Grupo de iluminação de Braga cresce 25% na mão de austríacos

Objetivo do grupo de Braga conhecido pelas luzes de Natal e pelos musicais no gelo é desenvolver projetos no Brasil e Norte de África. A aquisição por parte de austríacos no ano passado abriu portas.

Depois de ter sido comprada por uma gigante austríaca no ano passado, a AM Experience by MK Illumination cresceu quase 25%. O grupo minhoto conhecido pelas iluminações de Natal para autarquias e centros comerciais faturou 6,8 milhões de euros em 2024, mais 1,3 milhões que no ano anterior.

“Esta aquisição trouxe-nos estabilidade e foco, sem esquecer o acesso a uma gama de produtos muito mais alargada, até porque a MK Illumination tem 44 escritórios em todo o mundo e opera em 120 países — em termos de desenvolvimento de produto tem milhares de peças no seu catálogo que nós não tínhamos e passamos a ter acesso a esse portefólio”, diz ao ECO, Nuno Barbot, diretor-geral da AM Experience by MK Illumination.

O gestor acrescenta ainda que a aquisição por parte dos austríacos “abriu outras portas” e “permitiu aceder e fechar alguns negócios”, nomeadamente na área dos outlets em Espanha.

No último Natal, executou um total de 94 projetos de iluminação festiva através da divisão AM Festive Lighting. Nesta área, a empresa cresceu 20% em Portugal e 46% em Espanha. “Esta divisão foi no fundo, um gatilho significativo para a MK Illumination ter adquirido a AM Experience o ano passado”, conta Nuno Barbot.

A área da iluminação de Natal é responsável pela maior fatia da faturação da empresa –– quatro milhões de euros, o que representa um crescimento de 30% face a 2023. “O crescimento tem um contribuído muito importante da MK Illumination“, diz o diretor-geral da AM Experience by MK Illumination.

O grupo tem também a AM Live (que cria espetáculos musicais no gelo), que cresceu no ano passado 27%, e a AM Dreams, Fun & Ice (que cria experiências de diversão diferenciadoras e altamente sensoriais).

Nuno Barbot, diretor-geral da AM Experience by MK Illumination.

Com escritórios em Braga e no Porto, a AM Experience by MK Illumination emprega 44 pessoas, enquanto a multinacional austríaca tem 44 escritórios, opera em mais de 120 países, emprega mais de mil pessoas em todo o mundo e faturou 165 milhões de euros em 2023.

Próximo passo é iluminar Brasil e Norte de África

Com presença em Portugal e Espanha, o diretor da AM Experience by MK Illumination acredita que a empresa tem “muito espaço para crescer” no país vizinho, onde está presente desde 2011. Os novos donos já estão a explorar o “desenvolvimento de negócios no Brasil e Norte de África”. A expectativa é desenvolverem projetos no mercado brasileiro no próximo ano e ainda este ano no Norte de África.

“Vários dos nossos clientes têm centros comerciais em Marrocos e temos vindo a dar os primeiros passos neste mercado”, detalha Nuno Barbot, destacando que “isto é possível porque têm a MK com uma capacidade de produção e de logística que sem a qual era muito difícil nós aventurar para estes mercados”.

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Seguradoras do Montepio na mira do regulador. Pagam 7,5 milhões em dividendos

ASF confirma que Lusitania Vida e Lusitania “foram objeto de ações de supervisão específicas” no ano passado. Lucros das duas companhias baixaram, mas vão dar dividendo de 7,5 milhões ao Montepio.

As duas seguradoras do grupo Montepio estiveram na mira do regulador no ano passado. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) confirma ao ECO que Lusitania Vida e Lusitania “foram objeto de ações de supervisão específicas”, mas assegura que ambas estão “plenamente autorizadas ao exercício da atividade seguradora e a operar em condições normais de mercado”. De resto, ambas as companhias fecharam 2024 com lucros e vão pagar 7,5 milhões de euros em dividendos.

Em relação à Lusitania Vida, desde o início da invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, que a ASF estava a monitorizar de perto a evolução do negócio da seguradora, nomeadamente no que toca ao requisito de capital de solvência – indicador que havia incumprido por conta da forte instabilidade que afetou as bolsas na sequência da agressão russa.

Seguiu-se uma intervenção de fundo da parte do acionista ao nível da estrutura de capital, a Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG), com vista a recuperar os níveis de solvência e criar almofadas para a seguradora resistir aos altos e baixos dos mercados – uma intervenção que também abrangeu a outra seguradora, como o ECO revelou na altura.

Entretanto, em agosto do ano passado, e depois de um “desempenho muito positivo da Lusitania Vida” – palavras da AMMG ao ECO –, a entidade reguladora liderada por Margarida Corrêa de Aguiar decidiu “descontinuar o reporte extraordinário” que mensalmente exigia à companhia, segundo conta o conselho fiscal da seguradora no seu parecer às contas de 2024.

Já na Lusitania, a outra seguradora do grupo mutualista, o conselho fiscal revela que foi contactado pela ASF em fevereiro do ano passado “no sentido de solicitar o acompanhamento da situação financeira e de solvência (…), considerando o desequilíbrio técnico no ramo automóvel e a preocupação em garantir o reequilíbrio da exploração técnica em todas as linhas”.

Para fazer face às preocupações do regulador, “estão a ser implementadas diversas ações, em particular a revisão da oferta”, adianta fonte oficial da AMMG ao ECO. “Em fevereiro de 2025, a companhia lançou uma nova oferta automóvel para resposta às necessidades dos seus clientes e reequilíbrio técnico, o que se enquadra no plano estratégico da Lusitania”, explica a mutualista. No final de 2023 já tinha avançado com uma reorganização da sua rede comercial, com fecho de agências e teletrabalho para os trabalhadores.

Dividendos de 7,5 milhões

Certo é que ambas seguradoras — lideradas por Virgílio Lima, presidente da AMMG — fecharam 2024 com lucros, embora em forte quebra em comparação com o ano anterior, mas com rácios de solvência acima do que a ASF exige, e preparam-se para distribuir 7,5 milhões de euros em dividendos ao seu acionista.

A Lusitania Vida lucrou 10,1 milhões de euros no ano passado, menos 26,8% em comparação com o ano anterior. Vai distribuir 60% do resultado, ou seja, seis milhões de euros.

Já os lucros da Lusitania ascenderam a 7,6 milhões de euros, quebrando 55,3%, o que se deveu “maioritariamente” ao facto de, em 2023, ter contabilizado uma reversão de uma provisão de 10 milhões para uma coima da Autoridade da Concorrência. O dividendo vai ser de 1,5 milhões.

Os dividendos das seguradoras — que fecham o ano com rácios de solvência de 164,6% e 148,8%, respetivamente — juntam-se ao cheque de 30 milhões de euros que o banco da mutualista também assegurou ao acionista.

Apresentação de resultados da Associação Mutualista Montepio - 01JUL20

Mudam de casa no início do quarto trimestre

Para o início do quarto trimestre está prevista a mudança da sede das companhias para o edifício Niña, em Entrecampos, Lisboa – depois de três décadas no Palácio Porto Côvo, na Lapa.

A mudança “assinala a transformação em curso” da Lusitania e Lusitania Vida, que se posicionam como a 7.ª e 10.ª maiores seguradoras do mercado nacional em termos de produção de Não Vida e Vida, respetivamente.

