O dia em direto nos mercados e na economia – 13 de dezembro

  • ECO
  • 13 Dezembro 2024

Ao longo desta sexta-feira, 13 de dezembro, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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BCE “apazigua” discurso e deixa a porta aberta a novos cortes nas taxas de juro em 2025

O Banco Central Europeu retira do seu discurso menção a manter "taxas restritivas por tempo necessário", sinalizando assim uma maior flexibilização da política monetária no próximo ano.

Na última reunião do ano, na quinta-feira, o Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a cortar as taxas de referência em 25 pontos base, como era antecipado pelo mercado. Foi a quarta redução das taxas de juro este ano, após ter iniciado o novo ciclo de política monetária em junho com o primeiro corte. Ao mesmo tempo, anunciou uma revisão em baixa das perspetivas de crescimento e da inflação para este ano e o próximo.

No entanto, o maior destaque dos analistas foi para a ausência da frase “manter as taxas de juro suficientemente restritivas durante o tempo que for necessário“, que era comum encontrar nos vários comunicados do Conselho do BCE após mais uma reunião de política monetária. A palavra “restritividade” não desapareceu do léxico do BCE, mas o tom mudou.

Isso significa que está a manter a porta aberta para mais cortes nas taxas”, escreveu numa nota de research Carsten Brzeski, Global Head of Macro do ING.

A instituição liderada por Christine Lagarde salientou antes que “a restritividade das condições de financiamento está a diminuir, dado que as recentes reduções das taxas de juro decididas pelo Conselho do BCE estão a tornar gradualmente a contração de novos empréstimos menos onerosa para as empresas e as famílias“. Porém, deu nota de que “as condições de financiamento continuam a ser restritivas, porque a política monetária permanece restritiva e os anteriores aumentos das taxas de juro ainda estão a ser transmitidos ao stock de crédito em dívida“.

Pedro Brinca, professor na Nova SBE, refere que esta justificação do BCE vai ao encontro do que se pode ler nos livros de economia, em que “a política monetária demora 12 a 18 meses a ter efeito no mercado”, notando que “o que gera a inflação que temos atualmente não são as taxas de juro que temos hoje, mas as taxas que tínhamos há um ano.”

Hann-Ju Ho, economista sénior do Lloyds Bank, também considerou que a linguagem do BCE deixa “a porta aberta para novas reduções no Ano Novo“. Numa nota de research enviado aos clientes do banco inglês, o especialistas refere que, “embora a presidente Lagarde tenha reiterado a linha de política dependente de dados e de reunião a reunião, sem qualquer compromisso prévio com uma trajetória de taxa específica, os mercados aumentaram as já bastante agressivas expectativas de corte de taxa no primeiro semestre de 2025, mais próximos de 50 pontos base para janeiro e mais de 100 pontos base no total até meados de 2025 do que anteriormente.”

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Certo é que, na conferência de imprensa após a reunião do Conselho do BCE, Christine Lagarde revelou que a decisão de reduzir as taxas em 25 pontos base — colocando as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de depósito, às operações principais de refinanciamento e à facilidade permanente de cedência de liquidez em 3%, 3,15% e 3,40%, respetivamente — foi unânime, mas existiram “discussões sobre um corte mais agressivo de 50 pontos base”.

“A julgar pelos comentários de hoje, o BCE procura agora levar as taxas de juro para níveis neutrais, onde quer que esse nível neutro possa estar”, assinalou Carsten Brzeski.

No decorrer da conferência de imprensa, Lagarde revelou que as últimas projeções da equipa de analistas do BCE apontam para uma taxa de juro neutra entre 1,75% e 2,5%. Para o analista do ING existe um risco elevado das previsões macroeconómicas do BCE serem demasiado otimistas, pelo menos no curto prazo, pelo que “passar para uma posição neutral poderá não ser suficiente”.

“Por mais que o BCE tente apontar corretamente o dedo aos Governos para utilizarem reformas estruturais para melhorar as perspetivas de crescimento, com os problemas políticos em França e na Alemanha, o risco de que o banco ainda tenha de fazer o trabalho pesado é elevado, pelo menos durante os próximos meses. É por isso que esperamos mais cortes e chegaremos a 1,75% no próximo verão“, prevê.

O BCE estima que os países da moeda única vão crescer 0,7% em 2024, 1,1% em 2025 e 1,4% em 2026 e que a taxa de inflação se irá situar em 2,4% este ano, em 2,1% em 2025 e 1,9% em 2026. No entanto, as projeções ainda não incluem o eventual impacto da crise política em França ou as anunciadas tarifas do presidente norte-americano eleito, Donald Trump.

Segundo Dean Turner, economista-chefe da UBS Global Wealth Management para a Zona Euro e Reino Unido, o cenário aponta para que o BCE continue a reduzir as taxas em todas as reuniões até junho, levando a taxa de depósitos para 2%. “Na atual situação, os riscos inclinam-se no sentido de o BCE ter de fazer mais e não menos, para apoiar a economia em 2025. No entanto, é mais provável que isto resulte em novos cortes mais tarde em 2025 do que em movimentos maiores a curto prazo“, considerou.

A presidente do BCE alertou para o estado da economia europeia, notando que a recuperação “está a ser mais lenta do que o esperado” e que “o crescimento [económico] está a perder ímpeto”, uma vez que as exportações estão a ter um desempenho “fraco” e “as empresas estão a reter investimentos” devido à incerteza económica. Lagarde referiu também que o mercado de trabalho na Zona Euro continua resiliente, embora “a procura de mão-de-obra continue a enfraquecer”.

No que toca à inflação prevê que “flutue próximo do nível atual no curto prazo” e destacou que “a maioria das medidas de expectativas de inflação estão em torno de 2%”, o que é um sinal positivo.

Contudo, alertou que existem riscos tanto ascendentes como descendentes para a inflação. “Os riscos descendentes para a inflação incluem a baixa confiança, o stress geopolítico e o baixo investimento. Por outro lado, os salários, os lucros e a geopolítica estão entre os riscos ascendentes”, explicou.

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5 coisas que vão marcar o dia

Entre esta sexta-feira e domingo acontece o XXII congresso do PCP em Almada. INE e Eurostat divulgam dados económicos e o Bundesbank apresenta as previsões de crescimento e inflação da Alemanha.

A semana fecha com o anúncio do substituto de Michel Barnier no Matignon e as previsões do banco central alemão (Bundesbank) para a economia alemã até 2027. O Instituto Nacional de Estatística divulga indicadores da atividade dos transportes e o Eurostat dá conta de um conjunto de dados, nomeadamente sobre o volume de negócios na indústria referentes a outubro.

Eurostat apresenta dados da produção industrial

Nesta sexta-feira, o Eurostat vai divulgar um conjunto de dados sobre o volume de negócios na indústria referentes a outubro deste ano, assim como a propósito do mercado de trabalho e do fluxo de trabalho da União Europeia relativos ao terceiro trimestre de 2024. O gabinete de estatística da UE apresenta igualmente indicadores sobre as temáticas: veículos de passageiros (2023), poluentes atmosféricos e gases com efeitos de estufa até 2023.

INE divulga indicadores económicos

Já o Instituto Nacional de Estatística (INE) apresenta indicadores sobre a atividade dos transportes com estatísticas rápidas do transporte aéreo relativas a outubro deste ano, além de dados sobre as empresas em Portugal durante 2023. Serão igualmente conhecidas as estatísticas da produção industrial para todo o ano de 2023 e atividade turística de outubro.

