Temperatura média da Terra voltou a bater recorde esta quarta-feira

  • Lusa
  • 6 Julho 2023

Depois do recorde de segunda e terça, a temperatura média da Terra continuou a bater recordes acima dos 17 graus Celsius na quarta, segundo o Climate Reanalyzer da Universidade do Maine, nos EUA.

A temperatura média da Terra continua a bater recordes acima dos 17 graus Celsius, segundo o Climate Reanalyzer da Universidade do Maine, nos EUA. Esta fonte, que se baseia em dados de satélite e simulações de computador para fazer as medições, indicou que a temperatura média global na quarta-feira foi de 17,18 graus Celsius, igualando o valor de terça-feira.

Segunda-feira já tinha sido o mais quente alguma vez medido em termos mundiais, superando pela primeira vez a média dos 17 graus Celsius.

A temperatura média diária do ar na superfície do planeta na segunda-feira foi medida em 17,01 graus por um serviço dependente da Agência dos EUA para a Atmosfera e os Oceanos (NOAA, na sigla em Inglês). Este valor superou o recorde diário precedente (16,92 graus) estabelecido em 24 de julho de 2022, segundo os dados dos centros nacionais de previsão ambiental da NOAA.

Os cientistas alertam há meses que 2023 poderá registar recordes de calor à medida que as mudanças climáticas causadas pelo homem, impulsionadas em grande parte pela queima de combustíveis fósseis como carvão, gás natural e petróleo, aquecem a atmosfera.

Estas observações são provavelmente uma antecipação do que aí vem com o fenómeno designado El Niño (em Castelhano) — geralmente associado a um aumento das temperaturas à escala mundial -, complementado com os efeitos do aquecimento climático causado pela atividade humana.

O cientista climático da Universidade do Maine, Sean Birkle, criador do Climate Reanalyzer, disse que os números diários não são oficiais, mas são informação útil para o que está a acontecer no mundo no que diz respeito ao aquecimento global.

Os cientistas geralmente usam medições mais longas — meses, anos, décadas — para rastrear o aquecimento da Terra, mas as altas temperaturas diárias são uma indicação de que a mudança climática está a atingir um território desconhecido.

Os recordes de alta temperatura foram superados esta semana no Quebec, Canadá, e no Peru. Pequim registou durante nove dias consecutivos na semana passada temperaturas acima dos 35 graus Celsius. O ano 2022 foi o oitavo consecutivo onde as temperaturas médias mundiais foram superiores em pelo menos um grau aos níveis observados entre 1850 e 1900.

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Ciclo de Conversas #7 – Os desafios de uma transição justa

  • Conteúdo Patrocinado
  • 6 Julho 2023

A sétima sessão do "Ciclo de Conversas - Rumo à Neutralidade Carbónica 2030", organizada pela CM Porto, teve como tema "Os desafios de uma transição justa". O evento decorreu no Porto Innovation Hub.

O “Ciclo de Conversas – Rumo à Neutralidade Carbónica 2030” é uma iniciativa organizada pela Câmara Municipal do Porto, que conta com 10 sessões de esclarecimento e debate relacionadas com os temas da sustentabilidade, descarbonização e transição climática no contexto da neutralidade carbónica das cidades. A sétima sessão aconteceu na passada quinta-feira, dia 29 de junho, no Porto Innovation Hub, e teve como tema “Os desafios de uma transição justa”.

Rúben Fernandes, Administrador Executivo da Águas e Energia do Porto, foi o moderador do evento, que contou com a presença de Maria do Rosário Palha, Senior Sustainability Manager da Fundação Calouste Gulbenkian; Mariana Almeida, Jurista do Departamento Jurídico e Económico da DECO; e Isabel Azevedo, Diretora da Unidade de Energia do INEGI.

Cada um dos oradores teve direito a uma intervenção, seguida de um espaço de debate e de esclarecimento com o público presente.

Na abertura da sessão, Rúben Fernandes começou por abordar a urgência de se descarbonizar a economia e as oportunidades e desafios associados a essa descarbonização: “Obviamente que pode haver oportunidades para uns, mas certamente que haverá iniquidades que são geradas para outros segmentos da população, outros territórios, outras atividades, tais como problemas associados à perda de competitividade, perda de riqueza, de emprego, e é neste contexto que surge este conceito de transição justa”.

Nesse sentido, o responsável da Águas e Energias do Porto, explicou que, no contexto dos municípios, para se conseguir esta transição justa é fundamental implementar um conjunto de políticas públicas que não deixem ninguém para trás, que criem prosperidade para todos e que protejam os diferentes segmentos da população. “Quando estamos num território que se quer comprometer com um processo de descarbonização mais acelerado e quer atingir metas de uma forma mais rápida, tudo isto se torna mais premente. E este é o caso do município do Porto”, acrescentou.

“No cenário nacional, temos um envelope financeiro europeu na ordem dos 23 mil milhões de euros e temos um Fundo para a Transição Justa que não chega aos 250 milhões de euros. A agravar esta situação, este fundo já foi pré-alocado muito antes dos programas terem sido desenhados, ou seja, não é um fundo que esteja à disposição para qualquer agente concorrer. Este fundo já foi destinado a três regiões do país – Médio Tejo, Alentejo litoral e Matosinhos -, portanto, já se sabe que intervenções vão ser apoiadas e não há nenhum agente do país que possa concorrer a ele agora“, disse Rúben Fernandes, alertando para um dos desafios desta transição.

Contributos focados na pobreza energética

Isabel Azevedo, Diretora da Unidade de Energia do INEGI ficou encarregue da primeira intervenção do evento, na qual explicou que o INEGI funciona como uma ponte entre a universidade e as empresas/indústrias ou mesmo outras entidades, como câmaras municipais ou outras entidades e decisores políticos.

“O nosso objetivo aqui, nesta componente da transição, é criar metodologias, ferramentas, estudos que possam apoiar os decisores políticos a poderem ter uma decisão mais informada, a perceberem se o que estão a fazer é bem feito, se está a funcionar, entender o que é preciso e identificar prioridades. E, na componente da pobreza energética, o nosso objetivo tem sido, primeiro, numa componente mais de identificação e caracterização do que é um consumidor vulnerável e o que é a pobreza energética e nós fazemos isso de uma forma mais macro, olhando para dados estatísticos”, disse.

Depois de uma análise mais macro, o INEGI passa para um nível de atuação mais individualizado. Neste ponto, Isabel Azevedo apresentou um dos projetos que têm neste âmbito: “Há um projeto que temos agora, onde também está a Câmara do Porto e a Agência de Energia do Porto, através do qual fazemos a monitorização do bairro do Agra do Amial. Ou seja, primeiro fizemos um inquérito aos habitantes para perceber as condições da habitação, socioeconómicas, a perceção de conforto, hábitos de consumo de energia, e depois fazemos a monitorização de algumas casas, com alguma diversidade, onde percebemos qual o conforto térmico e a qualidade do ar interior”.

Este projeto permitiu perceber que, durante dezembro, janeiro e fevereiro, 90% das casas monitorizadas estão abaixo dos 18 graus, que é considerada a temperatura mínima dentro do intervalo confortável. Mais concretamente, durante janeiro e fevereiro, há muitas casas entre os 10 e os 15 graus, “que já é uma temperatura que vai muito além e que pode ter outras consequências, tais como o aumento de mortes durante o inverno, que é espelho desta situação”.

Para resolver esta problemática, a responsável do INEGI afirmou que é importante fazer edifícios capazes que sejam eficientes no clima de hoje, mas que também capazes de suportar as mudanças climáticas sem exigir um aumento no custo de energia para os cidadãos. Além disso, a promoção da literacia energética foi outro ponto mencionado como solução pela diretora da unidade de energia do INEGI, que apresentou um projeto que têm para o efeito.

