Os poderes de Marcelo: nomeia novo Governo ou convoca eleições antecipadas

O Presidente da República fala ao País na próxima quinta-feira depois de ouvir partidos e Conselho de Estado. O mais certo é optar pela dissolução do Parlamento e uma nova ida às urnas.

Com a demissão do primeiro-ministro, António Costa, já aceite pelo Presidente da República, todo o elenco governativo também cai. Agora, Marcelo Rebelo de Sousa pode tomar uma de duas decisões: ou mantém a Assembleia da República, eleita nas legislativas de 2022, e convida o PS a formar um novo Governo – situação que nunca se verificou em Portugal – ou dissolve o Parlamento e convocação eleições antecipadas. Na próxima quinta-feira, o Chefe do Estado fala ao País depois de ouvidos os partidos com assento parlamentar e o Conselho de Estado.

O mais certo será optar por uma nova ida às urnas não só porque o primeiro-ministro demissionário já deixou claro que não se recandidata, mas também porque Marcelo já tinha avisado que uma eventual saída de Costa para Bruxelas resultaria em eleições antecipadas.

“Agora que ganhou, e ganhou por quatro anos e meio, tenho a certeza de que Vossa Excelência sabe que não será politicamente fácil que essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições possa ser substituída por outra a meio do caminho”, afirmou Marcelo na cerimónia da tomada de posse do Governo, em março de 2022.

Para além disso, o procedimento formal adotado por Marcelo de ouvir os partidos e o Conselho do Estado é um requisito para a dissolução do Parlamento, segundo a Constituição. Mas antes de tomar esta decisão, tem de ser publicado o despacho da demissão do Governo. Até lá, “o atual Executivo continua na plenitude das funções”, revela ao ECO o constitucionalista Jorge Pereira da Silva.

Orçamento do Estado para 2024 cai com demissão mesmo sem ida às urnas

Tendo em conta a rapidez com que o Presidente quer ouvir partidos e Conselho do Estado, o mais provável é que o diploma da exoneração saia em Diário da República já nos próximos dias, ainda que não exista um prazo legal. Com a sua publicação, “todas propostas de lei, incluindo a do Orçamento do Estado para 2024 caem”, de acordo com o constitucionalista Jorge Bacelar Gouveia.

“As propostas de lei e de referendo caducam com a demissão do Governo”, de acordo com o n.º6 do artigo 167 da Constituição da República Portuguesa. “Até porque não se poderia entender que este instrumento, que é próprio da governação, fosse imposto a um governo que resulte de um processo eleitoral novo”, esclarece o constitucionalista Fernando Condesso.

A questão coloca-se porque o Orçamento de Estado (OE) já foi aprovado na generalidade. Contudo, explicam Bacelar Gouveia e Condesso, o OE ainda não foi aprovado em votação final global, ou seja, ainda é uma proposta de lei do Governo.

Para além disso, o Governo fica em regime de gestão até nomeação de um novo Executivo ou dissolução do Parlamento. Neste enquadramento, o Executivo encontra-se limitado “à prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”. Cabem, nesta interpretação, “a aprovação do aumento do salário mínimo, por exemplo, ou outros processos que já estejam em fase de conclusão”, refere Jorge Moreira da Silva.

Já a privatização da TAP cai completamente por terra, não só “porque o Presidente da República já tinha vetado o decreto-lei que enquadra os termos da venda da companhia aérea, mas porque também é uma opção muito contestada politicamente, ou seja, está longe dos atos estritamente necessários”, segundo o mesmo especialista em Direito Constitucional.

Não há prazos quer para a publicação do decreto da demissão quer para a nomeação de um novo Governo ou dissolução do Parlamento. Porém, tanto Marcelo como Costa parecem estar com pressa. O primeiro-ministro quer “encerrar esta etapa da vida”, o mesmo é dizer que não pretende manter-se em funções durante muito mais tempo.

E o Presidente comunica a sua decisão aos portugueses já esta quinta-feira, depois de consultar os partidos com representação parlamentar e o Conselho do Estado, um requisito obrigatório para a dissolução do Parlamento, de acordo com a Constituição.

A Assembleia não pode ser dissolvida “nos seis meses posteriores à sua eleição, no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a vigência de estado de sítio ou de estado de emergência”, segundo a Lei Fundamental. Mas estes são cenários que não se colocam neste momento.

Eleições antecipadas têm de se realizar no prazo máximo de 60 dias após dissolução

Então qual o deadline que Marcelo tem de cumprir? “As eleições antecipadas, convocadas pelo Presidente, têm de se realizar a um domingo, entre 55 a 60 dias após a dissolução do Parlamento“, salienta Jorge Moreira da Silva, citando a Constituição e a Lei eleitoral para a Assembleia da República.

“Se o Presidente dissolver a Assembleia da República nos próximos dias, têm de se contar cerca de dois meses para as eleições, depois mais três semanas para a instalação do novo parlamento e mais duas semanas para a aprovação do programa do Governo, ou seja, só teríamos Governo daqui por três meses e meio, em meados de fevereiro“, exemplifica Jorge Bacelar Gouveia.

Só depois o Executivo iria então apresentar um novo Orçamento do Estado (OE) para 2024 que teria de ser novamente debatido e votado pela Assembleia da República. Ou seja, só lá para meados do ano haveria um OE, cenário idêntico ao que Portugal viveu no ano passado, na sequência do chumbo do OE para 2022 e consequente dissolução do Parlamento e convocação de eleições antecipadas. Assim e até novo OE, a despesa pública nacional irá viver em duodécimos de acordo com o orçamento para este ano.

O Presidente da República já dissolveu o Parlamento oito vezes. Ramalho Eanes (1976-1986) dissolveu a Assembleia três vezes: em setembro de 1979, em fevereiro de 1983 e em julho de 1985.

Mário Soares (1986-1996) utilizou uma vez a “bomba atómica”, em abril de 1987. Jorge Sampaio (1996-2006) dissolveu duas vezes a Assembleia da República, em janeiro de 2002 e em dezembro de 2004. Aníbal Cavaco Silva (2006 a 2016) dissolveu uma vez o Parlamento, em abril de 2011.