Bundesbank apresenta previsões de crescimento e inflação da Alemanha até 2027

O Bundesbank apresenta, nesta sexta-feira, as previsões de crescimento e inflação da Alemanha até 2027. O Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha avançou 0,2% face no terceiro trimestre face ao anterior, evitando uma recessão técnica, que ocorre quando há uma queda da economia em dois períodos consecutivos. Mas recuou 0,2% no terceiro trimestre deste ano face ao mesmo período de 2023, de acordo com dados divulgados a 30 de outubro deste ano.

Macron anuncia novo primeiro-ministro

O presidente francês deve anunciar esta amanhã o nome do próximo ocupante de Matignon, residência do chefe de governo francês. No início da semana, Emmanuel Macron tinha previsto uma decisão sobre o substituto de Michel Barnier – que caiu há mais de uma semana depois de uma moção de censura na assembleia francesa – nas 48 horas seguintes, uma data que resvalou ligeiramente. Veja aqui quais os candidatos mais falados para o cargo.

Arranque do XXII Congresso do PCP

Entre esta sexta-feira e domingo decorre o XXII Congresso do PCP, em Almada, e em cima da mesa estará a discussão de um projeto de resolução política que foi aprovado na última reunião do Comité Central. O partido tem atualmente 47.612 membros, menos 2.348 do que em 2020, quando tinha 49.960.

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As “Sete Magníficas” vão continuar a dominar o mercado?

Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta Platforms (Facebook), Microsoft, Nvidia e Tesla representam um terço da capitalização das 500 empresas do S&P 500 e têm sido o grande motor de ganhos da bolsa.

Os fortes desempenhos bolsistas e as capitalizações bolsistas estratosféricas valeram-lhe o nome de Sete Magníficas. Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta Platforms (Facebook), Microsoft, Nvidia e Tesla têm sido o motor dos ganhos em Wall Street, ajudando as bolsas norte-americanas a continuarem sustentadamente em território de máximos históricos. Juntas representam cerca de um terço da capitalização bolsista do S&P 500, o maior índice bolsista do mundo. Olhando para o futuro, os analistas continuam a identificar valor, mas consideram que há quem possa fazer melhor, em 2025. Dentro e fora do setor tecnológico.

As sete cotadas — todas do setor tecnológico — apresentam valorizações, em 2024, que oscilam entre 18%, no caso da Microsoft, e uns estonteantes 180% da Nvidia. Enquanto o mercado como um todo treme perante receios de abrandamento quando sai um indicador abaixo das expectativas, a subida de taxas de juro, ou a ameaça de tarifas, na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições do passado mês de novembro, as “Sete Magníficas” mantêm o seu domínio em bolsa, segurando um forte desempenho, alicerçado nas boas expectativas para a evolução dos seus negócios, num momento em que a Inteligência Artificial é o grande catalisador do otimismo em torno das chamadas megacap.

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Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta Platforms (Facebook), Microsoft, Nvidia e Tesla valem hoje todas mais de um bilião de dólares em bolsa, com a Apple a manter-se na lista das mais valiosas, com um valor de mercado superior a 3,7 biliões, enquanto Microsoft e Nvidia disputam a segunda e terceira posição no ranking das mais valiosas, com capitalizações bolsistas que rondam os 3,4 biliões.

Contas feitas, as sete magníficas apresentam uma capitalização bolsista de cerca de 17,8 biliões de dólares, o que equivale a cerca de um terço dos 53,93 biliões de dólares a que estão avaliadas as 500 maiores empresas cotadas no índice norte-americano S&P500.

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Em termos de desempenho, o domínio destas sete megacapitalizações também é evidente. Segundo dados do Capital Group, desde o início de 2023 — período em que as Sete Magníficas ganharam visibilidade enquanto grupo –, apenas quatro das sete (Nvidia, Microsoft, Alphabet e Meta Platforms) representaram cerca de 40% do retorno do mercado norte-americano, até ao final de junho.

O otimismo em torno da Inteligência Artificial e as receitas robustas apresentadas pelo grupo das sete magníficas tem suportado a evolução destas ações, que seguem firmes apesar de notícias de investigações, no caso da Nvidia, processos que podem forçar a Alphabet a desmantelar negócios, ou do abrandamento chinês, que ameaça as vendas da Apple num dos maiores mercados da empresa da maçã.

Após este forte desempenho, que ofusca as restantes 493 empresas do índice S&P 500, os analistas antecipam crescimentos mais graduais e argumentam que os investidores devem olhar para outras oportunidades no mercado.

“Espera-se que as sete magníficas continuem a superar o resto do índice no próximo ano – mas apenas em cerca de sete pontos percentuais, a menor margem desse tipo em sete anos“, escreve David Kostin, analista de ações norte-americanas do Goldman Sachs, no seu outlook para 2025.

De acordo com as contas do especialista, o crescimento de resultados conjunto das sete é cerca de 33%, comparado com 3% do resto das empresas do S&P 500, mas esta margem vai reduzir-se.

A diferença no crescimento dos lucros entre as 7 magníficas e o S&P 493 diminuirá de cerca de 30 pontos percentuais este ano, para 6 pontos percentuais em 2025 e para 4 pontos percentuais em 2026.

David Kostin

Analista de ações do Goldman Sachs

O especialista explica que “o crescimento superior dos lucros das sete magníficas impulsionou o desempenho superior coletivo destas ações em comparação com o equilíbrio do índice S&P 500”, mas o consenso de expectativas prevê “que a diferença no crescimento dos lucros entre as sete magníficas e o S&P 493 diminuirá de cerca de 30 pontos percentuais este ano, para seis pontos percentuais em 2025 e para quatro pontos percentuais em 2026.”

Diferença entre o crescimento anual dos lucros das “magníficas” e o resto do S&P500 deverá baixar

Embora os lucros continuem a pesar a favor das sete magníficas, fatores macro como o crescimento e a política comercial inclinam-se para o S&P 493“, escreve o Goldman Sachs. Os especialistas afastam uma bolha nas avaliações destas mega capitalizações — que geram cerca de metade das suas vendas fora dos EUA, enquanto nas restantes empresas do S&P 500 esta percentagem baixa para 26% –, porém argumentam que há uma oportunidade para os investidores diversificarem a sua exposição a outras empresas, em 2025.

Alternativas no setor e fora

A Allianz GI é outra das gestoras que vê oportunidades nas tecnológicas fora do grupo das “magníficas”.As ações do setor tecnológico não estão baratas, mas excluindo algumas empresas do grupo “Magnificent Seven”, as avaliações não são excessivas”, defendeu Stefan Hofrichter, economista global e diretor do departamento de research macro do AllianzGI, na apresentação do outlook para 2025, sublinhando que “adicionamos ações tecnológicas em momentos de fraqueza em vez de as reduzir em períodos de força, e concentramo-nos em ações e subsetores com preços razoáveis e bom potencial de crescimento de lucros.”

Opinião idêntica tem a Amundi. “Identificamos oportunidades nas ações no S&P 500 [EUA], e no Japão e na Zona Euro”, refere Vincent Mortier, chief investment officer da Amundi, numa conferência onde a gestora de ativos apresentou as suas perspetivas para 2025. Já em relação às chamadas megacap, os especialistas da gestora francesa apontam “avaliações excessivas”, após anos de sucessivos recordes.