“Temos um projeto que tenta avaliar novas formas de sensibilização, de forma a mudar o comportamento das pessoas. Envolve 100 casas na zona do Porto, que estão a ser monitorizadas. Os consumidores têm acesso a uma aplicação digital, na qual temos um grupo de controlo e um grupo de estudo, onde eles vão recebendo informações. Isto é preliminar, mas no primeiro estudo que fizemos durante o inverno, praticamente não houve diferença entre o grupo de controlo e o grupo que tinha acesso aos nossos conselhos. No entanto, nos últimos meses, temos dado informação sobre a qualidade do ar interior, e damos conselhos que muitas vezes implicam ter de abrir ou fechar janelas, e, nestes casos, as pessoas reagem muito mais por ser algo mais imediato e mais fácil. Por isso, temos que tornar o tema da energia mais tangível e concretizável também”, alertou.

A proteção do consumidor

Por sua vez, Mariana Almeida, Jurista do Departamento Jurídico e Económico da DECO, falou do ponto de vista do consumidor e das suas necessidades. “Há aqui um problema base, que é o facto de o consumidor estar no centro da transição energética, mas na verdade ele não está acautelado pelas políticas públicas“, começou por dizer.

“Quando falamos em consumidor vulnerável, nós estamos a associar a ser economicamente vulnerável e todas as políticas públicas que são desenvolvidas a este nível, ou seja, só protegem o consumidor economicamente vulnerável. Mas é importante começar a expandir horizontes e a redefinir conceitos, isto porque se nós tivermos uma legislação orientada para uma vulnerabilidade que não é só económica, nós vamos conseguir proteger cada vez consumidores e criar regras específicas para segmentos diferentes de vulnerabilidade“, explicou.

A responsável da DECO acrescentou, ainda, que quando fala em vulnerabilidade, refere-se a uma iliteracia energética que é muito presente, não só por pessoas com baixo nível de escolaridade. “No âmbito dos nossos estudos, quando falamos de literacia energética, ela é muito associada a se um consumidor sabe ou não ler uma fatura, mas isso não é literacia energética. A literacia energética implica o consumidor perceber qual é o seu perfil energético, qual a utilização que faz dos equipamentos, perceber se eles são eficientes ou se não são, perceber o impacto que a energia que consome vai ter na sua fatura. E, ainda que se note uma sensibilização para o impacto ambiental, a preocupação maior dos consumidores continua a ser o custo da fatura ao final do mês. Tem que haver um segmento de política pública orientado para esta vulnerabilidade”.

Além da literacia energética, Mariana Almeida apontou outro dos problemas associados à transição justa, que está relacionado com a literacia digital. “Há pessoas que não conseguem candidatar-se a apoios porque eles são eminentemente digitais e porque não há gabinetes específicos para ajudar as pessoas a candidatarem-se. Desde logo, há apoios que são dirigidos a segmentos de pessoas que são economicamente vulneráveis, mas que depois não têm capacidade de dar resposta na parte digital”, disse.

Neste âmbito, a jurista da DECO deu o exemplo da instalação de painéis solares, que tem vindo a ser promovida por várias empresas de energia junto dos seus clientes, no entanto, há situações em que os consumidores adquirem mais painéis do que os que realmente precisavam e “depois acham estranho terem uma fatura mais elevada no final do mês porque o comercializador lhes disse que com a instalação de painéis solares eles iam ter uma poupança direta na fatura“. “É importante que tudo isto seja desmistificado para que o consumidor se sinta empoderado para integrar esta transição energética”, acrescentou.

Com o objetivo de proteger os consumidores e de os alertar para estas realidades, a DECO criou o projeto STEP (Soluções para combater a Pobreza Energética), inserido num consórcio com vários países da UE, que foram identificados como sendo aqueles que mais níveis de pobreza energética têm: “O objetivo era fazer este aconselhamento energético aos consumidores de forma individualizada, ou seja, mediante um questionário canalizávamos vários setores de vida do consumidor no âmbito do perfil energético, como o da habitação, do ponto de vista contratual, da opção tarifária, dos equipamentos e, depois do aconselhamento, tentar a sua monitorização para saber se havia um ajustamento das recomendações que nós dávamos aos consumidores”.

Ao todo, com este projeto, a DECO aconselhou 5110 consumidores, formou 3095 em workshops, formou 1120 técnicos, sensibilizou 8445 consumidores e também exigiu a implementação de 22 medidas, tanto a nível europeu, como a nível nacional. “Este projeto inspirou-nos e levou-nos a querer implementar o Balcão de Habitação e Energia, que está a ser implementado agora, a partir de 2023, em vários municípios. A ideia deste balcão é criar um gabinete específico, ao qual o consumidor se pode dirigir e ter acompanhamento personalizado, customizado e ter a tal monitorização“, contou.

Saber comunicar para envolver o consumidor, criar verdadeiros mecanismos e incentivos para o consumidor, adequar a mensagem e a linguagem utilizada na regulação, fiscalizar novas áreas associadas à transição energética, fundar comissões de utentes para a transição energética a nível local, alterar o paradigma legal no que diz respeito à relação jurídica do consumo, e adotar políticas que sejam multidisciplinares foram as soluções apresentadas pela responsável para uma transição justa.

Gulbenkian financia vários projetos sustentáveis

Maria do Rosário Palha, Senior Sustainability Manager da Fundação Calouste Gulbenkian, foi a última oradora desta sessão, e destacou todos os projetos que a Gulbenkian tem vindo a financiar no âmbito das alterações climáticas. “Nos próximos cinco anos é a sustentabilidade e a equidade que gerem a nossa estratégia. O Programa Sustentabilidade da Gulbenkian é um programa de apoio a organizações sociais, essencialmente em Portugal e no Reino Unido, e de apoio a organizações que fazem projetos que mobilizam pessoas a larga escala, sobretudo as pessoas mais afetadas pelas alterações climáticas”, declarou.

Este programa tem quatro eixos de ação, nomeadamente o envolvimento de todas as pessoas na ação climática, a mudança na narrativa pela necessidade de encontrar formas mais eficazes de comunicar estes temas para que as pessoas se envolvam verdadeiramente na ação climática; a demonstração dos benefícios das relações de transição justa e com base na natureza, e a liderança pelo exemplo.

O “Projeto de Transição” é um dos projetos financiados pela Gulbenkian. Trata-se de um projeto-piloto que está a ser implementado em Setúbal, funciona num antigo contentor marítimo que foi reaproveitado e que tem um perito da agência de energia local para dar informação às pessoas sobre o conforto térmico, sobre a redução das despesas de energia, sobre o tipo de financiamentos que estão disponíveis, sobre como preencher candidaturas para aceder a esses financiamentos. “O espaço de atendimento é móvel, ou seja, pode ser deslocado dentro do município consoante as necessidades para dar uma resposta de proximidade e esta é uma enorme vantagem”, garantiu.

Outro projeto financiado pela Gulbenkian é o “Além Risco” que, de acordo com Maria do Rosário Palha, “pretendeu reforçar a capacidade de adaptação das pessoas do Alentejo Central ao efeito das ondas de calor na saúde pública, através da plantação de 50 mil árvores em aglomerados urbanos“. Neste projeto participaram 13 municípios e muitos cidadãos, bem como várias escolas.

Por fim, a responsável falou, ainda, do projeto “Gulbenkian Água”, que nasceu fruto do desafio de disponibilidade hídrica em Portugal, que é agravado pelas alterações climáticas. “O setor agrícola tem sido o mais afetado por isto. Em Portugal, este setor usa 75% da água e isso acontece para compensar a falta de chuva. Decidimos, por isso, que este projeto seria feito com o setor agrícola e estamos a financiar projetos de demonstração no terreno de boas práticas do uso da água”, concluiu.

Pode ouvir a conferência em podcast aqui:

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Nova rede social da Meta ganha dez milhões de perfis em sete horas

  • Lusa e ECO
  • 6 Julho 2023

Com o objetivo de destronar o Twitter, a nova rede social criada pela Meta está disponível em 100 países. União Europeia, para já, está de fora.

