Empresas americanas, e não só, estão a escolher Portugal para se instalar. "Mostra que alguma coisa está a ser bem feita. É continuar a fazer isto", diz Mauro Frota. E o 'unicórnio' Ronaldo até ajuda.
Portugal está na moda e isso abre portas lá fora às startups e scaleups portuguesas com uma ajudinha de um ‘unicórnio’ inesperado: Cristiano Ronaldo. “Se há dez anos ou mais poderia ser um handicap, hoje em dia ser português no mercado árabe é extremamente positivo, porque nos associam logo a algo muito positivo, é o efeito Ronaldo. E sinto o mesmo nos Estados Unidos. São raros americanos com quem falo que ou já visitaram Portugal, querem visitar Portugal ou estão a planear mudar-se para cá”, garante Mauro Frota, cofundador e CEO da Bhout, scaleup nacional que se prepara para abrir ginásios no Reino Unido, Estados Unidos ou Médio Oriente. Espanha é já no primeiro trimestre do próximo ano.
“Portugal já é associado, recebo muito este feedback dos americanos, uma Califórnia melhorada, temos uma paisagem parecida em alguns aspetos, um clima muito parecido, mas somos muito mais baratos”, reforça Mauro Frota.
O CEO da fit tech portuguesa — cujo saco de boxe inteligente foi considerado, em 2023, uma das inovações do ano pela revista Time — destaca o facto de empresas americanas, uma delas um unicórnio, estarem em processo de mudança para o país. “Isto mostra que alguma coisa está a ser bem feita. É continuar a fazer isto, ou seja, não chegar um Governo — porque infelizmente as coisas vão sendo feitas, não como visão estratégica de futuro, mas com uma visão de ciclos eleitorais”, lamenta.
“O que eu gostava era que que houvesse uma estratégia assumida para o país a esse nível, que fosse de longo prazo e que se continuasse este caminho, que não fosse interrompido. Se isto acontecesse, eu diria que já estamos a dar passos concretos no caminho certo.”
Arrancaram logo com foco no mercado externo. O que seria importante acontecer no ecossistema português, para que casos como o vosso tivessem maior rapidez nesse ganho de escala?
Comparar Portugal com Israel nesse sentido. Portanto, dois países — Israel muito à frente em termos de unicórnios — que desenvolvem muita tecnologia, muitas startups e que, como o mercado interno é muito pequeno, precisam imediatamente de ir para fora, porque senão não conseguem escala para crescer. Eu tenho sentido bastante apoio do ecossistema. Acho que já existem vários programas e nós estivemos em São Francisco.
Com a AICEP.
Foi um programa muito interessante, que nos permitiu fazer um pitch e apresentar o ecossistema junto de venture capital em Silicon Valley. A Unicorn Factory e a Startup Lisboa e outras organizações em Portugal têm vários programas que facilitam, mas poderiam facilitar mais se houvesse mais apoio financeiro. Mas eu acho que já há uma abertura para que Portugal chegue lá fora e de forma mais fácil. Ajuda também Portugal estar na moda.
Se há dez anos ou mais poderia ser um handicap, hoje em dia ser português no mercado árabe é extremamente positivo, porque nos associam logo a algo muito positivo, é o efeito Ronaldo. E sinto o mesmo nos Estados Unidos. São raros americanos com quem falo que ou já visitaram Portugal, querem visitar Portugal ou estão a planear mudar-se para cá.
O ecossistema continua, sólido, vibrante? Recentemente, no relatório da StartupBlink, Portugal perdeu três posições, cidades como Lisboa e Porto caíram.
Ser português neste momento lá fora é muito interessante. Por exemplo, cada vez que vamos para os mercados árabes sentimos claramente o efeito do Cristiano Ronaldo.
O Ronaldo é o nosso unicórnio…
Se há dez anos ou mais poderia ser um handicap, hoje em dia ser português no mercado árabe é extremamente positivo, porque nos associam logo a algo muito positivo, é o efeito Ronaldo. E sinto o mesmo nos Estados Unidos. São raros americanos com quem falo que ou já visitaram Portugal, querem visitar Portugal ou estão a planear mudar-se para cá.
Não sinto um estigma de que em Portugal não se faz tecnologia, que Portugal está atrasado ou o quer que seja. Portugal está na moda e está na moda há cinco, dez anos. E eu acho que nós na Bhout estamos a viver essa onda e isso é muito importante. Ajuda a abrir portas. E, mais uma vez, o Cristiano Ronaldo tem sido um dos grandes embaixadores a colocar Portugal definitivamente no mapa e não pensarem, como há muito pouco muitos americanos com quem falava, que Portugal era mais uma província de Espanha.
Houve até um unicórnio americano a instalar-se recentemente [em Portugal]. Isto mostra que alguma coisa está a ser bem-feita. Eu diria que é continuar a fazer isto, ou seja, não chegar um Governo — porque infelizmente as coisas vão sendo feitas, não como visão estratégica de futuro, mas com uma visão de ciclos eleitorais. O que eu gostava era que que houvesse uma estratégia assumida para o país a esse nível, que fosse de longo prazo e que se continuasse este caminho, que não fosse interrompido.
Usando essa experiência internacional, o que sente que o país precisa para fazer o scaleup, qual é o ‘efeito Ronaldo’ que nos falta?
Portugal já é associado, recebo muito este feedback dos americanos, uma Califórnia melhorada, temos uma paisagem parecida em alguns aspetos, um clima muito parecido, mas somos muito mais baratos. E, portanto, ainda olham para nós como um país barato. Há até startups da Califórnia em processo de mudança para Lisboa ou para Portugal, isto já demonstra claramente que Portugal começa a ser central na Europa. Houve até um unicórnio americano a instalar-se recentemente. Isto mostra que alguma coisa está a ser bem feita. É continuar a fazer isto, ou seja, não chegar um Governo — porque infelizmente as coisas vão sendo feitas, não como visão estratégica de futuro, mas com uma visão de ciclos eleitorais. O que eu gostava era que que houvesse uma estratégia assumida para o país a esse nível, que fosse de longo prazo e que se continuasse este caminho, que não fosse interrompido. Se isto acontecesse, eu diria que já estamos a dar passos concretos no caminho certo.
Como é que vê esta oportunidade da inteligência artificial? Vocês têm um produto muito com base nessa tecnologia.
Na primeira “European Tech Competition” europeia éramos quatro na final e vencemos o prémio de startup mais promissora da Europa. É impossível fugir ao tema hoje em dia. Nós começámos a trabalhar com inteligência artificial (IA), com machine learning, um subsetor da IA, quando ainda não era cool. Eu acho que neste momento está-se a passar também para outro lado. Está a tentar-se martelar a inteligência artificial onde se calhar não é necessária, mas o próprio mercado vai filtrar e ficará no mercado aquilo que passar. Mas a conversa da inteligência artificial é uma conversa que é impossível não ter e Portugal tem feito coisas interessantes nesta área e consegue dar cartas. Portugal tem tudo em termos de conhecimento, de engenharia, de mão de obra para poder ser um dos líderes do setor na Europa.
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