A forte concentração da bolsa neste grupo de empresas, cujas capitalizações bolsistas são cada vez mais elevadas, é outro dos problemas levantados pelos especialistas, destacando que a concentração é superior à registada na bolha das tecnológicas, no início dos anos 2000. “Ainda que elevadas, as avaliações das tecnológicas gigantes de hoje são consideravelmente inferiores às registadas nesse período [1999] e suportadas pelo forte crescimento de resultados“, diz o Capital Group.

“Existem muitas empresas de todos os setores nos mercados internacionais com negócios superiores, fluxos de caixa fortes e confiáveis ​​e potencial de crescimento de lucros. Acredito que os investidores estão a começar a reconhecer uma gama mais ampla de oportunidades”, aponta o gestor do Capital Group Gerald du Manoir, dando o exemplo da alemã SAP, que tem sido ofuscada pelas megacapitalizações norte-americanas.

Fora das tecnológicas, o Capital Group refere cotadas como a francesa Safran, que está a tirar partido da crescente procura global no setor do turismo.

Empresas com fortes políticas de remuneração acionista também merecem destaque por parte dos especialistas da gestora de ativos e que são apontadas como uma alternativa às “magníficas”.

Perante a pergunta se estão as megacaps destinadas a cair, Eric Stern diz que “não necessariamente, mas estou focado em descobrir os líderes de mercado de amanhã“, remata o gestor do Capital Group.

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Zurab Pololikashvili (Turismo da ONU) garante que o turismo já ultrapassou os efeitos da pandemia

  • Servimedia
  • 13 Dezembro 2024

A taxa de recuperação é de 95%, comparando os níveis atuais com os de 2019, “o ano com o maior número de turistas da história”.

O secretário-geral do Turismo da ONU, Zurab Pololikashvili, garantiu numa entrevista ao “Palco23” que o turismo já deixou para trás os efeitos da pandemia.

Numa análise da situação do setor do turismo, Pololikashvili salienta ainda que, até há relativamente pouco tempo, “a China estava fechada, sendo um dos maiores mercados turísticos do mundo”.

Enquanto durante o primeiro período pós-pandemia as viagens domésticas se tornaram mais importantes, uma vez que “os turistas não podiam sair dos seus países de origem”, em 2024 Pololikashvili antecipa um ano em que “o turismo internacional está a experimentar um aumento em relação ao turismo doméstico”.

O setor está a mostrar resultados positivos à escala global e uma tendência que também se reflete a nível local, onde os últimos dados do Conselho de Turismo preveem que Espanha feche o ano de 2024 com novos números recorde, atingindo 95 milhões de turistas recebidos, o que seria 11,7% mais do que em 2023.

IMPACTO ECONÓMICO

Zurab Pololikashvili quis também sublinhar o importante impacto económico da indústria do turismo, assegurando que há muitos países que vivem exclusivamente destes serviços e que “todos os dias há chefes de Estado que investem em infra-estruturas para atrair mais turismo”, um setor que “gera novos empregos e proporciona rendimentos às famílias”.

Apesar dos aumentos de preços entre 20% e 30% nos hotéis e nos transportes, o secretário-geral da agência especializada da ONU garante que “as reservas continuam a aumentar. A procura é muito maior do que a oferta.

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Mulheres, jovens e trabalhadores do turismo são os que mais ganham o salário mínimo

Um quinto dos trabalhadores ganha salário mínimo, sendo a incidência mais elevada entre mulheres e jovens. Há também 287 mil trabalhadores cujo mínimo é superior por via da negociação coletiva.

Se há apenas duas décadas menos de 10% dos trabalhadores portugueses recebiam o salário mínimo nacional, hoje a realidade é um tanto diferente. De acordo com um novo estudo divulgado esta sexta-feira pelo laboratório CoLabor, mais de um quinto dos empregados em Portugal ganham agora a retribuição mínima garantida, sendo a incidência especialmente elevada entre as mulheres, os mais jovens e os trabalhadores do alojamento, restauração e similares. Os especialistas alertam que as subidas do salário mínimo têm, sim, contribuído para mitigar as desigualdades, mas também para agravar a compressão entre salários.

Até 2006, a taxa de cobertura do salário mínimo nacional foi sempre inferior a 10%, e o número de trabalhadores abrangidos nunca ultrapassou as 200 mil pessoas. O aumento do valor deste instrumento em 2007 implicou o aumento dos dois indicadores em causa nos anos seguintes“, começa por sublinhar o estudo, que será apresentado esta manhã pelo investigador Frederico Cantante, numa conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Depois de um período de relativa estabilidade (coincidente com os anos em que o salário mínimo esteve congelado), a incidência da retribuição mínima garantida voltou à trajetória ascendente em 2014, como mostra o gráfico abaixo. Já os dados mais recentes, que dizem respeito a 2022, apontam para 552 mil trabalhadores do setor privado a receber o salário mínimo nacional, o equivalente a 22,4% dos empregados, ou seja, mais de um quinto.

Mas há grupos de trabalhadores que registam maior incidência do vencimento mínimo do que outros. Há, desde logo, uma diferença entre géneros: 19% dos homens empregados recebem esse mínimo mensal, enquanto entre as mulheres a taxa de cobertura é de 26,5%.

Há também um fosso pertinente entre as faixas etárias. “[A incidência] é mais elevada entre os trabalhadores mais jovens (35,1%)”, identifica o novo estudo, referindo-se aos empregados com menos de 25 anos.

Em contraste, é na faixa etária dos 35 aos 44 anos, que a cobertura do salário mínimo nacional é menor (19,5%). Já acima dos 54 anos essa taxa volta a ser especialmente elevada (embora nem tanto quanto entre os jovens): 25%.

Por outro lado, o CoLabor menciona que a incidência da retribuição mínima garantida é particularmente expressiva em “certas atividades económicas”, com o setor do turismo (alojamento, restauração e similares) à cabeça. Nesse caso, a cobertura é de 38,3%.

Em destaque, estão ainda a agricultura e pescas e as outras atividades de serviços, com 37,3% e 33,4%, respetivamente, dos trabalhadores a receberem o mínimo fixado na lei.

Veja-se, a título ilustrativo, que o valor do salário mínimo real em 2014 era semelhante ao de 1980 e inferior ao estatuído em 1974 e 1975.

CoLabor

Convém lembrar que o salário mínimo nacional em Portugal foi uma conquista do 25 de Abril, como notou aqui o ECO, e, à exceção do período entre 2011 e 2014, “teve sempre atualizações anuais”. No entanto, o montante pouco variou em termos reais “num arco temporal alargado”, assinala o estudo referido. “Veja-se, a título ilustrativo, que o valor do salário mínimo real em 2014 era semelhante ao de 1980 e inferior ao estatuído em 1974 e 1975“, é realçado.

E continua: “Em 2024, o salário mínimo situou-se em 820 euros, um aumento nominal de 335 euros em relação a 2014. Ajustando o valor do salário mínimo à inflação, constata-se que, entre 2014 e 2023, o aumento foi de 159 euros, o que corresponde a uma variação real de 32,5%“.

Há, no entanto, trabalhadores que beneficiam de um mínimo mais generoso por via da negociação coletiva. Em 2023, 160 das convenções coletivas publicadas previam uma remuneração mínima superior ao salário mínimo nacional, abrangendo 287.276 trabalhadores.

Quanto ao impacto do salário mínimo no mercado de trabalho nacional, os investigadores do CoLabor referem um efeito de dentada e outro de arrastamento. “O salário mínimo tem um efeito de mitigação da desigualdade devido ao facto de os trabalhadores que teriam salários abaixo do salário mínimo verem a sua retribuição ‘engolida’ por esse limiar mínimo (bite effect), mas também através do efeito de arrastamento (spillover effect) verificado noutras latitudes da estrutura de distribuição dos salários”, salienta o estudo.