É na antiga sede do BPN Paribas que “as operações de Lisboa serão centralizadas”, refere-se nos relatórios e contas das duas companhias.

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5 coisas que vão marcar o dia

  • ECO
  • 19 Maio 2025

No dia em que o país e mercados reagem às eleições, o INE mostra como evoluíram os juros da casa e a Comissão Europeia divulga as suas previsões da primavera. Os combustíveis ficam mais caros.

No dia em que se fazem contas aos resultados das eleições legislativas deste domingo, o INE divulga dados referentes às taxas de juro implícitas no crédito à habitação, relativas a abril. Num início de semana também marcado pela subida do preço dos combustíveis, os pagamentos bancários passam a mostrar destinatário. Já a Comissão Europeia apresenta aquelas que são as suas previsões económicas da primavera.

Rescaldo das eleições

Depois da ida às urnas deste domingo no âmbito das eleições legislativas, o dia será marcado pela reação aos resultados. Será também a oportunidade de os mercados se ajustarem à nova geometria parlamentar.

Como evoluíram os juros da casa?

O INE vai divulgar esta segunda-feira dados referentes às taxas de juro implícitas no crédito à habitação relativas a abril. Os juros da casa tem vindo a cair há 14 meses seguidos, tendo baixado em março para o valor mais baixo em quase dois anos, quando a taxa de juro implícita no crédito à habitação caiu para 3,735%, a taxa mais baixa desde julho de 2023.

Previsões da primavera da Comissão Europeia

A Comissão Europeia vai apresentar aquelas que são as suas previsões económicas da primavera. É esperada uma conferência de imprensa após a reunião do Eurogrupo com Paschal Donohoe, presidente do Eurogrupo, Pierre Gramegna, diretor executivo do Mecanismo Europeu de Estabilidade, e Paolo Gentiloni, comissário europeu da Economia.

Pagamentos bancários passam a mostrar destinatário

Os pagamentos para entidades através do sistema bancário português passam a partir desta segunda-feira a apresentar o nome do destinatário, através de uma norma do Banco de Portugal (BdP) que pretende combater a fraude bancária. Este é o mais recente mecanismo do BdP para evitar fraudes no setor, depois de, no ano passado, também em maio, ter entrado em vigor uma solução para identificar o titular da conta através do IBAN, aquando de uma transferência.

Combustíveis ficam mais caros

O início desta semana é também marcado pela subida do preço dos combustíveis. A gasolina deverá descer 2,5 cêntimos e o gasóleo, o combustível mais utilizado em Portugal, três cêntimos. Quando for abastecer, deverá assim pagar 1,533 euros por litro de gasóleo simples e 1,691 euros por litro de gasolina simples 95, tendo em conta os valores médios praticados nas bombas à segunda-feira, divulgados pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG). É preciso recuar a 14 de janeiro para ter uma subida mais expressiva do diesel (4,7 cêntimos) e a 24 de março para a gasolina (3,7 cêntimos)

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Do “triunfo conservador” ao “mal menor”. A noite eleitoral nos jornais lá fora

No rescaldo da noite eleitoral em Portugal, a imprensa internacional destacava a vitória da AD sem maioria absoluta, a escalada da votação no Chega e a derrota do PS. Reunimos as principais manchetes.

A vitória da AD nas legislativas antecipadas deste domingo, bem como a subida do Chega, igualando o PS em número de deputados, era já um dos temas em destaque na imprensa internacional, ainda o sol raiava em Lisboa. No rescaldo da noite eleitoral, os jornais estrangeiros falam da reeleição da coligação liderada por Luís Montenegro, ainda que sem maioria absoluta, assim como a escalada da extrema-direita. Veja os principais recortes.

“Triunfo conservador”

Começando pelo outro lado da fronteira, “Vitória conservadora em Portugal com forte ascensão dos extremistas e golpe histórico na esquerda” era a manchete do site do El País ao início da manhã desta segunda-feira. “O Chega chegou a disputar a segunda posição com o Partido Socialista, cujo líder anunciou durante a noite a sua demissão”, apontava o jornal.

“O mal menor”

O espanhol El Confidencial destacava: “O dia em que Portugal ‘mudou para sempre’: ganha a direita de Montenegro e Chega surpreende.” No texto, declarações de um eleitor de 46 anos afirmando que Luís Montenegro é “o menor dos males” para Portugal.

“PS com pior resultado em 38 anos”

Ainda na vizinha Espanha, o El Mundo também enaltecia a vitória da AD e subida da extrema-direita: “O conservador Luís Montenegro ganha as eleições em Portugal e os extremistas do Chega empatam com o Partido Socialista”, referia a publicação.

Ventura em destaque

Para o Financial Times, o aumento da votação no Chega mereceu mais destaque do que a vitória da AD. “Extrema-direita dispara em Portugal enquanto conservadores moderados vencem eleição”, noticiou o jornal britânico, ilustrando a peça com uma foto do líder do Chega, André Ventura.

AD “aquém da maioria”

Continuando pelos meios financeiros, a Bloomberg sublinhou: “Centro direita de Portugal vence votação mas fica aquém da maioria.” Sem ainda estarem apurados os resultados dos consulados, a agência destacou que a AD de Montenegro ficou 116 mandatos aquém da maioria absoluta e apontou para o fim do bipartidarismo no país.

Montenegro “mantém-se no poder”

O francês Les Echos afirma que o primeiro-ministro Luís Montenegro “mantém-se no poder” após as legislativas antecipadas. “Mas sem maioria”, lembra.

“Empate” entre Chega e PS

O Politico Europe também opta por noticiar a vitória do centro-direita, “sem maioria”. Não esquece, porém, o “empate” entre o Chega e os socialistas.

AD vence “outra vez”

A agência internacional Reuters aponta igualmente que “a aliança de centro-direita no poder vence as eleições em Portugal”, mas “falha maioria”. “Aliança Democrática do primeiro-ministro Montenegro vence outra vez”, acrescenta, numa referência às anteriores eleições realizadas no ano passado.

“Montenegro celebra”

Por fim, a britânica BBC News acompanha a notícia com o “V” de vitória de Montenegro, a celebrar a conquista do maior número de mandatos pela AD na noite eleitoral deste domingo: “Partido do primeiro-ministro de Portugal vence eleições antecipadas mas fica aquém da maioria”, titula a cadeia televisiva.

(Notícia atualizada às 8h34 com mais informação)

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Montenegro ganhou, Ventura lidera oposição e Pedro Nuno Santos caiu

A eleição que parecia ir deixar tudo na mesma provocou afinal um terramoto no sistema político, com um 'apagão' da esquerda e o fim do bipartidarismo.

Mais do que a esperada vitória da coligação PSD/CDS, as legislativas de 18 de maio de 2025 marcam uma reconfiguração do sistema partidário que as sondagens não antecipavam. Se repetir o resultado nos círculos eleitorais da emigração, o Chega terá mais deputados do que o PS, reclamando a liderança da oposição. Com o colapso dos socialistas, caiu também Pedro Nuno Santos, que anunciou eleições internas a que não será candidato. O país virou ainda mais à direita, que conseguiu mais de dois terços dos deputados, e a esquerda teve o pior resultado de sempre.