E Marcelo Rebelo de Sousa, eleito pela primeira vez em 2016, usou esse instrumento em 2021, na sequência do chumbo do Orçamento do Estado para 2022.

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O que acontece com o Orçamento do Estado após a demissão de Costa?

Após a demissão de António Costa, caso o Presidente decida dissolver o Parlamento, o Orçamento do Estado para 2024 fica sem efeito. Maioria das medidas não avança.

O primeiro-ministro demitiu-se, após ser “surpreendido” com uma investigação autónoma pelo Supremo Tribunal de Justiça por causa dos negócios do lítio e do hidrogénio verde. É ainda incerto qual será o cenário a seguir, já que o Presidente da República só vai falar ao país na quinta-feira, depois de reunir com os partidos e o Conselho de Estado. No entanto, o mais certo é que o Orçamento do Estado para 2024, que ainda estava sob apreciação na Assembleia da República, fique pelo caminho – e com ele, algumas das medidas mais emblemáticas, como a redução do IRS ou o aumento do IUC.

Existem agora alguns cenários, sendo que Marcelo Rebelo de Sousa pode decidir demitir o Governo mas manter a Assembleia. Mas pode também decidir dissolver o Parlamento e convocar eleições, sendo que aí o Orçamento do Estado não avança e o país fica em duodécimos.

O que isto significa é que se pode gastar o máximo de 1/12 por mês do total orçamentado para 2023 – ou seja, tem disponível para gastar o mesmo que teve no ano anterior.

O Orçamento para 2024 apenas tinha sido aprovado na generalidade, com os votos a favor do PS, abstenção do PAN e Livre e voto contra dos restantes. Estava agora na fase de especialidade, com as audições dos vários ministros, ao que se seguia a votação das propostas de alteração e toda a proposta do Governo, culminando na votação final global a 29 de novembro. Agora, a evolução do processo é incerta, sendo que falta ainda perceber os timings que Marcelo Rebelo de Sousa vai determinar para a saída de António Costa – e, consigo, dos restantes membros do Governo – e a eventual dissolução do Parlamento.

Se o Presidente dissolver apenas depois da votação final global, existem dúvidas sobre se o Orçamento pode entrar em vigor – isto segundo o entendimento de alguns constitucionalistas, bem como do coordenador da UTAO, Rui Nuno Baleiras, segundo declarações à Lusa. No entanto, Jorge Bacelar Gouveia e Fernando Condesso destacam, ao ECO, o artigo 167º da Constituição da República Portuguesa que indica que “as propostas de lei e de referendo caducam com a demissão do Governo“, pelo que a proposta de Orçamento deveria caducar também com a queda do Governo.

Nesse caso, há várias bandeiras do OE que não vão avançar, pelo menos por agora. É o caso da redução de IRS, no valor de 1.300 milhões de euros, ou o reforço do IRS jovem. O aumento do IUC e de vários impostos indiretos, com destaque para as bebidas alcoólicas e do tabaco, também fica “congelado”, já que são questões que têm de ir ao Parlamento para serem aprovadas.

O OE previa ainda um reforço do abono de família, com um aumento de 25% a 30%, bem como a internalização do apoio de 15 euros por criança ou jovem. Além disso, estava também previsto o alargamento da gratuitidade das creches para as crianças que ingressam até ao 3º ano de creche, em setembro de 2024.

Estava adicionalmente previsto o alargamento da gratuitidade das creches para as crianças que ingressam até ao 3º ano de creche, em setembro de 2024. Esta medida abrange a rede do setor social e solidário, e complementarmente o setor lucrativo, tendo um universo de beneficiários de 120 mil crianças.

Para as empresas, grande parte das medidas assentava também na área fiscal e ficam agora dependentes de nova aprovação. Estavam previstas mudanças nos incentivos à capitalização e nas regras dos benefícios fiscais ao investimento, bem como a redução das tributações autónomas na compra de viaturas e a isenção de IRS e de descontos para a Segurança Social na distribuição de lucros aos trabalhadores e também na renda da casa paga pela empresa.

A taxa de IRC das startups ia baixar para 12,5% em 2024, além de que o Governo ia alargar o regime fiscal aplicável às stock options (pacote de ações atribuído pelas empresas) aos membros de órgãos sociais e estende-o às entidades que tenham criado esse plano “no ano da sua constituição ou no primeiro ano de atividade”. Estas medidas, caso avance a dissolução, ficam sem efeito até um novo orçamento ser aprovado.

Por outro lado, há medidas que apesar de terem impacto orçamental e serem mencionadas agora, podem avançar mesmo sem um Orçamento do Estado em vigor. É o caso do aumento das pensões, que depende da lei e não do orçamento – já que o Governo se comprometeu ao cumprimento da fórmula de atualização das pensões.

Outro caso é o aumento do salário mínimo, que poderá avançar porque é determinado por decreto do Governo – ainda que não seja completamente certo. A questão também se colocou em 2022, quando tinha sido chumbado o Orçamento em outubro de 2021, e foi possível o aumento entrar em vigor a 1 de janeiro de 2022. No próximo ano, a remuneração mínima estava prevista subir para 820 euros.

É de salientar, no entanto, que o Governo não vai estar (em princípio) na mesma situação que na altura, já que não houve demissão em 2021, mas apenas a dissolução. Desta vez, será um governo em gestão, que tem poderes limitados. O que diz na Constituição é que “o Governo limitar-se-á à prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos”, sendo que a interpretação destes poderá ser flexível. No entendimento do constitucionalista Jorge Pereira da Silva, o Governo poderá aprovar este decreto, até porque é um processo na fase final e já teve acordo na concertação social.

Uma questão diferente são os aumentos da Função Pública, sendo que tudo dependerá da disponibilidade orçamental. O Governo poderá gastar 1/12 do orçamentado em 2023, sendo que foi um ano em que para além da atualização anual, houve um aumento intercalar pelo que poderá existir margem para pagar os salários.

