeu (BCE) deverá continuar a garantir a ampla liquidez no mercado.
“Os juros da dívida portuguesa tenderão a subir se houver uma subida generalizada das taxas de juros, mas diria que menos que os da Alemanha. Poderemos ter uma contração adicional dos spreads porque um crescimento forte em termos reais e uma inflação — ou seja, um fortíssimo crescimento nominal — é benéfico para economias mais endividadas e Portugal é das economias mais endividadas da Europa”, acrescenta.
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