A Aliança Democrática conseguiu 32,72% dos votos, mais 3,9 pontos percentuais do que em março de 2024, liderando em 13 distritos. Em termos absolutos são mais 140,7 mil votos, quando faltam contabilizar os círculos da Europa e de Fora da Europa. A coligação somou mais nove deputados, totalizando 89. Sem ter um resultado substancial, Luís Montenegro beneficia do trambolhão da esquerda, que permite à AD ter, sozinha, mais 21 deputados do que PS, Livre, CDU e Bloco.

A estabilidade política continua, no entanto, a ser tema. A coligação precisa dos outros partidos, seja para evitar um chumbo do programa do Governo, caso avance uma moção de rejeição, seja para aprovar Orçamentos do Estado ou aprovar legislação. O discurso de Luís Montenegro foi, por isso, pontuado por vários sublinhados à “moção de confiança” dada pelos eleitores ao primeiro-ministro e ao Governo, e à responsabilidade da oposição.

“O povo quer este Governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro”, disse o líder do PSD, e “todos devem ser capazes de dialogar e colocar o interesse nacional acima de qualquer interesse”. “Os portugueses não querem mais eleições antecipadas, querem uma legislatura de quatro anos”, vincou.

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Nota: Se está a aceder através das apps, carregue aqui para abrir o gráfico.

O fim da linha para Pedro Nuno Santos

Para o PS, estas eleições foram uma hecatombe. As projeções avançadas às 20h00 já apontavam para um mau resultado, com as diferentes sondagens a atribuírem um máximo entre 25% e 26% e um mínimo entre 19% e 21%. A possibilidade de o partido ter um resultado pior do que o Chega tornava-se a história da noite, que o passar das horas haveria praticamente de confirmar. A vantagem socialista é de apenas 48.916 votos, havendo um empate no número de deputados que deverá ser desfeito a favor do partido de André Ventura quando for contabilizado o voto da emigração, que em 2024 deu dois dos quatro deputados ao Chega.

O PS não só não capitalizou o caso Spinunviva, como registou o terceiro pior resultado da sua história e o pior desde 1987, conseguindo apenas 23,38% dos votos, perdendo 365.507 eleitores e 20 deputados face a 2024, ficando com um grupo parlamentar, para já, de apenas 58 deputados.

O “mapa cor de rosa” de 2022 ficou reduzido a um só distrito: Évora. O PS perdeu a liderança em 107 concelhos e o Chega ficou à frente dos socialistas em 121. “Assumo as minhas responsabilidades”, disse Pedro Nuno Santos, que do púlpito anunciou a realização de eleições internas às quais não se candidatará. Horas antes, Duarte Cordeiro, antigo ministro próximo do líder do PS, já antecipava o desfecho: “A ideia de ficarmos atrás do Chega é uma circunstância que deveria levar a uma reflexão profunda do líder do PS”.

“São tempos duros e difíceis para a esquerda, são tempos duros e difíceis para o PS”, reconheceu Pedro Nuno Santos sem, no entanto, mudar de discurso. “Luís Montenegro não tem idoneidade e as eleições não mudaram isso”, disse, acrescentando: “Não me cabe ser o suporte deste Governo e penso que também não cabe ao Partido Socialista sê-lo”. Apesar de não se recandidatar à liderança, terminou o discurso com um “até breve”.

Ventura celebra fim do bipartidarismo

A outra celebração ruidosa da noite ouviu-se no Hotel Marriot, em Lisboa, onde o Chega fez a festa. “Podemos assegurar ao país algo que não acontecia desde o 25 de abril. O Chega tornou-se nestas eleições o segundo maior partido da nossa democracia“, disse exultante André Ventura, que discursou depois de Pedro Nuno Santos e antes de Luís Montenegro. “Já passámos, já passámos, já passámos”, gritou-se na sala.

André Ventura, presidente do Chega, à chegada ao Hotel Marriot para a noite eleitoral.Lusa

O Chega teve 1.345.575 votos, mais 236.778 que em março do ano passado, o equivalente a 22,6% do total, e conseguiu ser o partido mais votado em 60 conselhos e quatro distritos: Setúbal, Beja, Faro e Portalegre.

“Podemos afirmar com segurança que acabou o bipartidarismo em Portugal”, atirou André Ventura. “O Chega ultrapassou o partido de Mário Soares, ultrapassou o partido de António Guterres. O Chega matou o partido de Álvaro Cunhal e varreu o Bloco de Esquerda com uma pinta como nunca se viu em Portugal”, atirou.

Só uma análise mais fina permitirá tirar conclusões, mas o Chega terá conseguido ir buscar votos à esquerda e à abstenção — que se cifrou em 35,62% e deve baixar mesmo depois de contados os votos da emigração –, e travado a subida da AD.

O ‘apagão’ da esquerda

O PS não ficou sozinho nos desaires da noite. O Bloco de Esquerda só elegeu Mariana Mortágua, em Lisboa, reduzindo a uma deputada um grupo parlamentar de cinco. Com pouco mais de 119 mil eleitores, o partido conseguiu apenas 2% dos votos.

O Bloco de Esquerda tem uma grande derrota esta noite. Assumir essa derrota é o primeiro passo para fazermos a reflexão que temos de fazer”, afirmou Mariana Mortágua.

Estas legislativas também não foram boas para a CDU, que baixou a votação para 3,03% e o número de deputados para três. À esquerda, só o Livre destoou, aumentando para 4,2% a percentagem de votos, que permitiram eleger seis deputados. O porta-voz, Rui Tavares, atirou ao crescimento da direita: “Não nos conformamos, não baixámos os braços e não achamos que seja normal ter um país em que a direita se radicalizou e está num crescendo muito grande, com a extrema-direita com tantos deputados”.

É o outro grande balanço que se pode fazer destas eleições. Todos somados, os partidos da esquerda somam 32,6% dos votos e apenas 68 deputados, o pior resultado de sempre.

Maioria de dois terços à direita

À direita, todas as forças políticas subiram, incluindo a Iniciativa Liberal, que ficou, no entanto, aquém do que ‘prometiam’ as sondagens. O partido de Rui Rocha conseguiu 5,53% dos votos e contará com mais um deputado no Parlamento. “Não foi possível crescer mais, assumo esse ponto. Mas olhando para trás, para esta legislatura, para a campanha que fizemos, eu não teria feito nada diferente”, disse.

Com a AD a ter mais votos que a esquerda, a IL perde influência, mas os seus nove mandatos são decisivos para que a direita some 156 deputados, mais de dois terços do total. O que significa que, no limite, poderia aprovar alterações à Constituição sem o PS.

A noite eleitoral teve ainda outro feito inédito: a estreia no Parlamento do Juntos pelo Povo, que conseguiu eleger um deputado na Madeira. Inês Sousa Real será a terceira deputada única na nova legislatura.

A ‘bola’ passa agora para Belém, onde Marcelo Rebelo de Sousa irá receber os partidos e procurar a solução “melhor ou menos má” para governar o país.

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Os vencedores, os empatados e os derrotados das legislativas

AD ficou na frente, mas o vencedor claro foi o Chega. Entre os derrotados, destaque para as hecatombes do PS e do Bloco. Livre e IL subiram, PAN manteve, JPP entrou e CDU recuou.

Não foi um dejá vu, mas houve semelhanças à direita. A AD – coligação PSD/CDS – repetiu a vitória tangencial das legislativas do ano passado, falhou a maioria absoluta (nem chegou perto, mesmo com uma hipotética aliança com os liberais), mas vai continuar a governar, provavelmente com maior estabilidade. O Chega voltou a crescer e foi o claro vencedor da noite, podendo até ultrapassar o PS em mandatos no hemiciclo se repetir os números dos círculos no estrangeiro.

