Gás, luz, combustível e alimentação. Escalada de preços chegará ao bolso dos portugueses

Nos últimos dias, os preços dos combustíveis, da eletricidade, do gás e de alguns alimentos dispararam nos mercados internacionais. Mas quando e como é que vai começar a sentir no seu bolso?

Tem sido uma constante desde que a Rússia invadiu a Ucrânia: o barril de petróleo a atingir máximos, o gás em valores recordes, a eletricidade a escalar e o preço de vários alimentos a agravar-se. As notícias dão conta do que se passa nos mercados internacionais perante as sanções económicas do Ocidente à Rússia, mas quando e como é que se vão refletir no seu bolso? A repercussão é mais ou menos rápida, dependendo do produto em si, mas eventualmente chegará à sua carteira, com maior ou menor impacto.

Os preços de vários bens já tinham subido no final de 2021 por causa da retoma pós-pandémica, uma desajuste entre a oferta e a procura e disrupções nas cadeias de fornecimento. Porém, os especialistas esperavam uma progressiva normalização e moderação dos preços ao longo de 2022. Acontece que com o regresso da guerra à Europa essa perspetiva esfumou-se e, pelo contrário, os preços aumentaram ainda mais.

Comecemos pelo petróleo. O Brent está a negociar em Londres, que serve de referência para as importações portuguesas, acima dos 110 dólares, o que terá impacto no gasóleo e gasolina vendidos nos postos de combustíveis. Segundo o secretário-geral da Apetro, tendo em conta o funcionamento normal do mercado português, haverá “ajustes nos preços” novamente na próxima segunda-feira, com base nas cotações médias dos produtos refinados nesta semana. No início desta semana os preços da gasolina e gasóleo subiram mais de dois cêntimos.

Após ter atingido recordes no final de 2021, também no gás de botija a tendência é de subida por causa do conflito armado. Os preços do gás engarrafado são livres pelo que o impacto não deve tardar a chegar ao seu bolso, mas é de assinalar que desde o início da pandemia que a ERSE fixa preços máximos com base na evolução nos mercados. Em 2022, ainda não atuou.

Já o gás natural funciona como a eletricidade, existindo um mercado regulado com preço estabelecido pela ERSE e um mercado liberalizado onde o preço é definido pelos fornecedores de forma livre e em concorrência. Tal como acontece na eletricidade, a ERSE revê periodicamente (de três em três meses) as tarifas do gás no mercado regulado, pelo que um aumento pode estar para breve.

Eletricidade pode subir em breve, mas Governo tem medida para colmatar

No caso da eletricidade, o mercado não é tão rápido quanto os combustíveis ou o gás engarrafado. No mercado regulado, cujo preço é fixado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), pode haver uma atualização extraordinária trimestral (neste caso, para abril e depois em julho) quando há uma diferença significativa, segundo um comunicado divulgado em 2021: “Para evitar desalinhamentos excessivos com o mercado livre e a criação de desvios a recuperar posteriormente pelas tarifas, com consequências para todos os consumidores, trimestralmente, sempre que se verificar, face às estimativas da ERSE, um desvio do custo de aquisição do CUR igual ou superior a 10 EUR/MWh, a tarifa de Energia deve ser revista num valor fixo de 5 EUR/MWh, no mesmo sentido do desvio”.

Contudo, as medidas que o Governo está a planear, se chegarem a tempo, podem colmatar ou até evitar esta subida, segundo o Observador. É o caso dos 150 milhões de euros (equivale à receita adicional recebida pelo preço do carbono, fruto de se recorrer mais à produção de eletricidade através do gás natural) do Fundo Ambiental que vão ser usados para reduzir os custos de acesso à rede que constam da fatura da eletricidade. No ano passado, o Executivo fez o mesmo com 800 milhões de euros da “almofada” do Fundo Ambiental.

No caso do mercado liberalizado, a questão é mais complexa, podendo depender do fornecedor. Há casos em que o preço fixado é garantido durante um ano. Contudo, o comercializador pode alterá-lo consoante as oscilações dos preços no mercado, ainda que tenha de avisar com pelo menos 30 dias de antecedência. Segundo a ERSE, “durante a vigência do contrato de fornecimento de eletricidade ou de gás natural, o comercializador apenas pode propor alterações, incluindo sobre o preço, em situações excecionais e devidamente justificadas, que estejam previstas no próprio contrato“.

Energia, seca e guerra pressionam preços dos alimentos

Também na fatura do supermercado deverá sentir em breve o impacto da subida dos preços. Desde logo, o aumento do custo da energia — um dos principais fatores de produção na agricultura e pecuária — terá repercussões nos preços finais junto do consumidor, segundo os avisos das associações do setor. A este problema juntou-se recentemente o da seca severa ou extrema que Portugal vive, a qual afeta estes setores, nomeadamente aumentando o preço da ração (assim como de sementes e adubos). O Jornal de Notícias antecipava na semana passada que o agravamento dos preços iria ser superior ao de secas anteriores em Portugal.

Porém, a invasão russa na Ucrânia ainda veio piorar o cenário uma vez que estes dois países são dos principais fornecedores mundiais de cereais como o milho e o trigo, o que pressiona ainda mais as cotações destes bens nos mercados internacionais perante o perigo de disrupção das exportações russas e ucranianas por causa da guerra. Isso já é visível na evolução das commodities do setor alimentar.

Esta conjugação de fatores torna inevitável que, a prazo, a sua fatura de supermercado suba, dependendo dos produtos que consome. Contudo, não se sabe quando tal irá acontecer. Antes de a guerra começar, a 23 de fevereiro, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, dizia à Lusa que a subida dos preços estava “na ordem dos 10% nalguns casos”, referindo-se aos cereais, carne, arroz, massas, entre outros produtos.

Recorde-se que já no final do ano passado houve um aumento nos preços de alimentos como o bacalhau ou várias carnes — com a exceção da carne de porco –, assim como o azeite, o pão e hortaliças.

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