No ano passado, o Governo decidiu mudar a lei orçamental para que fosse possível pagar o subsídio de férias aos funcionários públicos, mesmo que sem um novo Orçamento do Estado para 2022 em vigor. De salientar também que o Governo chegou a incluir no regime transitório dos duodécimos uma exceção às verbas do Plano de Recuperação e Resiliência. Mas tudo dependerá do espaço de manobra, dependendo da situação do Governo que acabar por ser decidida.

É de sinalizar que se se avançar para a dissolução do Parlamento, as eleições legislativas antecipadas têm de se realizar nos 60 dias seguintes à data da dissolução. Existe também outra condicionante no próximo ano, que se prende com as eleições europeias, que estão marcadas para junho.

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5 coisas que vão marcar o dia

Esta quarta-feira, o Presidente da República convocou os partidos políticos para debater a crise política. Serão conhecidos dados do emprego e do comércio a retalho. Há reunião do Eurogrupo.

Esta quarta-feira, o Instituto Nacional de Estatística divulga os dados do emprego, enquanto o Eurostat publica dados sobre o comércio a retalho. No plano político, o Chefe de Estado vai ouvir os partidos políticos para debater a crise política e há reunião dos ministros das Finanças da Zona Euro.

Marcelo recebe partidos para analisar crise política

O Presidente da República convocou os partidos políticos com assento na Assembleia da República para debater a crise política desencadeada pela demissão do primeiro-ministro. António Costa demitiu-se depois de saber que é visado numa investigação autónoma pelo Supremo Tribunal de Justiça por causa dos negócios do lítio e do hidrogénio verde. Em causa estão suspeitas de crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.

Como evolui o emprego?

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga esta quarta-feira os dados do emprego referentes ao terceiro trimestre deste ano. De acordo com o gabinete de estatísticas, 30,7% dos desempregados do primeiro trimestre arranjaram emprego no segundo trimestre, isto é, o fluxo mais elevado desde o terceiro trimestre de 2021.

Eurostat divulga dados sobre o comércio a retalho

O Eurostat divulga esta quarta-feira um conjunto de indicadores que permitem conhecer melhor a realidade económica europeia. Por um lado, publica os dados sobre os preços da produção industrial referentes a setembro, como do comércio a retalho no mesmo mês. Por outro lado, serão ainda conhecidos dados sobre o turismo e da produção no setor dos serviços.

Ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se em Bruxelas

Os ministros das Finanças da Zona Euro vão reunir-se esta quarta-feira em Bruxelas, tendo em vista analisar a “evolução macroeconómica mais recente, incluindo a inflação, e as eventuais implicações para a coordenação orçamental”, segundo consta no site do Conselho Europeu.

Presidente do Banco Federal da Alemanha discursa

O presidente do Banco Federal da Alemanha vai discursar no seminário do Centro Europeu de Economia e Finanças. Joachim Nagel deverá debruçar-se sobre as perspetivas económicas e monetárias na Zona Euro.

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Sem novo Orçamento e com incerteza política, economia fica sob pressão

Queda do Governo pode penalizar a economia no curto prazo, mas economistas afastam impacto significativo. Instabilidade política após as eleições preocupa.

A queda do Governo surge numa altura em que a economia portuguesa já está em quebra. O PIB recuou 0,2% no terceiro trimestre e a crise política acentua a probabilidade de o país entrar em recessão técnica. Um Orçamento em duodécimos pode penalizar no curto prazo, mas os economistas desvalorizam um impacto mais severo. Há, no entanto, receios sobre a estabilidade política futura.

Com a queda do Governo, cai também a proposta de Orçamento do Estado para 2024 e com ela a descida do IRS já anunciada. O que na prática resultará num aumento do imposto. “Como vigoram as tabelas deste ano, com os aumentos salariais decididos entretanto, vamos ter uma subida de impostos, o que irá retirar gás à economia no curto prazo”, aponta Pedro Braz Teixeira, diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade.

“O Orçamento do Estado não vai ser aprovado. Vamos ficar em duodécimos, o que é problemático em tempos de inflação. Significará mais austeridade numa altura em que as famílias estão a sofrer com o aumento do custo de vida”, assinala Ricardo Cabral, professor de Economia do ISEG

Vamos ficar em duodécimos, o que é problemático em tempos de inflação. Significará mais austeridade.

Ricardo Cabral

Professor de Economia do ISEG

Ricardo Amaro, lead Economist para a Zona Euro da Oxford Economics, também considera que “os principais impactos de curto prazo estão relacionados com a proposta de Orçamento do Estado para 2024, que agora se arrisca a ficar na gaveta”. Mas mostra preocupação sobretudo com a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que “ficará novamente sob pressão”.

“O salto significativo estava previsto para o próximo ano e o pipeline de projetos aprovados parecia promissor (quase 12 mil milhões, excluindo pagamentos já feitos). Mas isto parece agora incerto”, escreveu numa publicação na rede social LinkedIn.

A atividade económica em Portugal está a ser penalizada sobretudo pela queda nas exportações. Segundo o INE, “o contributo da procura externa líquida para a taxa de variação em cadeia do PIB passou a negativo, após ter sido positivo no segundo trimestre, refletindo a redução das exportações quer de bens, quer de serviços, incluindo o turismo”.

Com a demissão do Governo aumentou a probabilidade de uma recessão técnica.

Pedro Braz Teixeira

Diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade

Para Pedro Braz Teixeira, “com a demissão do Governo aumentou a probabilidade de uma recessão técnica”, até porque “os indicadores do quarto trimestre já estavam mal antes da crise em Israel”.

O diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade considera que “a economia vai ser provavelmente prejudicada com a incerteza. Adiam-se decisões, sobretudo de investimento. É preferível fazer as despesas de investimento mais tarde, com mais clareza.” A execução do investimento público, já muito baixa, tenderá a perdurar com um Governo em gestão.