Já quanto ao risco da subida do salário mínimo levar a aumento do desemprego, os investigadores esclarecem que “tal não se verificou em Portugal no período do pós-Grande Recessão”.

“Múltiplas precariedades”

Além dos “baixos salários”, o mercado de trabalho português padece também de uma “elevada incidência de múltiplas precariedades“, alerta o estudo que será apresentado esta sexta-feira.

Por um lado, há precariedade no que diz respeito aos vínculos contratuais, com cerca de um milhão de trabalhadores por conta de outrem do setor privado a terem contratos não permanentes. “Este valor é de 55% no setor das atividades administrativas e serviços de apoio e de 46% no alojamento restauração e similares”, salientam os investigadores.

E numa análise por municípios, há a realçar que em vários do Algarve e da Costa Vicentina a incidência da contratação não permanente chega a ser superior a 50%, “territórios particularmente expostos ao trabalho sazonal nas atividades económicas ligadas ao turismo e também à agricultura“.

“No interior do país, destacam-se os municípios de Cinfães e Valença, nos quais o valor deste indicador é de 71% (resultado mais elevado no país) e 59%, respetivamente”, lê-se ainda.

A isto, os investigadores do CoLabor somam os “fenómenos como os trabalhadores por conta própria economicamente dependentes (87,9 mil) e 11,5% das pessoas que não conseguiram encontrar um trabalho a tempo completo ou com um contrato permanente“.

Negociação coletiva está a cobrir menos pessoas

No que à negociação coletiva diz respeito, este novo estudo aponta que, embora o número de convenções coletivas publicadas (novas ou revistas) seja “elevado num período de cerca de duas décadas”, a abrangência é “comparativamente baixa”.

“Este facto está associado ao recuo dos contratos coletivos setoriais no conjunto das convenções publicadas. Se, em 2005, os contratos coletivos representavam 60% do total de convenções coletivas negociais, no ano de 2023 este valor recuou para cerca de 37%. Em sentido inverso, o peso dos acordos de empresa passou de 29% no primeiro período para 52% em 2023“, detalham os investigadores.

Em comparação com 2018, o contingente de trabalhadores estrangeiros quase que duplicou, situando-se, em 2022, em 322.028 trabalhadores.

Num outro capítulo, os especialistas realçam que os estrangeiros “têm vindo a ganhar peso” na população empregada. “Em comparação com 2018, o contingente de trabalhadores estrangeiros quase que duplicou, situando-se, em 2022, em 322.028 trabalhadores”, frisam, referindo também que o perfil escolar desta população tem mudado, com um reforço do ensino secundário e superior.

Já no que toca às habilitações globais do mercado de trabalho português, o estudo agora conhecido mostra que 25% dos trabalhadores que concluíram o ensino superior têm qualificações a mais para os empregos que exercem, sendo essa situação é mais elevada entre as mulheres (28,8%) e no turismo (58% no setor do alojamento, restauração e similares).

Por outro lado, Portugal é um dos países europeus em que se trabalham mais horas, o que é “negativo quando se analisa a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal ou o bem-estar subjetivo”, defende o novo estudo.

“Os dados apresentados nesta publicação demonstram que existem desigualdades vitais expressivas entre quem trabalha por turnos e quem tem um regime de prestação do trabalho normal“, é acrescentado. Por exemplo, entre quem trabalha por turnos, 43% declara ter dificuldades em adormecer ou insónias sempre ou com frequência, enquanto entre quem não trabalha nesse regime a fatia é de 26%.

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Fidelidade, Ageas e Tranquilidade dominam 70% dos seguros de saúde. Veja o ranking

Já a ultrapassar os 4 milhões de residentes em Portugal com seguro de saúde, as companhias vendem muito, mas têm tido prejuízos técnicos. Veja o ranking das seguradoras e dos prestadores de serviço.

Os residentes em Portugal com seguros de saúde já ultrapassaram os quatro milhões e a concentração nas principais marcas é evidente. O Observatório dos Seguros de Saúde, da responsabilidade do regulador dos seguros (ASF), indica que em 2023 existiam 3.920.390 residentes em Portugal beneficiários de seguros de saúde, repartidos por 25 companhias de seguros concorrentes.

Competição por clientes mas também por rentabilidade: Maria João Sales Luis, da Multicare, Eduardo Consiglieri Pedro da Médis, José Pedro Inácio da Advance Care têm de contar com José de Pina, da Futura Healthcare em onda crescente.

A seguradora Fidelidade conta com 33,3% das pessoas seguras, uma em cada três, a Ageas Seguros tem 24 em cada 100 e a Generali Tranquilidade, a que agora se junta a Liberty, segura 500 mil pessoas em todo o país. Isto significa que as marcas “pontas de lança” dos principais grupos em Portugal captaram sete em cada 10 segurados de saúde.

No entanto, não basta conquistar os clientes, é preciso mantê-los com serviço à altura do preço que pagam pelos seus seguros: uma média de 410 euros por ano, segundo cálculos realizados pela APS – Associação Portuguesa de Seguradores em setembro deste ano.

Para esse fim, as 25 seguradoras de saúde agrupam-se em sete empresas que asseguram o atendimento dos segurados, a relação e contratualização com os milhares de prestadores, desde os grandes grupos de saúde aos pequenos oculistas, e tratam cada segurado de acordo com a sua apólice específica, representando a companhia junto do cliente.

A Multicare, além de seguradora, é essencialmente uma gestora da rede de prestadores de serviços do grupo Fidelidade, trabalhando ainda a marca OK! Seguros.

Já a Médis presta serviços muito para além do grupo. A Ageas Seguros e a própria Médis contribuíram com 1,47 milhões de clientes, mas os restantes mais de 110 mil são clientes da CA Seguros, Zurich , Mapfre Gerais e Caravela.

A Advance Care pertence ao grupo italiano Generali, através da Europ Assistance, mas a Generali Tranquilidade que agora inclui a Liberty, representa pouco mais de metade dos 934 mil clientes que trata. Os restantes são segurados da MGEN, Mudum, Lusitania, Una, Planicare, Real Vida, Asisa e Cardif.

A Allianz optou por uma montar uma rede própria de prestadores de serviços e tem quase 270 mil segurados para tratar “em casa”. Tal como Bupa, uma mútua britânica, ligada aos expatriados. A RNA trata do seu negócio mas também da multinacional Chubb.

Finalmente a Future Healthcare está em expansão, com a sua marca própria Saúde Prime a fazer testes ao mercado, mas a gestão dos prestadores é dedicada à Victoria, uma pioneira em Portugal dos seguros de saúde, Aegon Santander e Prévoir Vie e agora vai desenvolver o negócio da nova MPS – Mútua Portuguesa de Saúde.

25 seguradoras a concorrer em seguros de saúde

Os seguros de saúde não conquistaram todas as companhias e, para muitas, são apenas apólices que têm de existir para satisfazer os clientes distribuidores e clientes finais. A verdade é que o mercado não parou de subir em clientes e, logo, no valor dos prémios cobrir, para além de alguma subida de tarifas. O facto é que adicionando os últimos cinco anos, de 2019 a 2023, os prémios de seguros totalizaram 5.572 milhões de euros mas, no mesmo período, o segmento provocou às seguradoras um milhão de euros de prejuízo técnico.