O Livre fica no terceiro degrau dos vencedores ao aumentar a representação parlamentar (de quatro para seis) e a sobreviver ao pesadelo da esquerda. Junta-se a este patamar o newcomer JPP, que elegeu um deputado na Madeira para se estrear em São Bento.

A Iniciativa Liberal acrescentou um deputado aos oito que já tinha, mas o resultado peca por escasso tendo em conta as expectativas (goradas) sobre a possibilidade de entrar num governo em parceria com AD e representa um empate e não uma vitória. Empatado também ficou o PAN, que praticamente no final da noite assegurou o lugar da deputada Inês Sousa Real.

Nos derrotados, todos eles à esquerda, o grande destaque é Pedro Nuno Santos, que levou o PS ao pior resultado desde 1987 — mas potencialmente com consequências ainda mais graves, dado que pode descer para o terceiro lugar no Parlamento — e já se demitiu do cargo. Mariana Mortágua não seguiu o mesmo caminho, optando por se manter na liderança de um Bloco que passa a ter somente o lugar da líder na Assembleia. Menos pesada foi a derrota da CDU, que perdeu um deputado, mas ainda assim 25% da representação.

Os vencedores

Luís Montenegro (AD)

Luís Montenegro, líder do PSD, com a mãe no discurso da vitória.Hugo amaral/ECO 18 Mio, 2025

Não é uma vitória tão clara como a que Montenegro desejaria quando apresentou uma moção de confiança ao Governo para afastar as nuvens do caso Spinumviva. Não há maioria absoluta, nem com a IL disponível, e a AD vai ter de navegar um cenário difícil no Parlamento com um Chega de peito cheio e a apontar a mira à governação. Mas o timing político e o descalabro do PS vão dar tempo a Montenegro, que o deverá usar para consolidar alguns dos sucessos do primeiro mandato. Mais importante, o social-democrata conseguiu impedir que o caso da sua empresa familiar fosse um entrave para continuar como primeiro-ministro. Uma vitória nervosa, mas ainda assim uma vitória num campo difícil.

André Ventura (Chega)

O Chega tornou-se o segundo maior partido da nossa democracia”. Se há frase que marcou a noite eleitoral foi esta proferida por André Ventura, pois representa de forma clara a principal transformação que o partido de extrema-direita conseguiu impor no quadro político português. Se passar de 50 a (pelo menos) 58 deputados e de 18,07% para 22,56%, já colocaria o Chega no pódio dos vencedores, ficar a décimas do resultado do PS e com a possibilidade de o ultrapassar em número de parlamentares, coloca-o no topo desse pódio. Quer se goste ou não, é o grande e destacado vencedor da noite e irá aproveitar esse estatuto para liderar a oposição.

Rui Tavares (Livre)

Rui Tavares sublinhou uma das evidências da noite: o Livre é a exceção à esquerda, visto que melhorou o resultado face há um ano, passando de 3,18% para 4,20%. O bom desempenho, que já se adivinhava pela prestação de Tavares nos debates e na campanha, permite ao partido apresentar nas próximas eleições autárquicas “o máximo número de listas progressivas que disputarão o terreno à direita radicalizada que temos hoje em dia”.

Filipe Sousa (Juntos pelo Povo)

Filipe Sousa afirmou: “Somos os grandes vencedores destas eleições”. Dado o calor do momento da eleição pelo círculo da Madeira, percebe-se o exagero. O JPP está certamente entre os vencedores das eleições, mas o principal contributo foi como fator de surpresa, um novo partido no Parlamento. “A nossa forma de estar, o sentido de comunidade e tolerância foi aos pouco ganhado a confiança da população madeirense”, disse o responsável, após o partido ter ficado com um dos dois mandatos que há um ano tinham caído para o lado do PS.

Os empatados

Rui Rocha (IL)

Rui Rocha, presidente da Iniciativa LiberalLusa

Será justo não classificar como vitória o resultado de um partido que aumentou a presença no Parlamento (de oito para nove deputados)? Sim, atendendo às expectativas o resultado representa mais um empate. Essas expectativas, alimentadas pelo próprio Rui Rocha, estavam centradas num resultado que pudesse atirar o partido para o Governo, como sócio minoritário da AD. Esse cenário evaporou-se, no entanto, logo com a divulgação das projeções pelas televisões — a combinação das duas forças não seria suficiente para formar uma maioria absoluta. Rui Rocha assumiu que queria ter “crescido mais”, mas acrescentou que “não teria feito nada de diferente” na campanha e na anterior legislatura.

Inês Sousa Real (PAN)

Passou grande parte da noite despercebida, mas de repente surgiu a notícia que desejava – Inês Sousa Real, atual porta-voz e deputada única do partido Pessoas–Animais–Natureza, voltou a garantir um lugar no Parlamento. O PAN obteve 1,36% dos votos (80.850 votos), de acordo com a contagem às 23h30, com todas as freguesias do país apuradas.

Os derrotados

Pedro Nuno Santos (PS)

“Assumo as minhas responsabilidades”, a frase abria a porta à demissão esperada. Pedro Nuno Santos confirmou que vai pedir eleições internas às quais não será candidato. O desfecho era previsível desde o início de uma noite de massacre para os socialistas. Não só não conseguiu perturbar a liderança da AD nas urnas, mas também foi apanhado pelo Chega. Pedro Nuno Santos ainda estendeu uma última crítica a Montenegro, dizendo que o PS vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e que não quer “ser um estorvo ao partido nas decisões que vier a tomar, não quero dar suporte a um Governo que na soube separar a política dos negócios”. Mas era apenas uma despedida: “Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já…”.

Mariana Mortágua (BE)

A líder bloquista não camuflou o resultado. “O Bloco de Esquerda tem uma grande derrota esta noite”, disse antes de assumir que o partido tem de fazer uma reflexão sobre o caminho que levou à perda de quatro dos cinco lugares no Parlamento, mantendo apenas o de Mortágua. Essa manutenção permitiu evitar a demissão da coordenadora e apontar para novas batalhas: “Temos muito trabalho pela frente para alargar a esquerda e lutar contra a extrema-direita“, sublinhou.

Paulo Raimundo (CDU)

O líder comunista subiu ao palco para festejar a “resistência” da CDU “num quadro particularmente exigente”, adiantando que tinha informações sobre a manutenção dos quatro deputados, quando na altura tinha apenas três garantidos. Essas informações acabaram por não ser confirmadas e a CDU vai voltar ao Parlamento com apenas três representantes. Ainda assim, Raimundo prometeu luta: “Vamos enfrentar com muita coragem a extrema-direita e os interesses do capital”.

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15 números curiosos que ajudam a ler a noite eleitoral

Da expressão da ‘maioria maior’ concedida a Montenegro à hecatombe socialista, passando pelas conquistas parlamentares do Chega e do Livre, explore a tradução numérica das legislativas de domingo.

A AD reforçou a maioria sem conseguir uma maioria absoluta (nem sequer com a Iniciativa Liberal), o Chega dá como garantidos os votos da emigração para ultrapassar o número de deputados do PS e Pedro Nuno Santos sai de cena depois de perder duas legislativas em pouco mais de um ano. O ECO mostra-lhe 15 números curiosos que ajudam à leitura das legislativas deste domingo.