Impacto não será significativo

“Admitindo que o Presidente da República dissolve o Parlamento e vamos para eleições vamos ter de funcionar num regime de duodécimos. Já funcionámos assim em 2022 e não veio daí grande mal“, afirma a economista Vera Gouveia Barros.

O consumo privado até passou a ter um contributo positivo no terceiro trimestre e a economista salienta que “as estatísticas mostram que em muitos setores os salários já recuperaram do impacto da inflação”. Para Vera Gouveia Barros, “não é este episódio que altera a confiança dos consumidores e empresários“.

As estatísticas mostram que em muitos setores os salários já recuperaram do impacto da inflação.

Vera Gouveia Barros

Economista

Pedro Braz Teixeira aponta outra atenuante: “A covid-19, a guerra na Ucrânia, a guerra em Israel e agora a queda do Governo acontecem com a taxa de desemprego baixa. É muito diferente entrar em recessão técnica com o desemprego em mínimos ou o desemprego elevado“. Em setembro, a taxa de desemprego estava nos 6,5%, subindo ligeiramente face ao mês anterior.

O diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade também desvaloriza o impacto no PRR, sustentando que Portugal já recebeu da União Europeia bem mais do que já pagou. “Não há razões para dizer que não se está a executar o PRR porque não há dinheiro. O PRR não avança não é por falta de liquidez, mas por bloqueios administrativos”.

Na prática o Governo tem tido uma estratégia económica passiva. Limita-se a uma consolidação orçamental feita ao sabor da economia.

Ricardo Cabral

Professor de Economia do ISEG

Ricardo Cabral considera que “os programas de investimento que precisam de legislação ou enquadramento orçamental podem ser afetados”, mas não antecipa um impacto significativo da queda do Governo. “Na prática o Governo tem tido uma estratégia económica passiva. Limita-se a uma consolidação orçamental feita ao sabor da economia”, refere o académico doutorado em Economia na Universidade da Carolina do Sul. “Não há nenhum grande programa de despesa pública que fique em risco”, acrescenta.

O professor de economia do ISEG assinala ainda que “o PIB nominal está a crescer a taxas de 10%, parecidas com as do passado, embora agora haja um abrandamento”.

Receio com desfecho de eleições antecipadas

O Presidente da República vai ouvir os partidos esta quarta-feira e no dia seguinte o Conselho de Estado. Só depois dessa reunião falará ao país. Um caminho que aponta para uma dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas. É notório algum receio em relação ao desfecho da ida às urnas.

O impacto para lá do curto prazo vai depender do resultado das eleições, com as sondagens a sugerir que é possível um resultado inconclusivo.

Ricardo Amaro

Economista da Oxford Economics

O impacto para lá do curto prazo vai depender do resultado das eleições, com as sondagens a sugerirem que é possível um resultado inconclusivo”, escreve Ricardo Amaro, da Oxford Economics. As últimas sondagens colocam o PS e o PSD em empate técnico, com entre 25% e 30% das intenções de voto.

“A demissão do primeiro-ministro [António] Costa, no mínimo, aumenta as perspetivas de eleições antecipadas e a incerteza política no curto prazo”, considera o vice-presidente dos países soberanos globais da DBRS, Jason Graffam. “Seria preocupante qualquer resultado eleitoral futuro que afaste a formulação de políticas do atual compromisso do Governo com a prudência orçamental e a redução da dívida do setor público”, refere, em declarações à agência Lusa.

“Nos últimos anos não temos tido um track record de quedas do Governo e instabilidade política. Se o nosso Parlamento vai produzir um Governo estável, ou não, pode ser uma questão dentro de alguns meses”, alerta Pedro Braz Teixeira.

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Produção de petróleo deve superar (em dobro) os limites de Paris em 2030

Quase 90% das emissões de carbono a nível global têm origem em combustíveis fósseis, sendo que estas emissões atingiram níveis recorde entre 2021 e 2022.

Para que o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris seja cumprido, isto é, limitar o aquecimento global em 1,5 graus centígrados, é necessário limitar a produção de combustíveis fósseis. Contudo, esta produção deverá atingir em 2030 mais do dobro da quantidade que permite que este objetivo de Paris se concretize.

Esta é a conclusão partilhada esta quarta-feira, num relatório elaborado pelo Programa Climático das Nações Unidas (UNEP, na sigla em inglês) e por associações independentes como a Climate Analytics e a E3G, num total de 80 investigadores. Estes analisaram a produção planeada de carvão, petróleo e gás em 19 dos 20 países que constituem maiores produtores globais de combustíveis fósseis — são donos de 80% da produção.

De acordo com os cálculos destas entidades, enquanto a quantidade de produção de combustíveis fósseis prevista para 2030 ultrapassa em 110% o limite que permite ficar por um aumento de 1,5 graus centígrados (um hiato de 22 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente), se considerado o objetivo menos ambicioso de Paris, que coloca a fasquia nos 2 graus centígrados, a produção continua a exceder o limite — neste caso, em 67%.

A produção de gás e petróleo é liderada pelos Estados Unidos, seguidos da Rússia e da Arábia Saudita, respetivamente. No que diz respeito ao carvão, a China é o maior produtor, seguida pela Índia.

Tendo em conta os riscos e incertezas quanto à captura, remoção e armazenamento de carbono, “os países devem almejar uma eliminação quase total da produção e uso de carvão até 2040“, ao mesmo tempo que se reduz a produção de petróleo e gás, em termos combinados, em três quartos até 2050, em relação aos níveis de 2020, lê-se no comunicado partilhado.

Quase 90% das emissões de carbono a nível global têm origem em combustíveis fósseis, sendo que estas emissões atingiram níveis recorde entre 2021 e 2022.

“Governos com maior capacidade de abandonar os combustíveis fósseis devem propor-se a alcançar reduções mais ambiciosas e apoiar os processos de transição em países de recursos mais limitados”, defendem ainda os autores do relatório.

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FMI antevê mais pressões para aumentos salariais na Europa

Se, por um lado, o aumento dos rendimentos das famílias está a impulsionar a economia europeia, o FMI alerta para o risco das pressões salariais no curto prazo.