Daí que os grandes grupos – Fidelidade, Ageas e Generali – precisam de ter escala para terem algum benefício. Já a Allianz tem uma forte aposta no segmento com rede própria de prestadores, mas para a MGEN, a 5ª maior, e a Planicare, a 14ª, o negócio saúde é o seu único e a procura de dimensão é evidente.

Como estão ligadas a bancassurance, algumas seguradoras têm de contar com uma boa oferta para proporcionar aos clientes dos seus bancos parceiros, como é o caso da Aegon Santander, Mudum (Novobanco) , Lusitania (Montepio) e CA Seguros (Crédito Agrícola).

Finalmente, há seguradoras com um interesse relativo apresentando quotas de mercado no ramo saúde muito inferiores às suas quotas de mercado no total dos ramos Não Vida, como é o caso da Zurich, UNA e Caravela.

Já a superar os 4 milhões de segurados – segundo estimativa da APS – os seguros de saúde continuam a crescer proveitos, mas falta crescer lucros ou, pelo menos evitar os prejuízos. Em 2023 já os resultados técnicos foram positivos e em 2024 houve aumento de preços para compensar os maus anos de 2021 e 2022.

Nessa época recente, as seguradoras foram surpreendidas com aumentos inesperados de frequência de sinistros e dos seus custos, refletindo aumentos de salários nos prestadores de serviços e a subida generalizada de preços que só agora esta a atenuar.

Veja aqui o ranking das maiores seguradoras de saúde em 2023.

 

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Automóvel trava “campeão das exportações” pela primeira vez desde a pandemia

Quebra nas encomendas das construtoras alemãs chega às fábricas portuguesas, empurrando as vendas da metalomecânica para o vermelho. Moldes tentam suavizar perdas com saúde, embalagens e aeronáutica.

Há precisamente um ano, a indústria portuguesa de metalurgia e metalomecânica assinalava um novo recorde nas exportações, que totalizaram 24.017 mil milhões de euros em 2023. No entanto, o festejo teve um trago amargo, já que nos últimos cinco meses do ano passado já tinha registado quebras homólogas neste indicador. O novo ano não trouxe melhores notícias, pelo contrário, com a pressão a chegar sobretudo dos clientes do setor automóvel e dos principais clientes europeus.

A poucos dias de fechar o exercício, os industriais do setor mais exportador da economia nacional contam, na melhor das hipóteses, com uma estabilização da faturação no exterior. E para 2025 admitem mesmo uma quebra nas vendas no estrangeiro. Será a primeira desde a pandemia (2020) e apenas a segunda desde a crise financeira internacional, no já longínquo ano de 2009. Na última década duplicou o volume de exportações. Um ciclo que se prepara agora para interromper.


O recuo nas exportações em 2025 “será provavelmente o cenário mais realista”. “Não estou a ver como é que será melhor do que 2024. Durante este ano estivemos sempre ligeiramente abaixo dos valores de 2023, foi havendo alguma recuperação, mas vamos terminar em linha. Como este setor é bastante alinhado com o ciclo económico, com o fraquíssimo crescimento que a Europa acrescenta nesta altura será difícil fazer melhor”, reconhece ao ECO o presidente da associação empresarial do setor (AIMMAP), Vítor Neves.

É que além de saber o que se está a passar com a indústria automóvel na Alemanha – “é o primeiro grande choque em dezenas de anos e com a natural dificuldade que a economia alemã tem em se adaptar a essa volatilidade, está aí um grande risco” –, os industriais da metalurgia e metalomecânica também estão a “sentir o abrandar dos negócios” nos restantes setores a que estão expostos, como é o caso da construção civil, das infraestruturas e das máquinas e equipamentos.

Os principais clientes deste setor, que reclama o título de “campeão das exportações” estão em Espanha, que lidera a lista de destinos, seguidos da Alemanha, França – “não é uma preocupação tão grande, tem um problema de desequilíbrios macroeconómicos que se vão resolver com o tempo”, relativiza Vítor Neves –, Reino Unido e Estados Unidos. A maior economia do mundo poderia ser uma escapatória para a crise na Europa, mas o início de um novo ciclo político com Donald Trump vai trazer “ainda mais protecionismo” e dificultar as vendas para o outro lado do Atlântico.

Falências e perda de empregos

No segmento dos componentes automóveis, só nas últimas duas semanas soube-se que a Coindu vai fechar a fábrica em Arcos de Valdevez e despedir 350 pessoas; a espanhola Cablerías, outra fornecedora instalada no Alto Minho, avançou com um pedido em insolvência em Portugal, ameaçando 250 postos de trabalho em Valença; e a catalã Ficosa decidiu colocar os 900 trabalhadores da sua fábrica na Maia em lay-off devido à quebra nas encomendas. “Esses são os casos conhecidos porque são as maiores, mas há outras empresas mais pequenas em dificuldades”, reconhece o líder da AIMMAP.

Como o ECO noticia esta sexta-feira, a gigante Simoldes, produtora de plásticos e moldes para a indústria automóvel sediada em Oliveira de Azeméis, já admite avançar com despedimentos depois de este ano ter perdido mais de 100 milhões de euros de vendas devido à crise no setor automóvel. Na indústria portuguesa de componentes, composta por 350 empresas que faturam 15 mil milhões de euros e empregam 62 mil pessoas, a quebra das exportações até outubro aproxima-se dos 4%.

“Quando hoje todas as notícias indicam perda de trabalhadores na Europa, nós em Portugal estamos bastante preocupados em perder os trabalhadores porque as empresas fazem investimentos sérios na formação das suas equipas. São um ativo muito importante para conseguirmos ser competitivos e altamente produtivos. A produtividade é muito importante para demonstrarmos aos nossos clientes que estamos na frente”, refere José Couto, presidente da associação das fabricantes para o setor automóvel (AFIA).

Esta quinta-feira, à margem da conferência Portugal Exportador, que decorreu no Europarque (Santa Maria da Feira), o ministro da Economia disse estar a acompanhar com “o máximo de atenção” os recentes de despedimentos e lay-offs em empresas de componentes automóveis, sobretudo no Norte do país, mas reclama que não há “nenhuma evidência de uma onda de falências”. Pedro Reis contrapôs que o país deve “agarrar” as empresas que já cá estão e “construir um pacote de incentivos o mais agressivo possível para manter ou trazer novo investimento”.

Moldes amenizam perdas com saúde, embalagens e aeronáutica

Com os clientes automóveis a pesarem cerca de 80% no volume de produção total, que ronda os 750 milhões de euros, também a indústria portuguesa dos moldes “já está a sentir uma redução das encomendas”, relata ao ECO o diretor da associação do setor (Cefamol), sem conseguir ainda quantificar a dimensão da quebra. “Não somos isentos aos movimentos internacionais. Se isto será temporário ou não, e quanto tempo o ciclo vai demorar a alterar-se, não sabemos dizer”, completa.

Sobre o fecho de empresas e a perda de empregos no setor dos moldes, Paulo Ferreira Pinto responde apenas que “há uma enorme preocupação na otimização dos processos e no alcance de maior produtividade”.

“É uma obsessão de todas as empresas para conseguirem fazer face a uma redução de margens e a uma eventual menor facilidade comercial. Agora se isso será suficiente [para evitar despedimentos], só o tempo dirá”, reconhece o também CEO da Mold World.