9,34

Luís Montenegro passou a campanha eleitoral a pedir uma “maioria maior” e a ida às urnas confirmou esse cenário. No território português, onde o apuramento dos resultados já está fechado, a diferença para o PS supera agora os nove pontos percentuais, quando no ano passado tinha sido de apenas de 0,83 pontos.

2/3

Mesmo com os votos da emigração por apurar, AD, Chega e IL já contabilizam 156 deputados, isto é, até mais de dois terços dos que são necessários para aprovar uma eventual revisão constitucional. É a primeira vez que o PS deixa de ser necessário para estas contas.

Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPMLusa

0,09

A coligação entre o PSD e o CDS não pôde usar a designação Aliança Democrática por ter desta vez deixado de fora o PPM (continuou apenas a integrar a coligação de direita nos Açores). Sozinho, o partido liderado por Gonçalo da Câmara Pereira obteve 5.296 votos, equivalentes a 0,09%. Pior só o Nós Cidadãos, o MPT e o PTP.

10

Com a eleição do JPP, pelo círculo eleitoral da Madeira, o Parlamento passa a ter uma dezena de partidos, ainda que três deles representados apenas por um deputado (os outros são o Bloco de Esquerda e o PAN).

Filipe Sousa, deputado eleito pelo JPPLusa

35,62%

A taxa de abstenção nas eleições legislativas de domingo deverá situar-se nos 35,62%, a mais baixa em 30 anos, quando em outubro de 1995 ficou nos 33,7%. Estes valores não incluem ainda os eleitores residentes no estrangeiro, cuja participação e escolhas serão conhecidos a 28 de maio.

144.896

Quase 145 mil eleitores dirigiram-se às urnas este domingo e não votaram em nenhum dos partidos que constavam do boletim: 85.966 deixaram-no por preencher (branco) e, consciente ou inconscientemente, 58.930 inutilizaram-no, tendo sido considerado nulo pelas assembleias de voto.

1

Há um ano, o PS foi o partido mais votado em oito dos 20 círculos do território nacional e este domingo sobrou apenas um ‘bastião’ socialista: Évora. Metade deles foram perdidos para a AD e os restantes para o Chega.

André Ventura, presidente do ChegaLusa

3

Depois de ter surpreendido em Faro nas últimas eleições legislativas, agora o Chega ganhou pela primeira vez na história noutros três círculos eleitorais: Setúbal, Portalegre e Beja.

8

Face às últimas legislativas, o Chega conseguiu ultrapassar o PS em oito círculos eleitorais: Beja, Leiria, Madeira, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu.

43,74%

O melhor resultado da AD em 2024 tinha sido obtido em Bragança (40,01%) e esse distrito revalidou o estatuto de principal bastião laranja no país, com 43,74% dos votos. O cabeça-de-lista escolhido voltou a ser Hernâni Dias, secretário de Estado que se demitiu de funções em janeiro deste ano por ter criado empresas imobiliárias quando estava envolvido na revisão da lei dos solos.

911

A maior diferença de percentagem de votos entre o primeiro e segundo lugar aconteceu em Viseu, com a AD quase 21 pontos percentuais à frente do Chega. Pelo contrário, a menor diferença foi registada em Beja, onde o partido liderado por André Ventura ficou à frente do PS por escassos 1,24 pontos. Isto é, 911 votos.

Rui Rocha, presidente da Iniciativa LiberalLusa

7,63

A Iniciativa Liberal conseguiu eleger mais um deputado este domingo, com esse mandato suplementar a vir de Lisboa. Foi neste círculo eleitoral que voltou a obter o seu melhor resultado: 7,63%, com base em 97.098 votos angariados.

18

Face às últimas legislativas, em que só o tinha logrado em Lisboa e na Madeira, o Livre superou a votação do Bloco de Esquerda nos restantes 18 círculos eleitorais do território nacional. O partido liderado por Rui Tavares foi o único a subir à esquerda, passando a ter seis deputados e, entre todos os partidos, foi mesmo o ‘campeão’ em ganhos relativos de votos ao registar 25% mais do que nas legislativas de 2024.

78.914

Parece confirmar-se que a confusão nas siglas com a então Aliança Democrática (AD) terá sido relevante para a surpreendente votação do ADN em 2024, quando obteve 100.051 votos, equivalentes a 1,63%. Este domingo, apesar do maior protagonismo de Joana Amaral Dias na campanha, baixou para 78.914 votos (1,32%).

30,34%

Seria uma percentagem ‘invejável’ caso Pedro Nuno Santos tivesse conseguido obtê-la a nível nacional, mas na sua terra natal (São João da Madeira), que até é liderada por um autarca socialista, foi insuficiente para ficar à frente da AD (32,86%). Já Luís Montenegro não deu hipótese à concorrência em sua ‘casa’: a coligação venceu em Espinho com 40%, deixando os socialistas a larga distância (25,35%).

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Nova eleição, (quase) os mesmos problemas na governação

Um ano depois, os portugueses voltaram às urnas e deram a vitória à AD, mas sem maioria absoluta. Garantia de governabilidade não foi atingida.

Depois de uma queda intempestiva do Governo de Luís Montenegro, muito se cenarizou sobre quem ganharia e quem perderia com esta nova ida às urnas. Com os resultados do ato eleitoral deste 18 de maio de 2025, torna-se claro que a AD reforça votação, o Chega e a Iniciativa Liberal também, enquanto o PS foi duramente castigado pelos eleitores.

Houve muitas mudanças, até com a entrada de um novo partido no hemiciclo, o madeirense JPP, mas há um problema estrutural que se mantém no que toca à governação e à estabilidade do Executivo.

O cenário mais colocado até aqui seria um Governo englobando AD e Iniciativa Liberal, mas ao fim do dia isso não chega para formar um Executivo com suporte de maioria absoluta no Parlamento. Ou seja, o Governo de Luís Montenegro continua à mercê da vontade da oposição, tanto na legislação emanada da Assembleia da República como, sobretudo, no que toca a possíveis moções de censura ou chumbos de Orçamento do Estado.

Com os votos da emigração ainda por contar, AD e IL têm 98 deputados, muito longe da maioria absoluta (116). Talvez por isso, Rui Rocha afastou de imediato a entrada no Governo. “Tinha dito que seríamos garantia de governabilidade, de uma solução para o país, na medida em que isso dependesse de nós. Mas olhando para os resultados, vemos que as maiorias possíveis estão constituídas. No Parlamento vamos continuar a defender as nossas ideias”, referiu o presidente dos liberais.

Legislativas 2025
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    Mesmo um acordo apenas parlamentar não teria qualquer utilidade para a AD, porque a coligação PSD/CDS tem mais mandatos do que toda a esquerda junta. Um qualquer acordo não só não garantiria maioria absoluta como a AD não precisa da IL para ter mais votos do que a esquerda toda junta.

    No atual Parlamento, a AD tinha um total de 81 deputados (e 90, se contarmos a IL); a esquerda, no total (incluindo o PAN), tinha 92. Ou seja, se o Chega não se metesse no processo, o Governo ficaria à mercê da oposição de esquerda. Agora, o cenário mudou exatamente aí. A AD, sozinha, tem para já 89 mandatos, enquanto toda a esquerda não chega aos 70.

