Aumentar oferta de mobilidade da app da Free Now em Portugal, duplicar número de viagens e melhorar as condições oferecidas aos motoristas estão entre os objetivos de Bruno Borges, o diretor-geral.
Bruno Borges tem um objetivo claro para 2022: duplicar o número de viagens da Free Now em Portugal e posicionar a plataforma de mobilidade como a referência junto dos motoristas. A que oferece as melhores condições. Um pacote de benefícios que hoje já é o “mais agressivo” face ao oferecido pelos seus concorrentes Uber e Bolt, garante Bruno Borges, diretor-geral da Free Now desde dezembro.
A subida à liderança da Free Now em Portugal — terceira plataforma de mobilidade, com 8 mil motoristas registados — surgiu dois anos depois à frente da direção de operações da plataforma, mais um passo na carreira do especialista em mobilidade urbana, cujo percurso já passou por mercados como o Brasil.
Aumentar a oferta de serviço de mobilidade na aplicação da Free Now é uma meta para este ano. “Em Portugal somos a única app que tem TVDE, Táxis e motas elétricas na mesma app e o nosso plano para 2022 é introduzir trotinetes e bicicletas elétricas. Vai depender das negociações que estamos a ter, algumas já numa fase médio/avançada. No primeiro semestre de 2022 gostaria de ter as trotinetes na nossa app“, adianta o gestor, em entrevista à Pessoas, a primeira desde que assumiu a direção-geral da Free Now.
O hub da Free Now em Lisboa também deverá reforçar o seu número de colaboradores. Até ao final do ano, deverá subir dos atuais 130 para 150, prestando serviços a partir de Portugal para vários mercados europeus, como Reino Unido ou França.
O novo diretor-geral comenta ainda possíveis alterações à Lei Uber e a nova proposta de Bruxelas para regular as relações entre plataformas digitais e colaboradores.
Os motoristas de táxi e TVDE, depois de mais uma manifestação exigindo maior fiscalização e uma taxa fixa nos serviços, reuniram com a Free Now. Há fumo branco?
Este movimento de motoristas e parceiros fizeram uma roadtrip por Lisboa pelas sedes das três empresas de ride hailing: Bolt, Uber e e Free Now. Fomos a única que os recebeu (na quinta-feira). A reunião correu muito bem. Havia várias reivindicações, em algumas delas chegamos a consenso e já temos segunda reunião para 16 de março. Foi um bom pontapé de saída para juntos contribuir para a sustentabilidade do negócio. A sustentabilidade dos motoristas é a nossa sustentabilidade.
Houve convergência de posições na taxa mínima? Motoristas dizem que as receitas não cobrem custos.
Nas placas (nas manifestações) o nome da Free Now não é referido. É porque no último ano tomamos uma série de ações que contribuem para a sustentabilidade do negócio. Somos a plataforma que tem o preço mínimo mais alto — passamos de 2,50 euros para 3 euros, enquanto nas outras é 2,50 euros –, a única que paga uma compensação pelo pedido de distância — pagamos ao motorista antes de o cliente entrar no carro se a distância até ao cliente for superior a seis quilómetros –, medida que implementámos quando os preços dos combustíveis começaram num crescimento mais acelerado, em junho/julho. Sempre estivemos muito alinhados.
Outra questão de consenso teve a ver com o desbloquear de alguns motoristas. Temos uma qualidade de serviço que temos de assegurar — que os clientes esperem o menos tempo possível e tenham um preço justo — e ao irmos ao encontro dessa qualidade de serviço, temos alguns motoristas bloqueados. Há motivos de força maior e aí não podemos desbloquear — em situações de assédio somos absolutamente implacáveis — mas há questões de qualidade em que percebemos o seu ponto de vista, que lhes estávamos a pedir para fazer viagens que estavam muito longe e não lhes era rentável. As receitas têm de cobrir os custos e chegamos a uma plataforma de entendimento. Não posso dar grandes detalhes, mas alteramos alguns KPI de exigência.
Para 2022 antecipam o regresso a ritmos pré-Covid. Estas medidas serão suficientes para garantir que terão os motoristas suficientes para servir a procura? Muitos saíram do setor com a pandemia e o preço das viagens subiu.
Isto é um marketplace e a procura recuperou muito mais rápido do que a oferta. Como em todas as plataformas há um algoritmo, e quando há um desequilíbrio é espoletada automaticamente uma tarifa dinâmica, o preço aumenta para captarmos o maior número de oferta possível. Por esse eixo, houve realmente um encarecimento do preço final, mas, por outro lado, houve a introdução de tarifas low cost por todos os players. Por isso, não sei se concordo em dizer que as viagens ficaram mais caras, aliás, se perguntar aos motoristas, todos vão dizer que ficaram mais baratas. Há uma discrepância da visão do mercado e o que se passa por dentro.