A nova rede social Threads, da gigante tecnológica Meta, registou cinco milhões de assinantes nas primeiras quatro horas depois de estar disponível, disse o fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg. A barreira dos dez milhões de perfis também já foi superada, dez horas depois do lançamento, anunciou o fundador na plataforma, noticiou a Bloomberg.

A Meta, que é proprietária das redes sociais Instagram e Facebook e da aplicação móvel de mensagens e chamadas WhatsApp, pretende com esta nova rede social destronar o Twitter.

A Threads ficou disponível em 100 países a partir das 00h00 desta quinta-feira, mas não nos países da União Europeia (UE) e nos smartphones com sistema operativo Android.

O líder do Instagram, Adam Mosseri, lamentou que a Threads não esteja, por enquanto, disponível na UE, explicando que se a Meta tivesse de esperar pela aprovação de Bruxelas, o lançamento teria sido adiado por muitos meses.

O lançamento da Threads estava inicialmente previsto para as 15h (hora de Lisboa) desta quinta-feira, mas foi antecipado pela empresa para as 00h00.

Segundo a Meta, entre as celebridades que aderiram à nova rede social estão a cantora colombiana Shakira, o cozinheiro britânico Gordon Ramsay, e o ator norte-americano Jack Black.

Gigantes do entretenimento e da imprensa como as revistas Billboard e The Hollywood Reporter, a televisão HBO e a plataforma Netflix também já têm conta no Threads, assim como a rádio pública norte-americana National Public Radio (NPR).

Em abril, a NPR anunciou que ia abandonar o Twitter, após esta, propriedade do magnata Elon Musk, ter colocado na conta principal da rádio o rótulo de “imprensa afiliada do Estado”, um termo também usado para identificar meios de comunicação controlados ou fortemente influenciados por governos autoritários, como a Rússia e China.

Na terça-feira, Elon Musk apressou-se a criticar a Threads, afirmando que a rede social vai recolher todo o tipo de dados dos utilizadores, incluindo dados de identidade, saúde e forma física, financeiros, localização, compras, contactos e “informação sensível”, preocupações também levantadas anteriormente pelo cofundador do Twitter, Jack Dorsey.

A aplicação, que está vinculada ao Instagram, tem uma interface muito parecida com a do Twitter, porém mais simples: as mensagens são agrupadas em duas colunas, “threads” e “respostas”, e os utilizadores podem gostar, comentar, partilhar ou reencaminhar as mensagens.

O lançamento da Threads surge depois de Elon Musk ter anunciado, no sábado, um limite ao número de mensagens no Twitter que podem ser consultadas por conta e por dia, uma decisão criticada por utilizadores e anunciantes da rede social.

Na segunda-feira, o Twitter também anunciou que o painel TweetDeck, muito popular entre os utilizadores mais ativos, em breve estará acessível apenas para contas pagas.

(Notícia atualizada às 9h20 com novos dados)

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TAP pagou educação dos filhos de gestores entre 2016 e 2022

  • ECO
  • 6 Julho 2023

Entre 2016 e 2022, a companhia aérea pagou um subsídio de frequência escolar a quatro gestores executivos que variou entre 15 mil e 36 mil euros por ano, por cada filho.

A TAP pagou um subsídio de frequência escolar para apoiar a educação dos filhos de quatro administradores executivos entre 2016 e 2022. Os beneficiários foram David Pedrosa, filho do ex-acionista da companhia aérea Humberto Pedrosa; Antonoaldo Neves, ex-presidente executivo; Raffael Quintas Alves, ex-responsável financeiro; e Christine Ourmières-Widener, ex-presidente executiva.

Este pagamento é revelado no relatório preliminar da comissão parlamentar de inquérito à TAP e variava entre 15 mil e 36 mil euros por ano, noticia o Correio da Manhã. O subsídio começou a ser pago a partir de 2016, após a venda da TAP à Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, em novembro de 2015. David Pedrosa, que tinha um salário de 30 mil euros mensais, foi o primeiro gestor a ter este subsídio para os filhos, tendo recebido 24 mil euros por ano em 2016 e 2017 e, a partir de 2018, 18.500 euros por filho.

A Antonoaldo Neves foram atribuídos 36 mil euros de subsídio logo em 2017, ano em que foi nomeado para a presidência da comissão executiva da TAP, passando a receber 18.500 euros por filho em 2018, quando ganhava 45 mil euros por mês de salário. Raffael Quintas Alves, cujo salário era de 20 mil euros por mês, recebeu 18.500 euros por dependente entre 2018 e 2021. Christine Ourmières-Widener tinha um subsídio de frequência escolar para os filhos de 15 mil euros por ano, sendo que ganhava 36 mil euros por mês.

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Hoje nas notícias: TAP, CP e depósitos à ordem

  • ECO
  • 6 Julho 2023

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

A TAP pagou, de 2016 a 2022, um subsídio de frequência escolar entre 15 mil e 36 mil euros por ano para apoiar a educação dos filhos de quatro gestores da companhia. Os depósitos à ordem dos particulares superaram os depósitos a prazo. Conheça estas e outras notícias em destaque na imprensa nacional esta quinta-feira.

TAP pagou educação a filhos de gestores entre 2016 e 2022

Entre 2016 e 2022, a TAP pagou um subsídio de frequência escolar para apoiar a educação dos filhos de quatro administradores executivos: David Pedrosa, filho do ex-acionista da companhia aérea Humberto Pedrosa; Antonoaldo Neves, ex-presidente executivo; Raffael Quintas Alves, ex-responsável financeiro; e Christine Ourmières-Widener, ex-presidente executiva. O pagamento, revelado no relatório preliminar da comissão parlamentar de inquérito à TAP, era de entre 15 mil euros e 36 mil euros por ano.

Leia a notícia completa no Correio da Manhã (acesso pago).

Depósitos à ordem superam dinheiro a prazo das famílias

Em 2022, pela primeira vez desde pelo menos 2003, os depósitos à ordem das famílias ultrapassaram os depósitos a prazo, totalizando 81.917 milhões de euros e 79.378 milhões, respetivamente. O dinheiro à ordem dos particulares registou um aumento de 9,9%, enquanto os montantes a prazo desceram de forma ténue, mas que foi suficiente para que fossem ultrapassados pela conta corrente. A fuga para os certificados de aforro será um dos motivos para a diminuição do dinheiro nos depósitos dos portugueses.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (acesso pago).

Concurso milionário da CP pode conter ajudas de Estado encapotadas

O especialista em contratação pública Pedro Telles está convencido de que algumas alíneas do caderno de encargos do concurso de 819 milhões de euros da CP para fabrico e venda de 117 comboios contêm ajudas de Estado encapotadas. Em causa está o facto de o concurso dizer respeito não só aos comboios como à construção de uma oficina de manutenção e montagem dos mesmos. Não se sabe, porém, se o Governo perguntou à Comissão Europeia se poderia conceder ajudas de Estado no âmbito deste concurso, que já estava envolto noutras dúvidas.

Leia a notícia completa no Jornal Económico (acesso pago).

Rui Moreira longe da corrida às eleições europeias

O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, tem sido apontado pelos sociais-democratas como uma boa opção para liderar a lista do PSD às eleições europeias em 2024. Contudo, o autarca independente não deverá renunciar ao mandato na autarquia para trocar o Porto por Bruxelas. O presidente do PSD, Luís Montenegro, disse esta semana que “ainda não é tempo de fazer escolas e, muito menos, convites”.

Leia a notícia completa no Público (acesso pago).

Nove em dez acham que há corrupção mas só 3% a testemunharam

Mais de 90% dos portugueses (93%) considera que a corrupção é uma prática comum, sobretudo entre instituições financeiras e políticas. Portugal é, assim, o terceiro da Europa onde a perceção de corrupção é maior, ficando apenas atrás da Croácia (96%) e da Grécia (97%). Na ponta oposta surgem os países nórdicos pela seguinte ordem: Finlândia (13%), Dinamarca (21%) e Suécia (36%).

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (link indisponível).