    A mim não cabe ser o suporte deste Governo e esse papel também não deve caber ao PS

    Pedro Nuno Santos

    Secretário-geral do PS

    Porém, a trama adensa-se ainda mais no que toca ao PS, que sofreu uma pesada derrota, ficando (para já) igualado ao Chega, ao perder 20 deputados face ao resultado de 2024. Pedro Nuno Santos assumiu a responsabilidade pelo resultado e anunciou a saída. “Assumo as minhas responsabilidades como sempre fiz no passado. Vou pedir por isso eleições internas às quais não serei candidato”. Mas, não sendo candidato, deixou uma sugestão à próxima liderança, de que não deve viabilizar um Governo AD. “A mim não cabe ser o suporte deste Governo e esse papel também não deve caber ao PS”, diz Pedro Nuno Santos. Resta saber se o PS tem condições para escolher um novo líder antes dos momentos decisivos acerca da constituição do Governo e que posição terão os socialistas nessa altura.

    O que isto significa é que não é líquido que o PS viabilize a formação do Governo ou a aprovação do Orçamento do Estado para 2026. Se tal não acontecer, a decisão fica nas mãos do Chega. André Ventura tem insistido em que o seu partido tem de ir para o Governo com o PSD, mas tal obrigaria a uma enorme mudança de posição por parte de Luís Montenegro. Na noite eleitoral, Montenegro não repetiu a já célebre frase “Não é não” acerca do Chega mas, questionado sobre isso, salientou que mantém a palavra e o rumo seguido até aqui. E lembrou que a AD aumentou muito a diferença para o segundo classificado, entre as eleições, alegando que isso dá força e legitimidade acrescida à solução governativa que vem de trás. “O povo português não quer outro Governo nem quer outro Primeiro-ministro”, afirmou.

    O povo português não quer outro Governo nem quer outro Primeiro-ministro

    Luis Montenegro

    Presidente do PSD

    Na prática, não aconteceu aquilo que Marcelo Rebelo de Sousa tanto pediu: estabilidade e condições de governabilidade. A AD ganha mandatos face ao que tinha mas sem que tal tenha utilidade real. O Chega sobe oito mandatos, para 58, mas a manter-se o “não é não” de Luís Montenegro, a utilidade desse ganho também é questionável. E o PS, que nas eleições anteriores ficou mesmo em cima da AD, nem que “federasse” toda a esquerda conseguiria sequer ter mais peso que a AD.

    O resultado será, novamente, um Governo minoritário AD, com mais mandatos mas as mesmas condições parlamentares.

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    Montenegro reclama vitória “reforçada”, pede responsabilidade e promete manter compromisso sobre não ao Chega

    AD elegeu mais nove deputados do que nas legislativas de 2024. Noite foi de festejos na sede da AD, com primeiro-ministro reeleito a garantir que resultados mostram que "povo quer este Governo".

    Não foi a maioria maior pedida por Luís Montenegro suficiente para governar sem depender da oposição, mas a reeleição com um reforço da votação leva o líder da AD a reclamar “vitória”. Ainda assim, longe de uma maioria absoluta (mesmo com a IL), pede responsabilidade aos outros partidos e garante que “os compromissos” assumidos pela AD face ao Chega são para manter.

    “Esta foi uma grande vitória. Temos hoje mais votos, mais mandatos e multiplicámos por 10 a diferença entre o primeiro classificado e o segundo classificado nestas eleições. Esta maioria é uma maioria maior do que aquela que tínhamos há um ano”, afirmou o primeiro-ministro reeleito em declarações aos jornalistas na sede da AD, no Epic Sana, em Lisboa.

    Eram cerca das 00h45, quando Luís Montenegro subiu ao palco no quartel-general da coligação vencedora das eleições com 32,72% (incluindo o PSD/CDS-PP/PPM dos Açores) dos votos e 89 deputados eleitos, ao som do hino da campanha e aplausos de uma sala bem preenchida. “Como dissemos muitas vezes a todos na campanha, agora deixem o Luís trabalhar”, gracejou.

    Luís Montenegro, presidente do PSD, na noite eleitoral das legislativas de 2025. Hugo Amaral/ECO

    “O povo falou, exerceu o seu poder soberano e no recato da sua liberdade aprovou de forma inequívoca um voto de confiança no Governo, na AD e no primeiro-ministro. Os portugueses não querem mais eleições antecipadas. Querem uma legislatura de quatro anos e exigem a todos que percebam, que respeitem e honrem a sua palavra livre e democrática”, afirmou.

    A AD elegeu mais nove deputados face às legislativas de 2024: mais um em Castelo Branco, em Coimbra, em Santarém, em Viana, em Vila Real, em Viseu, em Lisboa, no Porto e na Madeira. O primeiro-ministro reeleito salienta que ao Governo caberá executar o programa que foi apresentado, cumprir os compromissos que foram assumidos e “estar à altura da confiança reforçada dos eleitores”.

    No entanto, deixa um aviso. “Às oposições caberá igualmente respeitar e cumprir a vontade popular honrando os seus compromissos e propostas, mas adequando-os as circunstâncias nacionais e coletivas. De uns e outros espera-se sentido de Estado, de responsabilidade, respeito pelas pessoas e naturalmente espírito de convivência na diversidade mas também de convergência e salvaguarda do interesse nacional”, refere.

    Luís Montenegro, líder do PSD, ladeado pela mulher e por António Leitão Amaro, ministro da Presidência, festejam a vitória da AD.
    Luís Montenegro, líder do PSD, ladeado pela mulher e por António Leitão Amaro, ministro da Presidência, festejam a vitória da AD.Hugo Amaral/ECO 18 Maio, 2025

    O povo quer este Governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro. Quer que respeitem e dialoguem com as oposições, mas o povo também quer que as oposições respeitem e dialoguem com este Governo”, vinca, desafiando quem menorizar a vitória da AD a esclarecer e apresentar “uma alternativa”.

    “Se não formos capazes de perceber isto não nos mostramos capazes de perceber a raiz da pronúncia do povo”, afirma. Para o primeiro-ministro, não há “outra solução de Governo do que aquela que dimana da vontade livre do povo português”, já que “do ponto de vista aritmético apenas sobraria uma outra coligação entre PS e Chega, o segundo e terceiro classificados”, cenário que considera não ser “crível ou admissível”.

    Legislativas 2025
    ic_fluent_live_24_filled Created with Sketch. Em atualização

      Após ser questionado pelos jornalistas (com muitos assobios dos apoiantes da AD) se manterá o “não ao não” ao Chega, Montenegro afirma: “Temos palavra e cumprimos a nossa palavra”.

      “Não sei aquilo que os outros partidos poderão dizer-nos. Dentro do cumprimento dos compromissos que assumi em nome da AD e deste espírito que sim é sim em Portugal. Tenho a certeza absoluta que vai acabar por imperar o sentido de responsabilidade”, acrescenta.

      “Que sirva de lição ao PS”, atira Nuno Melo. Líder do CDS-PP apela à “responsabilidade” dos socialistas

      O líder do CDS-PP, parceiro de coligação do PSD, considera que os resultados das eleições deste domingo reforçam o resultado da AD alcançado há um ano e “a legitimidade e credibilidade” do projeto. Em declarações aos jornalistas na sede da AD, antes de o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, anunciar a demissão, Nuno Melo defende que o números mostram que “a crise política que foi criada pelas oposições era totalmente desnecessária”.

