A diretora-adjunta do Bruegel considera que, dos cinco temas a abordar no Conselho Europeu, é a migração e a reforma da Zona Euro que vão dominar a agenda.
No dia em que arranca o Conselho Europeu, um dos mais importantes dos últimos anos, o ECO esteve à conversa com a diretora-adjunta do Bruegel, o think tank europeu especializado em economia e assuntos europeus, para antecipar os temas mais quentes do encontro.
Com dois novos Governos, uma nova aliança e um grupo de países de costas voltadas por causa dos movimentos migratórios, Maria Demertzis considera que vai haver pouco tempo para falar de outros assuntos de agenda.
A agenda para os dois dias já está fechada. Acha que vão haver tópicos que serão mais discutidos que outros?
Há dois tópicos que se vão destacar mais. Primeiro o das migrações e depois o da reforma da zona euro. Também está marcada a discussão de assuntos como o Brexit, mas acho que este não é o momento de nos focarmos nisso.
E não há a hipótese de a discussão sobre as migrações se sobrepor àquela relativa aos assuntos económicos?
Os movimentos migratórios são um tópico muito importante, principalmente quando olhamos para a Alemanha e para as dificuldades que o Governo está a passar para atingir um acordo. É um grande tópico, um tópico muito sensível. Vamos ter de usar tudo aquilo que já foi discutido nas reuniões antes do Conselho, nas reuniões informais, para as discutirmos de uma forma mais abrangente.
Em relação à reforma da Zona Euro, vai ser falada, mas duvido que seja feito muito progresso, por isso que não sei se lhe consigo atribuir um grau de ênfase. Mas será discutido, principalmente depois da Declaração de Meseberg.
Nenhum progresso mesmo?
Penso que o único aspeto no qual poderá haver algum progresso é na União Bancária. Mas com tantas coisas a acontecer, o orçamento da Zona Euro, o mecanismo de estabilidade, não irão ser feitos muitos progressos.
Está à espera que Merkel e Macron anunciem mais medidas da sua aliança ou precisam de mais tempo de preparação?
Primeiro, as políticas precisam de ser discutidas. Viram as reações de muitos países que não concordam com um número de coisas que os dois países apresentaram. As decisões têm de ser feitas ao nível europeu. Discussão e depois acordo. Temos de dar passos pequenos, passos de bebé, mas sempre passos. É muito importante manter este momentum.
Há pessoas que a falar deste Conselho Europeu como se ele fosse o mais importante dos últimos dez anos. Concorda?
Essa é uma forma má para se prepararem para uma deceção (risos). Algumas das reuniões que tivemos em 2015, com a crise grega, e em 2012, foram mais importantes, uma vez que eram existenciais. Isso não significa que a migração não seja um tópico crucial, porque é uma fonte de desentendimentos dentro da Europa.
"Como é que podemos falar de uma reforma da zona euro se nem sequer conseguimos resolver um problema [migrações] que é exógeno?”
Se não conseguirmos chegar a um acordo neste assunto, então não vão existir elementos de cooperação, elementos de compreensão, não haverá boa vontade. Se não houver solução para isto, deixa de haver boa vontade. Como é que podemos falar de uma reforma da zona euro se nem sequer conseguimos resolver um problema que é exógeno?
Este Conselho vai ser o primeiro para dois chefes de estado, o italiano e o espanhol. Qual acha que vai ser a abordagem deles?
São Governos muito diferentes, um eleito, um nomeado. Um muito antagónico e o outro muito corporativo. Para Itália, o ponto importante será o da migração, em que eles vão estar à procura de um acordo. A posição espanhola vai ser mais ativa na reforma, especialmente na partilha de riscos, mas, como disse, vai ser algo que não vai ser tão discutido.
"O grande problema de Portugal continua a ser no sistema bancário, o malparado. É surpreendente como tão pouco progresso foi feito neste tópico.”
Em relação ao nosso país, quais são os tópicos nos quais Portugal vai ser chamado a intervir mais?
Portugal é um caso de sucesso. Muitos dos problemas foram resolvidos, conseguiram sair de uma forma limpa do resgate, está a crescer, a tornar-se um hub para as fintech e para as startups de tecnologia. Há muito a admirar na forma como Portugal conseguiu fazer esta transição. Mas o grande problema de Portugal continua a ser no sistema bancário, o malparado. É surpreendente como tão pouco progresso foi feito neste tópico. Estava à espera que Portugal tivesse sido mais decidido.
Portugal também tem uma palavra a dizer na migração, visto que não estamos a receber tantas pessoas como os outros países?
Portugal não vai ser o problema, vai ter de ser parte da solução. Ninguém está a apontar o dedo para Portugal por não estar a fazer o seu trabalho, porque não é o único. Há mais países que poderiam receber mais migrantes, não só Portugal. A questão vai ser se o país vai estar mais disponível para receber.
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Maria Demertzis: “Como falar da reforma da Zona Euro se não conseguimos sequer resolver as migrações?”
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