Após dois anos de uma progressiva perda de poder de compra, como resultado da subida das taxas de juro e da taxa de inflação, não é surpreendente que os trabalhadores europeus estejam a exigir aumentos salariais que possam, pelo menos, compensar a subida do custo de vida ao longo deste período.

De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), os salários nominais aumentaram 4,5% na Zona Euro e mais de 10% em outros países da Europa no primeiro semestre deste ano. Há muitos anos que não se assistia a uma evolução tão expressiva da massa salarial no Velho Continente.

Para a economia, essa dinâmica tem-se traduzido em mais consumo interno, alavancando assim o PIB. No entanto, gera também pressões inflacionistas de curto prazo que poderão condicionar o tão desejado controlo de preços no médio e longo prazo, alertam os analistas do FMI no relatório regional sobre a Europa publicado esta quarta-feira.

Em grande parte das economias avançadas da Europa, os salários têm ainda de aumentar antes de acompanharem os preços, o que significa que a pressão para aumentos salariais deverá persistir.

FMI

Regional Economic Outlook Europe Outubro 2023

A recuperação económica da Europa está a receber um impulso muito necessário devido ao aumento dos salários e dos rendimentos. Mas nos países onde o envelhecimento da população está a reduzir a força de trabalho, os decisores políticos poderão em breve enfrentar novos desafios” alertam os analistas do FMI, sublinhando ainda que “as pressões salariais a curto prazo podem combinar-se com a rigidez a longo prazo dos mercados de trabalho para alimentar as pressões inflacionistas.

O controlo da inflação tem sido um desafio de enorme dificuldade para o Banco Central Europeu, que tem como meta de médio prazo colocar a taxa de inflação em redor dos 2%. Segundo os últimos dados do Eurostat, a taxa de inflação homóloga na Zona Euro fixou-se nos 2,9% em setembro, e tem-se mantido constantemente acima da fasquia dos 2% desde julho de 2021.

No centro das perspetivas do FMI para a Europa está um cenário marcado por uma “aterragem suave”, com a inflação a diminuir gradualmente. As previsões do FMI, que já tinham sido conhecidas com a publicação do World Economic Outlook em outubro, apontam para um crescimento de 1,3% em 2023 na região, contra 2,7% no ano passado, e um crescimento de 1,5% em 2024.

As economias europeias avançadas, mais orientadas para o setor dos serviços, recuperarão mais rapidamente do que as economias com setores transformadores relativamente maiores, que enfrentam uma procura externa reduzida e estão mais expostas aos elevados preços da energia”, perspetivam os analistas do Fundo.

Os analistas do FMI notam ainda que o crescimento dos salários tem variado de forma distinta consoante os países, evidenciando, por exemplo, que “em grande parte das economias avançadas da Europa, os salários têm ainda de aumentar antes de acompanharem os preços, o que significa que a pressão para aumentos salariais deverá persistir.” Por essa razão, os técnicos do FMI antecipam que “não é provável que as pressões salariais diminuam tão cedo.”

O FMI prevê mesmo que, “embora a fraca procura interna em 2023 e os preços mais baixos das matérias-primas se repercutam na inflação de base, a recuperação prevista dos rendimentos reais e os mercados de trabalho ainda fortes abrandarão o ritmo da desinflação“, antecipando que a maioria dos países europeus não atinja os objetivos de inflação antes de 2025.

“O crescimento sustentado dos salários nominais acima da inflação e das taxas de crescimento da produtividade constitui um risco fundamental para a desinflação, especialmente nas economias europeias de mercado emergentes. A inflação poderá enraizar-se, exigindo um aumento adicional da restritividade das políticas e conduzindo potencialmente à estagflação”, alerta o FMI.

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Zelensky garante que “Ucrânia fará parte da UE” na véspera de relatório

  • Lusa
  • 7 Novembro 2023

O executivo europeu apresenta esta quarta-feira um relatório sobre o estado dos progressos alcançados não só pela Ucrânia, mas por todos os países com o mesmo estatuto.

O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky assegurou esta terça-feira que o seu país fará “parte da União Europeia (UE)”, na véspera da publicação de um relatório sobre os progressos realizados pela Ucrânia, que tem estatuto de candidata. “Amanhã [quarta-feira] é um dia importante”, sublinhou o chefe de Estado ucraniano, durante o seu habitual discurso noturno dirigido à nação, classificando o próximo relatório como histórico.

O executivo europeu apresenta esta quarta-feira um relatório sobre o estado dos progressos alcançados não só pela Ucrânia, mas por todos os países com o mesmo estatuto: Moldova, Albânia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Macedónia do Norte, Sérvia e Turquia. A decisão sobre uma adesão só pode ser tomada no Conselho Europeu de dezembro, mas dela dependerá a avaliação que constará do relatório.

Volodymyr Zelensky sublinhou que o seu país “já está a preparar os próximos passos”, nomeadamente através do fortalecimento das suas instituições. “A Ucrânia fará parte da União Europeia”, garantiu o governante, referindo-se ao “longo caminho” já percorrido para uma aproximação.

No entanto, lembrou, isso exige trabalho do país, alvo desde fevereiro de 2022 de uma invasão russa, para “se adaptar às normas da UE”. Em junho de 2022, a UE concedeu à Ucrânia o estatuto de candidata, num gesto altamente simbólico. Para que o parecer seja positivo e haja uma recomendação ao Conselho para deliberar sobre o início das negociações formais, os países candidatos têm de comprovar que avançaram nas recomendações que a Comissão fez.

Estas incluem reformar o sistema jurídico e reforçar a sua independência, criar medidas eficazes para combater a corrupção – o que na Ucrânia tem um peso considerável por causa de décadas de influência das oligarquias – e ainda avançar na digitalização e transição energética, para os candidatos se equipararem aos países que já fazem parte da UE.