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EDP e Navigator instalam maior central solar para autoconsumo da elétrica no país

  • Lusa
  • 6 Julho 2023

Papeleira escolheu EDP Comercial para a instalação do maior parque solar para autoconsumo da elétrica no país, de 17 megawatts, no complexo industrial da produtora de papel, na Figueira da Foz.

A Navigator escolheu a EDP Comercial para a instalação do maior parque solar para autoconsumo da elétrica no país, de 17 Megawatts (MWp), no complexo industrial da produtora de papel, na Figueira da Foz.

“Quando instalado, o parque solar terá o tamanho de 17 campos de futebol e será o maior para autoconsumo da EDP em Portugal. Terá capacidade para produzir 26 GWh [Gigawatts-hora] de eletricidade por ano, a energia renovável que seria suficiente para fornecer anualmente cerca de 10.500 famílias”, informou a EDP, em comunicado, sobre o contrato com a The Navigator Company para instalação de 26.000 painéis solares no complexo da produtora de papel na Figueira da Foz, distrito de Coimbra.

Segundo a mesma nota, o projeto vai evitar a emissão de mais de 7.000 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano.

“Além da sua dimensão, esta central distingue-se também pelo seu caráter inovador no panorama nacional, sendo uma das primeiras a utilizar painéis solares com módulos bifaciais, uma tecnologia que permite que ambos os lados do painel retenham luz solar, aumentando até 30% a capacidade do parque”, referiu a EDP.

O administrador executivo da Navigator, citado no comunicado, apontou que “a energia solar é uma vertente muito importante na estratégia de descarbonização da companhia, que, em 2030, pretende que 80% da energia primária consumida seja de origem renovável”. Já a administradora executiva da EDP Vera Pinto Pereira realçou que “este projeto, o maior da EDP em Portugal até à data, vai dar um contributo relevante para a descarbonização daquela indústria e zona do país”.

Os projetos de energia solar descentralizada, tanto em casas particulares como em edifícios empresariais, são um dos principais eixos de crescimento na estratégia da EDP para os próximos anos.

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O dia em direto nos mercados e na economia – 6 de julho

  • ECO
  • 6 Julho 2023

Ao longo desta quinta-feira, 6 de julho, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Startup Portugal fecha com Fundão benefícios fiscais para empreendedores e tem mais 10 autarquias na mira

Isenção ou redução de imposto de derrama, de instalação das empresas ou de facilitação ao nível da habitação são alguns dos temas em discussão para atrair os empreendedores.

Depois de São João da Madeira anunciar benefícios fiscais para as startups e scaleups sedeadas no concelho, é agora o Fundão a avançar no mesmo sentido — e há mais “cerca de dez câmaras municipais” a analisar fazer o mesmo, adianta António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, ao Trabalho by ECO.

Isenção ou redução de imposto de derrama, de instalação das empresas ou de facilitação ao nível da habitação são alguns dos temas em discussão com as autarquias para incentivar o empreendedorismo local.

“Estamos a tentar alargar a adesão a este memorando de entendimento ao maior número de câmaras municipais, de maneira a criar, a partir daqui, um verdadeiro movimento de promoção do empreendedorismo a nível local ou regional, que deve ser feito também em articulação com as incubadoras locais, as melhores organizações locais para lidar com esta realidade”, explica António Dias Martins, da Startup Portugal, organismo que tem sob a sua responsabilidade a gestão de 125 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para injetar no ecossistema nacional de empreendedorismo nacional.

Com a nova Lei das Startups, que entra em vigor em novembro, passa a haver uma definição de startups e scaleups que permite a caracterização deste tipo de empresas. “Estamos a aproveitar isso em benefício da promoção do ecossistema empreendedor a nível local e regional, isto é, falando com os municípios, com os presidentes de câmara, com as instituições locais, conseguir ter um mapeamento e uma identificação mais micro do tecido empreendedor, das startups na região, mas também da vontade que estes municípios têm de atrair e fazer crescer esta realidade”, refere o responsável.

Benefícios que podem ser atribuídos pelas autarquias

A nova Lei das Startups prevê ainda alguns benefícios fiscais para o ecossistema empreendedor, através, por exemplo, da ferramenta das stock options, mecanismo usado pelas empresas para atrair e reter talento, que passa a ter uma taxa de tributação mais favorável sem sede de IRS. E, a nível central, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) tem igualmente previsto mais 100 milhões para serem injetados no ecossistema, dos quais 90 milhões para vouchers verdes para as startups e 20 milhões para a rede de incubadoras.

Mas, lembra António Dias Martins, “os municípios possuem vários argumentos e várias áreas de intervenção à sua disposição, que não dependem necessariamente de decisões centrais, do Estado ou do Governo”.

São esses recursos locais que a Startup Portugal pretende que sejam ativados em prol da dinamização do empreendedorismo local. “Vamos explorar e trabalhar diretamente com esses municípios nas áreas que estão à sua disposição, sob sua gestão direta, no sentido de introduzir estímulos especialmente dedicados às startups e às scaleups, na medida em que, com condições reforçadas, quer regulamentares, fiscais, de burocracia, quer de acesso, facilidade até de habitação, os três principais tópicos em cima da mesa, possamos criar vantagens e, com isso, fazer com que o município se apresente no mercado com argumentos adicionais que, não só consolide a comunidade que já tenha de empreendedores, mas também reforçar e atrair mais empreendedores e mais talento”, explica António Dias Martins.

Vamos explorar e trabalhar diretamente com esses municípios nas áreas que estão à sua disposição, sob sua gestão direta, no sentido de introduzir estímulos especialmente dedicados às startups e às scaleups.

António Dias Martins

Diretor executivo da Startup Portugal

Além do imposto de derrama — que incide sobre o lucro tributável das empresas, com uma taxa máxima até 1,5% –, “podemos isentar ou reduzir taxas municipais aplicadas a empresas e, adicionalmente, isentar ou reduzir uma parte do IRS dos trabalhadores locais que esteja sob a gestão dos municípios”, descreve o responsável da Startup Portugal. “Temos em cima disso, políticas ativas destinadas à habitação, como à instalação de empresas que facilitem ou que proporcionem vias verdes e apoiadas para esses processos quer de instalação de empresa, quer atração e retenção de pessoas”, reforça.

A câmara municipal de São João da Madeira foi a primeira a avançar com benefícios fiscais para as startups e scaleups instaladas no concelho, que se segue agora o Fundão, após a Startup Portugal fechar um acordo com a câmara do centro do país.

A componente de habitação é muito importante porque toca com a atração e a retenção de talentos. Não podemos dissociar um aspeto do outro e, de facto, há muita coisa que os municípios podem fazer nesta área de talento”, destaca o diretor executivo da Startup Portugal, destacando o trabalho que a autarquia tem vindo a fazer nesta matéria.

“Um bom exemplo disso é o que a Câmara do Fundão tem feito — anda a fazer isto há cerca de dez anos — criando políticas ativas na área da habitação para atrair quadros jovens e altamente qualificados que, por terem condições atrativas, decidem se fixar lá e desenvolver a sua atividade e empreender a partir de lá. A percentagem local deste perfil de trabalhadores estrangeiros, muito ligados às novas tecnologias, jovens e altamente qualificados, é muito grande, é desproporcional em relação a outros municípios. Significa que os resultados que aparecem quando estas políticas são desenvolvidas”, aponta.

Cerca de outras dez autarquias estão a analisar avançar no mesmo sentido, quais ao certo o responsável da Startup Portugal, nesta fase, preferiu não revelar.

“O que tenho sentido, até agora é uma enorme predisposição e uma enorme vontade de todos os municípios com quem já contactámos, para colocarem na mesa da discussão e para responderem favoravelmente a este repto”, diz.

20 candidatos para desenvolver plataforma de mapeamento

Portugal tem mais de 2.500 startups e scaleups, com Lisboa e Porto a concentrar o maior volume, e uma rede de 160 incubadoras, tendo o ecossistema, desde o início do ano até ao momento, levantado 68,5 milhões de euros, segundo os dados da Dealroom, plataforma de referência na monitorização do ecossistema português.

