Protestos em Moçambique. Empresários calculam prejuízos de 354 milhões
As protestos contra os resultados eleitorais deixaram um rasto de destruição em Maputo. Os empresários moçambicanos indicam que 151 unidades empresariais foram vandalizadas.
Os empresários moçambicanos estimaram esta terça-feira em 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros) os prejuízos causados em 10 dias de paralisações e manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, com 151 unidades empresariais vandalizadas.
“Com estas manifestações acompanhadas pelas paralisações da atividade económica, constatamos que os setores de comércio, logística e transporte foram os mais afetados, sendo que as perdas totais e impacto no PIB (Produto Interno Bruto) totalizaram 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros), que são cerca de 2,2% do nosso PIB”, declarou o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma.
Moçambique, e sobretudo Maputo, a capital, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória à Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).
As manifestações, maioritariamente violentas, deixaram um rasto de destruição em Maputo, com registo de mortos, feridos, detidos, infraestruturas destruídas e estabelecimentos comerciais saqueados, sobretudo em 7 de novembro.
Em conferência de imprensa, em Maputo, o líder do setor empresarial moçambicano adiantou que as perdas causadas colocam em risco o alcance de crescimento económico de 5,5%, referindo que as marchas têm sido caracterizadas por “vandalizações e arrombamento de unidades empresariais”.
“Já foram afetadas cerca de 151 unidades empresariais em todo o país, sendo 80% nas cidades de Maputo e Matola”, declarou Agostinho Vuma, acrescentando que só as vandalizações já causaram custos de cerca de 45,5 milhões de dólares (cerca de 42,4 milhões de euros), colocando em risco mais de 1.200 postos de trabalho.
O presidente do CTA disse ainda que o setor dos transportes foi dos mais afetados, sobretudo na área metropolitana de Maputo, em que se reportou perda de receitas de cerca de 417 milhões de meticais [6 milhões de euros] em 10 dias de paralisações. “A interrupção do tráfego no corredor de Maputo levou a redução do fluxo normal de camiões, com uma média diária que tem sido de 1.100 a 1.200 camiões e que caiu para cerca de 300 camiões por dia”, referiu Vuma.
Ainda de acordo com dados do setor empresarial privado, o setor financeiro sofreu igualmente com o impacto, com redução da procura de crédito, redução das transações no mercado cambial em 73,3% diários, correspondendo a cerca de 60 milhões de dólares, tendo caído, só nos dias 24 e 25 de outubro, para 14 milhões de dólares/dia. O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou segunda-feira a um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, a partir de quarta-feira, em todas as capitais provinciais, contestando o processo eleitoral.
“Vamos nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais. Todas as 11 capitais provinciais (…) Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado”, apelou, numa transmissão em direto na sua conta oficial na rede social Facebook, sobre a “quarta etapa” de contestação ao processo das eleições gerais de 9 de outubro, a qual, afirmou, terá “várias fases” – a anunciar posteriormente –, e que, disse, é também contra os “raptos e sequestros” e “contra o assassinato do povo”.
Mondlane tinha antes convocado paralisações nos dias 21, 24 e 25 de outubro, que se seguiram outras de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo, a 7 de novembro, que provocou o caos na capital, com diversas barricadas, pneus em chamas e disparos de tiros e gás lacrimogéneo pela polícia, durante todo o dia.
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