No último sábado, Ursula von der Leyen apareceu de surpresa em Kiev e depois de um encontro com Zelensky disse estar confiante de que a Ucrânia está a fazer de tudo para aderir à UE e que essas reformas estariam vertidas no relatório, pelo que é expectável que haja um parecer positivo, pelo menos, em relação à Ucrânia.

Tenho de dizer que houve excelentes progressos, é impressionante constatá-lo, e vamos atestar isso mesmo, na próxima semana, quando a Comissão apresentar o seu relatório sobre o alargamento”, disse Ursula von der Leyen, em conferência de imprensa conjunta com o Presidente da Ucrânia, no sábado.

Desde 24 de fevereiro de 2022 que a Ucrânia procura reafirmar a sua independência perante a Rússia, que anexou partes substanciais do seu território, e para isso o Presidente, Volodymyr Zelensky, apontou à adesão à UE e à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) como maneira de virar o país a ocidente e impedir futuros ataques russos.

Com a UE, o início do processo foi o mais rápido até hoje e, em simultâneo com a vizinha Moldova, a Ucrânia recebeu o estatuto de candidato em junho de 2022. Do lado da NATO, as expectativas de Zelensky acabaram defraudadas, com o ‘travão’ colocado pelos líderes dos 31 países que compõem a aliança político-militar. Da cimeira de julho deste ano saiu a criação do Conselho NATO-Ucrânia, um órgão que aproxima o país, mas, na prática, não é uma promessa de adesão, que foi remetida para o futuro.

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Montenegro pede eleições antecipadas. “Portugal não pode ser isto”

  • Ana Petronilho
  • 7 Novembro 2023

Líder do PSD diz que o Governo "caiu por dentro" e que é "notório que não tem condições para governar", defendendo, por isso, a realização de eleições antecipadas.

Cerca de duas horas depois da reunião da comissão permanente, o líder do PSD diz que o Governo “caiu e caiu por dentro” e que é “notório que não tem condições para governar”, defendendo, por isso, a realização de eleições antecipadas.

Luís Montenegro frisa que “Portugal não pode ser isto” e que o país “não pode tolerar ou admitir que importantes decisões de investimento ou de financiamento público possam ser tomadas com qualquer outro critério que não o interesse público”, frisa.

“É preciso assegurar que temos liderança, equipa e programa para inverter o ciclo de empobrecimento que nos trouxe até aqui”, diz o presidente do PSD, já em tom de campanha eleitoral. Montenegro diz que os social-democratas não tinham “pressa” para ir às urnas mas que perante as investigações em curso e as suspeitas não se pode “perder mais tempo. É imperioso recuperar a credibilidade, a dignidade institucional e a confiança que se perderam e desbarataram”.

E isso “só é viável com eleições antecipadas. Estamos preparados para elas”, acrescentando que está fora dos planos do PSD fazer qualquer acordo com o Chega.

Luís Montenegro aproveitou ainda para lembrar outros casos polémicos do governo PS e, em jeito de balanço, diz que esta “é a terceira vez em 22 anos que as mesmas pessoas, as mesmas políticas e o mesmo padrão de governo trazem um pântano à democracia portuguesa”, seja “no parque escolar, em parcerias público-privadas, na defesa nacional, nas grandes infraestruturas, o país não pode ser levado a decidir com base em interesses particulares, muitas vezes embrulhados e disfarçados com sofisticados esquemas de suporte técnico”.

Numa palavra dirigida aos eleitores, o presidente do PSD diz ainda que “mesmo num dia difícil como o dia de hoje, a nossa atenção está em primeiro lugar centrada em quem não tem dinheiro para pagar a alimentação, a energia, os medicamentos, os transportes. Em quem espera ou desespera por um tratamento no SNS, em quem espera ou desespera por um professor que não chega à sala de aula, que espera ou desespera para arrendar uma casa ou por pagar uma prestação inflacionada”. E considera que “não é uma fatalidade sermos um país pobre”, é, sim “uma escolha” das políticas seguidas pelos socialistas.

A reunião da comissão permanente do PSD arrancou pelas 17h30 foi marcada horas antes antes de António Costa ter anunciado o pedido de demissão do cargo de primeiro-ministro.

Numa nota enviada aos jornalistas, os social-democratas justificavam a reunião “perante a gravidade da situação que envolve a base central do Governo”, no seguimento da investigação do Ministério Público e do Supremo sobre negócios que envolvem projetos de exploração de lítio.

A investigação levou à realização de buscas na residência oficial do primeiro-ministro e nos Ministérios do Ambiente e Infraestruturas. Foram detidas cinco pessoas: o chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, o consultor e amigo do primeiro-ministro, Diogo Lacerda Machado, o presidente da Câmara de Sines, o socialista Nuno Mascarenhas, e ainda dois gestores de empresas.

 

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Madeira quer criar regime jurídico próprio para produção de eletricidade renovável

  • Lusa
  • 7 Novembro 2023

Além da criação de um regime jurídico próprio para a produção de eletricidade renovável na Madeira, o executivo de Miguel Albuquerque sublinha a necessidade de “digitalizar a rede elétrica".

O Governo da Madeira (PSD/CDS-PP), que entregou esta terça-feira o programa para o quadriénio 2023-2027, pretende criar um regime jurídico próprio para a produção de eletricidade renovável na região autónoma.

Esta é uma das várias medidas que o executivo madeirense, liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, integrou no Programa do XIV Governo Regional, entregue ao presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues (CDS-PP).

O documento, composto por 190 páginas, está dividido em nove capítulos: Autonomia e Reforma do Sistema Político; Educação e Formação, Migrações, Desporto, Ciência e Tecnologia; Economia, Mar e Pescas; Finanças, Autonomia Fiscal e Competitividade Internacional; Saúde e Proteção Civil; Turismo e Cultura; Agricultura e Ambiente; Equipamentos e Infraestruturas; Inclusão e Juventude.

No capítulo dedicado aos equipamentos e infraestruturas, o Governo madeirense integrou um conjunto de medidas na área da energia, que visam cumprir os objetivos de reduzir os gases com efeito de estufa até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2050.