Mas, até final do próximo ano, a Startup Portugal pretende ter uma nova plataforma de mapeamento e monitorização do ecossistema. O concurso internacional, no valor de 1,360 milhões de euros foi lançado em meados de maio, tal como noticiou o ECO.

“Recebemos 20 propostas, de entidades nacionais e estrangeiras. Superou muito as expectativas”, diz António Dias Martins. A avaliação das propostas está a decorrer e deverá acontecer “até final de agosto”. “A expectativa é que nova plataforma entre em funcionamento no final de 2024.”

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CMVM abre mão das regras ESG da “rainha” da contabilidade

As normas da Fundação IFRS dominam o mundo do reporte contabilístico na União Europeia. Mas as regras de sustentabilidades criadas por esta entidade serão preteridas em relação às emitidas pela CE.

As novas exigências a nível europeu no que diz respeito ao reporte de sustentabilidade são exigentes e implicam elevados custos para as empresas. Mas, este mês, surgiu uma novidade: a entidade que criou as normas contabilísticas usadas nos reportes financeiros das empresas emitentes europeias, a IFRS Foundation, lançou as suas próprias normas de sustentabilidade – normas estas que poderiam ajudar ao esforço de uniformização. Mas o regulador português dos mercados vem esclarecer que as normas europeias devem prevalecer sobre estas últimas da IFRS.

Os emitentes com valores mobiliários admitidos à negociação em Portugal (e na UE) irão reportar a informação de sustentabilidade à luz das normas ESRS [European Sustainability Reporting Standards] e não das IFRS”, escreve a Comissão do Mercado e dos Valores Mobiliários, em resposta ao ECO/Capital Verde. No caso europeu, e como decorre da Diretiva de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (CSRD, na sigla em inglês), atualmente em processo de transposição, as normas aplicáveis serão as European Sustainability Reporting Standards (ESRS), explica a mesma entidade liderada por Luís Laginha de Sousa.

Para já, as regras de reporte de sustentabilidade da IFRS ainda não estão alinhadas com as regras que estão a ser preparadas pela União Europeia, nem com as normas GRI [Global Report Initiative], as mais convencionais do mercado, assinala Rodrigo Tavares, professor catedrático convidado na Nova School of Business and Economics, ao ECO/Capital Verde.

A Fundação IFRS anunciou que foi criado um Grupo de Trabalho Jurisdicional para evitar sobreposições, mas ainda não foi feito qualquer anúncio relativamente a consensos, detalha. “A expectativa é que o GRI e a União Europeia percam a batalha”, avalia. Em paralelo, nota que a Fundação IFRS optou por não fundir as normas de contabilidade com as novas normas de sustentabilidade, a “visão mais ambiciosa” em cima da mesa. Para já, vê “um forte alinhamento entre ambas”, mas “não uma integração total”.

Existem mais de 30 metodologias de reporte de sustentabilidade, mais de 100 agências de rating ESG, mais de 50 reguladores nacionais com orientações contrastantes, mais de uma dezena de ferramentas de identificação de materialidade financeira (seleção das métricas ESG que têm mais impacto financeiro) e milhares de métricas ESG.

O professor indica ainda que vários organismos internacionais, como a IOSCO [International Organization of Securities Commissions], e também países, como o Reino Unido, Brasil ou Japão, já sinalizaram que apoiarão ou adotarão os novos padrões da IFRS. Nos Estados Unidos, o regulador dos mercados está a preparar as suas próprias regras de reporte de sustentabilidade mas, tendo em conta a discórdia política em torno da questão, “será mais fácil as empresas americanas simplesmente adotarem as regras da IFRS”, continua Tavares.

Atualmente, existem mais de 30 metodologias de reporte de sustentabilidade, mais de 100 agências de rating ESG, mais de 50 reguladores nacionais com orientações contrastantes, mais de uma dezena de ferramentas de identificação de materialidade financeira (seleção das métricas ESG que têm mais impacto financeiro) e milhares de métricas ESG. O levantamento é do professor Rodrigo Tavares. E a AEM – Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado acrescenta que, desde 2011, foram introduzidas em todo o mundo, mas especialmente na Europa, mais de 1.250 novas políticas e estratégias ESG, somando perto de 2.000 iniciativas desde o início do milénio, o que representa um aumento de cerca de 650% nas regulamentações ESG.

A mesma associação refere-se ao recente esforço europeu de regulação de sustentabilidade como um “tsunami regulamentar”. A própria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou em março que, este outono, a Comissão irá apresentar “propostas concretas” para simplificar os requisitos regulatórios e reduzi-los em 25%.

Rodrigo Tavares reforça que “as expectativas eram muito altas relativamente à capacidade da Fundação IFRS de arrumar o mercado global da sustentabilidade” e que este novo quadro vem permitir que todos falem “a mesma linguagem”, em vez de as empresas continuarem a fazer o reporte em “dois, três ou até quatro” formatos diferentes.

A EDP, uma empresa que está presente em vários mercados internacionais, em declarações ao ECO/Capital Verde, concorda que as linhas do IFRS permitirão “um reporte ESG de maior confiança e comparabilidade para todos os agentes envolvidos”.

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Empresas criticam complexidade e custos elevados no reporte ESG

As exigências de reporte que as empresas enfrentam são cada vez maiores, à medida que vão sendo incluídas matérias de sustentabilidade. Equipas dedicadas implicam custos elevados.

As empresas estão a braços com regras de reporte de sustentabilidade cada vez mais exigentes. O ECO/Capital Verde perguntou a várias empresas portuguesas as implicações das regras mais recentes e a avaliação é unânime: acrescentam complexidade e pressupõem custos “elevados”, sobretudo pela contratação de equipas especializadas.

“O quadro europeu de reporte tem vindo a tornar-se cada vez mais complexo e desafiador para as empresas”, acusa a AEM – Associação de Empresas Emitentes de Valores Cotados em Mercado, que fala em “definições pouco claras, lapsos sistemáticos de articulação entre diplomas, interpretações divergentes, e uma implementação apressada e mal preparada”. Esta entidade acredita mesmo que a regulação tem um “efeito pernicioso de obstáculo à solução dos problemas ambientais reais” e que não configura uma “abordagem realista das necessidades dos mercados”.

Recentemente, a European Round Table for Industry (ERT), que junta os diretores financeiros de mais de 30 empresas, queixou-se de que implementar as novas exigências de reporte europeias era “uma tarefa impossível”, em declarações ao Financial Times. Lançou mesmo um estudo em que concluía que as exigências “são ainda demasiado extensas, granularizadas e complexas, e portanto representam uma sobrecarga significativa” para as empresas, especialmente considerando “o curto período de implementação”. “As conclusões do estudo da ERT são preocupantes e merecem uma reflexão profunda das instituições europeias e nacionais”, considera a Sonae.

Para a Altice, as exigências europeias requerem “muito esforço de adaptação”, e a complexidade na implementação varia consoante o tipo de indústria. A Super Bock refere-se às mesmas exigências como “grandes e transformadoras”, e refere que a preocupação reside na “incerteza ainda existente” e na “necessidade de adquirir conhecimento técnico rápido para iniciar o estudo e planeamento” que permita cumprir com as obrigações.

A proliferação de regulamentação europeia em matéria de ESG, mesmo se bem intencionada e em alguns casos relevante, é excessiva.

Sara Miranda

Diretora de Comunicação e Responsabilidade Corporativa na Jerónimo Martins

A diretora de Comunicação e Responsabilidade Corporativa da Jerónimo Martins, Sara Miranda, defende que “a proliferação de regulamentação europeia em matéria de ESG, mesmo se bem intencionada e em alguns casos relevante, é excessiva”, especialmente tendo em conta “a sua simultaneidade, a exigência dos prazos para implementação e alguma falta de clareza sobre o âmbito pretendido para o reporte e as metodologias a seguir”.