Já estabilizou esse desequilíbrio entre oferta e procura?
Até novembro havia realmente um grande desequilíbrio, depois com o aumento das restrições, com a subida de casos de Covid, houve uma diminuição de procura. Em janeiro e fevereiro não há um desequilíbrio tão grande, primeiro porque costumam ser meses mais fracos, e depois as restrições, o facto de 1 milhão de portugueses estar em isolamento, 10% da população, gera menos procura. Neste momento, estamos numa fase de maior equilíbrio. Agora é certo: daqui a um a dois meses, quando a economia recuperar vai novamente haver um desequilíbrio global, mas achamos que, apesar de tudo, estamos melhor preparados do que há seis meses. Somos a plataforma mais recente no mercado — estamos aqui há 1,5 anos, fizemos a migração da Kapten e temos uma base de motoristas muito inferior à dos nossos concorrentes — e ao longo destes meses, preparamo-nos para, quando a procura voltar, fornecer a melhor qualidade possível aos nossos clientes.
Cerca de 50% dos motoristas desistiram do negócio durante a pandemia, portanto, há não só alguma recuperação de alguns motoristas que tinham desistido que estão a voltar ao negócio, como há novos motoristas a entrar. O nosso número de novos motoristas tem aumentado substancialmente nas últimas semanas/meses. Temos 8 mil motoristas registados.
São a terceira plataforma. Qual é a ambição?
Gostaríamos de num ano de duplicar o nosso número de viagens em relação a 2021 — não posso dar o número de viagens concretas — sendo que não significa dobrar a nossa quota de mercado, porque todas as outras podem também aumentar.
Essa duplicação é com o mesmo número de motoristas?
Será sempre com mais motoristas, mas não muitos mais. Os motoristas e os carros são comuns a todas as plataformas, não há motoristas exclusivos. Primeiro temos de aumentar o envolvimento dos motoristas, as horas que trabalham para nós e a aceitação. Queremos nos afirmar como a melhor plataforma para um motorista trabalhar. É o que queremos em 2022. Que olhem para a Free Now e pensem que aqui têm os melhores rendimentos e estamos a tomar medidas nesse sentido. Temos de aumentar esse envolvimento e, por outro lado, aumentar o número de novos motoristas. Cerca de 50% dos motoristas desistiram do negócio durante a pandemia, portanto, há não só alguma recuperação de alguns motoristas que tinham desistido que estão a voltar ao negócio, como há novos motoristas a entrar. O nosso número de novos motoristas tem aumentado substancialmente nas últimas semanas/meses. Temos 8 mil motoristas registados.
Esse objetivo de duplicar viagens o que poderá implicar de entrada de novos motoristas?
Estou mais focado no que pode representar em novas viagens, o nosso objetivo não é ter motoristas. Não será preciso um grande aumento do número de motoristas, para duplicar o número de viagens. O nosso objetivo é reter os melhores motoristas, que se sintam confortáveis e que sejamos a plataforma preferencial para trabalharem connosco. Como este número de motoristas é mais do que suficiente para acomodar um número de viagens vezes dois ou até vezes três maior.
Que outros benefícios estão a ser planeados para que, no final do ano seja, como pretende, a plataforma preferencial dos motoristas?
Somos a única plataforma que diz publicamente — e não tem medo de o dizer — que os atuais preços praticados não são sustentáveis, tanto para nós como para os nossos motoristas. Queremos provocar — e foi isso que tentamos com o aumento do preço mínimo — um aumento do preço de viagens. Um aumento de preço mínimo de viagens que não se reflita no cliente é fundamental para os motoristas. Conseguimos arranjar um equilíbrio em fornecer um serviço sustentável, a um preço equilibrado para os nossos clientes e aumentar também o rendimento dos nossos motoristas.
Somos a única plataforma com bónus diário para os motoristas. Ganham não só o que o cliente paga, mas uma série de incentivos que lhes damos. Esse pacote de incentivos é para continuar em 2022, e temos incentivos muito mais agressivos do que a concorrência. Sempre tivemos e vamos a continuar a ter.
Mas como vai fazer isso? Por norma quando aumentam os custos, sobem os preços para os clientes.