      “Na verdade, o PS que lhe deu causa foi por isso fortemente penalizado sofrendo uma clara derrota. Que lhes sirva de lição. Que sirva de lição ao PS porque o aumento claro de diferença entre AD e PS é igualmente sinal que os portugueses esperam dos socialistas sentido de responsabilidade, que sejam capazes também de o fazer em relação ao futuro aquilo que deles se espera”, argumenta.

      Nuno Melo, líder do CDS-PP, na noite eleitoral das legislativas de 2025.
      Hugo Amaral/ECO

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      Pedro Nuno Santos quer sair “já” da liderança do PS e chuta para outro dar a mão ao Governo

      "O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e eu não quero ser um estorvo", admitiu o ainda líder dos socialistas que nunca dará suporte a Luís Montenegro.

      “Assumo as minhas responsabilidades como sempre fiz no passado. Vou, por isso, pedir eleições internas à comissão nacional às quais não serei candidato”, anunciou, com semblante pesado, o ainda secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, este domingo à noite a partir do quartel-general do partido instalado no hotel Altis, em Lisboa. O desalento era completo na sala. “Não Pedro, Não Pedro!”, suplicavam militantes e amigos. Nenhuma bandeira socialista esvoaçava.

      Mas a fatídica decisão estava tomada, diante de “tempos duros para o PS e para a esquerda”, e o melhor é sair “já”, porque Pedro Nuno não quer ser “um estorvo” a outro que vier a liderar o partido numa eventual solução de Governo com a AD, já que Luís Montenegro continua sem maioria absoluta e a precisar de entendimentos parlamentares para viabilizar o programa e Orçamentos de Estado.

      O líder do PS sai de cena, depois da pesada derrota nas eleições legislativas de 18 de maio que deixou o partido praticamente empatado com o Chega e com o mesmo número de deputados (58), sendo que à hora que é publicado este artigo ainda estão por atribuir os quatro mandatos pelos círculos Europa e Fora da Europa. No próximo sábado, a comissão nacional, presidida por Carlos César vai marcar a data do Congresso eletivo, que estava previsto só para dezembro. E José Luís Carneiro já anunciou que será novamente candidato à liderança do partido, depois de ter perdido as eleições internas de há dois anos com Pedro Nuno Santos.

      “Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já… O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e não quero ser um estorvo ao partido nas decisões que vier a tomar. Acho que não devo estar em impor e ser um estorvo nas decisões do PS, devo-me afastar”, sustentou.

      Deixo de ser secretário-geral assim que puder, se puder ser já… O partido vai ter de tomar decisões muito importantes na relação com o Governo e eu não quero ser um estorvo.

      Pedro Nuno Santos

      Secretário-geral do PS

      Entretanto, o ex-ministro das Finanças, Fernando Medina já veio defender que “o PS deve assegurar uma solução de Governo que exclua a extrema-direita”, afirmou este domingo em declarações ao canal NOW. E outras vozes socialistas mais ao centro deverão juntar-se-lhe.

      Diante de uma sala repleta de militantes e amigos comovidos, que gritavam “Pedro Pedro! Pedro”, o ainda dono do trono do Rato apresentou três motivos para a sua demissão. Primeiro não quer dar a mão a um Executivo liderado por alguém que não é digno desse cargo. “A mim não cabe ser o suporte deste Governo e esse papel também não deve caber ao PS. Luís Montenegro mostrou que não tem idoneidade para o cargo de primeiro-ministro e estas eleições não alteraram isso“, apontou.

      A este propósito, voltou a acusar Montenegro de não saber “separar a política dos negócios”, por causa da empresa familiar Spinumviva. “Por isso, as razões que nos levaram a pedir uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) permanecem intocáveis”, atirou. No entanto, salvaguardou que já não será ele a tomar essa decisão. De recordar que Pedro Nuno chegou a admitir deixar cair a CPI, caso o presidente do PSD prestasse todos os esclarecimentos.

      “Em segundo lugar”, enumerou, “Luís Montenegro lidera um Governo que falhou a vários níveis no último ano, que mostrou ser incompetente e, em terceiro lugar, apresenta um programa que vai contra os princípios e os valores do PS”, sublinhou. “Estas são mais do que razoes suficientes para que o PS não suporte um Governo nem dê um suporte a um Governo liderado por Luís Montenegro”, argumentou.

      Depois apontou baterias ao Chega. “A extrema cresceu muito, tornou-se mais agressiva e mais mentirosa. Sentimos a violência da extrema-direita, que deve ser combatida sem complacência, com coragem”, defendeu. E isso passa por “combater as suas ideias sejam no poderia a influenciar quem está no poder”, atirou, num alerta sobre eventuais entendimentos entre a AD e o partido de André Ventura.

      O povo falou com clareza e nós acatamos a decisão do povo português. Já liguei a Luís Montenegro e felicitei-o pela vitória. Que saiba honrar a confiança que os portugueses lhe deram.

      Pedro Nuno Santos

      Secretário-geral do PS

      Em relação ao timing das eleições internas que poderão contaminar as autárquicas, que se realizam já em finais de setembro ou inícios de outubro, Pedro Nuno Santos mostrou-se confiante. “As pessoas vão votar no candidato à câmara, vão fazer um juízo sobre o trabalho do presidente de câmara, vão fazer um juízo sobre o candidato que se apresenta e é por isso que nós, em muitas autarquias, vamos ter 50% ou 60%. Fizemos grandes escolhas para as autarquias e as pessoas sabem distinguir os atos eleitorais”, vincou.

      Apesar de se afastar, por agora, Pedro Nuno Santos prometeu, citando o histórico socialista, que não vai baixar os braços: “Como disse Mário Soares, só é vencido quem desiste de lutar e eu não desistirei de lutar. Até breve. Obrigado a todos!”.

      Agradeceu ainda ao “partido sempre unido”. “Acho que honrei a história do meu partido, tenho muito orgulho no partido que liderei e no trabalho que fizemos”, declamou, arrancando fortes aplausos da audiência. Mas, infelizmente, reconheceu, o PS “não conseguiu ganhar as eleições. “O povo falou com clareza e nós acatamos a decisão do povo português. Já liguei a Luís Montenegro e felicitei-o pela vitória. Que saiba honrar a confiança que os portugueses lhe deram”, disse.

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      André Ventura diz que Chega pôs fim ao bipartidarismo e que não vai parar “até ser primeiro-ministro”

      O líder do Chega deixou ainda várias ameaças de que o partido vai "exigir contas a todos os poderes em Portugal" e às empresas de sondagens que falharam.

      O líder do Chega considera que o resultado eleitoral do partido nestas eleições legislativas significa o fim do bipartidarismo em Portugal e disse este domingo que não vai “parar até ser primeiro-ministro”.

      Apesar de ainda faltarem apurar os círculos da emigração, André Ventura garante que o “Chega tornou-se o segundo maior partido da nossa democracia“, o que “não acontecia desde 25 de abril de 1974”.

      “Não vencemos estas eleições, mas fizemos história (…) Podemos declarar oficialmente, perante o país todo e com segurança, que acabou o bipartidarismo”, afirmou André Ventura, no discurso de reação aos resultados eleitorais, a partir do hotel que o Chega escolheu para acompanhar a noite eleitoral, em Lisboa.

      André Ventura deixou ainda várias ameaças de que o Chega vai “exigir contas a todos os poderes em Portugal” e às empresas de sondagens, que “falharam” nas intenções de votos dadas ao partido durante a campanha eleitoral.