Sara Miranda realça uma das novas obrigações previstas na diretiva europeia de Reporte Corporativo de Sustentabilidade (CSRD, na sigla em inglês): a divulgação de informação relacionada com as cadeias de abastecimento e a respetiva verificação externa dos indicadores. A Jerónimo Martins acredita que isto “irá conduzir a um aumento do escrutínio a fornecedores de pequena e média dimensão que, em muitos casos, não estão ainda preparados para reportar esta informação”.

Por seu lado, a EDP “está confiante de que vai conseguir cumprir estas novas exigências nos prazos necessários”, mas não deixa de reconhecer que as exigências de reporte europeias pressupõem “um grande esforço de conhecimento dos vários indicadores” e refere que “o desconhecimento das especificidades do padrão europeu obrigatório setorial que está ainda em preparação constitui-se como um desafio adicional”.

Para o BCP, as exigências de reporte não são “tarefa impossível”, mas “requerem planeamento, alocação de recursos e atuações efetivas”. Olhando ao caso dos bancos em particular, a instituição assinala que “existe um desafio adicional”, de considerar o “muito elevado número de clientes” na estimativa da pegada carbónica, e afirma ser difícil obter dados dos diversos stakeholders. “O Millennium BCP está a trabalhar de forma muito intensa de forma a conseguir cumprir os prazos legais fixados”, diz.

O BPI sublinha que “as obrigações de reporte são exigentes”, mas “o grau de exigência não será igual para todas as empresas”, já que empresas de maior dimensão e instituições financeiras “obedecem a um calendário mais apertado e o grau de detalhe é igualmente superior”. Existe, portanto, um “processo de aprendizagem” uma vez que “muitos dos indicadores e métricas (…) não estão disponíveis” e “não estão totalmente uniformizados”.

Os CTT pontuam: “A nova regulamentação de reporte ESG é exigente para todas as empresas. Acreditamos, contudo, que este novo sistema contribuirá para uma maior transparência das empresas e uma maior uniformização das exigências do ESG”.

Investimento elevado. Reporte ESG pede novas capacidades

“Os valores dos investimentos necessários para responder às novas exigências de reporte são elevados, variando em função do processo de preparação e evolução que cada empresa tem vindo a realizar nos últimos anos”, indica a AEM, a qual considera, simultaneamente, que “em qualquer caso, os valores em causa são sempre demasiado elevados”. Isto porque a associação acredita que o reporte, tal como está pensado, não serve adequadamente os destinatários (os investidores) e, por outro lado, o esforço burocrático “retira a atenção dos temas verdadeiramente urgentes da inovação e da resposta à transição ambiental”.

Os próximos meses e anos serão de profunda reconfiguração. Todos terão de aprender uma nova linguagem para fazer negócios.

Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na Nova School of Business and Economics

O grupo Super Bock diz ser “inevitável” um esforço adicional de investimento, de forma a cumprir com as novas obrigações. Fonte oficial do BCP afirma que o valor do investimento “é ainda difícil de estimar”, mas “seguramente é elevado e será crescente ao longo dos próximos anos”. No entanto, o banco considera-o “indispensável”.

Mas que tipo de investimentos são necessários? O BPI fala num “investimento muito significativo” em “aquisição de novas tecnologias, na contratação de consultores e auditores especializados e de equipas específicas para estes projetos”. O BCP indica que “o tema ESG é complexo e transversal, o que implica que sejam convocados recursos muito diversos, que incluem também serviços de consultores especializados”.

Além disto, as empresas e instituições financeiras terão de investir em formação no tema, afirma Rodrigo Tavares, professor catedrático convidado na Nova School of Business and Economics. O mesmo coloca a hipótese de “emergir uma revolução no ofício do contabilista” porque, em muitos casos, serão estes profissionais que assumirão a responsabilidade de reportar dados em sustentabilidade, além dos financeiros. “Os próximos meses e anos serão de profunda reconfiguração. Todos terão de aprender uma nova linguagem para fazer negócios”, defende.

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O relatório preliminar da comissão de inquérito à TAP em 10 conclusões

As 180 páginas do relatório preliminar passam em revista quase uma década de gestão da TAP e intervenção dos Governos. Conheça as principais conclusões.

O relatório preliminar da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP debruça-se ao longo de seis capítulos e 180 páginas sobre os momentos relevantes da vida da companhia aérea desde 2015, tirando conclusões sobre muitos deles. Quase sempre simpáticas para o Governo e não tanto para o PSD ou os antigos gestores.

A deputada Ana Paula Bernardo, responsável pelo relatório, afirmou esta quarta-feira em conferência de imprensa que o documento “não é a versão do Partido Socialista”. A opinião da oposição é bem diferente, considerando que se trata de uma “farsa”, uma “ficção” e um “branqueamento” da responsabilidade do Governo. Conheça as principais conclusões.

1. Gestores responsáveis por falta de contratos de gestão

A TAP passou a ser detida maioritariamente pelo Estado (72,5%) em outubro de 2020, tornando-se uma empresa pública. Para os administradores executivos, isso significa ter de cumprir o Estatuto do Gestor Público (EGP), que obriga à celebração de acordos de gestão no prazo de três meses após o início de funções. Nas audições, foi patente que existiu uma iniciativa do anterior presidente do conselho de administração, Manuel Beja, para que eles fossem celebrados, havendo, no entanto, a vontade que estes incluíssem um seguro de responsabilidade civil para os gestores, algo a que o Governo não anuiu. Foi também referido que em várias outras empresas públicas não existem contratos de gestão.

A CPI constata que “se verificou o exercício de funções de administração sem a correspondente celebração do contrato de gestão dentro do prazo legalmente estabelecido”, mas assaca as responsabilidades à equipa liderada por Christine Ourmière-Widener.

“Competia aos administradores da TAP submeterem a proposta de Contrato de Gestão à UTAM [Unidade Técnica de Acompanhamento e Monitorização do Setor Público Empresarial], conforme previsto no EGP”, conclui o relatório preliminar. “A questão dos seguros dos administradores, apontado pelo PCA, deveria ter sido tratada de forma autónoma, não podendo ser aceite como justificação para o não cumprimento dos prazos legais da apresentação desses contratos de gestão”, acrescenta.

As tutelas, o Ministério das Infraestruturas e o Ministério das Finanças, a quem também compete zelar pela celebração dos contratos de gestão, passam com uma admoestação, dirigida sobretudo para a UTAM: “A CPI não encontrou quaisquer evidências de iniciativas por parte das tutelas, e mais concretamente da UTAM, no sentido de sinalizar ao conselho de administração a necessidade de cumprimento dos prazos”.

2. Saída ilegal de Alexandra Reis é culpa da CEO

A saída de Alexandra Reis da TAP com uma indemnização bruta de 500 mil euros brutos foi o caso que levou à constituição da CPI. O Governo passa praticamente incólume. O relatório preliminar conclui que o Ministério das Finanças nada sabia sobre o acordo para a cessação de funções da antiga administradora executiva, como ficou demonstrado nas audições, mas também sublinha que o Ministério das Infraestruturas não dispunha de toda a informação sobre o processo.

Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP, em declarações à imprensa - 02MAR23
Christine Ourmières-Widener, ex-CEO da TAP.Hugo Amaral/ECO

Nem o ministro, Pedro Nuno Santos, nem o secretário de Estado, Hugo Mendes, “conheciam o clausulado do acordo, ainda que conhecessem a discriminação das várias parcelas englobadas no montante da indemnização”, refere o documento da responsabilidade da deputada socialista Ana Paula Bernardo.

A responsabilidade é apontada essencialmente à antiga CEO. “O processo de cessação de funções na TAP da Alexandra Reis, tanto quanto a CPI conseguiu apurar, partiu de exclusiva vontade e iniciativa de Christine Ourmières-Widener, foi por ela integralmente gerido e, só num momento final e depois de concluído o processo negocial, foi dado a conhecer a todos os membros do conselho de administração.