Além da criação de um regime jurídico próprio para a produção de eletricidade renovável na Madeira, o executivo de Miguel Albuquerque sublinha a necessidade de “digitalizar a rede elétrica, apostar na eficiência energética em todos os setores de atividade” e de “criar condições de atratividade necessárias ao investimento na produção de eletricidade renovável”.

É também necessário diversificar as fontes de energia, aumentar a capacidade das infraestruturas de armazenamento de energia, assim como “aumentar a contribuição dos diversos agentes económicos (empresas e famílias) na produção de energia através de recursos renováveis para autoconsumo”.

De acordo com o Programa do Governo, como forma de combater a pobreza energética, o executivo pretende também criar um programa de apoio à aquisição de sistemas de produção de energia por fontes renováveis para famílias carenciadas que usufruem da tarifa social de energia elétrica e um programa de apoio à aquisição de sistemas e equipamentos elétricos mais eficientes, substituindo o gás, de forma a potenciar a utilização da tarifa social de eletricidade.

Ainda no mesmo capítulo, o Governo Regional classifica o tema da habitação como “um dos eixos fundamentais da política pública” do presente executivo, comprometendo-se a incrementar o investimento no parque habitacional público através da construção, reabilitação e aquisição de mais habitação com fins sociais.

Reforçar os apoios à aquisição de habitação própria por parte das famílias da classe média, nomeadamente os agregados jovens que não têm capacidade financeira para comprar uma casa aos preços de mercado, é outra das medidas propostas no documento.

Na área do turismo, o Governo madeirense quer “assegurar sustentabilidade cultural, económica, ambiental e social do destino através da continuidade do processo de certificação da Região Autónoma da Madeira como ‘Destino Turístico Sustentável’”, assim como criar uma taxa a incidir sobre a atividade turística.

Na agricultura, por outro lado, pretende-se “priorizar o apoio técnico ao agricultor face aos novos cenários climáticos, designadamente para um controlo mais eficaz das pragas e doenças que afetam as culturas, associando o conhecimento científico e as tecnologias à melhoria quantitativa e qualitativa das produções e satisfação dos mercados, associado à segurança alimentar”, lê-se no documento.

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Investigação a Costa nasce de uma escuta que não foi destruída pelo Supremo Tribunal de Justiça

A escuta telefónica remonta a 2021, quando estava a ser investigado o negócio do hidrogénio verde. Conversas entre Costa e Matos Fernandes estarão na origem do inquérito do STJ contra o ainda PM.

A investigação a António Costa, que levou à sua demissão esta terça-feira do cargo de primeiro-ministro, está agora nas mãos do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e nasce de uma das três escutas telefónicas analisadas em 2021 pelo presidente desse mesmo tribunal, o juiz conselheiro António Joaquim Piçarra.

Mas recuemos no tempo. Em 2021, António Costa foi referido numa escuta em conversas telefónicas com o então ministro do Ambiente, Matos Fernandes, cujo telemóvel se encontrava sob escuta e que, esse sim, era o alvo do Ministério Público. Dessas três escutas, apenas duas foram destruídas pelo vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça por não terem “indício criminal relevante”.

Mas uma restou. E foi essa que deu origem a que a PGR, em comunicado divulgado esta terça-feira, ter assumido que António Costa está a ser investigado num processo autónomo, investigado pelo Supremo Tribunal de Justiça por “suspeitas de que terá intervindo para ‘desbloquear’ os negócios do lítio, hidrogénio e data center que estão a ser investigados”.

Contudo, essa mesma escuta foi junta ao inquérito no DCIAP e não deu logo origem a um processo autónomo no STJ com António Costa como alvo principal. Só agora, quase três anos depois, é que a PGR assume que há esse inquérito a decorrer, por certidão extraída das restantes suspeitas que envolvem e resultaram na detenção de Vítor Escária, chefe de gabinete de Costa, Lacerda Machado, amigo do primeiro-ministro, Rui Oliveira Neves, da Start Campus e sócio da Morais Leitão, Afonso Salema, CEO da Start Campus, e Nuno Mascarenhas, autarca de Sines.

Em causa poderão estar, designadamente, factos suscetíveis de constituir crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influência.

“No decurso das investigações surgiu (…) o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido”. Tal como manda a lei, “tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça”, diz o comunicado da PGR.

Um comunicado que foi lançado um minuto depois da titular da investigação criminal, Lucília Gago, ter tido uma breve reunião com o Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa. Algo inédito na história da justiça da nossa democracia. Tal como inédito foi o facto de ter sido alvo de buscas, logo na manhã de terça-feira, a residência oficial do ainda primeiro-ministro. Durante essa mesma manhã, por duas vezes Costa dirigiu-se a Belém, para ter conversas curtas com Marcelo. Poucas horas depois, apresentava a demissão ao país. Dizendo: “Obviamente, demito-me”, numa frase que ficará na história da nossa democracia.

Com as escutas ‘plantadas’ em 2020 e conhecidas em janeiro de 2021 –, o objetivo do DCIAP era o de investigar o caso do hidrogénio verde, que levou a que o secretário de Estado-adjunto e da Energia, à data, João Galamba, e o ministro da Economia, à data, Pedro Siza Vieira, fossem alvo de escutas.

JOSE SENA GOULAO/LUSAJOSE SENA GOULAO/LUSA

Em causa estavam e estão agora eventuais favorecimentos ao consórcio EDP/Galp/REN para o milionário projeto do hidrogénio verde para Sines. A investigação começou depois de suspeitas surgidas em 2019, com as autoridades a tentarem perceber se houve favorecimento àqueles grupos naquele que foi um dos maiores investimentos públicos dos últimos anos.

E porquê o Supremo Tribunal de Justiça?

Segundo o que estabelece o artigo 11º do Código de Processo Penal, compete ao presidente do STJ “autorizar a interceção, a gravação e a transcrição de conversações ou comunicações em que intervenham o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República ou o Primeiro-Ministro e determinar a respetiva destruição”.

