Exclusivo Novobanco já é acionista das empresas de Vieira após conversão de dívida de 160 milhões
VMOC no valor de 160 milhões já foram convertidos em capital da Promovalor e Inland, transformando o Novobanco em acionista das duas empresas, enquanto o ex-presidente do Benfica limpa a dívida.
Ao contrário do que o Novobanco e o Fundo de Resolução pretendiam, os 160 milhões de euros em Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) do grupo económico de Luís Filipe Vieira já foram convertidos em capital da Promovalor e da Inland, as duas sociedades do antigo presidente do Benfica que deviam aquele dinheiro ao banco.
Esta operação de conversão de dívida em ações teve lugar no início deste mês e significa duas coisas:
- por um lado, o ex-presidente do Benfica “limpa” esta dívida que tinha junto do Novobanco, contraída junto do antigo BES;
- por outro, a instituição liderada por António Ramalho entra no capital das duas sociedades de promoção imobiliária de Vieira.
Em relação à Promovalor, foram convertidos VMOC no valor de 90 milhões de euros, o que implicou um aumento de capital desta sociedade para os 180 milhões de euros através da emissão de 35 milhões de novas ações. A operação foi registada no dia 2 de dezembro, data a partir da qual o Novobanco passou a ter direito a uma posição de 67%.
Nesse mesmo dia também se converteram 70 milhões de euros de VMOC da Inland, que viu o seu capital aumentar para 135 milhões. Após esta operação, o Novobanco terá ficado com uma posição maioritária desta promotora imobiliária.
Contactado pelo ECO sobre se já recebeu as ações, o Novobanco não quis prestar comentários, dizendo apenas que ainda está em negociações com o devedor Luís Filipe Vieira, razão pela qual se mantém sigiloso em relação a este tema.
Ainda assim, este era o cenário que o banco e também o Fundo de Resolução menos queriam. Isto porque o Novobanco passa a ser acionista de duas empresas que têm capitais próprios negativos de 200 milhões de euros, conforme já havia sinalizado o Fundo de Resolução quando no final de agosto autorizou a administração de António Ramalho a negociar com o grupo de Vieira um prolongamento da maturidade dos VMOC.
Neste sentido, como alertou o fundo de Máximo de Santos na altura, entrando para a estrutura acionista da Promovalor e da Inland, isso “implicará a consolidação dessas entidades no balanço do Novobanco, o que provoca um impacto negativo na posição de capital” da instituição financeira.
Ao todo, o grupo económico de Luís Filipe Vieira devia mais de 400 milhões ao Novobanco, dívidas que vêm do tempo do BES.
Uma parte foi reestruturada e transferida para um fundo especializado gerido pela C2 Capital Partners (ex-Capital Criativo), de Nuno Gaioso Ribeiro, numa operação no valor de cerca de 220 milhões de euros e que envolveu a entrega de ativos imobiliários em Portugal, Espanha, Brasil e Moçambique por parte de Vieira.
Havia ainda uma dívida da Imosteps, no valor de 54 milhões de euros, e em relação à qual Vieira mostrou arrependimento em tê-la assumido a pedido de Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, conforme confessou na comissão de inquérito ao Novobanco. Esta dívida foi vendida pelo banco numa carteira de malparado ao fundo norte-americano Davidson Kempner por cinco milhões, que meses mais tarde revendeu o crédito ao amigo e sócio de Vieira, José António dos Santos, também conhecido como o Rei dos Frangos por oito milhões.
Além destas dívidas, havia ainda 160 milhões de euros relativos aos VMOC da Promovalor e da Inland, dívida para a qual o Novobanco tentou encontrar uma solução nos últimos meses, nomeadamente tentando negociar com Luís Filipe Vieira o prolongamento da maturidade dos VMOC para 2023, no sentido de evitar entrar no capital das duas empresas.
Como já referido, no final de agosto, o banco recebeu a autorização do Fundo de Resolução para avançar com as negociações com o ex-presidente do Benfica, com o fundo a destacar a necessidade de serem obtidas garantias reais de Vieira para estas VMOC.
Há duas semanas, o Correio da Manhã (acesso pago) contou que as condições impostas por Luís Filipe Vieira dificultaram um entendimento entre as partes. E que o antigo dirigente encarnado já estava a preparar-se para entregar as ações da Promovalor e da Inland ao banco, cumprindo, de resto, aquilo que tinha admitido ao jornal em setembro, quando disse que não tinha dinheiro para reembolsar os VMOC.
Na semana passada, o Novobanco avançou na Justiça com uma ação de execução de 7,6 milhões de euros contra Luís Filipe Vieira, fazendo mira às ações que detém na SAD do Benfica e uma casa da família Vieira na margem sul do Tejo.
Em maio, Vieira defendeu na comissão de inquérito ao Novobanco que nunca teve um perdão de dívida. “Muitos empresários tiveram perdões de capital e de juros. Não foi o meu caso. É do conhecimento público que muitos viram perdoadas dívidas muito superiores àquelas que foram contraídas pela Promovalor. Não aconteceu isso comigo”, afirmou o ex-presidente encarnado no Parlamento.
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