3. Ida de Alexandra Reis para a NAV sem relação com saída da TAP

Alexandra Reis chegou a colocar o lugar à disposição no final de 2021, quando Humberto Pedrosa, que a tinha proposto inicialmente para a administração, deixou de ser acionista da TAP SA. O Governo manteve-a no cargo, reconhecendo a sua competência, para poucos dias depois, no início de janeiro, a CEO pedir a Pedro Nuno Santos a sua saída. O que aconteceu a 4 de fevereiro. A 22 de março estava já a ser sondada por Hugo Mendes para presidir à NAV, a entidade responsável pela gestão do tráfego aéreo, cargo onde tomou posse no final de junho.

Alexandra Reis, antiga administradora da TAP e ex-presidente da NAV.ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Não existem evidências de qualquer conexão entre a saída da TAP e o convite e respetiva nomeação para a NAV. Todas as declarações sobre esta matéria, como as de Hugo Mendes, Christine Ourmières-Widener e da própria Alexandra Reis, apontam para o desconhecimento de tal possibilidade, aquando do processo de renúncia na TAP”, conclui o relatório. “O perfil, as sólidas competências e o conhecimento profundo do setor por parte de Alexandra Reis foram os motivos apontados pelos então governantes para esta escolha”, acrescenta.

4. Demissões de ex-CEO e chairman seguiram normativos existentes

A demissão de Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja, anunciada a 6 de março pelos ministros das Finanças e das Infraestruturas, foi acompanhada do anúncio do sucessor: Luís Rodrigues. A base legal gerou polémica, chegando a falar-se da existência de um parecer jurídico que sustentava as demissões, que afinal não existia.

O relatório afirma que os ministros apenas anunciaram a “intenção” de demitir os gestores e defende a lisura de todo o processo: “Decorreu segundo os normativos existentes, nomeadamente o direito a contraditório“. “A Deliberação Unânime por Escrito explicita o despedimento de ambos os administradores, com ‘fundamento nas violações graves da lei e dos estatutos que lhe são indevidamente imputáveis’”, sublinha.

5. Lacunas na informação prestada pela TAP

Aos ex-gestores da TAP são também apontadas falhas na prestação de informação. Uma delas diz respeito à não integração no relatório de contas de 2020 da indemnização paga a Antonoaldo Neves. O antigo CEO, que saiu em setembro de 2020, recebeu 156 mil euros, que segundo o departamento de recursos humanos da TAP dizem respeito aos montantes devidos até ao termo inicialmente previsto do mandato, onde se incluem 32 mil euros de férias não gozadas.

Apresentação dos resultados anuais de 2018 da TAP - 22MAR19
Antonoaldo Neves, ex-CEO da TAP.Hugo Amaral/ECO

A outra falha acontece já com Christine Ourmières-Widener à frente da companhia e diz respeito à informação divulgada ao mercado sobre a renúncia de Alexandra Reis, onde não constava a menção à existência de um acordo. O comunicado foi corrigido por determinação da CMVM, existindo um processo de contraordenação, para apuramento de eventual responsabilidade contraordenacional da TAP.

“Não foram identificadas outras situações que comprovem a existência de informação inadequada ou imprecisa prestada pela TAP ao acionista Estado”, refere o relatório.

6. Práticas discriminatórias no pagamento de prémios

O relatório aponta o dedo à atribuição de prémios no período de gestão privada da TAP, nomeadamente ao facto de nos anos de 2016 e 2017 ter sido “decidido atribuir prémios, os quais nem sempre surgem plenamente associados a cumprimento de metas anteriormente definidas”. É o caso dos 236.000 mil euros pagos a Fernando Pinto, antigo CEO, e dos 207.000 recebidos por Max Urbahn, antigo administrador executivo, para “aparentemente garantir compromissos anteriormente assumidos pelo presidente da comissão executiva e aos membros da sua equipa, vinda do Brasil”.

Para além de considerarmos esta prática discriminatória, também não é adequado fixar os critérios de desempenho anuais após o termo do ano em apreço“, assinala o documento.

A pertinência de manter uma comissão de vencimentos na TAP é questionada: “Num quadro em que a empresa TAP é detida a 100% pelo Estado, em que os seus administradores estão sujeitos ao EGP e o exercício do seu mandato sujeito à celebração de um contrato de gestão que, assim exista, deve definir remunerações, benefícios, metas e objetivos, não é apreensível o motivo que possa justificar a manutenção de uma comissão de vencimentos“.

7. Relatório rejeita ingerência na gestão corrente da TAP

A existência de pressões do Governo sobre a gestão da TAP foi um dos temas que dominou a comissão parlamentar de inquérito (CPI). A versão preliminar do relatório rejeita que tenha existido ingerência na gestão corrente. Quando existiu, havia razões que o justificavam.

Não se registam situações com relevância material que evidenciem uma prática de interferência na gestão corrente da empresa por parte das tutelas. Com efeito, a generalidade dos depoimentos aponta para a inexistência de interferência ou ingerência política das tutelas na gestão corrente da empresa”, conclui o documento.

Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP - Audição de Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação - 15JUN23
Audição de Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infraestruturas e da Habitação, na CPI à TAP.Hugo Amaral/ECO

O relatório também relativiza as situações apontadas como alegados exemplos de interferência política durante as audições. Ou se tratam de “iniciativas de membros da Administração da TAP solicitando à tutela uma orientação ou tomada de decisão sobre assunto concreto. É o caso do pedido de alteração de voo de Sua Excelência o Presidente da República por iniciativa da agência de viagens e da CEO da TAP”.

Ou então “situações em que a tutela intervém quando uma decisão de gestão da administração assumiu repercussões políticas, num contexto delicado da vida da empresa e dos enormes sacrifícios que estavam a ser impostos aos trabalhadores, como os cortes salariais e os despedimentos. É o caso da substituição da frota automóvel“.

8. Críticas à privatização feita por Passos Coelho

A CPI tinha como objeto a tutela pública da gestão da TAP entre 2020 e 2022, mas recuou até 2015, o que foi justificado pela relatora com a necessidade de ter a fotografia completa dos acontecimentos que conduziram à situação da companhia aérea. Porquê 2015? Foi quando foi feita a última privatização, conduzida e concretizada pelos Governos de Passos Coelho.

A discordância da esquerda sobre a aprovação da privatização da TAP a 12 de novembro de 2015, dois dias depois de o programa do Governo de Passos Coelho ter sido chumbado no Parlamento, não é nova. Mas a versão preliminar do relatório da comissão parlamentar de inquérito, entregue na terça-feira perto da meia-noite, não poupa nas críticas.

Apresentação do livro "Vento Suão Portugal e a Europa" de Carlos Moedas - 18FEV20
Pedro Passos Coelho, antigo primeiro-ministro.Hugo Amaral/ECO

Entende-se que, no contexto político que se vivia no momento, a reprivatização não deveria ter sido concluída naquela data“, conclui taxativamente o relatório da responsabilidade da deputada socialista Ana Paula Bernardo.

As “cartas de conforto” enviadas aos bancos portugueses credores da TAP, para viabilizar a privatização, foram um dos temas que geraram discórdia entre PS e PSD. O relatório sublinha que as garantias asseguradas nessas cartas “investiram o Estado numa posição materialmente similar à qualidade de acionista único, como refere o Tribunal de Contas”. Ou seja, colocaram o risco do lado do Estado.

9. Atlantic Gateway fez capitalização sem fundos próprios

O relatório debruça-se também sobre o recurso aos chamados “Fundos Airbus”, pagos pelo fabricante europeu a David Neeleman no âmbito do negócio de renovação da frota, e que o empresário usou para capitalizar a TAP na privatização em 2015.

O documento conclui que as propostas apresentadas em maio e junho pela Atlantic Gateway para a compra de 61% da companhia aérea “são omissas em relação ao mecanismo de capitalização que só mais tarde viria a ser conhecido como ‘Fundos Airbus’“. Só em setembro a holding de David Neeleman e Humberto Pedrosa explicam à Parpública, a acionista da TAP, a verdadeira origem dos 226 milhões de dólares que iriam colocar na TAP.