Fomos a única plataforma que nos últimos dois anos aumentou as tarifas. Numa época normal, somos a única plataforma com bónus diário para os motoristas. Ganham não só o que o cliente paga, mas uma série de incentivos que lhes damos. Esse pacote de incentivos é para continuar em 2022, e temos incentivos muito mais agressivos do que a concorrência. Sempre tivemos e vamos a continuar a ter. É essa a forma como conseguimos aumentar os rendimentos dos motoristas sem prejudicar o cliente.
O relatório da ‘Lei Uber’ está na Autoridade da Mobilidade e dos Transportes. Houve declarações do secretário de Estado da Mobilidade criticando a questão das tarifas. Que alterações estão à espera?
Não fomos consultados nisso. Achamos, como já disse, que as tarifas devem aumentar, mas não queria levantar cenários. Sobre esse assunto já li coisas tão absurdas — que as plataformas acertavam preços — que prefiro ver para crer. Tenho esperança que essa revisão da Lei, que estava programada, promova a sustentabilidade do setor. É uma Lei muito avançada no plano europeu, já oferece uma série de garantias para os clientes.
Bruxelas tem uma proposta de regulamentação das relações laborais nas plataformas digitais. Quer acabar com 6,5 milhões de falsos trabalhadores independentes na Europa. É um game changer na vossa atividade.
Será com certeza. Mas nós não fazemos entregas, transportamos pessoas, em termos de modelo de negócio é completamente diferente e também o tipo de proteção dada aos motoristas. Não se deve confundir. Não somos de todo contra a oferecer melhores condições aos nossos motoristas, mas queria realçar que inquéritos, externos e internos, feitos junto aos motoristas têm um denominador comum sejam feitos em Portugal, França ou Reino Unido: os motoristas valorizam a flexibilidade. Para muitos destes motoristas não é um primeiro trabalho, é um complemento. Não estou a negar que se devam dar mais direitos, mas não se pode esquecer (que os motoristas) são os principais interessados em ter essa flexibilidade. Se calhar há motoristas que só trabalham para a Free Now, mas não é uma imposição nossa. O bom destes mercados é que os motoristas podem decidir, em consciência e sem qualquer tipo de repercussão, para onde querem trabalhar. Trabalham para a plataforma que lhes oferece melhores condições.
Em Portugal somos a única app que tem TVDE, Táxis e motas elétricas na mesma app e o nosso plano para 2022 é introduzir trotinetes e bicicletas elétricas. Vai depender das negociações que estamos a ter, algumas já numa fase médio/avançada. No primeiro semestre de 2022 gostaria de ter as trotinetes na nossa app.
Os clientes valorizam a integração na mesma app de várias opções de mobilidade. Para 2022, querem fechar com 10 novos parceiros. O que está previsto para Portugal?
A nível europeu queremos afirmar-nos como uma super app de mobilidade. Há anos não era consensual, mas hoje já é: o carro é um grande problema, em termos de poluição sonora, visual… E só há duas formas de as pessoas abandonarem o carro: maior oferta de transportes públicos, bicicletas e, é aqui que nos inserimos, com alternativas de serviço, com igual nível de privacidade e conforto do automóvel privado. Em Portugal somos a única app que tem TVDE, Táxis e motas elétricas na mesma app e o nosso plano para 2022 é introduzir trotinetes e bicicletas elétricas. Vai depender das negociações que estamos a ter, algumas já numa fase médio/avançada. No primeiro semestre de 2022 gostaria de ter as trotinetes na nossa app.
Querem também aluguer de longa duração, carsharing, para “um futuro próximo”. E em Portugal?
O grupo Free Now é uma joint-venture entre a Daimler (a dona da Mercedes) e a BMW, que tem também a Share Now, um serviço de carsharing. O serviço já existiu em Portugal — não incluído na nossa app — e desde a recuperação da pandemia em outros países da Europa, a app já inclui esses sistemas. Queremos também ter um serviço de carsharing na nossa app, mas a prioridade é trotinetes e bicicletas elétricas, indo ao encontro dos nossos interesses e da sustentabilidade das cidades.
Desde agosto de 2020 têm em Lisboa um hub de serviços. Arrancou com 60 pessoas. A Uber abriu, entretanto, o seu centro também em Lisboa. Quais são os objetivos para esse hub?
Começou pequeno, mas neste momento já tem cerca de 130 pessoas. É uma aposta que a Free Now faz no nosso mercado, é um hub de excelência onde são fornecidos serviços tanto aos nossos motoristas, como clientes, para Portugal, França, Itália, Reino Unido e Irlanda. O objetivo será a consequência direta do quanto conseguimos crescer o nosso negócio e mais viagens conseguirmos fazer. Até ao final do ano, o objetivo é que o hub passe até às 150 pessoas.
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