Os juros da dívida portuguesa continuam instáveis. O presidente da Partex, petrolífera detida pela Fundação Calouste Gulbenkian, diz que se as taxas chegarem aos 4%, então um resgate é "inevitável".
Para o presidente da Partex não há dúvidas: Portugal pode precisar de um novo resgate a qualquer momento. Para António Costa Silva, se as taxas chegarem aos 4%, então isto será “inevitável”. O responsável pela petrolífera portuguesa diz que o desempenho de António Costa está preso por pinças.
Estamos a assistir a uma mudança política a nível mundial. É reflexo de quê?
Vivemos num mundo em que há uma coisa que funciona muito bem: as tecnologias, a criatividade, a invenção humana. Se olharmos para o que se passa no domínio da energia, as mudanças a que estamos assistir são fascinantes. Mas a política não está a funcionar. Vivemos nas nossas democracias uma disfunção completa da política. A democracia tem de ser aperfeiçoada, tem de ser reinventada. Temos fenómenos como Donald Trump que pode ser uma tragédia, mais para o mundo do que para os EUA. E temos linhas populistas baseadas na xenofobia, na intolerância e no racismo.
Pensa que há uma tendência maior destes movimentos populistas?
Há uma tendência clara. Quando Donald Trump ganhou, Beppe Grillo [fundador do movimento italiano Cinco Estrelas] fez um discurso sobre os bárbaros, assumindo “nós os bárbaros vamos tomar conta disto”. Amanhã podemos ter um mundo com Trump, Marine Le Pen, Beppe Grillo e todos a rezar para que a senhora Merkel ganhe as eleições depois de todo o mal que se disse dela. Há aqui claramente uma disfunção grande em relação ao que está a funcionar a nível da tecnologia, da ciência, dos projetos de investigação e depois o que funciona na economia e política, que está a ir na direção contrária.
Como vê António Costa em Portugal? Está a fazer um bom trabalho?
Penso que o desempenho é aceitável mas estamos presos por pinças. A política de Donald Trump — que é uma das coisas que pode afetar Portugal — de investir nas infraestruturas, de mudar a política da Reserva Federal vai claramente levar à subida das taxas de juro. Já estamos a pagar oito mil milhões de juros por ano. E todos estes ganhos aparentes em termos de estabilidade e paz social que António Costa conquistou foram conseguidos numa situação de grande instabilidade. O Governo de António Costa, como muitos, não olha para uma questão que é crucial: a economia. Ninguém neste país se interessa pela economia, pelas empresas, pelo investimento. Tudo é tratado menos as questões que são cruciais. Nenhum país existe sem uma boa economia, uma economia saudável, sem investimento e sem atrair investimento. Estas variáveis falham completamente.
Há incentivos ao investimento suficientes no OE 2017?
Não, penso que as empresas neste país são uma espécie de parentes pobres. Não são suficientemente acarinhadas, não se cria condições para o investimento e penso que isso é uma das bases do atraso do país. Vivemos num país que tem mais de dois milhões de pobres, que tem uma economia que no século XXI praticamente não cresceu. O crescimento é anémico.
Então a economia não vai crescer o suficiente?
Não, não vai absolutamente. Pode crescer 1% ou 1,1% mas isso não é suficiente para gerar riqueza. E acho que esse é que é o ponto, é criar condições para se poder gerar riqueza e diversificar o desenvolvimento da economia.
Neste cenário, o Governo vai durar os quatro anos?
Penso que vai durar porque o primeiro-ministro António Costa já provou que é um político excelente a esse nível. Se ele conseguir aplicar toda a arte que tem para gerir a chamada gerigonça no desenvolvimento económico e para atrair investimento, o país pode ter uma legislatura de quatro anos.
Portugal corre o risco de um novo resgate?
Pode precisar a qualquer momento. Esta é a noção que não temos muitas vezes, mas a qualquer momento isso pode acontecer porque se as taxas de juro amanhã dispararem – repare que elas já passaram os 3,5% — chegando aos 4%, então isso será inevitável. E é com base nisso tudo que às vezes fico perplexo como é que o sistema político português e europeu não equaciona estas questões, não redefine as políticas que segue. Se olharmos para o que Shakespeare diz de que há método na loucura, aqui realmente parece que é isto que acontece. Tem de se alterar completamente a política económica.
O que é que devia mudar?
As empresas não são olhadas como deviam ser olhadas. E quem cria riqueza são as empresas, não é o Estado. O Estado consome mais de metade da riqueza que o país produz. Se não houver um foco nas empresas, no relançamento da economia, do emprego ou do investimento, vamos ter sempre uma situação anémica.
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António Costa Silva: “Portugal pode precisar de novo resgate a qualquer momento”
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