Perante este cenário, as cerca de 400 empresas portuguesas do setor dos moldes, que asseguram perto de oito mil empregos, estão a “diversificar mais o tipo de produtos, a aumentar a complexidade dos produtos e a procurar nichos específicos para, de alguma maneira, manter a competitividade” junto dos clientes da indústria automóvel.

E, por outro lado, a procurar “alternativas” de fornecimento nas áreas dos dispositivos médicos, das embalagens ou da aeronáutica, que “podem, de alguma maneira, equilibrar” os negócios neste setor que exporta quase 90% da produção.

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Simoldes já admite despedimentos após perder mais de 100 milhões de vendas

Grupo de Oliveira de Azeméis, que fornece componentes para grandes grupos automóveis, prevê fechar o ano com quebra da faturação a rondar os 15%. Novas fábricas no México e Turquia ficam na gaveta.

A Simoldes, fornecedora de componentes para o Grupo VW (Volkswagen, Audi, Porsche, Seat, Škoda) e para a Stellantis (Citroën, Peugeot, DS Automobiles, Opel), entre outras grandes marcas automóveis, prevê fechar 2024 com uma quebra da faturação de 100 a 150 milhões de euros face ao ano anterior. Após mais um ano de abrandamento nas receitas e com o setor automóvel — no qual gera o grosso das suas receitas — em crise, a gigante industrial não descarta avançar com despedimentos, admitindo que esta é uma possibilidade em cima da mesa.

“Este ano [o grupo] irá reduzir a faturação”, admite ao ECO o comercial da Simoldes Tools, Jorge Leitão, adiantando que a redução, face aos 700 milhões faturados em 2023, “deverá andar entre menos 100 a 150 milhões de euros”, uma quebra justificada pelo travão no setor automóvel.

 

Face a esta perda de negócios, a Simoldes, que emprega mais de 6.000 pessoas, reconhece que a possibilidade de ter de avançar com despedimentos está em cima da mesa. “Neste momento ainda não se colocou em prática uma medida desse género. No entanto está a ser equacionada e estudada para a eventualidade de ser necessária”, admite Jorge Leitão.

O responsável refere ainda que, além dos colaboradores diretos que estão nos quadros, a empresa conta ainda com uma parte de colaboradores que trabalham em part time. “Portanto, a redução de volumes implicará também com a não necessidade de algumas pessoas”, reconhece, reforçando, porém, que “é política da casa evitar ao máximo [despedimentos] e não despedir”, procurando alternativas para “dar a volta à situação”.

Entretanto, num comunicado enviado ao ECO esta sexta-feira, fonte oficial do grupo industrial nortenho reforçou que “de momento não [antecipa] a necessidade de redução da força laboral da Simoldes”.

Quebra nas encomendas

Com 95% das receitas da unidade de injeção de peças em plástico geradas junto da indústria automóvel — um peso que supera os 80% no caso da construção de moldes —, a Simoldes já está a sentir o impacto da crise que o setor atravessa e que tem levado ao anúncio de vários encerramentos e medidas de lay-off.

“A parte do negócio que fornece as peças de plásticos aos construtores automóveis já está a sentir [um abrandamento de encomendas], em termos de redução dos volumes”, explicou Jorge Leitão. “Os volumes diários de produção dessas peças reduziram porque não se vendem carros e, logo, os construtores automóveis pedem menos quantidades“, acrescenta.

Temos de ir fazendo os investimentos com os pés na terra porque é preciso assegurar os postos de trabalho e as empresas que já existem.

Jorge Leitão

Comercial da Simoldes Tools

Já no setor dos moldes, o responsável da multinacional fundada em 1959 por António da Silva Rodrigues, refere que a empresa também tem sentido alguma regressão”, mas não nas mesmas proporções, uma vez que neste segmento de negócio, os projetos são negociados e têm de arrancar antes de os carros saírem para a rua. “Estamos a falar de três anos antes”, aponta Jorge Leitão.

“Como a venda de carros tem reduzido imenso, o que vai acontecer é que os próximos projetos que os construtores tiverem para avançar, para o próximo ano ou daqui a dois anos, seguramente também vão ser menos”, acrescenta o responsável da Simoldes, notando que as construtoras automóveis “como não vendem agora também vão investir menos e vão atrasar as decisões de lançamento de outros veículos.”

 

Com 25 fábricas a nível global, a empresa — que exporta mais de 99% da sua produção e marca presença em países como Polónia, França, Alemanha, República Checa, Marrocos, Brasil e Argentina — reconhece que ao nível de novos mercados há “muito pouco para explorar, ou para adicionar”.

“O que temos estado a fazer é tentar estar cada vez mais próximo dos construtores automóveis numa fase muito mais avançada, ou seja, antes de os projetos serem decididos, de forma a poder aportar algumas soluções técnicas, alguma engenharia que se consiga traduzir num valor acrescentado ao produto e conseguir convencê-los a utilizar soluções turn key, em que possamos estar desde o início até à construção do molde, numa cadeia mais alargada”, explica o responsável, realçando que “isto demora tempo”.

Novos investimentos ficam na gaveta

A crise no setor automóvel está ainda a refrear novos investimentos, que mantém projetos de expansão na gaveta. “Temos alguns [projetos] que foram colocados na gaveta fruto deste abrandamento que já se nota há algum tempo — o ano passado já se sentiu algum abrandamento e este ano também”, explica Jorge Leitão, que antecipa que “o próximo ano e o seguinte serão mais complicados”.

“De todas as formas, esses business plans temo-los, sabemos onde os queremos utilizar, onde queremos investir, mas temos de o ir fazendo [estes investimentos] com os pés na terra, porque é preciso assegurar os postos de trabalho e as empresas que já existem. E quando as coisas estiverem melhor avançar”, refere o mesmo responsável da empresa de Oliveira de Azeméis.

Quanto aos projetos que ficam para já na gaveta, Jorge Simões explica que se tratam de investimentos relacionados “com fábricas no México e na Turquia, para poder estar próximo dos nossos clientes”.

(Notícia atualizada às 16h30 para acrescentar comunicado oficial do grupo)

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“Os alarmes inteligentes não são uma imposição do negócio, vêm da necessidade das pessoas”

  • ECO
  • 13 Dezembro 2024

Atualmente, um sistema de segurança também é uma ferramenta de acesso à informação, que tem a capacidade de monitorizar o dia a dia, correspondendo às necessidades personalizadas de cada indivíduo.

A inteligência artificial está a transformar o setor da segurança, tornando os alarmes mais inteligentes, personalizados e eficientes. Este avanço tecnológico não só responde às crescentes ameaças, como também aborda questões cruciais como a privacidade e a conveniência do consumidor, que foram discutidas durante a terceira edição da Prosegur Talks, no Estúdio ECO.

Miguel Trindade Rocha, Partner na Stinma e Presidente Executivo da OPCR, destaca que a Inteligência Artificial tem sido amplamente utilizada para potenciar ameaças, mas que agora deve ser explorada como ferramenta de combate. “É oportuno começarmos a utilizá-la para combater essas ameaças”, afirmou. No entanto, a adoção deste tipo de inteligência na área da segurança traz desafios, sobretudo na questão da privacidade.

João Carlos Carvalho, Diretor de Marketing da Prosegur Alarms, Miguel Trindade Rocha, Partner na Stinma e Presidente Executivo da OPCR, e Rogério Canhoto, Professor Universitário

Miguel Trindade Rocha alerta que muitas pessoas não compreendem os algoritmos nem quem está por trás deles, o que gera desconfiança. Para o Presidente Executivo da OPCR, é essencial melhorar a literacia dos utilizadores para evitar possíveis invasões.