      “Aprendi que em política temos de assumir responsabilidades. É hora que as empresas de sondagem também retirem consequências dos seus atos”, disse, acusando as empresas de “levar ao colo” os principais partidos (PSD/CDS e PS).

      Legislativas 2025
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        Numa “grande noite” eleitoral que pôs o Chega taco a taco com o PS de Pedro Nuno Santos, André Ventura acredita que foi o facto de a taxa de abstenção ter baixado, para mínimos de três décadas, que motivou este desfecho. “Tivemos o resultado que tivemos hoje, porque o país saiu de casa”, assinalou.

        André Ventura comentou ainda as diferentes cores políticas no mapa de Portugal, especialmente os concelhos que “nunca deixariam de ser de esquerda”. “Varremo-los do mapa”, atirou, referindo-se a municípios como Setúbal ou Portalegre.

        Com apenas os votos do círculo da emigração por contabilizar, o Chega está em terceiro lugar das votações nestas eleições legislativas, atrás da AD de Luís Montenegro e do PS de Pedro Nuno Santos. Apesar de ser a terceira força política com 22,56% (1.345.575 votos), o Chega está empatado com os socialistas com 58 deputados eleitos.

        O cenário ainda se pode inverter na luta pelo segundo lugar com as votações dos emigrantes. No ano passado, o Chega venceu no círculo da emigração com 18,30% dos votos e dois deputados eleitos (um pela Europa e outro fora da Europa), o que acabou por elevar o seu número de lugares no parlamento para a meia centena.

        A propósito da Europa, o presidente do Chega disse apenas que recebeu mensagens dos grandes líderes da direita europeia, “incrivelmente honrados com o resultado que acabou com um sistema que já não servia ninguém” sem mencionar nomes dos dirigentes políticos que o contactaram.

        Quem também o felicitou, e vice-versa, foi Luís Montenegro, mas sem garantias de se sentar à mesa para negociar um possível acordo de direita. Antecipação de cenários e disponibilidade para recuar no “nunca é nunca” ficaram para os próximos dias, segundo André Ventura.

        “Oh Pedro vai para casa chorar que o Ventura chegou para ficar”

        O ambiente no quartel-general do Chega foi de completa euforia. Entre cânticos em uníssono e bandeiras erguidas, o Chega inclusive mudou a letra de um dos cânticos – “Luís vai lá trabalhar para o Ventura governar” – para tirar o ónus de Luís Montenegro e passá-lo para Pedro Nuno Santos: “Oh Pedro vai para casa chorar que o Ventura chegou para ficar”.

        Logo antes das 20h00, os militantes fizeram contagem decrescente para as projeções à boca das urnas e, assim que os primeiros resultados foram chegando através das televisões, houve gritos de entusiasmo e aplausos. Envergando os seus cachecóis e bandeiras, os apoiantes do Chega diziam expressões, como “isto é determinante para o país” ou “para a próxima ganhamos mesmo”.

        À porta do Hotel Marriott, alguns turistas norte-americanos, apoiantes de Donald Trump, mostravam-se atentos ao desenrolar da noite eleitoral e contentes pelos resultados obtidos por André Ventura em Portugal.

        Nas últimas eleições legislativas, no ano passado, o Chega obteve 18,07% dos votos (1.169.836 votos) e elegeu 50 deputados. Dois anos antes, nas eleições legislativas de 2022, o Chega obteve 7,18% dos votos (399.510 votos) e elegeu 12 deputados. Na ida às urnas em 2019, as primeiras legislativas nas quais o partido de extrema-direita participou, o Chega obteve 1,29% dos votos (67.826 votos) e elegeu apenas um deputado, André Ventura.

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        AD vence eleições legislativas sem maioria. Chega pode ficar à frente do PS

        Luís Montenegro vai continuar a ser primeiro-ministro, sem conseguir maioria absoluta com a IL. Pedro Nuno Santos e André Ventura taco-a-taco na disputa pelo segundo lugar. Livre ultrapassa BE e CDU.

        A AD venceu as eleições legislativas antecipadas realizadas este domingo, de acordo com as projeções à boca das urnas que acabam de ser divulgadas por todos os canais televisivos, que apontam igualmente para a possibilidade de o Chega ficar à frente do Partido Socialista.

        Projeção da Universidade Católica para a RTP

        AD – 29% a 34%

        PS – 21% a 26%

        Chega – 20% a 24%

        IL – 4% a 7%

        Livre – 3% a 6%

        CDU – 2% a 4%

        BE – 1% a 3%

        PAN – 1% a 2%

        Projeção do ICS/ISCTE para a SIC/Expresso

        AD – 30,3% a 39,7%

        PS – 21,6% a 25,8%

        Chega – 19,9% a 24,7%

        IL – 4,2% a 7,4%

        Livre – 3,3% a 6,5%

        CDU – 1,4% a 4%

        BE – 1% a 3,6%

        PAN – 0,5% a 2,5%

        JPP – 0,2% a 0,8%

        Projeção da Pitagórica para a TVI/CNN Portugal

        AD – 29,1% a 35,1%

        Chega – 19,5% a 25,5%

        PS – 19,4% a 25,4%

        IL – 5% a 8%

        Livre – 3,2% a 6,2%

        CDU – 1,3% a 4,3%

        BE – 1,1% a 4,1%

        PAN – 0,5% a 2,5%

        Projeção da Intercampus para a CMTV/Now

        AD – 30,9% a 36,9%

        Chega – 20,6% a 26,6%

        PS – 19,4% a 25,4%

        IL – 3,3% a 7,3%

        Livre – 1,9% a 5,9%

        CDU – 1,4% a 4,4%

        BE – 0,5% a 3,5%

        Montenegro obrigado a acordos para governar

        A confirmarem-se as projeções reveladas às 20h, o xadrez político vai alterar-se significativamente na próxima legislatura, desde logo com um PS mais enfraquecido no Parlamento e com o Chega a aumentar a sua representação na Assembleia da República.

        No entanto, apesar de ter reforçado a votação e o número de deputados, a coligação pré-eleitoral formada pelo PSD e pelo CDS-PP continuará obrigada a negociar com os partidos da oposição para conseguir viabilizar Orçamentos do Estado, aprovar as medidas previstas no programa eleitoral e escapar a futuras moções de censura.

        Uma eventual maioria absoluta entre a AD e a IL foi o cenário mais discutido durante a campanha eleitoral, mesmo que nenhuma sondagem divulgada nas últimas semanas tenha apontado para essa possibilidade. O voto nas urnas confirmou essa impossibilidade. Ainda assim, todas as projeções confirmam que os liberais vão continuar a ser a quarta força política na Assembleia da República e podem alcançar o melhor resultado de sempre em legislativas.

        À esquerda, além da hecatombe socialista, o principal destaque vai para a ultrapassagem do Livre ao Bloco de Esquerda e à CDU. Por outro lado, a coligação entre os comunistas e os Verdes deverá conseguir ficar à frente do partido liderado por Mariana Mortágua.

        Depois de há um ano ter perdido o grupo parlamentar, é ainda incerta a continuidade da deputada do PAN na Assembleia da República. Em aberto está também a possibilidade de o Juntos pelo Povo (JPP) conseguir eleger um deputado pelo círculo eleitoral da Madeira.

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