O relatório assinala que a Atlantic Gateway assegurou que a capitalização seria feita com capitais próprios, “o que, na verdade, não se verificou”.

10. 55 milhões pagos a Neeleman são culpa do PSD

Os acionistas privados opuseram-se ao auxílio de emergência de 1,2 mil milhões de euros que a TAP recebeu em junho de 2020, no âmbito da pandemia, porque abria a possibilidade de ser convertido em capital diluindo a sua participação. Para evitar um litígio que pusesse em causa a salvação da companhia, o Governo avançou para a compra da posição de 22,5% de David Neeleman.

A versão preliminar do relatório sustenta que o Governo não tinha alternativa a negociar a saída do empresário, e sustenta que os 55 milhões pagos a David Neeleman resultam “de uma negociação até um ponto de entendimento entre as partes”.

Como foi reconhecido por vários depoimentos na CPI, incluindo de ex-ministros, caso a TAP fosse nacionalizada o empresário americano Neeleman teria o direito a receber os cerca de 220 milhões de prestações acessórias colocados na empresa pela Atlantic Gateway. Uma possibilidade prevista no Acordo Parassocial de 2017, assinado com o Governo PS, como o PSD e antigos governantes da direita salientaram.

O documento sustenta, no entanto, que “a componente relativa às prestações acessórias resulta do direito originário adquirido em 2015 com a assinatura do Acordo de Venda Direta e do Acordo de Estabilidade Económica e Financeiro [celebrado no tempo de Passos Coelho], que nesta dimensão não sofreu alterações no Acordo Parassocial de 2017″.

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Em cinco meses, pré-avisos de greve já representam 70% do total do ano passado. Luta “vai continuar”, diz CGTP

O ambiente de contestação social tem vindo a crescer, sendo que até maio foram entregues mais de 750 pré-avisos de greve. Entretanto, só no setor público já se registaram mais 100 até junho.

A contestação social tem vindo a aumentar este ano, sendo que até maio foram entregues mais de 750 pré-avisos de greve. Quer isto dizer que em apenas cinco meses houve o correspondente a 70% do total de convocatórias de greve no ano de 2022, de acordo com os dados da Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT). A este número ainda vão acrescer mais de 100 pré-avisos no mês seguinte, apenas do lado público. CGTP avisa que “vai continuar a luta”, enquanto UGT destaca importância da negociação coletiva e está de olho no Orçamento do Estado.

Têm-se registado greves em setores como a educação (professores e não docentes), saúde (médicos e enfermeiros), transportes (com greves da CP mas também nos aeroportos, como na Portway), funcionários judiciais e também em empresas como a Matutano e a Nobre.

“O que está a acontecer é o que já tem vindo a acontecer e acentuar-se já há muito tempo: com a brutal degradação das condições de vida, com o aumento do custo de vida e continuação de opções que nos prendem à precariedade, desinvestimento nos serviços públicos, trabalhadores, reformados e pensionistas a sentir que as condições de vida estão a piorar, dificuldades a aumentar, injustiças e desigualdades, é natural a intensificação da ação reivindicativa e a organização e mobilização dos trabalhadores em todos os setores, privado e público“, nota ao ECO a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha.

Do lado da UGT, o secretário executivo Carlos Alves aponta ao ECO que “há fatores diversos que podem justificar aumento da conflitualidade”, sendo que em alguns setores como a educação há “questões por resolver”. Existem também “fatores externos como estratégias sindicais”, diz, sem se comprometer em análises a estas questões.

Os dados da DGERT já disponíveis, até maio, mostram que foram entregues, no total do ano, 752 pré-avisos, quase o dobro face ao mesmo período do ano passado, quando foram apenas 452. Comparando com o total do ano de 2022, os pré-avisos entregues em cinco meses correspondem a mais de dois terços do total do ano passado.

Foram mais as greves anunciadas fora do Setor Empresarial do Estado, até maio, ainda que a diferença entre os dois setores tenha sido menor do que no ano passado.

Olhando apenas para abril, 70% dos avisos prévios de greve foram na Administração Pública e Defesa e Segurança Social Obrigatória. Seguiu-se o setor das atividades de saúde humana e apoio social, com 7%. Já em maio, continua a estar a Administração Pública no topo, mas surgem em segundo lugar os transportes e armazenagem, numa altura marcada por greves na CP e também no Metropolitano de Lisboa, ainda que esta última tenha sido desconvocada.

Existem ainda alguns dados disponíveis mais atualizados na DGAEP, ainda que digam apenas respeito ao Estado. Nessa página, é possível verificar cerca de 560 pré-avisos de greve em 2023, dos quais 221 em maio e junho e sete em julho. Quer isto dizer que aos 752 entregues até maio ainda é necessário acrescentar, do lado do setor público, mais de 100 novas convocatórias.

A maioria diz respeito a greves no setor da educação, sendo que várias estruturas sindicalistas representativas dos docentes têm avançado para paralisações e manifestações nos últimos tempos, inclusivamente às avaliações. Além disso, também tem sido um “verão quente” no que diz respeito às greves na saúde, particularmente entre os sindicatos dos médicos, que têm demonstrado desagrado pelo processo negocial que se tem desenrolado com o Governo.

Há já greves anunciadas para este mês e a CGTP antecipa também que a contestação não vai parar, mesmo no verão. “Vamos continuar a luta, continuando a ação de exigência e reivindicação”, nota Isabel Camarinha, ao ECO. “É um caminho que vamos continuar a prosseguir, nos meses de verão há muitos setores onde as empresas fecham mas vai continuar a existir muita luta porque os trabalhadores não baixam os braços”, assegura a sindicalista.

Após o período de férias, está já marcada uma ação nacional de defesa do SNS para setembro, bem como outra ação nacional no dia 16 desse mês cujos contornos serão definidos mais à frente, antecipa.

Apesar destas exigências, a secretária-geral da CGTP destaca também que já foram obtidos alguns resultados com a luta, como “aumentos salariais de 100 euros e alteração de vínculo, melhoria de condições de trabalho num conjunto de empresas”.

Já a UGT salienta que estão “a notar, em virtude do acordo assinado o ano passado, algum impulso à negociação coletiva, no privado e público”, além de terem existido “aumentos salariais”. “Os resultados do acordo sentem-se nos valores dos salários, gostávamos que fosse mais longe, mas os valores negociados estão em linha com as perspetivas do acordo”, admite, ao ECO, o secretário executivo da UGT.

Carlos Alves sinaliza também que no secretariado nacional, na semana passada, “não deixou de dar recados para alguns setores, nomeadamente a importância de algumas negociações para o privado”, mas também “apontar para a necessidade do setor da banca estar aberto à negociação com valores mais em linha com o acordo”. Deixa ainda o “recado ao Estado empregador no sentido de em setores como a educação não deixar alongar a instabilidade”.

Existem ainda questões relativas ao Orçamento do Estado, apesar da política reivindicativa apenas ser apresentada em setembro. “Há questões que levantamos já, sendo que o acordo assinado em 2022 tem efeitos plurianuais”, pelo que no documento apresentado pelas Finanças tem de se “efetivar o acordo”, nomeadamente no que diz respeito ao aumento do salário mínimo, a revisão das taxas de IRS e benefícios fiscais.

Considerações que surgem quando o ano já vai a meio e as greves continuam, sendo que um dos dias de destaque na contestação foi 28 de junho, quando a CGTP promoveu um dia de ação nacional de luta com centenas de greves, manifestações, concentrações e plenários em todo o país para reivindicar aumentos salariais, tanto no público como no privado. Isabel Camarinha faz um “balanço de que houve muitos milhares de trabalhadores em luta no 28 de junho a exigir a resposta necessária e também para o desenvolvimento do país, que não se desenvolve se mantivermos este rumo”, nomeadamente de “desigualdade e injustiça”.

É também de salientar a contestação entre os funcionários judiciais, cujas greves já causaram mais adiamentos de atos processuais e diligências do que no período da pandemia.

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