IA e personalização

Rogério Canhoto, Professor Universitário, defende que a Inteligência Artificial vive de dados e, por isso, a sua personalização depende da matéria-prima disponível. O Professor explica que, hoje em dia, já se consegue criar scripts personalizados para o atendimento ao cliente com base na aprendizagem que foi feita com outros clientes. Esta personalização é aplicada tanto no marketing como na gestão de clientes, permitindo prever comportamentos e reduzir o churn (a perda de clientes).

"O grande próximo passo é deixarmos de trabalhar com interfaces físicas”

Rogério Canhoto, Professor Universitário

No campo da inovação, Rogério Canhoto acredita que a próxima grande evolução será a substituição de interfaces físicas por vocais. Tecnologias como Alexa já permitem ativar alarmes, trancar portas ou gerir sistemas de segurança de forma intuitiva. “O grande próximo passo é deixarmos de trabalhar com interfaces físicas”, refere.

Para além da segurança

João Carlos Carvalho, Diretor de Marketing da Prosegur Alarms, sublinha que a procura por alarmes inteligentes não é imposta pelo negócio, mas sim pela necessidade dos consumidores. “No mundo dos alarmes, o que está a acontecer é que as pessoas querem serviços inteligentes e querem-nos em modo self-service”, acrescenta.

João Carlos Carvalho refere que construíram a sua própria aplicação com um conjunto de ações inteligentes. “Hoje, com o nosso alarme, podemos identificar e fazer o reconhecimento inteligente de pessoas que entram dentro de um espaço, que pode ser a nossa casa ou empresa. Podemos querer reconhecer pessoas da família, animais, eventos climáticos…”, explica.

Este já não é um sistema só de segurança, mas também é uma ferramenta de acesso à informação que consegue monitorizar o nosso dia a dia. Contudo, cada dispositivo conectado representa um ponto potencial de falha, reforçando a necessidade de confiar no ecossistema de segurança que é gerido em coparticipação com o cliente.

Outro ponto crítico são os falsos eventos, que podem ser ativados por múltiplas razões, como as variações de luz ou de calor. “Geramos mais de um milhão de eventos por ano”, afirma João Carlos Carvalho, explicando que a Inteligência Artificial pode ser fundamental para detetar padrões e reduzir erros.

Assista ao vídeo completo aqui:

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Qualidade, especialização e valor acrescentado são essenciais para exportar

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  • 13 Dezembro 2024

Oportunidades e desafios, e a experiência de quem já faz negócios com países como Japão, França, Estados Unidos e Brasil estiveram em debate na 4ª edição da Expo Fish.

Portugal tem o maior consumo de pescado per capita da União Europeia (EU) – 59 quilos por habitante -, três vezes superior à média dos 27 estados-membros, mas as capturas em águas nacionais apenas satisfazem 29% das necessidades. Ainda assim, a exportação de pescado fresco e congelado tem crescido ao longo das últimas décadas, e os players do setor acreditam que o potencial exportador do país está longe de estar esgotado. No entanto, defendem, “é preciso fazê-lo com valor acrescentado”.

“Temos que unir esforços para fazer coisas diferentes”, alertou Manuel Tarré na abertura da 4ª edição da Expo Fish. Para o presidente da ALIF (Associação Nacional da Indústria pelo Frio e Comércio de Produtos Alimentares), que, na sua apresentação elencou um conjunto de desafios globais para o setor do pescado, entre os quais a redução global da quantidade de peixe no mar, disse ainda que Portugal tem a possibilidade de tirar partido da inovação ao serviço dos produtos com origem no mar. Ao nível da sustentabilidade, exemplifica, “é também possível melhorar muito, reduzindo a pegada de carbono do setor, e introduzindo uma maior circularidade na vertente industrial”.

Japão absorve 90% das exportações de pescado fresco

Em 2022, Portugal exportou 5,78 milhões de euros de pescado com destino ao Japão, um mercado que, de acordo com Miguel Garcia, absorve 90% do pescado fresco português. No entanto, e apesar do potencial de crescimento do produto nacional naquele mercado, o diretor da delegação do AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) no Japão, alerta para as suas especificidades. “O mercado japonês requer investimento e planeamento a longo prazo, tem processos de decisão lentos porque precisa de criar confiança nos fornecedores”. Ainda assim, o responsável pelo AICEP, recomenda que o primeiro passo seja a criação de parcerias, cujo contacto poderá ser iniciado com a ajuda daquela agência, nomeadamente através de missões japonesas a Portugal, por exemplo.

“O mercado japonês precisa de tempo, de namoro”, acrescenta Bernardo Amaral. O responsável pelo Pavilhão de Portugal na Expo Japão 2025 relembra, contudo, a relação de excelência entre os dois países, com mais de cinco séculos, o que reforça a confiança de que os empresários japoneses necessitam. Um dos objetivos de Portugal na Expo Japão é, garante, “dar a conhecer ainda melhor o que o nosso país pode oferecer”.

Sérgio Faias, presidente do Conselho de Administração da Docapesca

Este evento, que decorre entre abril e outubro do próximo ano, é “uma grande oportunidade de levar ao Japão o que de melhor se faz em Portugal no setor do pescado”, defende Sérgio Faias. O presidente do Conselho de Administração da Docapesca recorda o nível de exigência dos japoneses, que valorizam a qualidade, e reforça a importância de olhar para a Expo Japão como “uma porta de entrada e uma montra para mostrar a qualidade dos produtos portugueses”.

França: “se não tivermos produtos de qualidade não entramos no mercado”

O mercado francês é o maior consumidor de ostras do mundo, o que gera oportunidades para os produtores nacionais, como refere Francisco Avelelas. O presidente da Associação Portuguesa de Aquacultores alerta, contudo, para a importância da qualidade. “Se não tivermos produtos de qualidade não entramos no mercado”, afirma, salientando igualmente o peso de uma boa comunicação e de uma imagem de prestígio. O responsável fala com conhecimento, uma vez que, durante vários anos, os produtores de ostra nacional dependeram do mercado francês para escoar o seu produto. Hoje, revela, “a ostra portuguesa tem muito boa aceitação nos Países Baixos, Bélgica e Alemanha”. “Há um grande mercado a conquistar em França”, acrescenta José Gomes de Sá, apesar de reconhecer as dificuldades. Contudo, salienta o CEO da Lusopress, “é preciso promoção e persistência porque a qualidade faz o resto”.

"Há muitas oportunidades, desde que estejamos presentes em eventos e feiras”

José Ornelas, CEO da Ilha Peixe

Despertar a curiosidade com os produtos da Madeira em França é a meta de José Ornelas. Contudo, o CEO da Ilha Peixe, reconhece que existem algumas dificuldades logísticas que ainda é preciso ultrapassar. Para começar, a empresa madeirense estabeleceu parceria com uma empresa de pescado fresco e congelado, mas, defende o responsável, “há muitas oportunidades, desde que estejamos presentes em eventos e feiras”. Já José Correia, que trabalha há 40 anos com o mercado francês, sente uma dificuldade inversa. “Há pouco peixe para exportar em Portugal porque é consumido localmente”.

Espanha: “é um mercado ibérico diário”

Com presença em todos os portos de pesca espanhóis, a Gialmar vê o mercado do país vizinho como fundamental para o negócio da empresa, de raiz familiar, e que ali representa a sua marca há 32 anos. “É um mercado ibérico diário”, diz Bruno Coimbra, administrador da Gialmar que acrescenta: “com muito potencial de crescimento e dinâmica, e interessante para as empresas nacionais”.