Tal como compete às secções criminais do Supremo Tribunal de Justiça, em matéria penal “julgar o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro pelos crimes praticados no exercício das suas funções”. E ao Ministério Público, afeto ao STJ, investigar os titulares dos mesmos cargos públicos referidos. Sendo assim, é também por isso que este inquérito decorre no Supremo no chamado foro especial. Porém, a partir do momento em que Costa deixe de ser primeiro-ministro, esse mesmo inquérito pode vir a ser anexado ao “principal”, a decorrer no DCIAP.

Supremo Tribunal de Justiça, em LisboaHugo Amaral/ECO

Em causa estão ainda os denominados crimes de responsabilidade dos titulares de cargos políticos (que o regime jurídico do exercício de funções por titulares de cargos políticos e altos cargos públicos faz referência no seu artigo 22º), regulada pela Lei nº 34/87, de 16 de julho, que prevê expressamente, para os comportamentos imputados aos ministros e primeiro – ministro em investigação, a possibilidade de lhes ser imputada responsabilidade criminal.

Aliás, conforme é sublinhado no artigo 5º do mencionado diploma, “precisamente por estarmos na presença de possíveis crimes praticados no exercício de altas funções políticas poderá verificar-se um agravamento das molduras penais abstratamente aplicáveis em um quarto nos seus limites mínimo e máximo, salvo se a medida da agravação prevista na lei geral for mais gravosa, caso em que é esta a aplicável ou até, no caso do crime de corrupção e recebimento ou oferta indevido de vantagem, de um terço desses limites mínimos e máximos”, conforme explicou o advogado Dantas Rodrigues, em declarações ao ECO/Advocatus.

“Naturalmente, verificando-se a condenação, a própria lei impõe a demissão dos respetivos titulares dos cargos, caso essa não se tenha verificado em momento anterior (artigo 30º) para além da possibilidade de ser aplicada pena acessória de proibição de exercício de cargos políticos, por um período entre os 2 e os 10 anos”, concluiu o mesmo advogado.

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Costa convoca para quinta-feira Comissão Política Nacional do PS

  • Lusa
  • 7 Novembro 2023

A reunião do órgão de direção alargada do PS está agendada para as 21:00, em Lisboa, e terá como ponto único da ordem de trabalhos a análise da situação política.

O secretário-geral do PS, António Costa, que esta terça-feira apresentou ao Presidente da República a sua demissão das funções de primeiro-ministro, convocou para quinta-feira uma reunião da Comissão Política Nacional do seu partido.

De acordo com uma nota do PS, a reunião do órgão de direção alargada desta força política, que está agendada para as 21:00, em Lisboa, terá como ponto único da ordem de trabalhos a análise da situação política. António Costa apresentou a sua demissão das funções de primeiro-ministro ao Presidente da República, já aceite por Marcelo Rebelo de Sousa, após o Ministério Público revelar que o ainda líder do PS é alvo de investigação autónoma do Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.

António Costa, na comunicação ao país que fez a partir de São Bento, adiantou que, em caso de eleições legislativas antecipadas, não será pelo PS recandidato às funções de primeiro-ministro.

Em conferência de imprensa, o presidente do PS, Carlos César, afirmou que os socialistas estão preparados tanto para uma decisão do chefe de Estado de convocar eleições antecipadas como se Marcelo Rebelo de Sousa optar por uma mudança da liderança do Governo, na sequência da demissão do primeiro-ministro.

O Presidente da República convocou para quarta-feira os partidos para uma ronda de audiências no Palácio de Belém, em Lisboa, e vai reunir o Conselho de Estado na quinta-feira. Na sua declaração no Palácio de São Bento, António Costa recusou a prática “de qualquer ato ilícito ou censurável” e manifestou total disponibilidade para colaborar com a justiça “em tudo o que entenda necessário”.

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Insurance Europe pede à Comissão Europeia acesso a dados de veículos automóveis

  • ECO Seguros
  • 7 Novembro 2023

Federação quer o desenvolvimento da lei de dados da União Europeia para as seguradoras passarem a ter acesso a dados dos veículos. Acredita que tal irá gerar competitividade e inovação no mercado.

A Insurance Europe enviou uma carta à Comissão Europeia onde exige a criação, até ao final do ano, de regulamentação que permita empresas seguradoras e outras entidades independentes a ter acesso aos dados, funcionalidades e recursos dos veículos na União Europeia. A federação acredita estas leis irão fomentar a competição, a inovação, as opções do cliente e a acessibilidade económica.

Nicolas Jeanmart, Chefe do Departamento de Seguros Gerais e Pessoais da Insurance Europe, acredita que ter acesso aos dados dos veículos permitiria às seguradoras desenvolver produtos que contribuem para a segurança rodoviária e de sustentabilidade.

Nicolas Jeanmart, Chefe do Departamento de Seguros Gerais e Pessoais da Insurance Europe, julga que “ter acesso aos dados dos veículos permitiria às seguradoras oferecer serviços inovadores aos segurados, bem como produtos que contribuem para a segurança rodoviária e a sustentabilidade. Permitiria também ao setor compreender e avaliar melhor os riscos relacionados com novas formas de mobilidade, como a condução autónoma. É importante ressaltar que cabe aos motoristas decidir o que acontece com os dados gerados pelo seu próprio carro. Um ato legislativo da UE específico e específico é a única forma de atingir todos esses objetivos”.

Até agora, apenas os manufatores de automóveis têm o total acesso aos dados dos veículos, o que a seguradora considera que promove a criação de um monopólio de informação. A ausência de regulação contribuirá também para perdas anuais de cerca de 26 mil milhões de euros, escreve a Insurance Europe.

A Insurance Europe realça que a solução para os problemas está na criação de um quadro regulamentado de acesso aos dados para os veículos, que proporcione a todos os intervenientes no mercado um acesso igual aos dados e “pode ser gerido com base nos níveis e na implementação da cibersegurança dos fabricantes de veículos”. O que pode incentivar investimentos em serviços tradicionais e inovadores e ao mesmo tempo garantir a segurança cibernética.

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