"Devemos apostar em iniciativas comuns ibéricas para promover o consumo de peixe, por exemplo, junto dos mais jovens, que têm menos esse hábito”

Júlia Moreno, representante da Asociación de Empresarios Mayoristas de Pescados de Madrid

Pedro Barraco, diretor da Cadeia Agroalimentar da Mercadona, reconhece igualmente o potencial do mercado ibérico. A Mercadona compra bacalhau para as lojas nacionais, algo inédito até à entrada em Portugal, visto que em Espanha não existe este consumo, embora seja vendido em 2 lojas na Galiza perto da fronteira. Também o consumo de conservas é diferente nos dois mercados visto que em Portugal se vende mais atum do que em Espanha. O diretor da Cadeia Agroalimentar aponta a importância de uma visão ibérica ao relembrar o investimento de 200 milhões de euros numa plataforma logística em Portugal. Uma perspetiva semelhante à de Júlia Moreno, representante da Asociación de Empresarios Mayoristas de Pescados de Madrid. “Podemos e devemos reforçar os laços e as sinergias entre os dois países”, defende, recordando que em Espanha vende-se muito rodovalho português e muito peixe selvagem, também de águas nacionais. “Devemos apostar em iniciativas comuns ibéricas para promover o consumo de peixe, por exemplo, junto dos mais jovens, que têm menos esse hábito”.

Espanha é também um mercado importante e interessante para as conservas A Poveira que, como refere, Sofia Brandão, hoje exporta cerca de 70% da sua produção. A responsável pelos mercados externos de A Poveira (Grupo Finsa) revela que em 2023 a empresa faturou 125 milhões de euros fora de Portugal, maioritariamente em contexto europeu. “A Minerva é a marca para a internacionalização e muito bem aceite fora”, reforça.

Brasil e Estados Unidos são mercados preferenciais

Apesar de atualmente o Brasil não poder exportar pescado para a Europa é, ainda assim, um grande importador do pescado fresco e congelado nacional. “As pessoas gostam da gastronomia e dos produtos portugueses”, afirma Sílvio Carlos, representante da Secretaria do Desenvolvimento Económico do Ceará. No entanto, assegura, “é muito importante que o Brasil também possa exportar para a Europa”. Uma opinião partilhada por Arimar Filho, da Produmar, empresa que exporta 95% de atum para sushi e sashimi. “Desde 2018 que exportações do Brasil para a Europa estão barradas por questões políticas, e é preciso mudar isso”.

Em sentido inverso, as exportações portuguesas para o Brasil e para outros mercados da América Latina contam com grandes oportunidades, na opinião de Miguel Marques, Blue Economy International Advisor. “Há, na América Latina, uma muito baixa agregação de valor neste setor e Portugal possui esse grande ativo de agregar valor e deve tirar partido disso”, sublinha.

Já nos Estados Unidos, o reconhecimento da marca Portugal tem crescido ao longo da última década, muito por força do turismo norte-americano em terras lusas. Joshua Scherz, importador americano de conservas portuguesas, através da Bela Brand Seafood, reconhece que a aceitação dos produtos nacionais começou por ser desafiante, mas que hoje é fácil porque “a sardinha portuguesa é reconhecida pela sua qualidade e é simples contar a história de Portugal pela comida”. Nos últimos quatro anos, salienta, o consumo de comida enlatada cresceu 8% nos Estados Unidos, com o pescado a dominar. “O mercado da cavala e dos patês também está a crescer muito”, diz.

"Portugal tem um grande potencial de crescimento”

Carlos Moura, coordenador do AICEP nos Estado Unidos

Carlos Moura, coordenador do AICEP nos Estado Unidos, sublinha as oportunidades que os produtores nacionais podem explorar. O país é o maior importador de pescado do mundo e aqui “Portugal tem um grande potencial de crescimento”. O responsável sugere aos produtores nacionais que participem em mais eventos do outro lado do Atlântico, e que estabeleçam parcerias locais.

O custo do transporte é hoje, e na perspetiva de Luís Silvério, da empresa exportadora Luís Silvério & Filhos, um dos maiores obstáculos às vendas para o mercado norte-americano. Exportador de peixe fresco nacional, há quatro décadas, para Nova Jérsia revela que já vendeu mais do qua agora “porque os aviões eram maiores e diretos”. Está, atualmente, a expandir o negócio para Boston, com o objetivo de cativar o ‘mercado da saudade’, mas “é impossível ter um preço baixo devido aos custos logísticos”, lamenta.

A marca ‘O fantástico mundo das sardinhas’, da empresa Valor do Tempo, um projeto dirigido por Tiago Quaresma, chegou há cerca de um ano e meio ao mercado norte-americano, através da abertura de uma loja em Time Square. A aventura, revela, tem sido “muito boa” não apenas nas vendas da loja física, mas sobretudo no e-commerce que será, como revela, “a grande aposta” em terras do Tio Sam. “Portugal tem um património reputacional enorme que não estava a ser aproveitado”, salienta. Para o futuro estão previstas mais três ou quatro lojas que sirvam, essencialmente, de âncora para as vendas online.

Manuel Tarré, presidente da ALIF (Associação Nacional da Indústria pelo Frio e Comércio de Produtos Alimentares)

Em jeito de resumo e conclusão, um painel composto por Manuel Tarré, Rodrigo Souza (Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe), Paulo Mónica (Associação dos Industriais do Bacalhau), Francisco Avelelas, e João Zorrinho (AICEP), deixou algumas importantes mensagens à plateia e aos players do setor. “Temos que ser exigentes, mudar mentalidades e focar na excelência”, disse Francisco Avelelas. “Precisamos de pessoas que façam a diferença”, acrescentou Manuel Tarré referindo-se aos líderes que é preciso “que saibam o que fazem e que compreendam o mercado”. Além disso, é fundamental comunicar, mostrar o que vale o país, estar nos sítios certos e acrescentar valor. O sucesso, esse, surgirá naturalmente.

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JinkoSolar atinge recorde histórico de 300 GW de módulos solares

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  • 13 Dezembro 2024

A JinkoSolar atingiu o marco de 300 GW de módulos fornecidos globalmente, impulsionada pelo sucesso do Tiger Neo, o módulo tipo N mais vendido em 2023 e 2024.

A JinkoSolar anunciou que atingiu o marco significativo de fornecer 300 GW de módulos em todo o mundo desde 2011, tendo a empresa sido anteriormente também a primeira no setor a atingir os marcos de 100 GW e 200 GW.

O último marco deve-se, em grande parte, ao facto de o produto Tiger Neo tipo N da Jinko se ter tornado o módulo mais vendido do mundo em 2023 e 2024.

Em 2023, a TOPCon de tipo N entrou no mercado principal com o lançamento da série Tiger Neo da JinkoSolar, que se tornou o produto de tipo N mais popular do mundo, com vendas acumuladas a nível mundial de cerca de 140 GW até ao final de novembro de 2024.

Em 2024, a JinkoSolar também expandiu as suas fábricas internacionais. Em março, foi anunciada a criação da primeira fábrica de joint-venture na Arábia Saudita, com uma capacidade de primeira fase de 10 GW de células TOPCon e 10 GW de painéis.

Ao permitir que mais parceiros, clientes, investidores e partes interessadas se juntem ao seu ecossistema em todo o mundo, a JinkoSolar está a acelerar a transição mundial para a energia solar sustentável de uma nova forma.

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